Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 6
Sentadas abaixo de uma árvore, as duas conversavam entre si. O clima entre elas ainda estava longe de ser perfeito, mas foi o melhor que consegui fazer. Não foi muito custoso fazê-las perceberem que caso a briga continuasse, a situação poderia piorar.
Sobre a habilidade que ganhei mais cedo, ela é chamada de ‘despertar’ segundo a Murakami. É uma habilidade que somente os criadores têm. Ela varia de acordo com a pessoa, e corresponde à paixão ou desejo que cada um guarda dentro de si.
Claro, como eu sou um viciado em animes e vídeo games, nada mais justo que a minha habilidade seja relacionada a jogos de RPG. Ah cara, isso é fantástico!
No caso da Murakami, ela consegue criar vários tipos de espadas, e quantas ela quiser, caso tenha energia para tal. Sua paixão, no entanto, ainda não é clara.
Elas estão conversando entre si, o que está realmente me deixando ansioso… Por causa do assunto? Não. Simplesmente porque eu estou junto a duas lindas gatas. Não é todo dia que se ganha uma oportunidade de ouro como essa afinal.
Loveta para a conversa por um instante e agarra o meu braço direito.
— Ei, Mestre, estou me sentindo um pouco entediada… Por que a gente não termina o que começamos ontem~? — Diz ela, abanando com vontade a sua volumosa cauda.
— Terminar o que começamos ontem? Espera aí, você não está se referindo…!
— Gigi~ — Seu rosto estava em chamas.
Então é realmente aquilo?! Ei, tem outra pessoa aqui!
Murakami imediatamente cria uma espada separando nós dois. Sua expressão não era das melhores.
— Para de enrolação e me conte como conseguiu o cristal de invocação!
— Grrrr! De novo essa pergunta?!
A pressão entre elas aumenta. Loveta insistia que havia visto uma pessoa parecida comigo escalar a torre e que, ao segui-lo para o topo, notou que nada lá havia senão um cristal caído no chão. Apesar de ter dito isso, Murakami não conseguia acreditar nessa história de jeito nenhum.
— Existiam apenas dois cristais; um que pertencia ao Império, e que foi usado pelo bispo do Imperador para me invocar, e outro que pertencia aos moonstrucks. Acreditar que esse último estava simplesmente jogado no topo de uma torre, o qual você encontrou ao acaso por seguir uma pessoa parecida com o Ryouzen… É simplesmente demais para eu acreditar!
— Gyan! Acredite se quiser! Agora me deixe em paz com meu Mestre~! Xô, xô, cavaleira.
Enfurecida, Murakami balança novamente a sua espada.
— Você está proibida de tocá-lo até me contar a verdade!
Ei, ei, ei! Eu virei uma moeda de troca por acaso?!
— Grrrrrr!
Droga, estou vendo que se as coisas continuarem assim, vamos ter um segundo round, e eu não acho que vou conseguir fazer qualquer coisa nessa próxima vez… Tch, se ao menos existisse alguma maneira de provar a veracidade do que a Loveta está falando…
——!
É isso!
— Murakami, por que você não a hipnotiza para avaliar suas palavras?
Ela coloca a mão sob o seu fino queixo curvando um pouco sua cabeça de cabelos prateados.
— É uma boa ideia, isso pode funcionar.
— Err, só tenta pegar leve com ela por favor…
— Não se preocupe, a hipnose com um dreamian é diferente com a de um humano. Não é preciso forçar muito a barra.
Loveta dá um pulo para trás.
— Gya! O que vocês pretendem fazer comigo?!
Eu a toco no ombro para acalmá-la.
— Eu acredito em você, então não precisa ter medo.
Me encarando, Loveta se acalma um pouco.
— S-se é o Mestre Kazuki quem está dizendo, então tudo bem…
Eu realmente acredito nas palavras da Loveta, então não tem porque temer. Eu sei que é estranho eu confiar demais num dreamian que conheci ontem, mas sabe de uma coisa? Eu sinto uma enorme confiança nela. Me pergunto se o motivo disso seja porque ela é minha criação? Talvez porque as nossas almas estejam interligadas? Bem, deve ser alguma coisa por aí.
Retirando o seu colar, Murakami começa a balançá-lo para os lados, dando início assim ao processo.
— Está tudo bem mesmo você retirar o colar Murakami?
— Sim, não vai ser nada muito demorado.
Loveta encara então o cristal que se movia incansavelmente para os lados. Sua guarda, antes bastante elevada, vai aos poucos desaparecendo e, ao ouvir constantemente as suaves palavras que vinham dos lábios da Murakami, a tensão em seus músculos também vai cedendo. Não demora muito para ela cair em um profundo estado de transe.
Murakami inicia a sua sabatina e Loveta vai respondendo uma pergunta atrás da outra.
Ela parecia uma pequena loba indefesa, completamente despreocupada com o mundo a sua volta. Suas frases sempre terminavam com ‘gyan’, o que colaborava para uma boa apreciação do momento. Seus longos cabelos pretos desciam de forma bela pelo seu delicado rosto, enquanto que suas fofas orelhas de lobo sacudiam levemente para cada palavra dita.
Fufu, isso sim que eu chamo de algo a saborear pelos olhos! Loveta é com certeza muito gata!
Mas hum, que esquisito… mesmo a Murakami entrando cada vez mais fundo na mente dela, Loveta não está em prantos assim como eu fiquei. Bem que poderia ter sido assim comigo também… Phew! Só de pensar no desespero que passei antes fico enjoado…
— Pelo visto ela falava mesmo a verdade… — Conclui Murakami, ao terminar sua técnica. — Mas ainda assim, há algo estranho nessa história…
Loveta abre vagarosamente seus olhos.
— Gyu? O que aconteceu? Que sono~!
— Você está livre, o processo acabou.
— Gyaa! Finalmente~! Agora podemos ficar juntos sem interrupções Mestre Kazuki!
Ela se inclina para me abraçar, mas nisso—
ZOOOM!
Murakami novamente sacode sua espada.
— Gya! Por que você fez isso?! Você já não confirmou que eu estava falando a verdade?!
— Sim, mas Ryouzen ainda é o meu colega de classe, e eu não posso permitir que você o perverta.
…Haha, se ela soubesse que na verdade foi eu que iniciei toda essa história…
— Grr! Eu vou te ouvir por agora só porque o meu Mestre não quer ver a gente brigando, mas—
Ela se aproxima do meu ouvido.
— Quando estivermos sozinhos, a história vai ser outra~
SWISH!
Sangue escorre do meu nariz.
Isso foi muito sensual caramba!
Murakami se levanta dando um longo suspiro.
— Enfim, já é quase pôr do sol e temos que decidir um lugar seguro para ir. Azurya não vai servir já que essa soul-linked vai vir conosco pelo visto.
Azurya era a cidade imperial para a qual estávamos a caminho antes da Loveta aparecer. O problema é que lá existe uma barreira mágica que impede a passagem de soul-linkeds. Se nenhum de nós estivéssemos com as nossas almas estáveis, seria também impossível para a gente.
Ah, e sobre o tempo aqui no mundo, parece que funciona de forma similar à Terra, a diferença é que ele está adiantado doze horas, ou seja, se aqui são cinco horas da tarde por exemplo, na Terra então são cinco horas da manhã. E o pôr do sol indicaria mais ou menos o horário em que os nossos despertadores tocariam, por volta das sete da manhã.
— Hum, me impressiona como uma ex-imperial gostaria de voltar para aquela cidade, gufufu!
— …Apesar de ser a cidade principal onde o Imperador reside, não é como se ela fosse exclusiva para imperiais, sabe? É provavelmente a cidade mais rica e segura que existe por aqui.
— Gyann~ Rica e segura. Não esperava menos de uma ex-Princesinha~
— P-princesinha…
Uma veia aparece na testa da Murakami. É, ela não gostou nada disso.
— Venham comigo, vou mostrar a vocês uma cidade de cultura, o Aether de verdade! — Exclama Loveta empolgadamente.
Hã? Aether de verdade…? Como assim??