Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 88
Um aspirador de pó
Visão Izumi
Algum tempo depois de reagir de forma exagerada, consegui me acalmar sem problema. Meio envergonhado pedi desculpas para a Yuna que não aceitou minhas desculpas e disse:
— Quer comer um sorvete e assistir anime?
E foi assim que ficamos duas horas enrolando na sala. Claro, mesmo nessa situação, eu evitava ao máximo olhar qualquer coisa ao redor. Nesse sentido, estar assistindo anime me ajudou muito, eu podia apenas focar em ficar olhando para a tv.
A propósito, Hina tinha comprado um chromecast, por isso consegui espelhar meu celular na tv, o que era muito prático.
Depois que tivemos um tempo para relaxar, voltamos para o quarto e o clima já estava meio pesado de novo, pelo menos para mim, afinal eu me sentia um pouco contra a parede naquele momento.
Enfim, tudo começou comigo e a Yuna conversando de boa, até que o assunto chegou no motivo de eu ter saído do quarto no meio da noite. Resumi o motivo, mas minha explicação não era exatamente muito boa, até porque, para começo de conversa, eu nem sabia a razão exata para eu não conseguir dormir.
— Bem, sempre que eu deito na cama e fecho os olhos, sinto como se estivessem usando um aspirador de pó dentro de mim. O vento passando rápido me dá o equivalente a um frio na barriga no corpo inteiro e me sinto aflito, não gosto. — Para começar a explicar o que estava sentindo, usei essa, de fácil entendimento, analogia.
Não precisei olhar para a Yuna nem por meio segundo para entender que minha explicação tinha sido ruim. Fiquei em silêncio e comecei a tentar repensar, para encontrar uma forma melhor de dizer.
Olhava de um lado pro outro, tentava vasculhar minha mente. Nada, não conseguia pensar em nenhuma forma de explicar. Na verdade, nem eu me entendia direito, quem deveria conseguir explicar isso.
A garota suspirou de leve. — Não parece que está funcionando muito bem, Izumi, você não consegue pensar em nenhum outro momento que sentiu algo parecido?
Uma lâmpada surgiu em cima da minha cabeça! Vendo aquilo, pensei em pegar o objeto e usar, já que a luz do banheiro tinha queimado. Falhei miseravelmente, era apenas minha imaginação me lembrando que tive uma ideia.
Agora, falando sobre a iluminação que tive, após ouvir a sugestão da minha namorada, lembrei, na hora, que já tinha sentido algo do tipo.
— Já sei! É mais ou menos a mesma coisa que senti quando ficamos uma semana sem falar, pelo menos em parte.
Os lindos olhos azuis me encararam por alguns segundos e a dona deles sorriu e fez um cafuné em mim. — Entendo, desculpa ter te deixado com tanta saudade.
Saudade: sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas. Obviamente, eu sabia a definição das palavras, mesmo assim não passou nem por um segundo pela minha mente que aquilo era o que estava sentindo.
Naquele momento, Yuna realmente parecia como um sol para mim, quando sua luz estava presente era fácil de ver as coisas com clareza e o caminho parecia óbvio, retire a luz e não tem como ver mais nada.
Enfim, encontrar uma palavra melhor que aspirador de pó para descrever o que estava sentindo era bom, mas não uma resolução do problema. Aquele ponto já estávamos a um bom tempo só tentando entender meu problema.
— Desculpa… — Naturalmente, me senti culpado por ser tão problemático. Nem me explicar direito eu conseguia e isso era um problema. Aquela minha inutilidade era… bem, ainda não tinha a palavras certas para isso, por tanto só chamava de irritante.
Yuna tocou no meu rosto, deu um sorriso gentil, apesar de, no fundo, parecer um pouco irritada com o que eu disse, talvez estivesse testando demais a paciência dela. De repente ela colocou mais força na mão que estava no meu rosto me forçando a deitar.
Não resisti e logo estávamos deitados encarando um ao outro. Nos lindos olhos azuis dela eu conseguia me ver refletido. Como sempre, o olhar e presença dela me absorviam completamente.
Ela me abraçou, — que saco, está tudo bem — começou a fazer um cafuné gostoso em mim — o que está sentindo agora?
— Calor… — Minha resposta foi imediata, mas não passei da primeira palavra, não consegui descrever de outra forma. Era literalmente quente pelo contato corpo a corpo, ao mesmo tempo, era quente por dentro.
Yuna riu de leve, ela parecia ter entendido o que queria dizer com apenas uma palavra. — Acha que isso é o suficiente para compensar o frio interno que está sentindo agora, ou pelo menos avaliar assim como a brisa o calorzinho de uma fogueira?
Me surpreendi um pouco de primeira, aquela provavelmente não era a primeira analogia que pensaria, mas, de repente, ela estava falando numa língua muito parecida com a minha, aquilo era exatamente o que estava sentindo no momento.
— Como? — Inconscientemente, perguntei.
Um risinho presunçoso. — Não me subestime. — Estava com as cara no peito dela, por isso não via o rosto da Yuna, mas podia adivinhar que ela tinha um rosto orgulhoso.
Como resposta, me acomodei um pouco melhor nos braços dela e disse algumas palavras de elogio, imaginei que ela fosse gostar.
— Agora, que palavra daria para esse sentimento? — Por algum motivo que nunca vou entender, ela perguntou isso.
Não tinha nenhuma resposta em mente, mas uma ideia engraçada veio. — Yuna.
— Que? — Todo o clima fofo da situação foi destruído, desculpa. — Quando que meu nome virou adjetivo?
— Desde sempre, está até no dicionário, yuna, aquilo que provoca deslumbramento, ou aquilo que é muito bom, ou algo de grande gentileza, também usado como adjetivo genérico para tudo o que é bom.
Yuna adorou a piada. — Para ou eu te mato. — Como podem ver, ela morreu de rir, riu tanto que me pediu para eu continuar com as definições.
— Você usa meu nome como verbo, eu também posso.
— É diferente.
— Diferente como?
— Sendo!
E assim acabou a discussão, afinal, contra uma força maior, eu não podia fazer nada. E esse foi o dia que tiraram a palavra yuna do dicionário, não só isso! Chegaram até mesmo ao ponto de voltar no tempo e apagá-lo do primeiro dicionário criado, assim, no futuro, ninguém saberia que a palavra sequer existiu.