Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 73
Vamos dar um tempo.
Visão Izumi
— Não. — E pensei, “merda, palavra errada”.
Sem saber reagir, meu corpo travou. É maravilhoso, eu abro a boca para falar, mas depois não tenho coragem de continuar, perfeito! Enfim, minha frustração pessoal comigo mesmo não vem ao caso agora.
Fato é: meus músculos estavam petrificados, meu cérebro tinha entrado em greve e meu coração estava tenso demais para bater. Nessas horas normalmente algo como o sorriso da Yuna poderia me trazer de volta a realidade, ou ela falando algo num tom calmo, mas isso não veio.
Silêncio.
Nenhum som, mal reação ela tinha na face, provavelmente porque ela estava esperando eu falar mais do que só “não”.
Enfim, tudo ficou em silêncio, mas não era o do tipo confortável, era aquele silêncio no qual parece que o tempo está parado e você sente que quer morrer ou fugir dali.
Sério, por mais que só uns 10 segundos, ou menos, tenham passado, senti como se fosse uma eternidade. Tudo estava mais devagar, minha visão ficava mais distorcida, o cenário foi ficando borrado e o relógio parou!
— O que houve agora? — Yuna comentou com um tom um pouco irritado, ela devia estar previamente brava naquele dia por algum motivo. — Que saco, nunca sei o que se passa na sua cabeça — ela murmurou — , mas vamos logo.
Não respondi, acho que nem piscar eu pisquei.
— Que foi agora? — Yuna perguntou sem entender, mas também sem o sorriso simpático de costume, o que não estava ajudando muito.
Tom! Tom! Tom! Meu coração deu uma acelerada, respirei fundo e dei um olhar meio amedrontado. — Desculpa… — Devo ter murmurado algo do tipo.
Yuna fez cafuné na minha cabeça. — Tanto faz, está de boa. — Ela me ofereceu a mão, achei que fosse para andarmos de mãos dadas, por isso segurei a mão dela. — Ok, bora.
Então passei a ser puxado em direção a tal loja de chocolate. Inclusive, Yuna era bem forte, ou eu era muito fraco, por isso essa tática estava sendo bastante funcional.
Me surpreendi, achei, por algum motivo, que Yuna tinha entendido magicamente o que queria dizer, mas esse não era o caso. Assim, talvez, só talvez, o fato de eu não ter falado em voz alta tenha contribuído para o desentendimento.
Poisé, eu meio que estava esperando a Yuna ganhar o poder de ler mentes, infelizmente essa não é uma obra de fantasia por isso não rolou.
Fixei a base com as pernas e parei. Isso mesmo, resisti mais uma vez, por algum motivo estava muito determinado naquele dia.
— Que foi agora? — Cada vez mais infeliz com minha atitude ela apertou um pouco minha mão, mas não tanto quanto quando ela me usava de totem, por isso estava acostumado.
Olhei para um lado, olhei para o outro, enrolei um pouco para falar, hesitei mais um pouquinho. Minha namorada, por outro lado, não estava com paciência de esperar até eu finalmente falar.
— Se quer dizer algo, fala logo, que saco…
Yuna podia ser realmente assustadora quando com raiva, seu olhar frio automaticamente congelou o sangue que percorre o meu corpo. Até tive medo disso causar algum problema, mas aparentemente a circulação voltou ao normal em pouco tempo, no entanto ainda conseguia sentir alguns cristaizinhos de gelo remanescentes no meu fluxo sanguíneo.
Ok, eu me perdi em algo inútil de novo, desculpa.
Voltando, eu finalmente disse: — É só que eu não quero ir, êh… Por que não vamos lá ao invés disso? — Apontei para um brinquedo qualquer.
— Por que?
— Não, não, desculpa. — Finalmente cedi na resistência e me desculpei, por fim dando um olhar para baixo.
Naquele instante o olhar da Yuna mudou, se antes o azul dela me lembrava o do mais puro gelo encontrado no bolo norte, naquele momento o azul se tornou como o mais lindo oceano em uma praia quente.
Uma maravilhosa praia! Em um instante os últimos cristais de gelo no meu corpo derreteram, fui parar numa praia, na mesma que tínhamos visitado juntos, o sol estava forte, a areia meio quente e o mar lindo.
Mas isso não durou muito, afinal a raiva retornou ao olhar da Yuna. Ok, para falar a verdade, diferente do gelo original que era puro e vindo das profundezas da Antártida, esse novo gelo no seu olhar parecia feito de plástico, mais falso que a neve naqueles globos de natal.
Resumindo, Yuna não estava irritada de verdade, não mais, contudo não consegui notar, ou melhor, não consegui entender a diferença das alucinações na hora. Pois é, se eu tivesse prestado atenção, repararia que a aura da Yuna estava bem mais calma, porém o nervosismo me levou ao erro.
— Você vai vir comigo agora. — Yuna mandou.
Naquele momento minha força mental já vacilante acabou de vez. Eu simplesmente não sabia o que fazer.
Foi nesse momento, quando a tensão e adrenalina no meu corpo chegaram a altos picos, que minha perna me traiu. Isso mesmo, minha perna, contra minha vontade, decidiu começar a ir para outra direção.
Antes que eu pudesse notar já estava em casa. Foi um transe, não conseguia lembrar de absolutamente nada. Até hoje não sei exatamente como cheguei em casa, deve ter sido um teletransporte, só pode.
Claro, depois daquilo fui olhar o meu celular; não o encontrava, porém, em lugar nenhum. Tive medo de ter fugido sem nem pegar minhas coisas, mas quando olhei para minha mão vi que lá estava ele, o famigerado celular com google maps ativado.
Respirei fundo, tentei me acalmar e me amaldiçoei a mim mesmo por ser tão estranho, por fim olhei as mensagens, Yuna não tinha mandado nada.
Eu podia tentar falar algo? Claro que podia, mas fiquei com vergonha, não sabia como lidar e assim as coisas continuariam por mais uma semana.
Sim, não conseguia mandar uma mensagem, ligar ou fazer qualquer coisa do tipo, Yuna também não entrava em contato e eu estava ficando cada vez mais incerto sobre tudo isso.