Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 66
Sentimento desconhecido identificado
Visão Izumi
Vrum! O ônibus viajava em alta velocidade, tão rápido que quase se equiparava uma lesma e depois de 4 horas já estávamos na metade do caminho, maldito transito!
A notícia ruim era que chegaríamos em casa bem mais tarde que o previsto, a boa era que tínhamos chegado a parada. Resumindo, ficaríamos 30 minutos naquele posto, dava para ir ao banheiro, descansar e esticar as pernas.
A primeira coisa que eu fiz foi entrar na lojinha com a Yuna. Um lugar pequeno, com algumas prateleiras espalhadas e sem muitas opções, era como qualquer loja de posto, nada chamativa, mas muito cara.
Andei pelas prateleiras, até que encontrei algo que queria, foi quando me abaixei para pegar o bagulho que ouvi:
— Ei! Gatinha… — Tá, tá, na verdade, o cara não tinha dito exatamente isso, provavelmente foi uma abordagem mais normal, porém meu cérebro traduziu imediatamente para a linguagem de anime.
Sim! Isso mesmo, ao vivo e em cores, lá estava a cena clichê do babaca com cara de mau abordando a namorada/crush do protagonista.
Preciso ser honesto, na verdade, era um maluco com vibe de surfista, cabelão preto, sorriso simpático e bem bonito, mas não vem ao caso.
Naquele momento só havia uma coisa que o protagonista deveria fazer, intervir! Sim, minha mente levemente viciada em animes estava decidida, eu me preparei para levantar e… nada.
Já disse que era covarde?
Meu corpo travou e parou de me obedecer, então se passou pela minha cabeça tal solução: fingir que não ouvi. Respirei fundo, seria muito ridículo só fingir que não ouvi, por isso juntei minha determinação, mordi a mão e levantei, dessa vez o corpo obedeceu.
Respirei fundo, juntei toda coragem para falar e… “Cadê? O cara sumiu?” pensei surpreso. Nos 10-15 segundos(ou mais) que gastei sendo medroso, Yuna já tinha dado um fora no cara que já estava indo embora.
Senti uma frustração instantaneamente, mas aquele sentimento era novo para mim, por isso só ignorei. Yuna deve ter me visto imerso em pensamentos, por isso perguntou:
— O que foi, ficou com ciúmes?
— Ciúmes? Êh! Por que? Aconteceu alguma coisa? — Nem pensei muito na pergunta dela, apenas respondi numa reação quase instintiva.
Resumindo, não queria preocupar ela ou qualquer coisa do tipo. Isso é uma boa ideia? Normalmente não, inclusive porque falar sobre seus sentimentos costuma ajudar a entender eles melhor, mas fazer o que, foi o que fiz.
Preciso dizer, mesmo se não tivesse mentido, não teria mudado muita coisa, vocês sabem como era, né? Se, na hora, fosse explicar o que estava sentindo, acabaria falando algo como: é tipo quando coloca água num copo com restinho de outras bebidas, tem um restinho de raiva, um restinho de tristeza e mais alguns sabores confusos.
E aí, conseguiria entender? Chuto que não, provavelmente ninguém conseguiria, porque não é uma explicação muito precisa.
Por fim, só para que fique claro, não era ciúme, para falar a verdade, nunca tive esse problema na minha vida, talvez porque confiava 100% na Yuna. Eu só estava frustrado no dia, frustrado comigo mesmo.
— Canseira — murmurei ao deitar na cama. Depois da curta parada para esticar as pernas, ainda tivemos um longo trajeto de ônibus, por isso quando cheguei em casa fui direto para cama, onde podia ficar deitado assistindo anime.
Visão Yuna
Izumi estava abaixado para pegar alguma coisa, enquanto eu estava procurando alguma bolacha boa para comer na viagem. Foi uma procura complicada, não gostava da maioria das bolachas, porque as achava doce demais principalmente traquinas, pensa num troço horrível, odiava aquela merda!
— Hey! Você pode me ajudar, não sei bem qual ônibus deveria pegar agora, quero ir para… — Um homem bonito aleatório apareceu me atrapalhando.
Na verdade, não prestei muita atenção então não lembro bem sobre a aparência. Ele estava sorrindo e parecia simpático, ou algo do tipo, não me peça lembrar mais.
De qualquer forma, a intenção dele era dar em cima de mim, por isso cortei as esperanças dele rapidamente dizendo: — Humm! Não sei, vou perguntar para meu namorado, talvez ele saiba.
Lembro que o homem até manteve o sorriso, apesar de ter entendido o recado e ido embora logo.
Quando olhei para o lado, vi que Izumi estava em pé e estranho. Naquele ponto, eu já conhecia Izumi relativamente bem, conseguia notar que algo estava diferente.
— O que foi? Ficou com ciúmes por acaso? — perguntei.
Izumi me olhou mostrando uma atuação perfeita de surpresa e disse: — Ciúmes? Êh! Por que? Aconteceu alguma coisa?
Por algum motivo, Izumi era muito bom em mentir, desde o olho arregalado levemente até a hesitação dele para falar, era exatamente como se ele estivesse surpreso mesmo.
Se for parar para pensar, em alguns momentos a capacidade do Izumi para mentir era assustadora. Por mais que, em geral, fosse fácil de ler, de vez em quando ele se fechava inconscientemente e mentia com maestria a fim de esconder o que estava pensando.
— Você precisa prestar mais atenção ao mundo à sua volta! — reclamei.
— Foi mal, foi mal — Izumi respondeu sem se importar muito, então continuamos comprando as coisas.
Logo o nosso tempo lá acabou e continuamos nosso caminho para casa, ou seja, estávamos de volta ao maldito transito!
Normalmente eu lidaria com o tédio conversando ou pegando no pé do Izumi, no entanto ele pegou no sono, por isso não tinha essa opção.
Como estava entediada e sem internet, acabei pegando o celular do Izumi e assistindo os episódios de anime aleatório que ele tinha baixado, claro, não entendi nada, eram episódios avulsos.
A propósito, a senha do celular do Izumi é 9029, como eu sabia isso? Simples, só tive que perguntar, não era como se ele se importasse muito, no máximo apagava o histórico do google.