Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 86
Morte a janela!
Visão Izumi
Pouco tempo depois que a Hina se despediu, finalmente sai do sofá. Ainda me mantive olhando para o chão, tentando evitar que as lembranças voltassem, mas já era inevitável. Algo estava mudando dentro de mim, eu querendo ou não.
Pelo menos, graças a isso, consegui fazer as coisas normalmente, no caso, tomar banho e ir para a cama. Já era tarde, não tínhamos muitas coisas para fazer e era melhor deixar o resto para quando estivessem descansados.
A casa era bem grande e com 4 quartos, mas, por motivos óbvios, preferi não usar o mesmo quarto da Hina, também não queria usar o dos meus avós nem o meu antigo quarto, o que me deixou com só uma opção restante.
O quarto de visitas, no caso, o segundo quarto de visitas, com duas camas de solteiro, uma em cada canto. Entre as camas, havia uma mesa onde dava para trabalhar ou estudar e servia de criado-mudo para as duas camas.
Ou seja, sem ecchi por hoje.
A propósito, lá também tinham janelas e um armário médio, só o suficiente para deixar algumas roupas. Como disse, era só um quarto de visitas para quando os familiares iam passar um final de semana ou uma semaninha.
Enfim, deitamos cada um em uma cama. Eu fiquei no canto esquerdo e a Yuna no lado direito que era mais perto da porta.
Até aí o dia estava normal, mas o tempo foi passando, passando e passando sem que eu conseguisse dormir.
Nunca tinha tido problemas do tipo, pegava no sono muito rápido. No pior dos casos, apenas imaginava que estava dentro da cabine de uma espaçonave, agarrava uns pedaços do cobertor para serem os controles da nave e me imaginava numa guerra espacial até pegar no sono.
Naquele dia, porém, não conseguia de forma alguma me concentrar nas minhas próprias brisas. Sim! Nem ser um drogado por natureza estava conseguindo ser. Não que eu não conseguisse imaginar, o problema era o foco. Uma hora estava no meio de meteoros sendo perseguido, no instante seguinte estava comandando uma nave gigante contra vários inimigos.
Nada fazia sentido!
Não, ainda pior, nada fazia sentido mesmo para mim, isso era o quão louca minha mente estava no dia. E, para melhorar, as vezes pegava no sono por minutos e meus sonhos foram se misturando ao que pensava, ao ponto que não sabia se estava dormindo ou acordado.
Nunca tinha tido nada do tipo, mas o sentimento era horrível, era como se estivesse flutuando entre estar consciente e não, enquanto meu cérebro me levava a onde bem entendia.
No fim, não aguentei mais e desisti de dormir. Era só virar a noite e tudo ficaria bem, fazia isso direto vendo animes, não via porque não. Era só pegar meu celular, deixar o brilho no mínimo e…
— Espera, onde está meu celular? — murmurei para mim mesmo enquanto vasculhava o quarto em silêncio.
Demorei um tempo para lembrar, mas, por fim, minha mente foi solícita e encontrou nas minhas vagas memórias do dia a resposta, estava no sofá, eu tinha esquecido lá.
Não tinha o que fazer, eu precisava do celular, por isso só me restava sair do quarto no máximo silêncio possível e chegar lá.
Sair foi fácil, a porta estava aberta afinal, mas foi aí que encontrei um grande problema, o escuro. Não só a falta de luz, mas a casa em si era muito assustadora.
Entenda, meu avô tinha um daqueles porta chapéus e, de noite, aquela merda parecia muito um cara esperando para me esfaquear.
Não só isso!
Tinha uma porra de uma janela alta, perto do teto, por onde a luz da lua podia entrar bem de leve e por onde passavam pássaros. Bastava olhar para aquilo um pouquinho mais e, com um pouquinho de imaginação, rapidamente podia ver corvos e bruxos.
A lista de coisas para me assustar segue, mas não vale a pena citar tudo.
E por que não ligar a luz? Claro, eu poderia usar esse recurso mágico, esse recurso que sempre usava quando era criança e sempre levava meu avô acordar e gritar comigo. Lembro que, na época, muitas vezes ligava a luz só para chamar a atenção dele, mesmo que não precisasse ir para a sala, virou quase um hábito diário.
Inclusive, desculpa vô, perturbei seu sono muitas e muitas vezes.
“Não quero acordá-los.” Pensei resoluto. Aquilo que nunca tive coragem de fazer quando criança, andar por aqueles corredores de noite, decidi que faria mais velho. Óbvio, não tinha mais ninguém para acordar, mas ainda queria, pelo menos daquela vez, seguir a regra de não ligar a luz depois da meia-noite que nunca tinha seguido.
Dei o primeiro passo determinado, me senti um pouco desafiado a fazer aquilo, queria provar para mim mesmo que eu tinha crescido.
Foi um erro, porém.
Minha mente estava pronta para trabalhar a todo vapor para me foder. É foda!
Aquee homem, aquele maldito homem alto! Seu corpo esguio, sempre com um chapéu na cabeça e um na mão, sem nenhum rosto se aproximava devagar.
Queria correr.
Aqueles cipós, eles vinham da escuridão para envolver meus pés, me amarrando no luar. Era desesperador, mas em segundos meu corpo foi imobilizado por eles.
A cada instante, aquele projeto de slenderman podia se aproximar.
Por trás, sons tenebrosos me aterrorizavam. Era o vento passando pelas frestas da janela, ou talvez sussurros de fantasmas? Não tinha como saber, mas podia os ouvir com clareza, na verdade, ouvia cada vez mais claramente.
Estava se aproximando.
Por aquela janela, pude ver um corvo pousado e, na escuridão, se deformar. Seu corpo pequeno se contorcia ao ponto dos seus ossos perfurarem a carne e serem visíveis.
Outros pássaros pretos se aproximaram e, delicadamente, tiraram a pele do corpo contorcido, deixando apenas os músculos perfurados por ossos amostra.
Era grotesco.
Por trás os fantasmas, pela frente um homem e nem mais para onde olhar eu tinha.
Paralisado e apavorado, não sabia como reagir enquanto meu coração acelerava cada vez mais. O sentimento era pior do que de um pesadelo, pois estava acordado.
— Ha! — Um som alto veio por trás, era de uma voz familiar minha, mas na hora não reconheci, só me assustei.
De forma patética fiquei com a respiração instável, então, apavorado, tapei os ouvidos e tentei ignorar tudo ao meu redor enquanto chegava perto das lágrimas.