Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 48
Hm?
Enquanto tudo estava preto, alguém cutuca o meu ombro.
— Ei, Kazuki! Ainda está dormindo? Acorda logo! Já estamos no intervalo!
Essa voz… Taichi?
Aos poucos vou abrindo os olhos, até me deparar com a sua pessoa diante de mim.
— Argh! Que dor de cabeça!
— Ei! Está tudo bem aí?
— Sim, eu acho…
Que estranho… Será que eu dormi tanto assim? Minha mente ainda está girando, e eu mal consigo me lembrar do dia de hoje.
O que mesmo que eu estava fazendo antes de apagar? Será que a aula estava tão entediante assim?
Hum, mesmo me esforçando, o máximo que consigo me recordar era de que eu estava no Aether. Já o que eu estava fazendo lá é outra história… Não tenho a menor ideia.
— Acho melhor você ir lá jogar uma água no seu rosto. Nunca te vi dormir tanto!
— Não tem porque se preocupar, daqui a pouco isso passa… (Eu espero).
Taichi estranha a minha reação, mas decide deixar para lá, tirando o seu celular do bolso para começar a mexer.
Aparentemente eu era o único da sala nesse estado. Taichi estava energético como sempre, Hansuke estava tranquilo lendo seus livros, e Scarllet estava—
——Espera, é isso!
Eu tenho que ir lá falar com ela! Só a sua voz já deve me fazer sentir melhor!
— Oh, então você decidiu ir no banheiro?
— Nah, só vou falar com a minha namorada.
— Namorada?? Você está namorando?!
Taichi fica totalmente surpreso com a minha resposta, e Hansuke se junta imediatamente à conversa.
— Kazuki está namorando?? Desde quando?!
— Huh? Por que vocês estão me olhando com essa cara? A gente já não passou por isso?
Quero dizer, não era nada oficial até então, mas mesmo assim eles mordiam a isca, não mordiam?
Eles olham para a cara um do outro, como se não fizessem a menor ideia do que eu estivesse dizendo.
Phew, melhor eu deixar isso claro então, de uma vez por todas. Nós já estamos num relacionamento sério, então não tem mais porque ficar deixando sugestivo.
— Vou ver a Scarllet.
…Hã?
Mesmo dizendo isso, eles continuam calados me encarando—Até Taichi quebrar o silêncio.
— …Você realmente dormiu demais.
Huh?! Aí já é muito para eu aguentar! Eles estão tirando sarro com a minha cara, só pode!
— O joguinho de vocês está muito óbvio. Agora me deem licença. — Digo, me retirando e indo em direção à Scarllet.
Eles continuam calados, um pouco perplexos, até começarem com os cochichos.
Eu tenho que dizer, hoje está mesmo estressante. Além da amnésia e da dor de cabeça, ainda tenho que aturar a palhaçada deles. Tch, mas tudo bem, tudo vai melhorar assim que eu conversar com ela.
Eu me aproximo da Scarllet e ela me encara.
Os estudantes na sala fazem o mesmo. A expressão que faziam em seus rostos era como se estivessem para presenciar algo inédito.
Que sensação horrível! Até parece que é a primeira vez que a gente está se vendo!
— …Posso ajudar?
…Huh? Que pergunta é essa? Isso não é algo que você falaria para o seu parceiro de relacionamento!
— Você não precisa agir dessa forma Scarllet.
— Agir dessa forma? Acho que estou sendo simpática o suficiente com uma pessoa que está vindo falar comigo pela primeira vez. E é Murakami, se é que preciso deixar ainda mais claro.
——Pela primeira vez!?
— Do que você está falando?! Sou eu!
Será que ela disse isso por querer manter o nosso relacionamento em segredo?? Não, a Scarllet não faria isso! E não é como se a gente nunca tivesse conversado aqui na sala antes!
Droga! O que eu faço?!
No mesmo instante a porta da sala abre, e um cara se aproxima da gente. Era Yuuto Hashimoto, o maldito.
— Algum problema com a minha namorada? — Diz ele, me olhando friamente.
— Namorada?! Quem é namorado dela sou eu!
BIFF!
Sem hesitar, ele me apunhala no queixo.
Esse cara enlouqueceu?!
— Yuuto! Não precisa fazer isso! — Se desespera Scarllet, indo até ele.
…Hã?? O que raios está…?!
— Mas você ouviu o que esse otário disse—
— Não foi nada demais, todo mundo sabe que você é o meu namorado.
——?!!
— Mas não esse babaca pelo visto!
Ele se prepara para a briga, mas Taichi logo entra na minha frente, com muito suor escorrendo no rosto.
— Me desculpem aí pelo Kazuki gente. Acontece que ele passou a aula inteira dormindo, e acabou sonhando demais. Haha…
Taichi? O que você…?!
Ele então se vira para mim com uma expressão tal como se dissesse, “Mas que droga você está fazendo?! Volta logo para a sua cadeira!”.
— Passou a aula inteira dormindo? Então está explicado! Hahaha!
Hashimoto começa a rir, e Scarllet suspira dando o clássico tapinha romântico em suas costas.
“………”
Sem falar mais uma única palavra, deixo a sala e me direciono ao banheiro.
Apoiado sobre a pia, eu encaro o espelho a minha frente.
“Acho que estou sendo simpática o suficiente com uma pessoa que está vindo falar comigo pela primeira vez.”
Lembrei.
Por que você disse isso Scarllet? Por que você está fingindo que não me conhece??
“Todo mundo sabe que você é o meu namorado.”
Por que logo ele?!
Vai me dizer agora o quê, que eu estava doido e que eu simplesmente alucinei tudo?! Tch, é verdade que boa parte do que aconteceu foi por meio do sono…, mas a prova de que Aether é muito mais do que isso, são exatamente as memórias que nós dois guardamos desse lugar! Agir como se não me conhecesse, é o mesmo que afirmar que sou um tremendo de um maluco!
——Isso não faz sentido… Isso não faz o menor sentido!!
CRACK!!
Droga! Acabei me exaltando e rachei o espelho. Minha mão agora está toda ensanguentada, ótimo!
Urgh! Essa dor de cabeça também não quer passar… Ela fica indo e voltando sem parar…
Eu balanço com força a cabeça para os lados e enxaguo completamente o meu rosto.
Assim que retorno minha visão para frente, me deparo com o reflexo de uma pessoa numa das rachaduras do espelho.
Era uma garota. Ela estava logo atrás de mim.
— E, ei! Esse é o banheiro masculino! Você não deveria estar—
Calma aí—! Cabelos pretos, olhos verdes…
——!!
— Lamya?!
— Olá meu caramujo! Como tem passado? Hihihi!
É realmente ela! Mas como ela está viva?! Baku não havia a matado?! Baku, é mesmo! Se eu o chamar de novo talvez ele consiga—
Eu encho meu pulmão de fôlego, e começo a gritar por seu nome sem parar, mas nada acontece.
— Invocá-lo novamente não vai adiantar. O mesmo truque não funciona duas vezes! Hihihi!
— Você—! O que você fez?! É você quem está por trás de todas essas maluquices?!
Lamya sorri, deixando um pedaço de papel em cima da pia.
— O segredo que deseja saber está escondido no profundo mar~
— Até parece que vou pegar nisso de novo!
— Você quem sabe~ Hihi! Uma hora ou outra você vai acabar cedendo! Afinal de contas, tempo é um recurso escasso~
Ela desaparece.
——Não!
Balanço minha cabeça para os lados.
Tem algo muito errado nisso… Muito errado mesmo!
…Mas, hmph, até que agora estou um pouco mais aliviado.
Se a Lamya apareceu aqui agindo como se me conhecesse, não só eu, como também o Baku, então ela basicamente confirmou que tudo o que aconteceu no Aether até então foi verdadeiro.
…O único problema é o fato dela ter aparecido, já que ela deveria estar morta.
Eu realmente não estou alucinando e vendo coisas, né? Eu não sou esquizofrênico, né?!
Não, não, não!! Com certeza não!
Eu preciso provar que sou sano, que eu não estou doido!
O problema é… Como eu vou conseguir fazer isso?
Pensando em alguma solução, eu encaro o pedaço de papel em cima da pia.
——!!
É isso! A Lamya já apareceu na sala antes, então meus amigos ainda podem me ajudar!
— Não conheço nenhuma Lamya. — Retruca Taichi.
— Também não faço a menor ideia, Kazuki.
Não é possível…
Eu rapidamente pego o papel que a Lamya me entregou e mostro a eles. Sim, essa é a prova definitiva da minha sanidade!
— Sim, eu estou vendo…
— Sério??
— Sim, estou vendo que há algo errado com você! Não tem nada na sua mão!
Não é possível… Eu me recuso a acreditar que sou louco!!
Eu seguro a gola do Taichi, e o puxo para mais perto de mim.
— Lamya! Aquela esquisita! Com cabelos pretos e olhos verdes!!
Taichi começa a transpirar, preocupado com a forma que eu estava agindo.
Hansuke se aproxima.
— Ei, ei! Vão com calma vocês dois!
Ele então me encara.
— É melhor você ir para casa Kazuki, você está realmente alterado. Se continuar aqui, as coisas vão acabar piorando. Procure um terapeuta também… Vai ser para o seu próprio bem.
Não… Até parece que eu sou doente! Eu não sou um lunático! Eu—
…Hã?
Para a minha surpresa, Lamya estava atrás dos dois, sentada na mesa da professora. Ela me encarava profundamente, como sempre.
— O tempo está acabando! Hihi! Tic, tac, tic, tac!
Eu imediatamente aponto para ela.
— Ali! Ela está ali!
Hansuke e Taichi olham para trás, e poucos segundo depois retornam suas visões para mim.
Eles me olhavam tristes.
——Sim, me encaravam como se eu estive doente, como se eu fosse um perturbado que acabara de fugir do hospício.
Eu nunca pensei… Que receberia um olhar como esse dos meus melhores amigos.
Eu solto a gola do Taichi e me dirijo a saída, enquanto a sala inteira mantinha seus olhares fixos em minha pessoa.
…Isso só pode ser um pesadelo.