Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 83
Protegido dentro de um casulo.
Visão Izumi.
A Yuna estava tão linda quando a luz, sumindo no horizonte, iluminava parte do seu rosto. Em um lado do rosto dela seu cabelo brilhava como sol, o azul era vibrante e sua pele branca brilhava. Do outro, seu cabelo tinha um dourado escuro lindo e seus olhos pareciam como um mar profundo.
Acabei beijando ela. Não tinha o que fazer, meu corpo se moveu sozinho. Meu amor pela Yuna estava explodindo por vários motivos, tinha ficado “muito” tempo sem ver ela (menos de uma semana) e ela estava me ajudando muito.
— Obrigado — agradeci honestamente.
Para mim ter conhecido a Yuna tinha sido a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Na verdade, principalmente por isso não conseguia ser completamente honesto com ela, meu medo de a irritar ou qualquer coisa do tipo era muito grande.
Enfim, esse não é o assunto importante no momento.
Por fim, estava de volta à entrada da casa. Não se preocupe, não vou ficar descrevendo tudo de novo, me limitarei a dizer que era uma porta nostalgia.
Tinham sido longos 5 anos, durante todo aquele tempo meio que fugi das memórias desagradáveis. Não lidava nada bem com a morte dos meus avós.
E por que iria chamar a Yuna tão casualmente para um lugar desses? Bem, eu tinha dois motivos principais.
Primeiro, eu de fato sentia que parte da minha essência estava lá e eu queria mostrar isso para ela! A forma idiota e inútil como passava os dias, as coisas que gostava, queria mostrar tudo isso para Yuna.
Segundo, estava com muita saudade daquela casa e esperava finalmente conseguir voltar para lá, eu sabia que com a ajuda dela eu conseguiria e vi naquele um bom momento de pedir esse apoio.
Claro, nem por isso, eu deixei de travar quando vi a porta na minha frente. Não, travar é a palavra errada, afinal eu estava tremendo bastante.
Já disse que sou covarde?
Tinha certeza de que aquela casa estaria cheia de fantasmas. Fantasmas do meu passado, fantasmas que carregam memórias, fantasmas que eram assustadores.
Me escondi atrás da Yuna. — Pode abrir a porta e entrar primeiro, estou com medo. — Não tinha problema em mostrar minha fragilidade, muito menos orgulho de querer parecer corajoso ou legal. Manter uma boa imagem nunca foi uma das minhas prioridades na vida.
Aqueles lindos olhos azuis me encaravam com gentileza e um sorriso caloroso apareceu. Depois veio a dor e minha mão foi esmagada.
— Vamos, eu puxo você. — Traduzindo, estarei ao seu lado e você vai encarar seus medos, porra!
Uma dica, uma forma eficiente de enfrentar um medo, é ter algo ainda mais assustador atrás de você… pera, já não disse isso antes?
Enfim, a Yuna era bem convincente, por isso concordei com a cabeça.
Ela não soltou minha mão, mas me deixou ficar atrás dela escondido. Andamos em direção a porta, ela levou, devagar, a mão até a maçaneta, então um segundo antes de tocá-la ela pareceu se lembrar de algo. — E a chave?
— A porta deve estar aberta, duvido que minha mãe lembrou de trancar. — Yuna mostrou uma reação estranha quando falei “minha mãe”. Na hora, nem liguei, não sabia que ela já tinha descoberto que na verdade era minha tia.
Por que eu a chamava assim? Bem, essa é uma longa história para outro momento, não vou spoilar.
Yuna tentou abrir, a porta estava trancada. Com certeza alguém além da minha mãe tinha passado por ali.
— Você não tem a chave? — perguntou meio irritada.
— Claro que não? — E eu garanti que o meio pudesse ser removido da frase anterior.
— Como vamos entrar agora?!
Eu continuei relaxado e achei a preocupação da Yuna um pouco engraçada, mas, pelo bem da minha alma, logo revelei a minha arma secreta, a “chave” escondida embaixo do tapete.
— O que você vai fazer com esses restos de clips?
Fui, ainda com medo, até a porta, comecei a mexer na fechadura e expliquei: — Meu vô sempre esquecia a chave por aí, até que um dia ele cansou e decidiu não ter mais chave. Aí os cachorros começaram a entrar em casa direto, eles aprenderam a abrir a porta, espertos né? Enfim, aconteceu que ele precisava de um jeito de trancar a porta e não ter chave, aí ele achou esse método.
— Pera, você está me dizendo que, ao invés de ter um chaveiro como uma pessoa normal, seu avô achou mais fácil aprender a arrombar a porta?
— Sim, tem clips espalhados por toda a entrada da casa, tem três conjuntos debaixo desse tapete, um ali na janela, outro… — Acho que ninguém está interessado em saber todos os esconderijos, não é mesmo?
— Izumi, não quero ser ofensiva, mas, por acaso, sua família veio com defeito de fábrica? — Acho que meus parentes ririam e responderiam que sim.
Ri um pouquinho e admiti. — Meio que sim, essa logo se provou ser uma péssima solução por causa do Parkinson, mas ele deu um jeito com treino.
— Você está brincando, né? Você só está dizendo isso porque é engraçado, né?
— Tá, sim, na verdade, ele, ainda quando criança, aprendeu a arrombar portas porque achava esse um jeito mais divertido de abrir elas. Dito isso, ele de fato perdia a chave toda hora e viu essa como a solução. A, claro, o Parkinson é brincadeira.
Algo no rosto da Yuna dizia que ela não tinha mudado muito de opinião sobre meus familiares, mas essa é outra história. No fim, ela ainda gostava mais deles do que eu mesmo, e iria gostar cada vez mais, vale dizer.
Enfim, foi assim que arrombei a porta da minha casa e… Travei de novo, meu corpo se moveu muito rápido para trás da Yuna e, novamente, me escondi atrás dela.
— Desculpa… — murmurei baixo.
Eu me sentia mal por ser tão covarde, fraco e estranho, mas era simplesmente o ser patético que eu era e não conseguia lutar contra isso.
— Tudo bem, vamos entrar juntos, ok? — A voz da Yuna era absolutamente gentil, eu quase senti como se ela nem fosse ficar brava se eu falasse não, mesmo assim eu fui.
Aparentemente o amor também funciona como sentimento para enfrentar os medos, quem sabe. Só sei que respirei fundo e dei o primeiro passo lá dentro.