As Desventuras Surreais dos Becker - Capítulo 12
Sem perder tempo, o resto da trupe se juntou a Petry. Arthur e Luther o ajudaram a se pôr de pé. Com a mente vagando longe dali, demorou alguns segundos para o Mestre de misturas perceber que fora vitorioso no combate.
— O Senhor está bem? — foi Julia quem perguntou, preocupada.
— Eu estou bem — respondeu, recuperando seu semblante animador, ainda que não completamente — Parece que vencemos, não? Herbert realmente não sabe como parar seus oponentes.
— Senhor Petry, o que foi aquilo que o senhor fez?! — Arthur perguntou, como esperado.
— Há algumas coisas, Arthur, que é melhor ficar em segredo — O alquimista estava convencido em não contar nada ao aprendiz, conhecendo sua inexperiência e impulsividade — mas, basicamente, perdi minha habilidade.
— QUE?! — todos exclamaram.
— Exatamente isso, não façam mais perguntas, por favor…
— Não me parece saudável tal atitude — Pulget comentou, fervendo de curiosidade.
— O espelho quebrou, eu usei meu poder até o limite, foi basicamente isso — Petry suspirou, se encontrava um pouco alterado, mas precisava manter a postura na reta final da jornada — nosso próximo destino é também nosso último nessa peregrinação: A caverna do urso feroz.
— Mas, Senhor Petry… — Julia queria dizer, mas foi interrompida por um gesto do mestre de misturas.
— Eu posso não ter meu poder, mas ainda tenho vocês — reconheceu, sem qualquer orgulho — um certo sábio, uma vez disse que “sozinho nada se conquista”. Essa jornada não é minha, essa jornada é nossa. De pessoas que foram afetadas pela cobiça de Herbert e que tomaram atitude para impedi-lo, por um bem maior.
Por alguns segundos, todos ficaram em silêncio, impressionados com o discurso, até o homúnculo comentar:
— Palavras não-transcendentais inspiradoras, meu poros corporais tiveram uma elevação química.
— Eu também senti — Luther concordou — palavras dignas de um transcendental. Não notei sua espiritualidade até o presente momento, Humano Alquimista.
É mole? Petry pensou, debochando no bom sentido. Poderia achar Luther um grande lunático, mas era um lunático do bem.
— Vocês são anjos da guarda? Então o lá do alto realmente respondeu minhas preces? — Charles Fritz exclamou, lembrando a trupe de sua presença no recente evento.
Todos se entreolharam, receosos sobre o que relatar ao melancólico, que viu coisas demais a respeito das misturas. No entanto, era tarde para fazer algo a respeito.
— Isso mesmo, somos anjos — Arthur disse, com os olhos brilhando de satisfação — da mais alta hierarquia dos céus.
— Então quer dizer que o firmamento possui uma hierarquia? — o homúnculo indagou, sem receber resposta.
— Muito bem, deixando o divino de lado. O Sr. Fritz, poderia nos conceder um favor? — Petry perguntou.
— Sim, claro. É o mínimo que posso fazer por meus salvadores. Se não fossem vocês, certamente me tornaria um presunto congelado. Oh, que loucura a minha.
— O que sabe sobre o homem que lhe entregou esta corda?
— Hum, vejamos… — pareceu um esforço enorme para Fritz lembrar — Seu nome era Vagner, ele estava montado em um cavalo… estranho, sim, o cavalo era estranho.
— Tem ideia de para onde ele estava indo?
— Hum… Sim, eu lembro, ele disse algo como “A caverna que me aguarde”.
Com mais uma confirmação, a trupe teve total certeza sobre para onde deveriam seguir, enfim encerrando aquela relativamente curta, porém árdua jornada.
— Muito obrigado, Sr. Fritz, mas agora precisamos seguir nosso caminho — Estendeu a mão para o trabalhador, que a apertou com entusiasmo.
— Eu que agradeço, meus anjos. Eu também preciso voltar ao trabalho, o chefe deve estar me esperando. Logo em breve ele vai para a capital, preciso arrumar a carruagem — se virou e saiu aos saltos pelo vale, como se tivesse ganhado a maior das apostas — adeus, meus confrades, tenham uma boa viagem. Grande dia!
— Eu acho que ele é meio biruta — Arthur comentou.
— Não diga isso, Arthur, não viu a história dele? — Julia o repreendeu — perdeu alguém importante.
— O Art, ao que tudo indica, não se importa com esse fato.
— Cala a boca, Pulget! Desculpa, Julia.
Petry abriu o mapa da região, para ter certeza do caminho que traçaram. Daquele ponto do vale, faltava muito pouco para localizarem a caverna.
— Só precisamos seguir ao leste, até aquela montanha — Apontou para o pico da dita cuja, que se encontrava não muito distante de suas vistas — lá perto, há a entrada de uma caverna, o nosso destino.
— Então quer dizer que vamos realmente conseguir?! — Arthur perguntou eufórico, subindo em seu cavalo.
— Não se empolgue. Se Herbert estiver nos esperando, teremos de ser cautelosos para um combate.
— Se ele estiver nos esperando, eu vou trucidá-lo, eu prometo — Julia disse, com convicção, invocando suas mãos negras involuntariamente.
— Minhas bolas de certo darão conta do recado — O homúnculo descreveu um arco pelo corpo.
— Skript certamente o mandará para o vão da inexistência por tamanha heresia contra o espaço-tempo — Luther imitou o gesto de Pulget.
— Vamos arrebentar a cara dele! — O aprendiz de alquimista seguiu os companheiros, dando socos consecutivos no ar.
— Esse é o espírito — Petry sorriu, se sentindo emocionado ao contemplar aqueles quatro com tanta coragem — agora vamos, freundes.
Todos então seguiram a leste com os cavalos — exceto Luther, que os fez rir ao saltitar como um coelho pelo caminho íngreme — À medida que avançavam por uma encosta rochosa, o período diurno começava a surgir, mas não do jeito que esperavam.
Naquela região, o frio e o clima chuvoso pareciam tomar conta de todo o perímetro. O céu se tornava cinza, as nuvens batiam em retirada. Relâmpagos se apresentavam vez ou outra, sendo um vestígio para uma forte chuva.
Luther, que parecia alheio ao objetivo dos outros na jornada, começou a se questionar. Tinha certeza que era uma entidade cósmica enviada pelo soberano Skript, mas passar muito tempo naquele casulo não-transcendental lhe fazia ter sentimentos que nunca antes havia experimentado.
A determinação dos humanos pequenos e indignos diante da missão improvável e desafiadora deixava o monge encabulado. Desde o jovem Arthur tentando lhe parar, mesmo sem possuir certeza dos efeitos de seu elixir, até Petry, que literalmente sacrificou seus poderes para que pudessem prosseguir.
Bom, seu objetivo ali era claro: recuperar as noventa e cinco teses e impedir um paradoxo temporal. Mesmo que achasse isso mais importante, não podia negar que os humanos estavam lidando com um homem que queria se tornar Deus. Isso porque, não fazia ideia de qual era o efeito do tal Elixir da Vida, mesmo sendo uma entidade cósmica.
Talvez seja um problema ainda maior. Pensou, sentindo o receio humano fluir por sua consciência infinita. Que Skript esteja conosco neste último embate.
Ao concluir seu pensamento, a trupe avistou uma abertura estreita no fim da linha de seu caminho. Sobre a enorme montanha íngreme, jazia a tão temida ‘’Caverna do Azarado’’. Esse nome poderia não ser oficial, mas era muito comum entre os alquimistas da Sociedade Secreta.
Apreensivo, Petry — que liderava o grupo, assombrado pelo novo destino — se encaminhou para a entrada da caverna, recordando todas as superstições que ouvira dos colegas durante anos. Agora, diante do local, concordou em parte após conferir a aura apavorante que fugia de seu interior.
— Amarrem os cavalos — ordenou aos amigos — um urso nos aguarda.
— Defina, urso — o homúnculo perguntou, com medo da resposta.
— Ainda lembra da história de Richter, Pulget? — o mestre de misturas não perdeu tempo.
Arthur e Pulget engoliram em seco. Julia compensou o medo com sua sede de vingança — que ela preferia chamar de sede por justiça — Já Luther, se mantinha inabalável, tendo conhecimento de que um urso era uma mera criatura carnívora irracional.
Preparados, a trupe adentrou em fila indiana a abertura da caverna. Seguiram um corredor coberto pelo breu, com Petry logo acendendo uma tocha com seu truque de criar fogo com pedra e madeira.
O cenário revelado pelas luzes das chamas se mostrou previsível, porém, não deixando de ser temeroso: algumas poucas estalactites pontudas no teto, enquanto estalagmites lhes diziam para tomar cuidado aonde pisavam. O próprio solo parecia uma armadilha, estando coberto por musgo e outros fluidos viscosos que eles preferiam não imaginar sua origem.
— Será que o urso tá dormindo? — Arthur perguntou aos sussurros para Petry, caminhando de fininho como os outros.
— Provavelmente. Se tivermos sorte, ele deve estar em seu período de hibernação…
— NHAHAMMMMMM.
A bizarra mistura de gemido com bocejo ecoou por todo o corredor. Se Petry já ouviu aquele som antes, ele certamente não veio de um urso.
— Santo Skript, o que foi isso? — Até mesmo Luther ficou surpreso.
— Um grito de guerra — Pulget afirmou — ouvi alguns transeuntes no vilarejo glorificado chamado Wittenberg. É um hábito comum de alguns humanos quando declaram combate.
— Isso não foi um grito de guerra, Pulget — O aprendiz de alquimista se dirigiu a Petry, que bloqueava a passagem dos amigos com um braço — Senhor Petry. será que é mais uma armadilha de Herbert?
— Esteja certo que sim. Vagner não brinca em serviço, ele sabia que chegaríamos até aqui.
— NHAHAMMMMMMMUMMM — o vocal arrepiante novamente ecoou, dessa vez se alongando mais um pouco.
A trupe não abaixou a guarda, precisavam estar preparados para enfrentar seja o que fosse que vivia naquela caverna. Mas Arthur, Pulget e Petry não podiam deixar de admitir que sentiam medo.
— Não sei porque estão com tanto medo — ouviram Julia praticamente ler seus pensamentos — esqueceram que eu tô aqui?
Ao se virarem, contemplaram as mãos negras de Julia emergirem como feras, mais ameaçadoras que qualquer urso. Isso encheu a trupe de confiança, pois sabiam que estavam em vantagem naquele território.
Caminharam normalmente até chegarem a uma parte mais aberta da caverna. Era difícil enxergar os arredores apenas com a tocha, no entanto, na parede ao extremo oposto daquela área circular era possível notar a presença misteriosa, a responsável por aquele som não convencional.
— Estranhos… aparecem… na toca — ouviram a voz masculina, que era grossa, porém rouca — Irmão Vagner… avisou.
— Quem é você? Ou melhor, o que é você? — o mestre de misturas debochou, cauteloso pela menção a Herbert.
— Sabe… quando eu era pequeno… foi quando aconteceu — o homem então se colocou de pé, revelando um físico parrudo, longos cabelos desgrenhados e olhos bem grandes — papai… ele esqueceu em cima da mesa… eu tomei… fui amaldiçoado — um trovão soou, indicando que o tempo havia fechado fora da caverna — agora sou metade homem… metade besta… papai me jogou fora… irmão Vagner cuidou de mim… irmão Vagner me deu esse lar… criou narrativa do urso… eu matei alguns de seus colegas alquimistas.
Petry e os outros ouviam o relato em choque, vendo as peças se encaixarem. No fim, não era um urso quem guardava a caverna onde se localizava a Pedra Filosofal. Tudo aquilo não passava de uma armadilha de Herbert, que usou seu próprio irmão…
— Fagner — o alquimista cerrou os dentes — muito astuto da parte de Vagner, mas não entramos aqui despreparados. Diga onde está o seu irmão e vamos embora.
— Vamos? — Arthur perguntou, já tendo tomado o elixir. Petry fez um sinal para ele se calar.
— Vocês… são inimigos do irmão Vagner… devo matá-los… A QUALQUER CUSTO!!!
Sem aviso algum, Fagner começou a se contorcer. Conseguiram ouvir sons de ossos se esticando e aos poucos, a forma do oponente foi se alterando, apenas do tronco para baixo. Em questão de segundos, ele se tornou um…
— Centauro! — Arthur exclamou.
— Então essa é a maldição dele? — Julia ficou surpresa. As mãos negras totalmente imersas na escuridão.
Sem pensar duas vezes, Petry lançou sua tocha contra o inimigo transformado. Em câmera lenta, contemplaram o fogo girando, até colidir contra seu alvo. Chamas se espalharam por todo o corpo de Fagner, mas ao contrário do que era esperado, o homem não agonizava de dor, muito pelo contrário:
Fagner, totalmente em chamas, sorriu para seus inimigos, só aumentando a confusão.
— AHHHHH! — Arthur gritou — ele está pegando fogo… E SORRINDO?
— Meus cálculos indicam que o fato do meio-quadrúpede estar sorrindo é o problema de parâmetro menor, Art — Pulget esclareceu.
— Primeiro ataque… uma vantagem para mim — o oponente explicou, antes de avançar para um ataque, fazendo a trupe se separar pela área circular da caverna.
Estavam sem tempo para planos. Petry não possuía mais seu espelho, Julia estava impossibilitada de fazer um ataque direto, assim como Arthur e Luther. Como sempre, Herbert havia pensado em tudo.
— Pulget! — Arthur exclamou, desviando por pouco de uma investida do feroz centauro — bolas!
O homúnculo então se posicionou, materializando a esfera metálica. Se seus cálculos estivessem certos, o fogo não era capaz de impedir a colisão e seu impacto.
Lançou!
A bolinha cromada voou até o fogaréu animado que era Fagner, mas… nada aconteceu.
— Que?! — Arthur estava incrédulo — ela desapareceu! A temperatura a consumiu.
— Magnífico — foi Luther quem disse — Vós resistiremos a esta besta descontrolada, vou buscar reforços — o monge, da forma mais covarde possível, deixou a caverna.
— Que ótimo. O que esse louco vai trazer pra gente? Um balde de água? — Petry reclamou, sem disposição para aguardar os tais reforços — precisamos de um plano, amigos… Arthur, Pulget, preciso que vocês distraiam Fagner enquanto eu e Julia pensamos em algo.
— O QUE?! — O designado entrou em desespero — Mas… Senhor Petry, vamos morrer!
— Ah, pode ter certeza que um dia você vai — O alquimista piscou para o aprendiz — mas esse dia não vai ser hoje, confia.
Forçando coragem, Arthur se colocou diante do oponente descontrolado, fazendo uma clássica pose de combate. O homúnculo fez o mesmo, materializando uma de suas bolas, com outro plano em mente.
Fagner os encarou, sem grandes preocupações, apesar de não esquecer das palavras do irmão: “Jamais subestime seus inimigos, essa atitude é tola e deve vir deles”.
Pulget lançou outra bola, mas não em direção ao centauro, e sim a fazendo quicar pela caverna. O plano deu razoavelmente certo, já que o inimigo acompanhou o trajeto da bolinha com os olhos. Mas quando a mesma chegou perto, ele a segurou, transformando-a em pó graças à temperatura.
Arthur e Pulget tiveram um sobressalto diante de tanto poder, tiveram outro sobressalto quando o vilão avançou contra eles.
Em meio a distração, Petry e Julia se encontravam em um canto. O Mestre de misturas tinha uma ideia em mente:
— Vou precisar da sua ajuda — A garota, que estava apreensiva, porém concentrada, acenou positivamente — o meu casaco, que você está usando é feito de lã. E como é sabido, lã é um dos tecidos mais resistentes à combustão. Isso me deu uma ideia…
— Já entendi — Julia completou — quer que eu use minhas mãos assim que jogar o casaco sobre ele.
— Exato. Você é muito perspicaz, Julia. Consegue fazer isso? — ela novamente acenou, convicta — muito bem, vamos lá!
Arthur correu pela caverna em completo desespero, amaldiçoando Petry por ter lhe designado aquela tarefa suicida. O homúnculo novamente se pegou em devaneios a respeito do fim de tudo. O aprendiz de alquimista se viu sem saída, quando o inimigo enfim os alcançou, com um olhar assassino.
— Fagner Von Herbert — Petry chamou, fazendo o centauro se virar com curiosidade. O Mestre de misturas estava segurando o casaco estendido, como um domador de touros — é a mim que seu irmão quer matar. Por que não tenta fazer esse trabalho por ele, Verdammt nochmal.
Obedecendo ao chamado, Fagner avançou de forma segura contra o oponente. Por anos ouviu seu irmão reclamar de Petry e como era um egocêntrico malvado, então não podia perder a oportunidade de tirá-lo do jogo.
Mas quando estava quase perto, o alquimista simplesmente lançou o casaco sobre seu corpo, bloqueando sua vista. Fagner achou a estratégia muito fraca, já que era apenas remover o casaco ou esperar ele ser carbonizado… o que estava demorando para acontecer.
— AGORA, JULIA.
O centauro sentiu o impacto de um forte soco.
Sem perder tempo, Julia investiu com violência contra Fagner. Suas mãos negras socaram consecutivamente no ambiente escuro que se tornou a caverna; a lã realmente era resistente como Petry disse.
Socava todas as partes possíveis do oponente, o fazendo recuar. Canalizou todo o ódio e frustração por Herbert não se encontrar ali naqueles golpes. Afinal, Fagner era irmão do assassino de seu pai, seu maior cúmplice, então achava mais do que justo puni-lo de forma semelhante.
— SEU MALDITO! — gritou tão alto que sentiu a garganta se ferindo — EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ VIVER, NÃO VOU DAR ESSE GOSTO PRA ELE!
Boom!
O último soco foi tão forte que o centauro deslizou uns dez metros de distância de Julia, quase perdendo o equilíbrio. A garota então desabou, ficando com os joelhos no chão, extremamente esgotada pelo uso excessivo de suas habilidades.
Silêncio.
Fagner parecia abatido, porém ainda se encontrava de pé. Por cinco segundos todos os presentes seguraram a respiração ao que pareceram minutos… Ele se moveu.
De forma imprevisível, o centauro deu um salto em direção a Julia, jogando o casaco em chamas para um lado. Vendo que a garota não seria capaz de desviar, Adam Wolfgang Petry se jogou em sua direção, a empurrando no processo.
Julia se encontrava fora do alcance da investida do centauro, mas o alquimista não.
Me perdoe, pai.
Com uma velocidade sobre-humana, Petry foi atingido por um forte coice do centauro, sendo arremessado até a parede rochosa da caverna, quebrando vários ossos do tórax no processo.
— SENHOR PETRY!!! — Arthur, Pulget e Julia gritaram horrorizados diante da trágica cena.
— Eu consegui… irmão Vagner… — Fagner sorriu, vendo o corpo semi inerte do alquimista agonizar no chão, sorrindo pelo triunfo.
Os outros não eram capazes de reagir, chocados demais com a cena aterradora. Julia começou a chorar, rastejando para perto de Petry. Arthur socava o chão enquanto chorava de frustração. Já Pulget, pela primeira vez sentiu o horror que era a morte, já que de alguma forma, sentia como se tivesse perdido parte de si.
— EU CUMPRI… MEU OBJETIVO… IRMÃO FAGNER.
— Não esteja certo disso, blasfemador — Nenhum deles notou Luther chegando. Mas não veio sozinho: com um balde cheio d’água, não perdeu tempo em lançar o líquido contra o metade homem, metade cavalo incinerado.
Se vendo sem a vantagem, Fagner levantou a guarda. Mas Luther, com suas habilidades de luta, começou a investir contra o oponente. Mas apesar de conseguir feri-lo, sentia que não seria capaz de derrotá-lo apenas com aquilo.
Através da intuição, Arthur se pôs de pé. Junto com o homúnculo, indo ao auxílio do companheiro. Assim, o centauro teve que lidar com mais socos e bolinhas cromadas atingindo seu corpo.
Mantendo a guarda, o centauro conseguia apenas recuar, enquanto recebia a fúria manifestada de forma física pelos oponentes.
Julia, que ficou ao lado do enfraquecido mentor, se viu tomada por uma determinação ao ver os companheiros lutando. Então se pôs de pé, olhando uma última vez o homem a quem criou uma grande afeição, o vendo agonizar pela dor fatal.
Se lembrou de como ignorou seu conselho, vendo como ofensa a sua preocupação. Precisava se redimir, então ergueu novamente as mãos negras da falta de luz. Caminhou totalmente revitalizada em reforço aos amigos.
Mais socos se uniram contra Fagner, que aos poucos nem sequer era capaz de defender-se. Sentiu os pontos vitais serem atingidos, aos poucos perdendo qualquer capacidade de movimento. A trupe continuou, até que o corpo do inimigo estivesse completamente deformado ao fundo da caverna.
Nenhum deles trocaram uma palavra, mas nunca estiveram tão conectados quanto naquele momento.