As Paredes do Céu Negro - Capítulo 10
1
— É o fim! Com o dano que você vai receber agora, seus pontos de vida vão direto pra zero!
O Macacarrão Acrobático seguia dançando, alegre como de costume. Mesmo de frente com um monstro como a Alga Vermelha Oculta, o pequeno símio não demonstrava nervosismo, apenas continuava a dançar despreocupadamente. O ritmo que o contagiava era mais forte do que qualquer monstro marítimo.
Por outro lado, Eliseu sentia cada célula do seu corpo ferver com a iminência da derrota. Receber quatro mil pontos de prejuízo de uma só vez decretaria o fim da partida e a vitória de seu oponente. Com os dentes rangidos, aguardava nervosamente o próximo movimento de Daniel.
— Sem mais demora! — gritou Daniel, empolgado como nunca. Ele estava indo contra todas as chances com a ajuda do menosprezado Macacarrão Acrobático. — Eu ativo o efeito do meu monstro! Ataque o meu oponente diretamente e finalize esse duelo, invencível “Macacarrão Acrobático, o Equilibrista dos Mares”!!
Então, o macaquinho cessou a dança por um momento e apontou a mão direita na direção do céu, fazendo surgir uma banana formada por inúmeros fios pastosos na ponta de seu dedo. Agarrou a banana com vigor, entregou um olhar ameaçador a Eliseu e, por fim, disparou-a contra ele. A velocidade e a precisão na hora do disparo foram surpreendentes. Do jeito que estava cortando o espaço até o alvo, aquele disparo poderia mesmo encerrar a partida.
Vuuuuuuush!
Eliseu pressentiu, naquela banana ultraveloz, o fim do seu curto sonho de vitória. Era o fim da linha para ele. Fechou os olhos e aguardou o impacto, focando-se em suportar a dor.
Plaft!
A banana chocou-se no rosto do Elementalista do rabo de cavalo. Explodindo em vários pedaços, os restos da fruta se grudaram na pele dele. A sujeira não tinha sido nada modesta. Fora os restos de banana no rosto de Eliseu, o chão da torre dele também estava sujo agora.
Mas ele estava ileso, por algum motivo.
— Hein? Eu tô… inteiro? Isso não deveria ter acabado comigo?
A confusão era generalizada. Daniel abriu os olhos aos poucos, somente para descobrir que sua manobra foi um fracasso. Na verdade, o efeito do Macacarrão Acrobático tinha um ponto negativo para quem o utilizava: apesar do dano considerável nos pontos de vida do oponente, o invocador do Macacarrão Acrobático recebia metade desse dano ao mesmo tempo que o alvo primário. O cálculo foi feito com precisão, restariam-lhe quatrocentos pontos de vida e ele venceria com toda a certeza. Um sacrifício certeiro. Porém, os dois Elementalistas estavam ilesos depois do arremesso supostamente fatal do Macacarrão Acrobático.
— Não faz o menor sentido.
— Concordo com você — disse Eliseu, incrédulo. — Dos meus quatro mil pontos de vida originais… ainda tenho quatro mil? Zero de dano? Você vai precisar me explicar isso, Daniel. Que tipo de blefe maluco foi esse?
Daniel não podia transparecer a verdade por trás de sua jogada, por mais confuso que estivesse. Respondeu, o sorriso confiante carimbado no rosto:
— Hehe! Não acredito que você caiu em um truquezinho desses. Bom, é verdade que o Macacarrão Acrobático não tem nenhum efeito que possa eliminar um jogador de uma só vez. Você viajou legal ao acreditar em mim.
— F-Fala sério… Só queria me assustar? Mas o que você ganha com isso? Ei, eu realmente fiquei com medo aqui, paspalho!
— Só estava ganhando tempo. Eu estou esperando a oportunidade perfeita, é isso. E até que é engraçado ver essa casca de banana na sua cabeça.
— Na minha cabeça?! — Ele tentou arrancar a casca à força, mas sua mão transpassou-a como se fosse um fantasma. O mesmo para a sujeira no rosto. Tentou mais de três vezes, sem sucesso nas três tentativas. Ele ficaria daquele jeito até o término da partida.
— Serviu pra te sujar. Incrível. Não foi totalmente inútil, então.
— D-Droga… De qualquer forma, eu não acho que exista a oportunidade perfeita em uma partida ranqueada. Sabe, eu posso acabar com você no meu próximo turno, precisarei apenas invocar outro monstro e pronto. Mas conhecendo você como eu conheço… deve ter pensado num jeito de contornar isso, né? Sem ser com uma porcaria de banana melequenta.
Não, ele não tinha nenhuma outra artimanha preparada para combater as investidas dos monstros inimigos. Nada mesmo. Embora Eliseu o elogiasse com razão na maior parte do tempo, agora ele estava errado.
“Um baralho perdedor sempre será um baralho perdedor. Que seja, eu tentei. Preciso bancar o durão até o final e perder com estilo. Mas o que houve com o Macacarrão Acrobático…?”
Pensou, pensou e pensou. Ele jurava que aquele era o efeito do Macacarrão Acrobático, não havia como estar errado quanto a isso. No entanto, depois de alguns segundos em profunda reflexão, deu-se conta de algo.
“O-O efeito do Macacarrão Acrobático! Merda, eu errei! Eu nunca joguei de verdade com esse baralho, e muito menos com essa variante da carta. Agora que penso nisso, é verdade que existe um Macacarrão Acrobático cujo efeito é o que eu acabei de descrever pro Eliseu, mas acontece que não é o meu! Eu… Eu tô usando um do atributo Mar, o que significa…”
Complementou, em voz alta:
— Tempestade.
— Você disse alguma coisa? — perguntou Eliseu.
— U-Uh?! Não, n-nada. Eu finalizo o meu turno, não preciso da Fase de Batalha.
O sistema captou a mensagem e passou a vez para Eliseu, que, em um piscar de olhos, tratou de invocar outro monstro marítimo constituído por algas, passando as fases como um relâmpago. Ele invocou a Alga Azul Monstruosa dos Mares, um monstro muito menos poderoso do que a Alga Vermelha Oculta e também muito mais simples. Com nada impressionantes três metros de altura, a Alga Azul Monstruosa dos Mares se assemelhava a uma gruta imóvel e assustadora. No buraco triangular da abertura da gruta, ocultos na escuridão, havia dezenas de olhos injetados de sangue voltados para o indefeso Macacarrão Acrobático. A própria gruta servia como um “capuz” para a face do terror que aqueles olhos apresentavam, o que constava, inclusive, na descrição oficial da carta.
— Um baralho composto de algas coloridas. Se não fossem esses olhos macabros, eu diria que você anda assistindo Power Rangers demais. Faltam quais? Deixe-me ver…
— Deixe as brincadeiras de lado. Se você não tem mais nenhum truque, eu vou acabar com você aqui e agora! Eis o começo do SEU fim: Alga Azul Monstruosa, destrua o Macacarrão Acrobático agora! — ordenou Eliseu. Em seguida, acrescentou com voz doce: — Mas vê se pega leve. Eu não quero machucar o Daniel, ouviu? Nada de estocadas nem movimentos brutais assim.
Daniel engoliu em seco. No fundo, sabia que nenhum blefe pararia o seu oponente àquela altura. Sem conseguir processar o gosto amargo da derrota, fechou os olhos para não ver o fim do Macacarrão Acrobático e, muito em breve, o seu próprio.