Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 89
A luz tá ai para isso, só não usa quem não quê.
Visão Izumi
Ficamos um tempo apenas em silêncio. Ficar quietinho apenas ouvindo o coração da Yuna bater era muito relaxante. Daquele dia em diante, comecei a amar abraços ainda mais. E pensar que um dia cheguei a não gostar deles, absurdo!
Esperava que as coisas fossem continuar daquela forma, achava até que Yuna já tinha pegado no sono e eventualmente faria o mesmo. Me contrariando de repente, a garota puxou assunto ao perguntar:
— Ainda está acordado? — Respondi que sim. — Só tem uma coisa que não consegui entender até agora, por que raios você não ligou a luz?
Fui pego de surpresa pela pergunta; não tinha, até aquele momento, pensado na razão. Se parar e pensar sobre, não era uma decisão que fazia muito sentido lógico.
Obviamente, fiquei em silêncio por um bom tempo, queria dar uma boa resposta. Podia dizer que era uma última demonstração de respeito aos caprichos do meu avô; porém, no fundo, sabia que isso não era verdade.
Demorei um bocado, mas cheguei a uma explicação. — Senti que precisava fazer isso, não sei o motivo, sei lá, só fiquei irritado com meu próprio medo do escuro. — Tentava ao máximo explicar de forma normal.
— Isso foi surpreendentemente normal. —Yuna reconheceu meu esforço. — Izumi, você só estava frustrado, irritado consigo mesmo.
E, de novo, Yuna tinha simplesmente iluminado aquilo que estava escuro. Naquele momento, ela estava me entendendo melhor do que eu mesmo.
Devo dizer, isso era um pouco assustador, alguém te ler melhor que você mesmo, aquilo dava, pelo menos para mim, a sensação de que, dentro da minha cabeça, estava uma garotinha loira chibi vestindo uma roupa de espiã azul averiguando todos os arquivos.
Ok, acho que isso não importe muito.
— Então, o que acha? Estou certa? — Yuna estava muito orgulhosa de si mesma, o que era um pouco divertido.
Pensei por alguns segundos. — Sim. — Afirmei de forma surpreendentemente categórica, o que não fazia com frequência.
Naquele instante, eu tinha convicção de que era impossível Yuna estar errada, por isso conseguia responder com tanta convicção e, ao entender o problema, minha primeira reação foi já contar com a Yuna.
— Como eu faço para superar isso?
— Sei lá, para começo de conversa, por que se sente frustrado consigo mesmo… Na verdade, tem certeza de que quer virar a noite? Esse papo vai ser longo.
— Sem problemas, não acho que conseguiria dormir mesmo.
Yuna me soltou do seu abraço, ligou a luz do quarto e se sentou de pernas cruzadas e de costas para mim, fiz o mesmo e usamos as costas um do outro como apoio para sentar melhor.
— Meio que sempre quis perguntar isso, Izumi, o que acha de si mesmo, melhores, quais adjetivos usar para se descrever.
Primeiro pensei em que tipo de resposta ela gostaria de ouvir, mas logo lembrei que era um péssimo mentiroso e fui honesto:
— Sou covarde, fraco, medroso, tímido, indeciso, estranho e feio, diria
Yuna chegou bem perto de mim, tocou no meu rosto e, agindo como se eu tivesse falado mal da roupa dela, ou algo do tipo, disse: — Você não é feio! É fofo, buu!
Fiquei um pouco surpreso e envergonhado, por outro lado, Yuna reclinou mais seu corpo na minha direção, podia sentir seu ótimo aroma.
— Além do mais, não te chamaria de fraco, talvez inapto para a maioria dos esportes seja a melhor palavra, fraco é muito abrangente, você pode ser muito forte em alguns momentos. Espero que entenda, você não é nem fraco nem feio!
— Ou seja, o resto tá certo. — Fiquei surpreso, esperava que ela fosse negar o que eu disse ou algo do tipo, mas ela basicamente tinha concordado com tudo.
Ela deu de ombros. — Sim, e daí? Você de fato é covarde, tímido, medroso, indeciso, estranho de um jeito bom e de um jeito ruim, além de inteligente, fofo, honesto, dedicado, divertido e gentil.
Eu conseguia entender o que Yuna queria dizer com aquilo, mesmo assim… — Para mim os defeitos parecem tão maiores e também vejo vários pontos duvidosos sobre as qualidades que você apontou.
— Não acho que vou te fazer mudar de ideia assim tão fácil, é frustrante; mas, por agora, não importa muito, na verdade, o que eu queria saber é, desses defeitos, qual é o pior?
Demorei para responder.
O primeiro problema era que, novamente, a Yuna me surpreendeu com o que disse, eu já não tinha a menor ideia do que estava se passando na cabeça dela. A surpresa me atrasou um pouco.
O segundo problema foi: não sabia, pelo menos não de primeira, qual a resposta, o que mais odiava em mim mesmo. Precisei pensar um pouco, na verdade, acho que foi bastante tempo; Yuna estava esperando por isso, por isso não teve problemas em aguardar pacientemente.
— Eu realmente sou indeciso, hein? — Antes de chegar a resposta, comentei para quebrar o silêncio.
Yuna deu uma risada misturada com um suspiro cansado. — Sim, muito.
— Desculpa.
— Não tem problema e pare de se desculpar o tempo todo. — Levei mais uma, dessa vez na nuca.
Mais algum tempo se passou.
— Sou covarde, não me sinto como alguém confiável, muito menos confiante, não posso ser legal como você, nunca tenho coragem para nada e acabo sendo, por causa disso, um completo inútil.
— Então, por que não tenta mudar isso?
— Como?
— Que tal começar tendo a coragem de procurar a resposta por si mesmo? — O conteúdo do que ela disse era bem duro, mas Yuna não perdeu, nem por um segundo, o tom suave e gentil.
Não dei uma resposta na hora, não conseguia pensar em nada. — Pode pelo menos me dar uma dica?
— Poder eu até posso, o problema não é que eu não queria ajudar, só não acho que vai funcionar, não posso decidir por outra pessoa, Izumi, você é o único que deveria controlar sua própria vida. Se não fizer isso, posso e, provavelmente, vou acabar tomando o controle inconscientemente, quer isso?
Yuna, propositalmente, perguntou de uma forma muito doce e leve, sua expressão quase me convenceu de que não importava a resposta que eu desse, ela apenas sorriu feliz.
Não vou esconder que senti uma pequena tentação a dizer sim, normalmente qualquer um responderia que não pelo senso comum, mas eu nunca tive muito disso e, só com nós doi ouvindo, não me sentia muito pressionado a lugar para as regras da sociedade.
— Não. — Ainda assim, uma certa chama de coragem surgiu em mim no último segundo, todos precisamos assumir a responsabilidade pelas nossas próprias vidas.
— Nesse caso, por que não pensa na pessoa que você quer ser? De que forma quer que seu eu do futuro aja e seja? Tente, ao máximo, alcançar isso e estará enfrentando a frustração que sente de si mesmo. Agora, o que você quer ser, Izumi?