As Paredes do Céu Negro - Capítulo 12
1
— C-Como? Como um macaquinho de espaguete está te controlando assim, Alga Azul Monstruosa? E você também, Alga Vermelha Oculta!
— Primeiro, é um macaco de macarrão. Os fios de espaguete costumam ser mais grossos e têm outro formato — corrigiu Daniel, um sorriso malicioso no rosto. — Segundo, estamos em um jogo de cartas digital e tudo o que fazemos é determinado pelas cartas. Um efeito é um efeito, não importa como olhe.
— Grrr… O que eu devo fazer…?
Antes mesmo que pudesse pensar em outra coisa, Daniel se manifestou:
— Ei, Macacarrão Acrobático! Gostaria de fazer as honras?
O macaquinho pulou de alegria, assentindo com a cabeça molenga de fios de macarrão. Então, voltou-se para os monstros de Eliseu e começou a gesticular para eles com suas mãos agilidosas.
— O que ele tá fazendo agora? Não pode ser, ele tem efeitos em cadeia?! — gritou Eliseu, assustado com a possibilidade que surgiu em sua mente.
— Não, nada de efeitos em cadeia, essa é uma carta muito simples pra ter algo assim. O que o Macacarrão Acrobático está fazendo agora se chama diplomacia.
Eliseu foi atingido por uma onda de confusão.
— Diplomacia? Ei, nós ainda estamos jogando Jogos Elementais, né?
— É claro. Quando eu digo “diplomacia”, quero dizer que ele está convencendo seus monstros a pularem o turno. Mesmo que ache isso impossível, não se esqueça que eu mencionei isso na minha explicação de antes.
Agora, engoliu em seco, totalmente apavorado.
— Q-Que carta mais inconveniente…
— E não é? Hehe!!
Um pouco depois, tanto a Alga Azul Monstruosa quanto a Alga Vermelha Oculta estavam sob o efeito forçado de pular o turno. Como se fossem monstros cavalheirescos, inclinaram o corpo em um cumprimento amistoso ao Macacarrão Acrobático e voltaram às suas posições originais, muito contentes com o espetáculo que testemunharam. O próprio macaquinho retribuiu a gentileza, cumprimentando-os de volta.
Com isso, a voz robótica de antes soou para todos:
— Fim do turno do jogador “ReiSombrio_Eliseu”. É a vez do jogador “Lorde_Daniel”.
Ele sorriu com a vinda do anúncio. Entretanto, ter uma chance a mais não garantia a sua vitória, precisava fazer por onde. Fisgou a carta no topo do baralho e puxou-a para sua mão, encerrando a Fase de Saque. A próxima era a Fase de Construção.
Pelo menos, Eliseu esperava que o oponente não tivesse cartas muito poderosas à sua disposição. A esperança caiu por terra quando notou que Daniel estava com um sorriso de pura confiança no rosto. Em certo ponto, era até um tanto medonho.
— Agora eu entendo! Entendo que meu destino sempre foi vencer esta partida! Ah, como é bom ser o escolhido dos céus — disse Daniel, os braços levantados na direção do céu azul.
Eliseu desejou que fosse um blefe. O medo se instalou em seu coração diante do desembaraço de Daniel.
— Agora que estou na Fase de Construção, está mais do que na hora de começar a minha reviravolta predestinada. Muito bem! Macacarrão Acrobático, obrigado por tudo que fez. Essa vitória é nossa.
— O quê? O que vai fazer?!
— Não se apresse — advertiu. — Aqui vai! Eu invoco esta carta mágica na Zona de Suporte! Apareça em todo o seu esplendor, poderoso “Oráculo Verdadeiro do Mar Profundo”!
No único espaço vago da Zona de Suporte, inúmeros polígonos azuis começaram a se reunir e a formar uma nova criatura. Conforme ela tomava forma, o sorriso de Daniel se alargava. Diante disso, uma esfera azul-marinho brilhante nasceu na frente dos olhos dos Elementalistas. A esfera realmente tinha um brilho magnífico. Esse foi o nascimento da carta mágica mais poderosa do baralho de Daniel.
— U-Uma esfera? Que carta é essa?
— Você a conhece bem. Bom, não se apresse tanto, o show ainda não acabou.
— Ainda não acab… Huh?!
De repente, uma fenda abriu-se na parte de trás do objeto, soltando estilhaços do orbe na grama impecável do campo de batalha e deixando para trás uma imperfeição naquela forma. Isso não durou muito. Cinco segundos depois, uma serpente marinha de escamas brancas estava atravessando a fenda graciosamente enquanto movia o corpo para enrolá-lo no orbe brilhante. A serpente, de mais de dois metros de comprimento, tinha os olhos na mesma cor e intensidade ofuscante do objeto ao qual se unira. Para completar, havia uma pequena coroa dourada e adornada com joias na sua cabeça. Era bela na mesma medida que era imponente.
Ao fim da invocação, o próprio Macacarrão Acrobático começou a desaparecer em polígonos azuis. Ele não demonstrou sinais de resistência, aceitando o destino que recebeu sem reclamações. Seria o sacrifício da vitória, isso aquecia o seu coração. Cessou a dança pela última vez e, antes de sumir por completo, virou-se para Daniel e deu-lhe um sorrisinho simpático.
— Adeus, Macacarrão Acrobático. Sua ajuda foi de grande utilidade, saiba que a vitória é sua também.
— Hwah!! Hwahh!!
Daniel sorriu de canto, ciente de que só estava naquela posição por conta do Macacarrão Acrobático. Era imensamente grato. Porém, no ato da invocação, o Oráculo do Mar Profundo eliminava todas as cartas no campo do invocador e as enviava para o Vazio. Foi um sacrifício inevitável em prol da vitória naquele desafio.
Um dos polígonos do corpo desintegrado do Macacarrão Acrobático pousou na palma de Daniel, que apertou-o com força enquanto se enchia com a determinação do monstrinho. Vencer não era uma opção, era uma obrigação. Quase conseguia vê-lo furioso se não ganhasse o desafio, com aquela cara molenga e divertida.
— A dança ainda não acabou. Eu vou vencer por todos nós, amigo.
Eliseu não demorou para reconhecer a nova invocação do oponente. Um tanto surpreso, disse:
— Espera um pouco, eu me lembro dessa carta!
— Ah, eu tenho certeza que sim. Jamais vou me esquecer do seu comentário naquele dia.
— Eu sei o que eu disse. Eu te alertei pro fato de que o Oráculo do Mar Profundo simplesmente não combinava com o restante do baralho, que as categorias não conversavam entre si. E agora, aí está você, usando uma carta tão rara contra mim.
— Que estranho. Aonde foi parar todo aquele medo? Você parece um pouco diferente.
Eliseu não chegou a rir, mas manteve a seriedade ao falar:
— Não finja, eu sei o que está planejando — retrucou. — É agora que um de nós perde, não é?
— Na mosca — confirmou. O sorriso que carregava no rosto se tornou mais sombrio de uma hora para a outra. O próximo movimento seria o último, sem a menor sombra de dúvidas.