Amor é Mais Complicado do que Parece - Extra 2
Aguentando uma festa
“Dezembro, durante as férias do segundo ensino médio”
Narração em terceira pessoa.
O dia começou com o som agudo da campainha, era Yuna. — Trouxe ingredientes, quer fazer bolo?
Era 12 de dezembro, dia que Izumi nasceu e, coincidentemente, apenas 7 dias antes do aniversário da própria Yuna, por isso os dois iam, meio que, comemorar juntos. Por mais que a garota ainda fosse comemorar de novo no dia, até porque, diferente do Izumi, ela tinha pique e animação para duas ou três festas seguidas.
O plano era simples, os dois começariam o dia fazendo um bolo juntos, queriam aproveitar uma boa manhã. De tarde, teria um churrasco, típico para a família do garoto, seria o de sempre: chamar todo mundo em casa. Não era o tipo de coisa preferida do não muito sociável rapaz, tanto que sua namorada até sugeriu que eles fizessem algo pequenininho na casa dela, mas ele, estranhamente, foi contra.
Motivos?
Eram vários; primeiro, sua família não ia gostar, eles sempre queriam festas grandes e ele não via problema em atender; segundo, uma espécie de auto desafio, ele queria se forçar a aguentar estar cercado por pessoas; terceiro, ele sabia que a Yuna ia se divertir mais dessa forma; quarto e último, porque deu na telha.
O resultado foi que, durante a tarde, fariam um churrasco e a casa ficaria cheia dessa, para o Izumi assustadora, coisa chamada pessoas. Entre as espécies de primatas bípedes convidados estavam, claro, familiares dos dois, amigos da Yuna e agregados.
Por fim, o fermento começou o seu trabalho. Com as mãos sujas, um sorria para o outro, a primeira parte do plano estava indo bem e o bolo ficaria, eventualmente, pronto; só faltava crescer. Também tinham que fazer a cobertura, mas isso ficou na conta da Lila, que chegou mais cedo e ajudaria o pai do Izumi a preparar o churrasco e os doces.
Livres, os pombinhos decidiram ir para o quarto do Izumi assistir anime. Do que dependesse da loira, eles teriam ficado na sala com o resto da família, mas Izumi queria… não! Precisava, sua alma pedia para que ele mostrasse para sua amada um novo anime: Kawaii dake ja Nai Shikimori-san. Essa era sua missão de vida! Pelo menos naquele dia.
No mínimo, fazer a garota assistir nosso herói foi capaz. Inclusive, foi fácil, bastou comentar uma vez. Assistir coisas juntos ou mostrar aquilo que gosta um para o outro já era um hábito dos dois, ao ponto que Izumi nem hesitava antes de parecer estranho ou um pouco empolgado demais para ela.
E a manhazinha dos dois acabou logo, com Yuna não achando nada demais naquela, segundo Izumi, divina obra de arte dos céus, o melhor entre os melhores animes do ano, cuja a opening, por si só, era mais interessante que muita merda por ai, cujos perssonagens eram tão fofo, cuja história tão perfeitamente simples que… foda-se, cansei… segue o jogo.
Teve umas coisa no meio, o bolo cresceu, Izumi foi colocar a cobertura e derrubou um pouco na pia, mas o aniversário começou e ninguém liga para esses detalhes.
Aí foi chegando gente, gente e mais gente, era tanta gente que parecia um formigueiro, Izumi até sentiu que sua energia começou a ser sugada.
Ainda assim, não fugiu para seu quarto imediatamente, ao invés disso, ficou com Yumi e as amigas da Yuna. Era muito mais fácil, para ele, conversar quando sua namorada estava por perto, por isso ficar lá servia como aquecimento para já ir se acostumando a socializar, ou algo do tipo.
Também, não vale a pena ficar tentando entender a cabeça do Izumi, nem tente.
Fato é que, na cabeça estranha dele, quanto mais tempo ficava conversando, mas a barra de confiança e de sociabilidade subiam. Por outro lado, a cada vez que ficava com vergonha, rejeitavam ele, ou se sentia rejeitado entre outras coisas, essa barrinha descia.
Vale dizer que com a sociabilidade baixa ou alta, ele continuava perdendo energia conforme passava mais tempo com pessoas à volta.
Resumindo a ópera, Yuna foi falar com outras pessoas, Izumi continuou naquela rodinha que lhe era mais familiar; para, só depois, encarar o desafio de comprimentar os parentes, que já era outra provação.
Primeiro, para comprimentá-los, precisava saber se usava aperto de mão ou abraço ou beijinho, um dilema complicado. Depois, tinham aquelas perguntas chatas que não queria responder, mas dessa vez estava determinado a responder.
E ele respondeu?
Não, claro que não. Bem, não foi por falta de tentativa, mas falta de prática, suas respostas tendiam a ser ou sucintas demais, ou pior, estranhas demais. O resultado foi a barrinha de confiança descendo; apesar de tapado, até mesmo o Izumi podia notar o quanto as pessoas não estavam interessadas no que dizia.
E lá foi ele recarregar a bateria ficando com a Yuna, que dessa vez estava conversando com os amigos de um tio do Izumi. O assunto? Música, eram três caras, todos na faixa dos vinte e poucos e trampavam com uma banda, além de sonharem ter a própria.
— Izumi, que tipo de música você ouve? — Tudo começou com essa pergunta da Yuna, quem notou que o namorado queria ser inserido na conversa e assim o fez.
Acabou sendo um saco, música não é um assunto interessante, pelo menos não para o garoto, mas ele ainda ficou ouvindo e respondendo de vez em quando. Apesar de tudo, como ele sempre presta muita atenção no que os outros dizem, pelo menos aprendeu bastante sobre produção musical e só isso.
Com a confiança restabelecida, caminhou para seu próximo desafio: entrar em um grupo de pessoas conversando do qual a Yuna não fizesse parte.
Falhou na primeira tentativa.
Mas sempre tem uma próxima vez, né?
E outra falha.
Nem acho que precise dizer como foi a terceira, né? Se com ele “confiante” e “sociável” já não tinha rolado direito, imagina abalado, foi um fracasso.
Pelo menos, ele deu “sorte” e uma tia, cujo nome tinha esquecido, quis começar a perguntar coisas para ele e, logo, estava conversando com as fofoqueiras da família, ou seria melhor dizer preso? Independente da resposta escolhida, o fato foi que ele só se libertou depois de uma hora e meia.
Morrendo, foi para o próprio quarto se esconder um pouco, Yuna viu e foi atrás preocupada, mas só encontrou um garoto dormindo cansado e ficou olhando suas expressões fofas enquanto cochilava.
E, num piscar de olhos, trinta minutos vão embora. Izumi fica com vergonha de ser observado, Yuna brincou com ele um pouco, os dois ainda desceram de novo para festa ficando uma hora lá até Izumi chegar no seu limite.
Impressionantemente, ele não quis desistir tão fácil, então Yuna só ficou sentada no sofá com Izumi semi-zumbi que ainda interagia mais ou menos com algumas pessoas. Por fim, ele desmaiou no ombro dela, que lhe deu um beijo de recompensa por todo o esforço.
“Como sempre, ele é muito bonitinho!” Yuna pensou sorrindo.