Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 7
— …Então esse é o lugar?
— Hã? A gente já chegou?
Eu e Murakami ficamos confusos com o lugar em que a Loveta havia nos trazido, já que aparentemente ainda estávamos no meio da floresta. Não havia nenhum sinal de vida por aqui.
— Pobres humanos com falta de fé, apenas me sigam!
Loveta diz isso enquanto caminhava e de repente—Ela desapareceu? Só restava eu e a minha colega de classe, que ficamos parados sem entender nada.
— Hum, acredito que seja uma barreira de invisibilidade. Como esse lugar aceita soul-linkeds, ele precisa ficar disfarçado da vista do Império.
— Faz sentido…
Murakami se vira para mim no mesmo instante, com as suas sobrancelhas franzidas acima de seus olhos azuis. Estava fazendo seu olhar de seriedade. — Ryouzen, antes de entrarmos nessa cidade, preciso te falar algo muito importante. Em nenhuma hipótese revele que você ou eu somos humanos criadores. Nós estarmos aqui é algo que viola a natureza do Aether. Caso alguém descubra isso, e esse alguém tenha algum laço com os moonstrucks, uma desordem sem precedência poderia ser gerada. Claro que Loveta é uma exceção, já que ela é a sua criação e já verifiquei a mente dela.
— Sim, eu entendo… Não farei nada que nos coloque em risco.
Minha aventura por aqui está apenas começando, como eu poderia estragar tudo logo de cara?
A garota com o rabo de cavalo parece ficar satisfeita com a minha resposta, e assim torna a caminhar até desaparecer da minha frente.
…Bom, acho que agora é a minha vez.
Eu também dou mais um passo, e nisso—Tudo muda! Uau!
Não achei que eu poderia ficar mais surpreso. A meio segundo atrás eu pisava na grama, mas agora havia uma calçada bem abaixo dos meus pés!
Olhando para os lados, eu conseguia ver várias lojas diferentes que variavam no tipo de construção e modelo. Tinha desde aquelas clássicas da era medieval até as futurísticas. Pareciam vender de tudo.
Opa, já encontrei uma loja de mangás! Eu preciso passar por lá depois! Imagina só o que se deve ter lá?? Talvez obras que ainda nem existem? Ou que ainda serão lançadas?? Hehe, quem sabe eu não descubra qual é o tesouro daquela obra que nunca acaba?
A quantidade e tipos de dreamians que andam por aqui também é de se surpreender. Anões voadores, robôs controlados por mini tartarugas, olhos com tentáculos e por aí vai. É…, agora sim eu diria que estamos no “Mundo dos Sonhos”.
— Hohoho! Dreamians novos! Bem vindos à Cidade do Nunca! Por acaso não estariam interessados em ver a nossa apresentação de horrores? — Pergunta para nós uma raposa bípede de três olhos. Ela entregava panfletos.
— Err, não, obrigado, acho que já estou vendo muita bizarrice por hoje…
Não quero nem imaginar o que seria uma ‘apresentação de horrores’ num lugar como esse!
Mas Cidade do Nunca, né? Um nome que se encaixa perfeitamente bem para uma cidade exótica como essa.
Enquanto Loveta tomava a liderança, Murakami ficava perplexa com o que via.
Estranho, achei que ela já estava acostumada com esse tipo de coisa.
— Por acaso essa é sua primeira vez vendo coisas tão aleatórias assim Murakami?
— S-sim… Nunca vi nada igual em Azurya, nem mesmo em suas redondezas. Achei que só veria coisas caóticas assim depois de Elysia…
Parando para pensar, realmente. Até antes de entrarmos nesse lugar, tudo parecia “normal” para os padrões de um mundo mágico medieval, desses que você está acostumado a ler por aí. Nada até pisarmos aqui se demonstrava muito além do extraordinário…, mas agora, ao invés de termos baleias sobrevoando catedrais antigas, tínhamos catedrais futuristas carregadas por baleias fantasmas!
— …Por Elysia você quer dizer essa região em que estamos?
— Sim, Elysia é onde fica Azurya e outras cidades ligadas ao Império. Por ordens do Imperador, toda essa região deveria ser mantida aos moldes medievais. O porquê disso eu realmente não sei, dizem que é o gosto que ele tem pela era antiga, mas vai saber…
Murakami parecia entender bastante sobre o Império, o que fazia sentido, já que ela foi invocada pelo próprio bispo do Imperador. Hum, isso ainda é um pouco estranho, entretanto, por que o bispo a invocaria? Será que ela está mesmo 100% livre do Império? Eu realmente gostaria de perguntar isso a ela, mas não acho que agora seja o melhor momento.
— Gyuu! Vocês são muito lerdos! Estão esperando o quê? Venham logo!
Loveta havia entrado numa estalagem de esquina e acenava para a gente do lado de fora.
Nós a seguimos e entramos no lugar.
Havia diversos dreamians acomodados em mesas e cadeiras bebendo sem parar. Pelo visto o local era uma taverna também.
Uma moça no balcão nos nota e acena para a gente.
Um dreamian com aparência de pessoa? Até que enfim!
Diferentemente da maioria, ela era uma humana normal, ou quase. Seus seios eram com certeza muito grandes, alguns centímetros maiores que os da Loveta, talvez? E olha que os da Loveta já são de um tamanho um tanto quanto peculiar. …Será que essa daí é criação do Hansuke? Bem, eu não duvidaria.
— Olha se não é a Love-chan!
— Grrr! Já te falei pra não me chamar assim, o único que pode fazer isso a partir de agora é o meu Mestre~
Loveta se agarra mais uma vez nos meus braços. É, acho que nunca vou me cansar disso.
— Ora, ora! Parece que você finalmente encontrou o amante dos seus sonhos!
— Mas é claro~, afinal, o meu Mestre é o meu cria—
No mesmo instante eu e Murakami tapamos a boca de Loveta. Falar que nós somos criadores não é uma opção.
Loveta desvia seus olhos para mim e dá uma lambida na minha mão.
Phew, essa garota… Será que foi proposital?
— Ora, ora, seria essa uma relação à três?
— Relação a três—?!
Nossa! Se isso acontecesse eu estaria no céu! Não que eu já não esteja… Ah, é complicado.
— Impossível. — Murakami fica um pouco sem graça fechando seus olhos.
— Gahaha! Como se o meu Mestre fosse se interessar por uma garota sem graça como ela~
É, pelo visto esse sonho está um pouco longe ainda de se tornar realidade…
— Hum, isso me deu uma ótima ideia para o meu romance!
A moça do balcão fica iludida em pensamentos, até voltar ao seu normal.
— Ah, me desculpem! Acho que me empolguei um pouco~ A propósito, meu nome é Aneesa. É um prazer conhecer os amigos da nossa caçadora rank-S!
— Caçadora rank-S?
Ela está de falando de quem? Da Loveta?!
— Sim!! Love-chan adora caçar cabeças de corrompidos! A quantidade de fragmentos que ela traz aqui é de cair o queixo!
— O que eu posso fazer~, aquelas criaturas pedem para morrer! Gufufufu!
Murakami se espanta. — Vocês comercializam fragmentos da corrupção? Aqui?!
— Ora, mas é claro! O Império paga um alto preço por cada um deles… O nosso tráfico funciona bem, sabe? — Sussurra ela para nós.
Será que eu sou mesmo o único a não entender nada por aqui?
Levanto a minha mão, um pouco sem graça. — Err, o que são esses fragmentos da corrupção…?
Aneesa me olha surpresa. — Ora, você não sabe? Bem, deve ser porque você é novo pelas redondezas. Algumas semanas atrás, o número de ‘dreamians corrompidos’ começou a aumentar drasticamente, além de ficarem mais agressivos. Nossos caçadores relatam que junto a tudo isso, eles começaram a dropar esses fragmentos que aparentemente têm um alto valor para o Império.
Dropar, até a forma de falar nesse mundo é parecida com a de jogos de RPG—Fantástico! E se eu fizesse uma analogia mais geral, esses ‘dreamians corrompidos’ devem ser os mobs daqui.
— Acredita-se que quem esteja por trás disso são eles. — Complementa ela.
— Eles?
— Sim, eles!
Ok, ela deve estar se referindo a alguma força maligna… Fazendo uma analogia a jogos e mangás, seria algo relacionado ao rei demônio, mas nesse mundo, a única coisa maligna que eu conheço é—
— Você está se referindo aos moonst—
Aneesa imediatamente me interrompe.
— Shhh! Não atraia energia negativa para cá…!
Pelo visto, falar sobre os moonstrucks é um tabu por aqui. Todos na taverna estão nos encarando estranho… Gulp!
Ela diminui o tom da voz. — Mas sim, são eles mesmos.
— Gah! É só matar todos e problema resolvido. Os cavaleiros do Império poderiam morrer também!
— Ora, ora, Love-chan está mesmo bem inspirada hoje! Fufufu.
Murakami suspira. — Me desculpem mudar de assunto, mas por acaso existe algum quarto disponível para essa noite? Estamos com uma certa urgência… — Ela me olha de relance, querendo me comunicar alguma coisa importante… O que seria?
Ela toca então no seu pulso, indicando tempo.
——!
É mesmo, o horário! Nem percebi o tempo passando! O pôr do sol deve acontecer daqui a alguns minutos, e podemos “desaparecer” a qualquer instante a partir de agora.
— Claro, claro! Tenho o quarto ideal para vocês~
Aneesa vai em direção ao chaveiro e nos entrega uma das chaves—Ela tinha formato de coração… Hã?
— Podem pagar amanhã! Agora vão lá e divirtam-se~ — Sorri ela de forma presunçosa.