As Paredes do Céu Negro - Capítulo 11
1
Mas nem a Alga Vermelha Oculta nem a Alga Azul Monstruosa se moveram. Pelo contrário, apenas permaneceram paradas.
— Como? Ei, eu mandei você atacar, Alga Azul Monstruosa! Ataque o Macacarrão Acrobático! — tornou a ordenar, impaciente.
Novamente, a ordem não foi acatada e o monstro não atacou o inimigo. Mas uma movimentação estranha foi percebida por Eliseu no monstro azul, um tremelique repentino acometeu o corpo da criatura, que agora estava curvada para a frente, vibrando descontroladamente. De repente, a Alga Vermelha Oculta virou-se na direção do seu mestre e cravou o olho macabro nele, ameaçadora a princípio.
Eliseu tremeu com medo do monstro. Do outro lado da arena, Daniel já abrira os olhos e estava se perguntando o que acontecia com os monstros comandados pelo oponente. Notou a movimentação estranha da Alga Vermelha Oculta e focou o olhar nela, a fim de descobrir o que estava acontecendo naquele lado do campo de batalha.
Mal teve tempo para analisar. No instante seguinte, a Alga Vermelha Oculta explodiu em risos. Os sons não soavam nem um pouco humanos, mas os tremores nervosos do corpo dela e a forma como se contorcia ao olhar para Eliseu sugeriam que estava rindo. Ruídos estranhos escapavam do interior do corpo esférico da Alga Vermelha Oculta, que agora pulava com a animação. Mesmo que soasse mais como um bando de morcegos derramando lágrimas de agonia, aquela era, sem dúvidas, a risada do monstro gigante.
A Alga Azul Monstruosa acompanhou. Inesperadamente, os dois monstros riam do próprio mestre, sem se importarem em atacar o inimigo bem à frente. Eliseu não conseguia acreditar no que seus olhos lhe mostravam.
— Estão rindo de você…
— Obrigado pela observação — ironizou.
— Mas por quê? São monstros, eles só obedecem a uma programação e agem conforme as ordens. Não deveriam rir dessa forma, especialmente de quem os invocou.
— Eu também nunca vi isso. Que vexame…
Enquanto Eliseu lidava com a vergonha de ser ridicularizado por dois amontoados de pixels, Daniel teve o impulso de analisar melhor a situação. Observando mais de perto, ficou claro para onde eles olhavam antes de se voltarem para a frente para rir incontrolavelmente. Essa realização fez o Elementalista render-se ao riso, se juntando à plateia zombadora. Ainda que tentasse se controlar, agora que sabia o motivo de estarem tão eufóricos, ele não podia conter as gargalhadas quando olhava para o oponente.
— F-Fufufu… Não dá pra acreditar…
— Ah, não! Até você?! Eu posso saber qual é a graça?
— A-A graça? Hahahahahahahahahahaha!! Ai, ai, meu Deus… Hahahahahahaha!!! Eu nunca vi isso, juro!
Eliseu se irritava cada vez mais e mais.
— Desembucha! Do que é que os três patetas riem tanto?
— Eu não deveria acabar com a graça, mas vou te fazer esse favor — disse Daniel, lacrimejando de tanto rir. — Recomendo prestar mais atenção na sua cabeça.
— M-Minha cabeça? Mas o que é que tem na minha cabe…
Ele não precisou dizer mais nada para todos saberem que havia desvendado o mistério das risadas. Assim que se lembrou do que estava na sua cabeça, fuzilou o Macacarrão Acrobático com um olhar furioso. O macaquinho dançava como de costume, indiferente à fúria do Elementalista ridicularizado.
— Então foi você! Esse é o seu efeito, ridicularizar o oponente? S-Seu… macaquinho estúpido…!
— Hwah, hwah!! — grunhiu o macaco, mexendo o corpinho molenga para os lados sem pausa.
Até mesmo o Macacarrão Acrobático estava zombando dele. Então, ele lançou um olhar fulminante para Daniel.
— Você planejou isso, cara! Eu sabia que tinha algo de errado nisso tudo, você não perderia tão facilmente. Eu sei que esse seu baralho é péssimo, mas você está escondendo algo de mim. O que você alterou nele depois que o seu pai o deu pra você? Suas jogadas não fizeram nenhum sentido até agora! Você precisa se explicar!
Daniel sentiu-se mal subitamente. Pensou em contar a verdade para ele, mas não sabia a melhor forma de dizê-la. Quando foi buscar uma resposta nos pensamentos confusos, sua mente foi iluminada pela informação que procurava desde o fim do último turno. O mal-estar passou na mesma hora, substituído por um tipo diferente de empolgação.
— O efeito.
— O que disse? Do que você tá falando?
— E-Estou falando do efeito do Macacarrão Acrobático. Lembra do que eu disse no turno anterior?
— Ah, aquele blefe assustador sobre o dano direto? É claro que eu lembro. Eu já disse, aquilo me assustou pra caramba, cara. E o que tem a ver com a minha situação?
— Sim, meu blefe, isso mesmo — respondeu, procurando manter a farsa até as últimas consequências. — Acontece que você acabou de testemunhar o real efeito do meu Macacarrão Acrobático. Na verdade, eu estava escondendo o potencial total dessa carta para te pegar desprevenido.
— R-Real potencial? Fala sério?
— Muito, muito sério. Permita-me explicar.
Antes de iniciar a explicação, Daniel indicou o Macacarrão Acrobático com o dedo, sorridente:
— O carinha bem ali tem um poder que eu nunca te contei, nem quando a gente tava analisando o baralho há muito tempo. Você foi acertado pelo tiro de banana dele, foi aí que o efeito começou a te afetar.
— E que efeito é esse, afinal? E-Espera… isso tem relação com o comportamento estranho dos meus monstros?
— E como tem. Considerando quão surpreso você tá agora, você provavelmente não percebeu o que foi que aconteceu com a Alga Vermelha Oculta e a Alga Azul Monstruosa. No momento em que você foi atingido, você tentou limpar a sujeira e falhou em todas as tentativas. Isso não foi um bug, era parte do efeito daquele macaquinho. Assim que o tiro de banana dele atinge o oponente, uma condição um tanto especial é criada e essa condição é responsável por um efeito de “pular” o turno. Assim que você deu a ordem pros seus monstros, eles começaram a agir estranho porque estavam muito ocupados rindo de você, tudo isso por causa do efeito do Macacarrão Acrobático. A sujeira no seu corpo, incluindo a casca de banana irremovível em cima da sua cabeça, faz as suas próprias invocações te enxergarem como um palhaço e dessa forma não levam a sério nenhuma das suas ordens. Se tudo está indo conforme o plano, eu sei exatamente o que vai acontecer em seguida. Vamos, tente ordenar um ataque outra vez, você vai ter uma bela surpresa.
Eliseu não entendeu metade da explicação. Sem opções, tentou o que tinha em mente desde sempre:
— Q-Qual é! Por favor, Alga Azul Monstruosa, ataque o Macacarrão Acrobático!
Mas a Alga Azul Monstruosa balançou o corpo de um lado para o outro, se negando a atacar. Depois de espiar a banana no topo da cabeça de seu mestre, tornou a rir junto da Alga Vermelha Oculta em um ritmo frenético. Nenhuma delas conseguia se segurar. Logo, Daniel voltou à plateia de bobos da corte, rindo sem controle da situação constrangedora do amigo.