Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 97
Dia cheio
Visão Izumi
É incrível como o tempo é relativo, numa semana parece que cada minuto é uma eternidade e o novo episódio nunca chega, na outra, eu pisco e três dias passam, é muito estranho e injusto isso!
O tempo passou, já era uma quinta qualquer e eu ia, depois da aula, sair para ir no shopping fazer nada com o Luca e outras pessoas que não conhecia. No caso, nem o Luca eu conhecia de verdade, mas não vem ao caso.
Minha barriga queria me matar, minhas pernas pareciam um macarrão ao vento, tremolas e moles e meu coração estava pronto para virar o novo baterista dos Beatles, só faltava eles reviverem.
Estava nervoso e com sentimentos contraditórios, ao mesmo tempo, queria: que a hora de ir chegasse logo acabado com minha tortura e que o tempo congelasse.
Nessa mistura de pensamentos, lamentava que cada segundo fosse tão longo, enquanto dava graças a deus que ainda faltavam duas horas para acabar a aula.
Tudo tem fim e, por mais relativo que seja, o rio do tempo nunca pára, pode tentar chamar o esquadrão de castores mais pica do mundo, eles não vão fazer uma barragem que pare esse rio do caralho.
— Bora? — Uma voz muito simpática chamou, junto dela vinha um sorriso tão constante que comecei a achar que fosse uma máscara.
Devo ter respondido que sim, ou algo do tipo com a cabeça e segui o rapaz com a cabeça de sol, no caso, o cabelo platinado. Enquanto isso, meu coração já estava pronto pro show, só no tum! Tum! Tum! Rítmico.
Assim, entre um tic! um Tum! E um tac! As onomatopeias foram tomando aquele silêncio constrangedor, em que, sem contar a passagem do tempo, nada mais acontecia. Minha boca era um túmulo, um espartano se sentiria orgulhoso do quão pouco eu interagia e uma estátua falaria que eu sou meio quieto.
“Boa sorte!” Uma mensagem apareceu no celular, claro, era a Yuna. “Vc visualizou bem rápido, hein?” Ela continuou. “Não fica só olhando pro cell, respira e tenta não pensar em nada, fala que vier na telha; no pior dos casos, vão rir da sua cara e vc pode falar que foi brincadeira, então vai!”.
Respondi com um simples “obg”, não queria perder muito tempo, guardei logo o celular no bolso e respirei fundo.
Com as palavras da Yuna, meu fogo se acendeu. Mesmo que os galhos fossem úmidos e estivesse chovendo, a fogueira da minha determinação não iria se apagar! Pelo menos por uns 15 segundos.
Usando desse temporário boost na minha força de vontade, tentei dizer algo. Fui o mais honesto possível, sem nem pensar em nada disse:
— Desculpe, não ouvi nada do que você falou, estava muito nervoso. Também desculpa não ter falado nada até agora, estava sufocado entre os escombros do que sobrou do trabalho dos castores.
Minha voz foi tipo música alta no fone dos outros, está tão alto que você consegue entender que é uma música e, talvez, uma palavra ou outra, nada mais.
— Cara, fala um pouco mais alto, nem consegui ouvir.
Dei um passo pra trás, por mais que fosse um rosto sorridente e simpático, parecia ameaçadoramente cruel para mim, se continuasse assim iria ficar com sorrisofobia! Tá, exagerei um pouco aqui.
A verdade foi: dei um mini passo para trás, curvei os ombros, olhei para o chão e comecei a respirar um pouco mais pesado.
Uma Yuna semi-transparente apareceu atrás de mim e me disse para dar meu melhor, o que era bastante reconfortante. Nessas horas, a minha imaginação podia ser bem útil.
— Foi mal, eu fico muito nervoso nessas horas, desculpa. — Fui honesto, não conseguia pensar em outra coisa que poderia dizer.
Luca passou a mão na minha cabeça. — Puft! Não tem problema… — Ele riu um pouco mais alto. — Sempre achei que você não gostasse de ninguém, mas é só tímido, te entendi mal por todos esses anos, hahaha!
— Desculpa.
— Não precisa se desculpar, mas e ai, o que gosta de fazer?
Hesitei um pouco. — Assistir animes e umas outras coisas… — Minha voz foi perdendo pressão, até não sair mais.
— Já viu Shingeki? É muito bom, um amigo insistiu e eu vi, puta que pariu! Pensa numa bagulho foda, já no primeiro episódio explode sangue para todo lado, fiquei imóvel na cadeira, tenso e arrepiado. — Ele me mostrou o braço. — Na real, só de lembrar eu já dou uma arrepiada. E o que dizer daquela música pica.
— Sim, sim, é muito bom, já assisti tudo e li o manga… bem, ignorando o final, é simplesmente muito foda. No começo, é tipo um desses filmes americanos de apocalipse zumbi, a diferença é que os japoneses elevam o negócio a outro nível. Lutar contra uns gigantes, que se regeneram e muito tensos.
— Foda demais…. — Assim a conversa seguiu por um tempo, fui me empolgando e perdendo a timidez, não completamente; mas, pelo menos, dava para ter uma interação.
— E ai!
Então duas pessoas apareceram. Um era alto, sem zoeira, muito alto mesmo e o outro tinha cabelo colorido, uma parte azul e a outra roxa, também alto e mais gordo e musculoso.
Não tinha como evitar, eles pareciam muito com uma dupla de assassinos espaciais. O vareta e o bolinha, um forte e o outro mais estratégico e rápido. Na minha frente, eu já podia ver a festa chique, o gordo disfarçado de segurança, a vareta tinha sua sniper em mãos, o alvo? Ninguém mais ninguém menos que Ijumi, um garoto pequeno, devia ter seus 14 anos, era filho de alguém importante.
Espera! Foi aí que eu notei, o garoto era muito parecido comigo. Meu corpo travou, fiquei com medo dos dois e dei um passo para trás, eles queriam me matar!
Ok, brisas a parte, eu realmente não consegui mais conversar direito depois que os dois aparecem, já que os três, Luca, magrinho e gordinho, eram muito próximos e estavam falando de futebol, assunto que não dominava.
Várias coisas aconteceram… na verdade, nada aconteceu, porque eles só queriam conversar andando de um lado para o outro. Por fim, fomos ver um filme, King Kong vs Godzilla, se quiser saber.
Assistida a rinha de animais gigantes, saímos. Só teve um problema, era muito imaginativo, por isso filmes 3d me deixavam apavorados.
— Haha! Como consegue ser tão medroso, Izumi. — O vareta ria bem alto, não achava muito confortável ser o centro do assunto, mas todos estavam rindo então achei que fosse algo bom, né?
— Você é bem patético, né. — O fortão disse.
— Ola! — Uma Yuna apareceu e interrompeu a conversa. Por que? Bem, antes já tinha combinado que depois de irmos ao cinema, íamos adicionar ao grupo Yuna e um outro amigo do Luca. — Posso saber por que o Izumi é patético?
Glup! Yuna parecia meio irritada e chegou muito perto do bola, que tinha 1,87 e muitos músculos, mas deu um passo para trás no susto.
— Sou, Luca, esse é o Guto — Luca aponta para o bola, depois para o vareta e o apresenta também — e esse é o Léo, você deve ser a Yuna, né?
— Sim, é um prazer conhecê-los, — Yuna abre um lindo sorriso e me puxa para perto abraçando meu braço — sou a namorada do Izumi.
Uma coisa posso afirmar, as coisas são sempre melhores quando a Yuna está por perto. Os três parecem ficar surpresos e impressionados, o que me deixa um pouco envergonhado, mas era melhor do que quando estavam rindo de mim.
Ah! E não pense que a Yuna esqueceu o assunto, ela ainda obrigou o Guto a explicar porque eu era patético, acho que ela ficou realmente incomodada em ouvir isso.
Depois achei que o clima fosse ficar ruim, ou algo do tipo, mas ficou muito bom, Yuna conseguiu fazer todos gostarem dela rapidinho.
A propósito, a sexta pessoa se juntou , era Caio, mais um amigo do Luca, um cara com cabelo muito longo, mais longo que o da Yuna.
De uma forma ou de outra, acabei sendo introduzido à conversa.
Primeiro pela curiosidade que as pessoas tinham sobre o meu relacionamento com a Yuna, principalmente quando ela não estava por perto, as perguntas vinham em enxurrada.
O segundo motivo, foi que a Yuna sempre me chamava para a conversa, não me deixando ficar de fora, o que facilitava bastante a vida, devo dizer.
Assim, eu consegui ter uma boa, divertida e relaxante tarde até me despedir de todo mundo.
Visão Yuna
— Você é bem patético, né. — A primeira coisa que vi, foi um cara fortão colocando o Izumi para baixo. Se ele ainda estivesse rindo junto, eu poderia deixar passar, mas ele claramente estava com vergonha.
Um tópico de conversa fácil e zoar outros e Izumi tinha se tornado um alvo fácil, claro, não ia deixar isso acontecer. Qualquer pessoa olhando meu namorado de cima para baixo ou achando que ele não era grande coisa me deixava puta, muito puta!
No fim, ainda consegui me acalmar e não matei ninguém, só pensei sobre. Também fiz questão de destacar como o Izumi tinha uma namorada linda e era muito melhor do que aqueles três! Ahan! Que fique claro, nem eram pessoas ruins, Luca era até legal
Depois tem a parte em que as coisas fluem naturalmente, conversamos sobre várias coisas, fizemos compras, fomos para uma excelente loja de doces. Resumindo, tive uma tarde divertida.
Izumi continuava tímido, sem conseguir se soltar muito, mas não tinha o que ser feito, esse seria um processo lento e, também, não tinha para que aparecer.
Nós despedimos dos quatro, então… — Izumi, agora vamos encontrar com a Yumi.
— Que? Por que? — O garoto, claro, ficou surpreso, mas ainda iria fazer ele tentar socializar mais um pouco naquele dia.
Por algum motivo, meu namorado continuava tendo um pouco de medo da Yumi, mas foi perdendo isso com o tempo e as coisas foram bem.
Passamos por mais uma loja de doces, dessa vez não peguei nenhum, fizemos algumas outras coisas, tipo patinação no gelo.
Inclusive, Izumi, surpreendentemente, andava muito bem, mesmo sendo sua primeira vez. De alguma forma, o equilíbrio dele era excelente, fosse para pular de uma pedra para outra, ou para patinar, ele nunca caia.
Eu, por outro lado, fiquei frustrada, por não ir bem, mesmo sendo minha 5° ou 6° vez, mas Izumi me deu a mão e me ajudou, o que foi fofo e, posteriormente, sensual.
Sim, nos beijamos enquanto patinamos no gelo.
A situação foi a seguinte, estava tentando, de boa, patinar; quase cai e Izumi me puxou para ele, então giramos rápido e, não sei como, o garoto conseguiu nos manter de pé.
Só nisso, todo mundo já estava olhando.
Então, com meu corpo inclinado, quase caindo, Izumi olhou para mim com minha cintura envolta em seus braços e perguntou se eu estava bem.
Não resisti.
Sério, tava muito romântico o clima, parecia que estávamos no gran finale de uma dança épica de valsa.
Fiz a cara de me beija e o Izumi foi lá e me beijou, coisa que ele nunca fazia antes. Comemorei internamente que ele tinha se tornado mais agressivo com o tempo, porque gostava bastante dessa parte do Izumi.
Então, com todo mudo olhando para a gente, meu namorado ficou envergonhado e… quase caímos. Sim, Izumi soltou um pé e começou a perder o equilíbrio, mas deu um jeito de me levantar e retomar o centro de gravidade.
Aplausos!
Foi realmente incrível e teve até uns dois ou três loucos que aplaudiram. O garoto quis se esconder atrás de mim, mas o mostrei para o público e disse que ele deveria receber a atenção com orgulho.
Resultado, ele continuou escondido atrás de mim e eu cai tentando puxar ele.
Por fim, fomos jantar, Yumi, Izumi e eu. Deixei a escolha do lugar para meu amado, ele até tentou fugir e dizer que estava bem com qualquer coisa, mas não teve jeito, eu queria que ele decidisse.
Nós sentamos, comemos, conversamos um pouco sobre várias coisas e Izumi já estava mais próximo da Yumi.
E, assim, o dia acabou com Yumi dizendo:
— Vocês parecem marido e mulher já, ahh! Que inveja, eu queria um relacionamento assim, qual o segredo? — Ela tinha terminado com o namorado recentemente.
Nós coramos com aquela constatação e foi isso, não conseguimos responder pela vergonha, mas diria que o segredo é… segredo, claro.