As Paredes do Céu Negro - Capítulo 9
1
— Ataque o Peixe-Boi Demoníaco dos Mares! Vá, Alga Vermelha Oculta! — ordenou Eliseu, animado com a possibilidade de vitória.
Quando o comando foi dado, a Alga Vermelha Oculta começou a se mover imediatamente. O olho macabro no centro do aglomerado de algas estava ainda mais injetado de sangue agora, e os tentáculos vermelhos cresceram para cima do pequeno peixe. Feito uma tempestade de estocadas, os tentáculos afiados voaram contra o corpo desprotegido do Peixe-Boi Demoníaco dos Mares e o perfuraram impiedosamente, fazendo voar polígonos azuis sobre os campos verdes. O monstro de Daniel não pôde fazer nada além de grunhir com a dor dos ataques, que cada vez mais aprofundavam-se no seu corpo e atingiam seus órgãos internos.
Ele não conseguiu aguentar mais ataques e desapareceu em centenas de polígonos, que se tornaram mais e mais translúcidos até desaparecerem por completo. O Peixe-Boi Demoníaco dos Mares estava morto.
— M-Meu monstro!
— Bwahahahaha!! Agora que sua única e patética defesa caiu, Daniel, você vai receber dano igual à diferença entre os pontos de ataque da minha Alga Vermelha Oculta e os pontos de defesa do seu Peixe-Boi Demoníaco! Prepare-se!!
Dito e feito. Contra o ataque de dois mil pontos da Alga Vermelha Oculta, os quatrocentos pontos de defesa do monstro caído de Daniel não tiveram chance alguma. E agora, a diferença entre esses valores iria recair sobre os pontos de vida do Elementalista infortunado.
Uma dor inimaginável atingiu o corpo de Daniel, espalhando-se por cada canto como centenas de picadas de abelhas. No limite da consciência, ele caiu de joelhos no piso duro da torre e encolheu-se em si mesmo, dissipando a dor com pura força de vontade. Jogadores novatos não conseguiriam replicar o que estava fazendo, mas ele não era um novato. Em se tratando de Jogos Elementais, ele era um dos melhores de Vinhedo.
Quando o pior passou, Daniel começou a se reerguer aos poucos e tornou a encarar o adversário.
— T-Tá tudo bem, Daniel?! Isso não era pra doer tanto… — disse Eliseu, visivelmente preocupado com o amigo. Apesar da atmosfera competitiva, eles ainda eram amigos no mundo exterior.
— Hahahaha!! Só serviu pra me acordar, tipo um… café expresso! — explicou, exalando confiança do sorriso inexpugnável. — E agora deve ser a minha vez, não é, sistema?
Como se visse o futuro, Daniel premeditou o próximo anúncio. O sistema se pronunciou, dizendo com a mesma voz robótica de sempre:
— Fase de Batalha do jogador “ReiSombrio_Eliseu” está encerrada. É a vez do jogador “Lorde_Daniel”.
Antes de fazer qualquer outra coisa, Daniel verificou a situação dos seus pontos de vida.
“Dos meus quatro mil pontos originais, ainda tenho dois mil e quatrocentos. Vai ter que bastar.”
O ataque da Alga Vermelha Oculta foi mais poderoso do que poderia imaginar. No entanto, ainda estava de pé e era isso o que importava. Atravessou a Fase de Saque como um relâmpago ao puxar a carta no topo do baralho e trazê-la para sua mão, passando, então, para a Fase de Construção.
Ele passou longos trinta segundos encarando as cartas que tinha à disposição. O último saque não foi tão bom quanto poderia ser, embora o baralho em si tivesse pouca utilidade em partidas casuais e muito menos em ranqueadas, como a que estava disputando no momento.
Mas uma ideia repentinamente iluminou sua mente. Puxou uma das cartas da mão e a inseriu na Zona de Ataque, dando vida a mais um monstro para combater o poder inigualável da Alga Vermelha Oculta.
— Eu invoco o “Macacarrão Acrobático, o Equilibrista dos Mares”!
Eliseu sentiu algo estranho na garganta ao ouvir o nome do monstro. Logo, um macaquinho de quarenta centímetros de altura se colocou cara a cara com a Alga Vermelha Oculta, uma aberração marítima de inacreditáveis dez metros. A criatura tinha o corpo todo formado por uma espécie de fio molenga e escorregadio, da cor marrom-claro, e por isso recebia o nome de “Macacarrão”. Dançando de um lado para o outro, um sorrisinho simpático estampado no rosto pastoso e atrativo cujos olhos eram duas fatias de tomate e a boca era um macarrão escuro que se movia constantemente, o pequeno ser exibia seu chapéu em formato de bagre pomposamente. Sendo uma mistura de muitas coisas, o atributo Mar dado a ele era resultado do chapéu que usava na cabeça.
— Heh! E então, o que achou dessa jogada?
Silêncio. Com a cabeça baixa, o rosto de Eliseu não estava visível.
— Ei, ei, eu falei com você. Não me ig…
— B-Bwahahahahahahahahahahahah!!! A-Ai! B-B-Bwahahahahahahahaha!!! Cara, cara, isso é sério? Qual é! Eu pensei que… que você queria g-ganhar… Bwahahahahahaha!!!!!! Ai, meu estômago! Que covardia! Você quer matar a mim ou o meu monstro? Eu não tô entendendo! Ai, eu vou explodir! Um macaco dançarino feito de macarrão!!!
Outra vez, a ira de Daniel foi provocada. As veias que saltaram na sua testa só evidenciaram isso.
— Aproveite o tempo que tem para rir, porque em breve estará chorando. O Macacarrão Acrobático é mais do que uma carta engraçadinha. Aparentemente, você tá precisando de umas aulas sobre os efeitos das cartas.
Do nada, a risada de Eliseu cessou e deu lugar ao mais absoluto silêncio. A apreensão pintava seu rosto com um olhar focado nas ameaças do adversário.
— Do que você tá falando? — perguntou, o tom de voz totalmente alterado.
— Hoho, interessado? Vejo que consegui sua atenção, Sr. Bozo. Mas agora é tarde demais pra fazer qualquer coisa — disse Daniel, tomado por uma confiança inexplicável. — Isso mesmo, eu vou usar o efeito do Macacarrão Acrobático pra acabar com você!
— É um blefe. Os Macacarrões Acrobáticos são cartas genéricas e fracas, você também me ensinou isso. Não vou me deixar enganar por algo tão amador.
— Falando de combate direto, sim, eles são indiscutivelmente as piores cartas do jogo. Quase ninguém os usa no baralho por causa disso. O que eu acabei de invocar, por exemplo, tem meros seiscentos pontos de ataque e duzentos pontos de defesa. Porém, o efeito dele é muito especial.
Daniel fez uma pausa dramática para inspirar o medo em Eliseu. Prosseguiu:
— O “Macacarrão Acrobático, o Equilibrista dos Mares” tem um efeito que poucos conhecem. Durante a Fase de Construção, e somente durante ela, eu posso usá-lo pra infligir dano ao meu oponente sem precisar derrubar quaisquer monstros que ele tenha em campo. A força da Alga Vermelha Oculta é inquestionável, mas o meu monstro não precisa derrotá-la para te atingir. Fora isso, o dano que você vai sofrer é igual aos pontos de ataque do seu monstro mais fraco em campo, e em dobro para monstros do atributo Mar — e, terminando de explicar, complementou: — Aposto que deve estar assustado agora. Como você só tem um monstro no seu campo de batalha e esse é justamente o atributo dele, o resultado é óbvio. Você errou ao invocar a Alga Vermelha Oculta tão cedo.
Com a certeza da vitória, Daniel sorria despreocupado. Do outro lado do campo, Eliseu sentia gotas de suor descerem pelo rosto enquanto aguardava o fim inevitável e, consequentemente, a sua derrota.
— Hehe!