Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 42
Como eu estava dizendo, Oniros é o nome dado para os cinco deuses que habitam Aether. Dentre esses deuses, eu começo citando meu pai, Hipnos. Ele foi o primeiro da nossa geração, e o único a pisar fora do Aether no início de sua existência. O conceito de sono ou ato de dormir, até então, não existiam.
Ao contrário do que muitos pensam, o motivo de sua criação foi algo curioso. Em um momento singular onde os primeiros titãs começaram a surgir, a primeira ideia de medo começou a circular na cabeça dos deuses primordiais, e deuses do olimpo. Eles estavam preocupados com que esses titãs, talvez, poderiam um dia se unir e se rebelar contra os seus criadores.
Foi em vista desse problema e perigo iminente, que formas diferentes de os combater começaram a ser cogitadas por esses deuses. Nix, minha avó, e deusa da noite, foi a primeira a desenvolver uma arma aparentemente efetiva para os combater. Ela pensou: “E se eu os colocar sob meu domínio? Além de evitar o desastre, estarei amplificando o meu próprio poder.”
Com esse pensamento em mente, ela chamou Érebo, seu marido, e também deus das trevas primordiais, para gerar um filho. Foi nesse momento que Hipnos nasceu, abençoado com os olhos que seriam capazes de colocar qualquer titã sob seu controle, com apenas um simples olhar.
O que Nix não contava, no entanto, é que o poder de seu filho seria muito maior do que imaginava. Não muito tempo após ele nascer, ela se encontrou encarando seus olhos, e, antes que pudesse perceber, seu corpo já não mais se movia segundo sua vontade. A arma que havia criado não só seria capaz de dominar os titãs, como também qualquer outro deus.
Foi somente com a ajuda de Érebo que Nix pôde sair de seu controle. Érebo desenvolveu a magia que faria com que Hipnos ficasse de olhos fechados por toda a eternidade. Foi nesse momento que o primeiro ser da história do universo caiu em um profundo sono. Nix pensou em matá-lo para evitar com que um problema ainda maior pudesse surgir, só que Érebo foi contra tal pensamento.
Ele cogitou a ideia de selar o próprio filho no Aether, o deus do céu de olimpo, onde dali ele jamais sairia, e ali ninguém jamais entraria. Ele disse à Nix que apenas o fato de Hipnos continuar vivo, poderia ajudá-los a confrontar os demais deuses caso fosse necessário, trazendo o medo quando preciso, e mantendo a ordem na medida do possível. Nix gostou da ideia, e assim foi feito.
Não muito tempo após esse evento, algo peculiar começou a acontecer não só com Nix ou Érebo, mas também com qualquer outro ser existente. Sempre que Aether se escurecia, um cansaço progressivo passava a tomar conta do corpo e da mente de todos os seres. Apenas fechando os olhos e relaxando, tal cansaço poderia ser eliminado, temporariamente, até que Aether se clareasse novamente. A esse evento, onde todos estavam submetidos, foi dado o nome de adormecer.
Com o aprisionamento de Hipnos em seu interior, e com a magia de sono embutida nele, Aether criou a anomalia de tentar expandir a si mesmo ao devorar a imaginação alheia. A primeira imaginação que ele começou a se alimentar foi a do próprio Hipnos, dando início aos primeiros terrenos em seu interior, e, em seguida, aos seus primeiros habitantes, ou seja, nós, os filhos da imaginação de Hipnos. Após isso ele começou a devorar a imaginação de outros deuses, até chegar na imaginação dos humanos, o qual percebeu ser a mais saborosa dentre todas.
Nenhum outro deus, depois de nós quatro, filhos de Hipnos, foi criado em seu interior. O motivo disso foi o sistema de segurança que Aether desenvolveu em si após o nosso surgimento, para evitar com que algo capaz de matá-lo pudesse se originar. Não que nós, até o momento, tivéssemos a capacidade para realizar tal feito.
Após isso, Aether se personificou diante de nós quatro, e nos apresentou uma proposta. Em troca de manter a ordem em seu interior e ajudar as pessoas da Terra a terem sonhos ainda mais agradáveis, por meio do recebimento de demônios na Terra sob nosso comando, ele nos permitiria entrar nos sonhos dos humanos, se assim desejássemos, e nos permitiria comunicar com outros deuses, se assim quiséssemos.
Se aceitássemos sua proposta, ele iria experimentar um sono profundo e eterno, virando um ser totalmente passivo a partir desse instante, ato tal que ele desejava muito, e que acabou vindo a se concretizar em seguida.
“Pela essência de meu poder, ei de cultivar os sonhos agradáveis dos seres humanos, dando-os paz e vigor para o dia seguinte.” Disse Morpheu a si mesmo, e ordenou seus demônios na Terra a manipularem o bom sonho dos seres humanos.
“Tu, irmão gêmeo, cultivará os pesadelos dos seres humanos para que, por meio deles, eles sejam alertados que algo em suas vidas não vai bem.” Disse Morpheu a Phobetor, o qual concordou, vindo a fazer a ordenança a seus demônios.
“Phantasia e Phantana, minhas queridas irmãs gêmeas, cada uma será responsável por manter a ordem e o equilíbrio no Aether. Phantana usará seus poderes para manipular os quatro elementos da natureza, e criará criaturas para a auxiliar em seu trabalho. Phantasia, por ter seu poder ligado à criatividade, mas ter uma mente voltada à logística, ajudará sua irmã nos informes.” Disse Morpheu a nós duas.
Nesse momento nosso trabalho havia sido definido, e dessa forma passamos a atuar do Aether e no Aether durante centenas de anos. Minha irmã gêmea, Phantana, atual deusa das quimeras e dos objetos inanimados, iniciou seu trabalho criando Baku e Nue; duas criaturas antagônicas que se auto limitavam, mas que apesar disso, eram bastante amigas. Baku devorava, e Nue sufocava tudo o que se demonstrasse como maligno.
No entanto, por causa da natureza do Aether ser algo bom e agradável, sem ameaças ou inimigos, Phantana ordenou que essas quimeras ajudassem os humanos na Terra. Baku devoraria as más lembranças e os pesadelos para aqueles que o chamassem, e Nue traria doenças para a humanidade, como forma de os alertar caso estes estivessem tomando um rumo não sustentável para suas vidas.
Até então tudo ia bem, e Aether ia crescendo de forma cada vez mais veloz e sustentável; até Phobetor começar seu questionamento a respeito da natureza humana: “Será que os humanos não aprendem nunca? Quantas vezes tenho que mandar um demônio para a casa de uma pessoa, para que esta tenha pesadelos e reconheça os erros de sua vida? Quantas vezes Nue trouxe doenças para a humanidade, para os alertar sobre seu rumo, mas eles nunca prestaram atenção? Até quando irão lutar, e se matarem como tolos, por motivos fúteis cativados por coisas como o egoísmo e a arrogância?”
Com esse pensamento em mente, ele passou a discutir essa questão com Morpheu, mas este, por outro lado, tinha uma outra visão: “Por mais certo que estejas, nada podemos fazer. Eles possuem o livre arbítrio, e, portanto, são eles os dirigentes de suas próprias vidas. Nós fazemos o nosso trabalho, de os alertar para todo o mal, agora, se eles querem ou não seguir nosso conselho, cabe a eles mesmos decidirem.”
Phobetor ficou insatisfeito com a resposta, e foi conversar comigo e com a minha irmã Phantana, no entanto, para a sua infelicidade, nós duas tínhamos a mesma visão de Morpheu. Sem alternativas, e achando que os humanos não tinham mesmo qualquer solução, ele continuou com o seu trabalho, até algo inusitado prender sua atenção; o nascimento de uma pessoa honrosa, o rei Arthur.
Esse homem, Arthur, durante toda a sua vida, não teve seu coração corrompido por qualquer mal. Não demonstrava egoísmo, não demonstrava inveja, não demonstrava arrogância. Era uma pessoa completamente pura e totalmente honrosa. Pessoa essa que Phobetor não teve a necessidade de mandar um único pesadelo, uma única vez.
“Talvez a humanidade ainda tenha esperança.” Pensou ele. “Mas, para que isso ocorra, é necessário que apenas a descendência correta prospere.” Com isso em mente, ele começou a arquitetar planos que, na época, eram de desconhecimento para nós, seus irmãos.
Ele esperou que Arthur tivesse sua filha, e que ele jogasse sua espada, Excalibur, no lago. Foi nesse momento que ele mandou uma horda de demônios matar a dama do lago, e recuperar a Excalibur para si. Tendo agora em “mãos” o item que revelaria a natureza da alma de um humano, ele mandou com que essa espada fosse acoplada na alma da filha do rei Arthur. Se o acoplamento fosse um sucesso, significaria que a criança teria o potencial de trilhar o mesmo caminho honroso que o pai. Experimento esse que foi um sucesso.
Moros, meu tio, começou a prever uma linha de destino obscura para o universo, e começou a suspeitar das atividades de Phobetor. Assim sendo, ele alertou Hebe, a deusa da eterna juventude, filha do deus olimpo Zeus, e Cronos, o deus do tempo, filho do deus primordial Urano, para que a criança, filha de Arthur, fosse escondida pelo tempo, ao passo que sua juventude seria preservada. Isso seria feito até que ele, Moros, desse o sinal para a criança ressurgir na Terra.
Logo depois de se comunicar com esses dois, ele alertou Morpheu sobre o perigo iminente de Phobetor, o qual correu em direção ao palácio, vindo a encontrar nosso irmão prestes a matar Hipnos.
“Observe Morpheu. Ei de matar nosso pai, e roubar seus olhos. Quando isso acontecer, acharei um jeito de ir para a Terra, e recriarei toda a humanidade, do zero. Coisas como inveja ou egoísmo não mais existirão neste novo mundo.”
“Não seja tolo Phobetor! O único jeito de sair daqui é matando Aether, e matar um deus é algo que viola o atual tratado de harmonia dos deuses! Ao fazer isso seu nome entrará para a lista negra, e tu serás condenado a passar toda a eternidade em Tártaro!”
“Se para cumprir meu objetivo, é preciso matá-lo, então assim farei. Não possuo ressentimento, ou medo. Nossas almas não são ligadas com a do nosso pai, como dreamians ordinários, e meus futuros olhos impedirão que qualquer outro deus me condene.”
Com essas palavras, uma batalha acirrada entre os dois foi iniciada. Infelizmente, tanto eu quanto minha irmã estávamos longe da caverna, realizando nossos trabalhos como sempre fizemos, e, no momento em que começamos a suspeitar que algo não estava certo, já era tudo tarde demais.
Nós chegamos ao palácio e nos deparamos com Hipnos morto, sem qualquer sinal da presença de Morpheu ou Phobetor. Nós nos separamos para procurá-los, e, não muito tempo depois, escutei gritos da minha irmã, e agitações, vindos de uma das salas. Tentei correr para a sua localização, mas Morpheu apareceu ao meu lado, quase que completamente acabado, e me disse: “Já é tarde demais. Precisamos sair daqui o quanto antes.”
Ao que ele me falou, depois que fugimos para bem longe do palácio, era que agora precisávamos contar com o plano de Moros.
Os anos foram passando e Phobetor foi criando o seu próprio Império, com a ajuda de Phantana, a qual agora se encontrava submissa à sua pessoa. Com os seus olhos, qualquer dreamian era submetido ao seu comando, perdendo, consequentemente, a ligação que possuíam com seus mestres, junto às suas lembranças.