Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 79
Visão Yuna
— Sobre semana passada… — Eu comecei a puxar o assunto, mas parei no meio do caminho para ver a reação do meu interlocutor.
— Desculpa, naquele dia eu… — E de novo era a mesma coisa de sempre.
Dei um peteleco na testa do Izumi. — Não precisa ficar pedindo desculpa o tempo todo!
— Des… — E Em menos de meio segundo Izumi já tinha desobedecido, bem, tecnicamente ele percebeu no meio do caminho e… — Foi mal, vou tentar não ficar dizendo. — Nada mudou, no fim, ele só trocou por um sinônimo.
— Ok, vou mudar minha frase, já chega de ficar pedindo por perdão o tempo inteiro, não importa de que forma! Pode relaxar.
Izumi abriu a boca, mas a fechou rapidamente segurando a desculpa que estava quase escapando de sua boca. Em seguida, ele me deu um olhar de quem pede desculpas.
Respirei fundo e admiti a derrota. — Ok, isso não está funcionando. — De canto de olho vi preocupação surgiu no rosto do garoto, por isso o acalmei logo: — Sobre semana passada desculpa, a culpa foi mais minha do que sua no final das contas.
— Não, eu que não te falei nada, além do mais estava sendo muito chato, é óbvio que você iria querer ficar com seus amigos, por isso… — Dei outro peteleco.
— Sim, sim, eu sei, mas era um encontro, acho justo você querer que fôssemos só nós dois, por isso assunto encerrado. Mais importante, sabe quanto tempo eu fiquei ensaiando na minha mente só pare pedir desculpa? Eu odeio fazer isso,e não cala a boca e aceita as desculpas! — disse envergonhada.
Izumi apenas deu uma risada de canto de boca. Eu ignorei solenemente esse fato, encarei os olhos do Izumi mudei o assunto ao dizer:
— Além do mais…
ooo
— Por que? — E algo que nunca imaginei aconteceu, quem diria que algo assim poderia ocorrer? Izumi me olhava sem entender nada, tentando compreender meu processo de pensamento.
A porpósito, eu contei para ele tudo sobre o meu plano genial; ele, agindo como a pessoa normal da situação, não entendeu como eu cheguei numa ideia tão idiota.
— Achei que fosse ser uma boa ideia, tinha certeza que aquilo resolveria tudo.
— Mas mesmo se eu ficasse de fato irritado no dia e brigasse com você, realmente acha que isso resolveria alguma coisa?
Obviamente não! Apenas pense, se a única situação na qual conseguissem nos comunicar honestamente fosse por meio de brigas, então estaríamos fadados a separação, meu plano nunca teve qualquer possibilidade de sucesso.
— Talvez, que sabe… — Sabia a resposta certa, mas não me dei por vencida, um talvez era o máximo que responderia.
Izumi olhou para mim seriamente e destroçou meu coroção. — Yuna, você é idiota?
Ele estava brincando na hora e eu sabia disso, mas o fundo de verdade no que ele dizia me destruía. Por um segundo até me perguntei se não devia ter contado, era completamente desnecessário, o mundo poderia viver na ignorância desse fato.
Enfim, eu contei e como consegui ser tão idiota naquele dia é e sempre será uma pergunta que me perturbara até o fim dos tempos.
Pelo menos, olhando pelo lado bom, tínhamos nos resolvido. Bem, na verdade, antes tinha uma última coisa que queria resolver, mas já tínhamos feito as pazes, então já pode comemorar.
— Agora, falando sério, você ainda não me contou por que não queria ir na loja?
— Você já conseguiu adivinhar, né? — Izumi tentou fugir.
Cheguei mais perto dele. — Eu tive que contar toda a minha história vergonhosa, no mínimo, você vai ter que falar o que estava pensando.
— Mas…
Passei a mão na cabeça dele. — Não é como se eu fosse ficar irritada, apenas diga, ok?
— Ei! Por que você já está me ameaçando com o olhar de novo?
— É inevitável. — Mantive um sorriso ameaçador no rosto. — Agora pode começar a falar tudo.
Finalmente ele desistiu. — Ok, o problema obviamente não era a loja, o que aconteceu foi que eu queria ficar sozinho com você, porque… — De repente travou então parecendo surpreso com as próprias palavras disse: — não sei.
— Como assim não sabe? — Pressionei ele contra a parede.
— Desculpa, eu… — E lá estava ela de novo, a mesma palavra de sempre.
Recuei meu corpo rápido, o Izumi ainda deve ter dito alguma coisa, mas ignorei. Tinha tido um pequeno estalo, uma ideia e dessa vez uma que não era idiota.
A forma como eu estava fazendo as coisas estava errada desde o começo, não tinha como funcionar. Eu nem sequer entendia a cabeça do Izumi e não daria para continuar assim, por mais estranho que ele fosse, eu precisava entender.
— Izumi, esquece isso, não importa.
A fagulha que começou a briga não importava, tínhamos apenas um problema real, Izumi ainda tinha barreiras para se comunicar comigo e ele precisava superar elas.
Contudo não importava ficar pensando nisso naquele momento, havia algo ainda mais fundamental no que pensar antes.
— Agora, quero que me explique como caralhos sua cabeça funciona.
O primeiro passo para resolver problemas de comunicação e um entender a linguagem do outro e, de certa forma, isso implica em entender a mente do outro.
Via de regra eu só considerava o Izumi como incompreensível na maior parte do tempo, mas as coisas não dariam certo se eu não conseguisse decifrar aquela porra de cabeça.
Eu era relativamente normal e já tinha mostrado a maior parte das minhas fraquezas e pontos fortes pro Izumi, então ele provavelmente me entendia, na verdade, ele até conseguia adivinhar como eu agiria na maior parte do tempo.
Eu, por outro lado, conseguia entender no máximo 70% do que Izumi falava e uns 20% do que ele fazia. O que, em minha defesa, era mais do que qualquer outra pessoa.
— Êh… como eu deveria responder isso? Para começo de conversa, eu sou estranho, mesmo que eu explique não acho que nada do que eu penso vá fazer sentido.
— Então você está me desafiando?
— Que? Não!
— Sério, para mim parece um desafio, eu vou provar que consigo entender, me recuso a perder para sua cabeça! — Então eu, interpretando a realidade como eu preferia, me motivei e decidi um objetivo claro.
No fim, Izumi deu de ombros, ele sabia que eu só estava encontrando uma desculpa para me motivar.
E então o silêncio completo veio. Não era como se nenhum de nós dois tivesse a mais puta ideia de como decifrar a mente de alguém, além do mais, esse alguém era o Izumi.
Olha, eu diria que teria sido mais fácil aprender grego clássico, então ler a pedra roseta e, por fim, decifrar os hieróglifos egípcios inclusive o que não foram decifrados até hoje, do que decifrar a forma como Izumi funcionava.
Mas, spoiler alert, eu consegui, inclusive, o último parágrafo foi a forma mais Izumi que eu consegui de dizer o tamanho da dificuldade.
Agora, de volta a história, os olhos do Izumi, que estava quieto pensando, brilharam por um segundo, ele tinha tido uma ideia.
— No que pensou? — perguntei logo.
O garoto hesitou um pouco, refletiu um pouco mais e perguntou: — Está com o final de semana livre?
Olhei para meu celular, mandei 9 mensagens e disse: — Agora sim, por que?
— Quantas coisas você tinha planejado só para o final de semana?
— Não muitas, eu só ia na academia com a Mia, depois almoçar com a Ju, aí talvez eu aparecesse na festinha que o Yago ia fazer, além disso costumo sair com Yumi todo domingo e… tinha mais alguma coisa, enfim, nada importante.
Izumi fechou um pouco os olhos e a protegeu seu corpo com as mãos, agindo como se algo emitido por mim estivesse o atacando. — Sua sociabilidade está me esmagando.
— Vai me dizer que agora está sendo atacado pela minha aura?
— Não, não, sua aura brilhante às vezes me cega, mas no caso o problema é que a quantidade de coisas é muito grande, então as palavras caíram como contêiner pesado em cima da minha agenda vazia a obliterando completamente, vendo isso me senti esmagado pelo peso.
Nesse caso ele não estava dizendo nada importante, mas, como me senti desafiada, repeti a frase várias vezes na minha cabeça. Por fim, consegui traduzir para: me senti mal ao entender quão anti-social eu sou comparado a você que tem tantos amigos.
— Não se preocupe, pessoas extrovertidas fazem mais coisas, introvertidas menos, mas se você quisesse eu poderia encher sua agenda e te convidar para uma porrada de coisas a qualquer momento.
— Não, não, acho melhor não, eu iria morrer.
— Eu imagino, agora me diga o que pensou em fazer nesse final de semana.
Izumi arregalou um pouco os olhos. — Tinha esquecido completamente, enfim, quer ir para o campo por um tempo?
— Ok, Izumi, me ajuda um pouco aqui, não tem como eu entender se você disser dessa forma.