Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 49
Phew, e aqui estou eu de novo, em frente à casa da Scarllet. E pensar que o endereço no papel apontava exatamente para o mesmo lugar de antes…
Eu sou realmente insano, não sou? Estou seguindo vozes e imagens na minha cabeça, e ainda por cima cooperando com uma pessoa que tentou me matar no passado…
…Será que isso não é mesmo um pesadelo?
Não… Depois que eu sai da sala de aula, eu comecei a me socar por vontade própria, e a dor que senti era mesmo real.
Se fosse simplesmente um sonho isso não deveria ser possível. Além do mais, está tudo muito realista.
Qual será a justificativa para tudo isso que está acontecendo?
Será que eu vim até aqui para provar a minha inocência? Ou será que eu vim até aqui por ter medo de aceitar a verdade?
Eu realmente não sei…
— Kazuki? Você veio me ver??
Hã? Essa voz…
Eu me viro para trás e, como esperado, era a Loveta! Ela estava toda animada ao me ver!
— Loveta! Você está na Terra?!
— Na Terra? Claro, aonde mais eu estaria?
— Uh… no Aether?
— Aether? Que lugar é esse?
É mesmo, nada faz sentido…
Bem, pelo menos ela se lembra de mim! E isso já é alguma coisa! Talvez ela possa me ajudar de alguma forma!
— Eu preciso da sua ajuda!
— Ajuda? Você realmente não me parece bem… Vamos entrando na minha casa, lá a gente pode conversar com calma.
A casa da… Loveta?
Eu imediatamente encaro a placa de identificação no portão.
Ela estava em branco, mas logo aparece o nome da Loveta escrito.
Sim, agora faz sentido, que nada faz sentido.
O interior da mansão era exatamente igual. Eu entro em sua casa, e nos acomodamos em um dos sofás.
——?!
Loveta rapidamente se joga em cima de mim.
— Ei! Agora não é hora para isso! Eu preciso que você me ajude!
— Shhh! Nós não temos muito tempo, nada melhor que um corpo em cima do outro para resolver toda as coisas! Gufufu!
— Não! Claro que não! Para com isso!
Eu tento tirar ela de cima de mim, mas ela continua a avançar.
Qual o problema dela?!
Ela então se prepara para me beijar, e nisso—
BAM!!
A porta da casa abre, e Loveta começa a choramingar.
— Socorro! Alfred!! Tem um estuprador aqui na casa!
Alfred?! Estuprador?!
Alguém rapidamente aparece diante da gente. Era o lobisomem.
Ele pula em cima de mim, com raiva, e começa a me socar.
— Você vai morrer por ter tocado na minha mulher, seu pedaço de merda!!!
Mulher…?!
Eu viro meus olhos para o lado e me deparo com a Loveta sorrindo assustadoramente para mim.
“………”
Sem força de vontade para reagir, eu permito que ele continue me socando.
Por que eu vou revidar? Para continuar vivendo em um mundo de absurdos? Não, se for assim… Prefiro morrer.
Ele continua me socando, ainda mais intensivamente.
…Se ao menos tudo isso fosse um pesadelo, eu poderia fazer tudo desaparecer… Se ao menos tudo isso fosse a minha imaginação, eu poderia modificá-la…
Se ao menos eu pudesse…
…Hã?
No horizonte da minha visão, enquanto meus olhos iam se perdendo na escuridão, noto uma jarra de suco sumir e reaparecer de cima da mesa de estar.
É mesmo, nada faz sentido… Nada faz sentido! Nada faz absolutamente o menor sentido!! Hahaha!! E se nada faz sentido, então eu posso agir de acordo!
— Você não faz sentido lobisomem! Sua existência é estranha! Lobisomens não existem na Terra!
— Hã? Do que você está falando?!
Ele questiona, mas eu continuo com a minha loucura.
— Se você pode existir na Terra, se casar com a minha namorada, e ainda viver na casa da minha outra namorada. Então eu posso ter corpo de titânio!
BOOOM!!
O meu corpo fica preto e repele de imediato um de seus socos.
— GRAUURR!!
Ele range de dor.
— Sabe o que mais eu acho? Eu acho que aqueles que são capazes de socar um pedaço de titânio com tanta força, também são doidos o suficiente para socar o próprio rosto!
BIFF! PLAFT! BIFF!
Sem entender mais nada, o lobisomem começa a se socar sem parar.
Eu me levanto sorrindo, não como uma pessoa normal, mas sim como um louco.
— Eu também acho que se alguém consegue se socar tanto desse jeito, é porque ele não tem medo de morrer pelas próprias mãos. E se esse é o caso, então ela não teria medo de pegar num revólver e atirar na própria cabeça.
Um revólver aparece nas mãos do lobisomem, e ele o aponta para sua cabeça.
— Como…? Como?!! GAURRR!
BAM!!
Ele se mata.
Loveta então me encara, assustada.
— Não… não me machuque, por favor! Eu te amo! Não faça isso!
— Me ama? Não zoa com a minha cara. É verdade que Loveta me ama, mas você não é ela, não é mesmo? Caso fosse, jamais teria feito o que fez.
Ela sorri, e no instante seguinte se transforma na Lamya.
— Muito bem meu caramujo, você passou pelo primeiro teste, e enfrentou os seus pesadelos.
…Primeiro teste? Meus pesadelos??
Tch, tanto faz, então é realmente ela que está por trás de tudo?!
— O que você quer?! Por que você está fazendo isso comigo?!
Sorrindo, ela nega com a cabeça.
— Quem fez tudo isso não fui eu, mas você mesmo meu caramujo. Tudo isso foi montado de acordo com os seus temores mais profundos. Primeiro o medo de acreditar que é tudo um sonho, depois o medo de ter suas namoradas tiradas de você, pelos seus inimigos.
— Mas por quê?? Por que tudo isso está acontecendo?!
— Ah, claro, claro! Sua amnésia! Para o segundo e último teste, você poderá lembrar-se daquilo que esqueceu.
SNAP!
Lamya estala os dedos, e vários flashes aparecem diante de mim.
——Eu me recordo de tudo.
Então é realmente um pesadelo?! Droga! Eu preciso sair daqui! Eu preciso matar Phobetor!!
— Se isso é o meu pesadelo, então eu posso acordar na vida real!
Apesar de dizer isso, nada acontece.
Lamya sorri.
— O poder da sua imaginação não o ajudará para o segundo teste~ Sinto muito.
— Tch, você é o Phobetor, não é mesmo?
Lamya sacode sua cabeça.
— Claro que não~ Eu sou apenas a guia dos olhos, usando uma aparência qualquer da sua memória. Eu avalio aqueles que são merecedores ou não de terem suas memórias modificadas pelo portador dos olhos de Hipnos. Hum, agora que eu penso nisso, é triste que, até agora, todos os que fizeram o teste, foram consumidos pelo poder.
Uma guia?
Suspirei fundo.
— Certo, se eu continuar estressado, não vou conseguir chegar a lugar nenhum. Eu não tenho outra escolha, a não ser fazer o segundo teste, não é?
Lamya, ou melhor, a guia, confirma com a sua cabeça.
— Então vamos logo com isso, porque estou sem tempo.
Ela sorri mais uma vez e estala seus dedos.
Tudo a minha volta se desfaz, e apenas duas garotas aparecem diante de mim.
——Eram Scarllet e Loveta.
Ambas estavam ajoelhas e amarradas, me olhando assustadas.
Uma faca aparece na minha mão direita.
…Huh?
— Qual o significado disso?
— O segundo teste é simples. Enquanto no primeiro você tinha que enfrentar os seus pesadelos, no segundo você tem que cortar a raiz deles. No seu caso, a raiz são as suas garotas, já que tudo o que aconteceu até agora foi derivado da existência delas.
Cortar a raiz…?? Matar a Scarllet e a Loveta?!
Eu olho para ambas. Elas choravam muito.
— Elas são reais?
— Não, não são. Elas são apenas as memórias que você tem de cada uma. Logo, eu não acho que você teria qualquer problema em matá-las, não é mesmo, meu caramujo~?
— Tch, se você é a minha guia, e não a Lamya, então não tem porque ficar me chamando de “Caramujo”.
— Oh! Me desculpe, me desculpe, isso é apenas a força do hábito da fantasia que eu peguei para vestir! Mas e então, e então? Quem será que você matará primeiro? Talvez a Scarllet? Que fez você perder a cabeça por agir como se não o conhecesse? Ou talvez a Loveta que, apesar de te conhecer, te traiu para o seu inimigo?? Eu me pergunto quem será?? Quem será???
“………”
Eu levanto a faca, e olho novamente para o rosto de cada uma.
— Me mate. — Diz Scarllet. — Esse é o único jeito de sair daqui. Você não tem escolha…
— Sim. — Fala Loveta. — Nós somos apenas um fragmento da sua memória. Então não tem porque hesitar…
Apesar de dizerem isso, elas me encaravam tristes, com olhos totalmente aflitos.
Eu suspiro fundo e aperto com força o cabo da faca, fazendo o movimento com ele, e atirando-o em direção à Lamya.
A faca a atravessa como se nada estivesse lá.
— Hmph, bem ousado da sua parte.
— Eu não vou fazer isso.
A guia fecha o seu sorriso.
— Então você desiste? Se você fizer isso você certamente falhará no teste. É realmente isso o que deseja?
— O que eu realmente desejo é amar minhas garotas até o fim. Se para passar no teste eu preciso abrir mão disso, então que se dane.
— Mas elas são apenas memórias! Nada acontecerá às garotas verdadeiras!
— Sabe, se você realmente ama alguém, você não seria capaz de apontar uma faca sequer para a fotografia dessa pessoa. Quem dirá para a preciosa memória que você guarda dela. Talvez, vocês deuses, guias ou titãs, não entendam essa ideia, mas isso é algo que nós humanos possuímos dentro de nós. Se eu cometesse tal ato aqui e agora, eu simplesmente não iria me mostrar diferente de alguém como Phobetor, que faria de tudo para alcançar seus objetivos. Eu tenho um coração e me importo com aqueles que eu amo. Sinto muito, mas eu não vou fazer isso.
A guia fica calada me encarando, até dizer com um sorriso.
— Parabéns humano, você acaba de falhar no teste. Felizmente você não é merecedor de ser dominado pelos olhos.
[Aviso de Sistema: Passiva: “Contragolpe dos Olhos de Hipnos” adquirida.]
Não sou merecedor, né? Então era disso que se tratava.
— Interessante… Os humanos são realmente interessantes. — Reflete a guia, enquanto tudo a minha volta era desfeito.