Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 70
Pé quebrado
Visão Yuna
Nunca tinha jogado boliche, muito menos pretendia fazer algo muito especial para meu aniversário, por isso apenas convidei algumas pessoas.
Claro, essa parte da história é familiar para vocês, além de ser irrelevante, vamos pular para o interessante.
Fiz o Izumi tirar o sapato e me mostrar seu pé. Já estava inchando e claramente não estava tudo bem, minha reação foi instantânea, levá-lo para o hospital. Na verdade, foi minha mãe quem levou ele e eu só estava no carro, mas isso é detalhe.
E a festa?
Foda-se, existe uma coisa na vida chamada prioridade. Não me preocupei no que os outros iriam fazer ou pensar, nem em perder o dinheiro ou a comemoração, porque são coisas irrelevantes.
Dito isso, também não estava muito preocupada com o dedo do Izumi. Sim, nas duas primeiras horas eu quase tive uma crise de ansiedade pensando nisso, mas logo me acalmei, no fim a vida dele não estava em risco.
Nesse caso, o que poderia estar preenchendo minha mente? As respostas poderiam ser várias, até porque era alguém que costumava pensar demais. Imagens, memórias e perguntas confusas poluíam minha mente… Mas havia algo que se destacava naquela confusão! No caso, era a reação do meu namorado logo depois de se machucar.
Uma pessoa normal teria chorado(ou alguma variante parecida), né? Fingir estar bem e esconder que sente só para não incomodar ninguém, não parecia algo que o Izumi faria normalmente, muito menos algo saudável.
“Por que ele fez isso?” essa maldita dúvida tomava minha cabeça.
Depreciar seu valor em relação aos outros era algo que tolerava nele. Preferia não ficar apontando isso ostensivamente, contudo se machucar desse jeito era demais. — Não vou mais ignorar isso — disse decidida.
ooo
— Izumi, você está bem? — Minha primeira prioridade na hora de falar com ele era saber sobre seu estado.
Ele respondeu logo que sim, até deu um sorriso envergonhado. Se me lembro bem, ainda continuei fazendo perguntas do tipo por uma meia hora, tanto para o médico quanto para o paciente.
O resumo da situação era: Izumi ia ter que ficar na cama do hospital por um tempo, até os pais deles virem o buscar, depois ficariam com o pé imobilizado por 3 ou 4 semanas e estaria livre.
Num geral, algo bem leve, sejamos honestos, ou seja, pude respirar aliviada.
— Izumi, quero te perguntar uma coisa. — Aliviada por ele estar melhor, precisava satisfazer minha curiosidade e conversar seriamente com ele.
— Glup…diga.
— Por que você fingiu estar bem? — Uma pergunta direta e reta sem espaço para fugas.
Izumi olhou para um lado, olhou para o outro, abriu a boca, enrolou para falar, até que finalmente respondeu: — Porque era sua festa, não queria atrapalhar isso.
Soquei a parede inconsistente, o que doeu um bocado, não recomendo. — Não faz sentido! Entre um ritual insignificante e sem sentido e sua saúde o mais importante é óbvio, né? Além do mais, — ainda não conseguia entender o que tinha mudado — por que você fez isso dessa vez? Você sempre foi depreciativo, mas não ficava se machucando pelos outros.
— Êh… — Izumi hesita muito em responder e até fica envergonhado notando o quanto eu consigo ler seus pensamentos, mas ele ainda responde: — Acho que faria, principalmente para você, é só que nunca tinha sido necessário.
— Ahn! — Soltei um som de compreensão inconscientemente.
Em um segundo todas as peças se conectaram e a ficha finalmente caiu, a diferença era simples, o Izumi de algum tempo atrás simplesmente não pensaria que: ir para o hospital, atrapalharia festa.
Sim, eu sei, isso é algo óbvio, qualquer pessoa com um mínimo de senso comum conseguiria entender isso, mas olha, justamente aí que está o problema, Izumi nunca teve sequer o mínimo.
Ainda tinha muita dificuldade de entender como a cabeça daquele garoto funcionava, contudo conseguia entender alguns fundamentos básicos e algo muito importante era: Izumi não vivia no mundo real.
Pode ser estranho, é difícil de entender como, no entanto aquele garoto sempre foi quase sempre alienado de tudo a sua volta, talvez por estar sempre imerso na própria mente.
Melhor, estava! Afinal algo aconteceu e mudou isso um pouco, eu. Ele me amava, prestava muita atenção em mim e, por consequência, nas pessoas e coisas ao meu redor, o que lhe deu um mínimo de senso comum.
Ok, parece um pouco egocêntrico dizer isso, dá até um pouco de vergonha… Ahan! Segue o jogo.
Fui para o banheiro e lavei minha mão, porque ela estava sangrando um pouco. Enquanto isso, continuava organizando os pensamentos e, após me acalmar, voltei para onde Izumi estava e disse:
— Ei! Não consigo mais ver isso, você precisa parar de se odiar tanto!!!! — Ok, em minha defesa… êh, não tenho nenhuma desculpa, só era um pouco temperamental demais.
Conversar com calma seria mais efetivo? Sem dúvidas, porém não conseguia ficar calma, quando pensava na pessoa que eu amo fingindo estar bem quando se machuca.
Sim, sim, ele sempre tinha sido assim, mas naquele momento comecei a prestar mais atenção naquilo e todas as memórias de outros momentos nos quais ele fez isso vieram, o que me irritou.
De qualquer forma, aquela não foi a primeira nem a última vez que fiquei puta com o Izumi por falar mal dele mesmo.
Ahh! E como sempre posso trazer uma explicação simples que qualquer pessoa poderia entender, você não gostaria de alguém falando mal do seu anime ou série favorito, né? E não me venha dar uma de evoluido e responder “não”, você sabe qual é a verdade!
— Glup! Desculpa! — Izumi puxa o cobertor e se esconde atrás dele, fofo como sempre.
— Foi mal. — E em três segundos olhando para aquela fofura me acalmei, minhas emoções variavam com bastante facilidade. — Agora falando sério, não se machuque pelos outros, nem fique pensando tantas coisas ruins sobre si mesmo, você é incrível, entendeu?
Considerando o olhar levemente assustado da outra parte, posso dizer que exagerei na ênfase da minha voz ou na força com a qual o encarava, mas considerei que a mensagem tinha sido entregue, além do mais a mãe do Izumi chegou mais ou menos naquela hora, por isso acabei me despedindo.
Só para finalizar, posso dizer que meu primeiro encontro com a mãe do meu namorado foi: “oi, tudo bem?”. Não falamos direito, apenas tivemos uma curta conversa de elevador.
Eu me despedi rápido e tudo certo, até porque a pessoa em questão não sabia que eu estava a namorar o seu filho, já eu esqueci de mencionar, porque esperava que ela soubesse.