Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 41
— Vire à direita, e depois siga reto para subir as escadas.
— Deixa comigo!
Diara e Baku se comunicam.
No momento tanto eu quanto Diara e os outros três cientistas estávamos na garupa do Baku, seguindo com tudo em direção à sala de backup.
Vários dos guardas se direcionaram para as redondezas da fortaleza para enfrentar aqueles moonstrucks que haviam chegado devido à mensagem. Isso fez com que o nosso caminho até a sala ficasse um pouco mais livre… Bem, sempre tinha um ou outro que entrava na nossa frente, mas quando isso acontecia, Baku simplesmente os devorava.
——?!
Nós descemos as escadas e nos deparamos de imediato com um longo e largo corredor, repleto de guardas.
— Tch, uma emboscada. — Se irrita Diara.
O cientista de antes pega o seu notebook e reanalisa o mapa.
— Existe uma rota alternativa que podemos pegar, mas isso poderá levar algum tempo…
— Hoho! Isso não será necessário! Apenas me deem cobertura que eu cuido do resto!
Baku se prepara e salta em meio aos inimigos, iniciando sua comilança com toda a vontade.
Eu inicio meus ataques com arco e flechas e Diara salta da garupa do Baku para lutar corpo a corpo, com socos e chutes mortais.
Eu não tinha reparado antes, mas Diara lutava muito bem. Ela parecia incorporar várias técnicas e estilos de luta do mundo real. Sempre procurando por aberturas, e achando os pontos fracos dos oponentes, para assim mandá-los direto para a parede. Sua defesa corporal também não ficava para trás.
Nossa luta continua por mais algum tempo até Baku devorar o último dos guardas, liberando consequentemente o restante do caminho até a sala. Diara e os outros cientistas se desmontam do Baku, e, antes de entrarem no lugar, ela conversa comigo uma última vez.
— Apenas para lembrá-lo, nada nos garante que vamos conseguir recuperar o controle da máquina… e mesmo que consigamos, o processo ainda poderá ser um pouco lento, então—
— Não se preocupe. Assim como eu disse a você antes, eu enfrentarei o Imperador e o mandarei para o inferno, e isso é independente do resultado que vocês alcancem.
Sim, eu não poderia pensar em outro destino para esse ser a não ser esse, afinal, a própria existência dele é um confronto à vida da Scarllet e da Loveta. Além do mais, no momento em que me coloquei à disposição para ajudar Scarllet, e me uni a ela com paixão, eu aceitei com que toda a sua vingança, ódio e anseios fossem compartilhados comigo. Por isso, nesse momento em que ela está impossibilitada de continuar, devo eu continuar o percurso, carregando tudo em meus ombros.
——Eu o matarei em nosso nome.
Mais uma vez surpresa, Diara desvia seus olhos e entra na sala, um pouco mais aliviada.
* * *
…O Império é maior do que eu imaginava.
Foi quase imediata a nossa visão deles assim que pisamos no local. Eram vários os navios imperiais que circundavam a fortaleza.
Já era noite, mas por causa da grande máquina de energia centrada na fortaleza, tudo era iluminado por uma forte luz roxa, provindos dela e dos raios no céu.
Na escuridão, cavaleiros do Império pulavam de seus navios, e uma luta entre eles e os moonstrucks se iniciavam em todo o canto.
— Está sentindo a presença dele? — Pergunto ao Baku.
— Sim… Existe uma aura poderosa vindo mais ao norte. E, eu tenho que dizer, eu nunca senti algo tão grandioso assim antes! Sabe, isso me faz pensar, qual é o seu plano para matá-lo? Você fala como se estivesse convicto de que o vencerá, mas mesmo que eu o ajudasse com tudo o que tenho, duvido que conseguiríamos causar qualquer dano a ele.
— …Vamos dizer que eu tenho certo bug à minha disposição.
Phew, usar uma skill hack não é algo que um player de honra como eu faria, mas… se para salvar as minhas garotas, e se para cumprir com a vingança da Scarllet é disso que eu dependo, então sinceramente, eu não me importo.
— Um bug? O que é isso?
Droga, eu esqueci que estou conversando uma quimera, e não com um humano contemporâneo…
— Bem, isso é um pouco complicado de explicar… Digamos apenas que eu seja capaz de me igualar a um deus, por um certo período de tempo.
— Se igualar a um deus!? Isso é deveras impressionante! Mas você não vai exagerar, não é? Afinal, todo poder está ligado à nossa energia vital, e usá-lo além da capacidade poderá trazer danos irreversíveis a essa energia!
Energia vital…? Não, o meu poder é um bug que faz parte de um sistema, então na realidade estou criando energia, e não usando a minha. Enfim, precisamos sair logo daqui.
— Não se preocupe muito com isso Baku, apenas continuemos com o nosso caminho.
Ele fica um pouco incomodado com a minha resposta, mas decide seguir com velocidade pelo campo.
Todo inimigo que agora aparecia afrente, ou era morto pelas minhas flechas, ou era devorado pelo Baku. Éramos realmente um duo poderoso.
— Ele está ali.
Eu sigo minha visão na direção indicada por Baku e o encontro também.
Hum… estranho. Por que ele ainda está no navio, parado dessa forma? Ele não vai entrar em campo?
O Imperador estava a uma certa distância da gente, e por isso não conseguia vê-lo nitidamente, mas, de alguma forma, ele parecia nos encarar.
…Hã? O que é isso?
Uma nuvem preta sai do navio em questão e se condensa na nossa frente, tomando a forma de um animal, ou melhor, de uma quimera. Ela tinha cabeça de macaco, corpo de tanuki, patas de tigre e uma cauda de cobra.
Essa aparência… Não é a mesma que Scarllet citou mais cedo? A quimera que apareceu junto ao bispo no Império? Se não estou enganado, o nome dela é Nue…
Ela me encara, friamente. — Vá humano. O meu mestre lhe aguarda. Não tenho assuntos a tratar contigo. — Ela encara Baku. — Já com você, irmão, a história é outra. Ei de matá-lo, e vingar nossa deusa.
Baku fica confuso, mas dá um sorriso de excitação. — Amigo, eu realmente não sei do que ele está falando, mas ao que tudo indica, ele sabe daquilo que eu não lembro. Como eu sei que ele não me permitirá passar daqui facilmente, então não tenho outra escolha a não ser ficar. Além do mais, estou realmente curioso para ouvir o que ele tem a me dizer.
— Sim, eu já entendi Baku. — Digo isso a ele me desmontando de sua garupa. — Obrigado por toda a ajuda que você me deu até aqui.
— Hoho! Também o agradeço pela a aventura amigo! Deixo com você a segurança dos meus convidados!
Ele volta a encarar Nue, enquanto os deixo para trás.
——Me direcionava agora ao navio superior.
Scarllet e Loveta, aguentem firme! Estou prestes a acabar com essa palhaçada de uma vez por todas!
* * *
Observando a minha chegada, o Imperador cria asas de dragão negro e desce majestosamente em minha direção.
Ele tinha a forma de um humano jovem. Usava roupas de tecido que remetia à realeza. Tinha cabelos escuros com tons de roxo, e, o que mais chamava a atenção; ele tinha seus olhos cobertos por uma venda de metal.
Estranho. Tenho uma leve impressão que eu já o vi em algum lugar…
Hã!? Essa pressão…! Está vindo dele!? Eu mal estou conseguindo ficar de pé!!
[Alerta de Sistema: Inimigo extremamente forte detectado. Nível de ameaça: ‘OverGod’. Ação recomendada: A depender da sorte.]
Eu nunca vi o sistema me alertar dessa forma antes!!
— Então fostes tu o escolhido de Morpheu como portador de Phantasia? Devo dizer-lhe que estou impressionado com os teus feitos. Chegar até aqui, e ainda ajudar minha futura noiva a despertar a Excalibur. Tu és de fato alguém que merece meu reconhecimento.
Phantasia…? Morpheu…? Noiva… Scarllet?!!
[Finalmente o evento foi dado! Player Kazuki, se prepare, chegou a hora da revelação!]
FLASH!!
Uma forte luz brilha diante dos meus olhos e, quando percebo, o lugar em que estava não era mais a fortaleza, mas sim a casa da Phanta—Eu apareci sentado em sua cama.
Phanta se vira para mim, em sua cadeira—Seu olhar era bastante sério.
— Phanta, qual o significado disso?! Por que eu voltei para cá?? Não vai me dizer que eu desmaiei no meio do campo de batalha!
— Não dessa vez. Na verdade, eu forcei sua vinda para a minha casa usando um recurso do sistema com as últimas coordenadas de quando esteve aqui. Além disso, eu fiz um overclock temporário nele para que o seu poder de processamento mental aumentasse em 3600 vezes. Isso, em outras palavras, significa que a sua mente está tão rápida que trinta minutos aqui equivalem a meio segundo no tempo real. Claro, fazer algo desse nível no sistema é perigoso, e por isso só deve ser feito em casos excepcionais, como esse.
— Hã?! Mas eu ainda não entendi! Por que você fez isso?! Eu estava prestes a dar uma surra naquele cara!!
Phanta suspira.
— Sim, e você vai fazer isso. Só que antes, é importante que você saiba contra quem exatamente está prestes a lutar. — Ela para por um segundo e faz um olhar angustiante. — Este ser, que agora se encontra na sua frente, no Aether, não é ninguém menos que Phobetor, o deus dos pesadelos, e também… bom, um de meus irmãos.
O quê…? O Imperador é o deus dos pesadelos?? E irmão da Phanta?! Mas como isso é possível!?
— Mas e aquela história de ser minha assistente?? Você não foi criada como consequência do meu poder de RPG???
Phanta se entristece ao ouvir minha pergunta. — Na verdade, o poder que você possui é o meu próprio poder. Ele apenas se adequou à sua vontade quando Morpheu, meu outro irmão, e deus dos bons sonhos, me colocou dentro de você. Meu verdadeiro nome é Phantasia, e eu sou a deusa do delírio e da fantasia. Meu destino, ao seu lado, era lhe ajudar a crescer e garantir que a vontade de Moros, o deus do destino inevitável, fosse satisfeita.
“………”
— Então, em outras palavras, o que você está dizendo para mim é que tudo o que passamos juntos foi uma grande farsa.
Phanta arregala seus olhos e imediatamente pula na cama, me abraçando. — Claro que não, idiota! É verdade que eu omiti isso e mais algumas coisas de você, mas eu nunca, nunca menti com os meus sentimentos! Eu já falei isso a você antes, mas vou repetir de novo, eu nunca tive dias tão felizes na minha vida quanto esses em que estive ao seu lado! Mesmo quando era uma deusa, meu trabalho era bastante solitário, sabia? Mas tudo mudou no momento em que passei a viver contigo! Você tem algo que nem mesmo os deuses que já conheci possuem, algo que faz meu coração arder em emoções sempre que converso contigo! Então jamais diga novamente uma besteira dessas de que o tempo em que passamos juntos foi uma mentira, porque isso é a própria mentira!
——!!
— Eu não sabia que você se sentia dessa forma por mim… Me desculpe por ter falado aquilo…
Phanta para de me abraçar e recua, enxugando suas lágrimas com um sorriso.
— Não… Eu também deveria pedir desculpas por não ter contado toda a verdade até agora…, mas infelizmente, por mais que eu quisesse, nada poderia ser revelado até que Phobetor pronunciasse um de nossos nomes. Afinal, essa foi a melhor linha temporal que Moros conseguiu prever.
— Moros, deixa eu adivinhar… Também é um de seus irmãos?
Phanta me encara surpresa e aliviada, vendo que eu estava mais calmo e focado em sua conversa.
Ela nega com a sua cabeça.
— Moros na verdade é o meu tio. Ele se juntou a nós depois que Phobetor iniciou seus planos obscuros ao matar meu pai, Hipnos, o deus do sono, enquanto dormia em seu palácio.
Matou o pai da Phanta, no seu próprio palácio??
— Espera aí… Por acaso o palácio que você está se referindo é aquele onde Baku mora?? E o pai de vocês dois seria—
— Sim, o gigante morto que você encontrou deitado na cama, na primeira vez em que esteve lá. — Phanta se repulsa.
— Por que ele faria isso?! Matar o próprio pai—!
Phanta nota meu olhar angustiante e retorna a falar.
— Player Kazuki, para que você entenda as coisas a partir daqui, é necessário que você saiba quem nós, Oniros, somos, porque vivemos no Aether, e qual é o significado da nossa existência. Está preparado para ouvir a história?
Eu aceno com a minha cabeça, e, suspirando fundo, ela inicia o seu conto—Conto este que revelaria o passado, o presente, e o possível futuro de todo o universo.