Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 40
— Ela ficará bem? — Pergunto à Lily, que usava magia para analisar o estado da Loveta.
A luta havia acabado há poucos minutos, e estávamos todos reunidos ao seu redor.
Sentado ao seu lado, eu acariciava gentilmente a sua cabeça, decepcionado em parte com o resultado da batalha.
Tch, como as coisas foram chegar a esse ponto…?
Lily me responde. “Sim, ela se recuperará em breve, mas não 100%. A descarga parece ter afetado um pouco o seu estado físico e mental…”
— Hã? Espera aí! Não vai ser nada crítico como ela se esquecer de mim ou coisa do tipo, não é?!
Por favor, me diz que não! Ainda estou traumatizado com o que quase aconteceu com ela em Azurya naquele dia!
“Me desculpe…, mas não sei dizer ao certo.”
——?!
— Como assim… Como você não sabe dizer ao certo? Você cura! Sim! Usa sua magia! Se você fizer ela vai—
Lily se entristece com a minha reação e balança sua cabeça para os lados.
“Não consigo, isso está além dos meus limites…”
Não, não é possível… De novo esse mesmo desespero…? De novo essa mesma situação?!
Por que ela?? Por que justamente a Loveta!?
Sentada ao meu lado, Scarllet me envolvia no calor de seus braços. Ela também demonstrava tristeza em relação à condição da Loveta.
Já Diara, reflexiva, nos encarava a alguns metros de distância, mas logo decide vir ao nosso encontro.
— Me desculpem, é tudo culpa minha… Se ao menos eu tivesse duvidado um pouco dele, nada disso teria acontecido… Mesmo com a suspeita que já circulava entre nós, de um possível traidor envolvido com o Império, eu negava com todas as forças de que Galen seria essa pessoa… Afinal, ele sempre me tratou tão bem… Tch, não é à toa que ele sempre cismava de querer caçar corrompidos de forma separada, dentro da região de Elysia, devido à proximidade com o Império.
“………”
— É verdade, é tudo culpa de vocês. — Digo, me levantando. No momento, meus cabelos cobriam completamente os meus olhos. — Não estou interessado se havia ou não um traidor entre vocês, ou se ele era ou não o seu querido parceiro. A única coisa que me interessa agora é sair daqui, então trate de nos providenciar uma nave ou coisa do tipo, porque já estou de saco cheio de estar envolvido em seus problemas!
Diara fecha com força o seu punho, irritada, mas logo suspira tentando se acalmar.
— Existe uma nave no subsolo da fortaleza que vocês poderiam usar, mas eu não recomendaria isso. Na verdade, em nome das milhares de criaturas que existem no Aether eu peço a vocês, por favor, fiquem e nos ajude a combatê-los! Se o que Galen disse a respeito da destruição for verdade, então—
— Dane-se!! Vocês mexeram com o Império, então vocês lidam com o Império! Me desculpa Scarllet, eu sei do ódio que você deve estar sentindo por eles agora, mas sabe de uma coisa? Da mesma forma que você não aguenta ver sua irmã sofrer, eu também odeio ver vocês sofrerem! Só de pensar no que mais poderia acontecer a vocês a partir de agora eu—
PLAFT!
Hã…?
Quando percebo, Scarllet havia dado um tapa no meu rosto.
— Você quer voltar? Então volte! Mas saiba de uma coisa, eu vou ficar e lutar. Por causa da minha irmã? Também. Mas também por causa do Baku, por causa da Lily, por causa da Aneesa, por causa da Loveta, que sofrerão todos caso Aether seja destruído! Por causa das milhares de pessoas da Terra que morrerão caso dreamians descontrolados como a Lamya apareçam por lá! Vá e fuja com a Loveta enquanto pode, assim como um covarde faria!
“………”
Ela me deixa para trás para se encontrar com a Diara, que fica um pouco chocada com a cena que acabara de acontecer.
— Eles estão atrás da máquina, não estão?
Ela sacode afirmativamente sua cabeça, e Scarllet continua.
— Será que não há como mexer nela novamente para acelerar o processo assim como Balzebear havia falado?
— Infelizmente não. Antes de morrer, mestre Balzebear bloqueou todo o acesso de controle, ninguém mais tem o comando para operar a máquina.
Assim que Diara diz isso, um cientista corre na direção delas.
Era a pessoa que havia sido derrubada no chão pelo próprio chefe, quando este ficou louco por causa do poder de Galen.
— Na verdade, existe um jeito. — Diz ele, abrindo seu notebook para elas. Lá existia um mapa. — Tem um sistema de backup que podemos acessar caso cheguemos nessa sala. Lá provavelmente conseguiremos resolver essa questão… O problema seria apenas—
— Os guardas. — Complementa Diara. — Galen deve ter corrompido todos eles… Tch!
Eles continuam discutindo depois disso, mas eu retorno o pensamento à minha pessoa, com Baku chamando a minha atenção.
— Me desculpe amigo, mas eu tenho que dizer, dessa vez você mandou mal. Por mais que eu queira te ajudar, e ficar ao seu lado, eu também prezo pelo bem estar dos meus convidados… Afinal, não existe festa, sem antes dreamians. — Baku também se dirige à Scarllet.
Tch… Será que é tão errado assim, querer ficar ao lado de uma pessoa incapacitada, uma pessoa que eu amo? Eu não queria largar a Loveta aqui, sozinha, mas… também não gostaria que a Scarllet lutasse sem mim… Argh! Mas que situação complicada!
[Phew, acho que você ainda não entendeu a situação player Kazuki. Se Aether for destruído, Loveta também será destruída. Se Aether for destruído, Scarllet passará a vida sofrendo. É realmente isso que você deseja a elas?]
Mas o que de útil eu poderia fazer caso lutasse? Scarllet tem a Excalibur, e Baku é uma quimera, mas e eu? O que eu tenho? Não passarei de mais um dreamian enfrentando outro dreamian…
[Você não é um dreamian, você é um criador, um player! Namorado daquela que possui a Excalibur, e melhor amigo do devorador de sonhos! Aquele que possui a determinação, e que vinga a sua criação! Aquele que, como jogador, está destinado a lutar contra o boss final! Vá, e vença essa batalha player Kazuki, e mostre à Loveta quem é o lobo alpha!]
[Além do mais, não é como se ela fosse ficar aqui, sozinha. Lily está chamando sua atenção a algum tempo, mas acho que você ainda não percebeu.]
——Hã?
Eu olho para o lado e me deparo com a Lily puxando o meu cabelo.
“Até que enfim você me notou! Urgh! Você sabe que precisa ir e ajudar a Murakami! Se você ficar aqui, junto à garota lobo, nada poderá fazer a não ser lamentar. Mas, diferente de você, eu tenho o poder de cura e análise, e esse sim é um trabalho que me é competente. A cura está realmente além dos meus limites, mas ainda assim, se eu me concentrar bem, consigo minimizar o problema significativamente! Então por favor, ajude eles e confie sua amada a mim!”
É verdade… Aonde que eu estava com a cabeça? Já enfrentei dezenas de criaturas, passei por situações tão delicadas quanto essa, tudo para quê? Para chegar até aqui e simplesmente virar as costas? Não, isso não é algo que me orgulharia de fazer! Todos os jogos que eu já joguei até agora eu zerei, e esse “jogo”, chamado ‘Aether’, também não será diferente! Eu não só vou zerar, como também platinar!
— Scarllet!
Eu a chamo pelo nome e ela se vira assustada, juntamente aos outros.
— Me desculpe por ter bancado um babaca agora a pouco… Esse tipo de atitude não é algo que uma pessoa como você merece. Eu vou sim ficar e lutar; dando o meu máximo para que sua irmã e os outros sejam salvos!
Ela se alegra com o que eu digo, mas logo fica tonta, colocando uma de suas mãos na testa.
— Uh…!
— Scarllet, você está bem?!
Eu corro e a seguro pelos ombros.
— Eu não sei bem, mas… tem uma dor subindo à cabeça… Ela está—Argh!
Sua respiração começa a pesar.
O que está acontecendo com ela…? Será que—Não, ele está morto, então o quê—
[——!!]
[Rápido Player, se afaste dela imediatamente!!]
Hã?! Como assim!?
[Apenas ouça o que eu disse e se afaste! Mande todos fazerem o mesmo!]
——Droga!!
— Para trás todo mundo! — Eu grito e todos nós nos afastamos da Scarllet.
Ela então fica lá, de pé, sozinha.
Seus gritos de dor e agonia haviam passado, e agora apenas encarava o chão, com suas franjas cobrindo os seus olhos.
— Há… há, há…
…Hã? Por que ela está rindo?
— Há, há, há!
Scarllet inclina sua cabeça para cima enquanto ria, e o elástico que prendia seus cabelos se desfaz, fazendo eles se soltarem por completo. Seus olhos haviam ganhado um tom avermelhado.
[Tch, então ela apareceu…]
Ela? Ela quem?? Não é a Scarllet!?
[Apenas… se mantenha longe por enquanto.]
E eu vou ficar parado, simplesmente olhando!?
— Quem é você?!
Ela me encara assim que pergunto isso, sorrindo.
— Ah, o receptáculo mortal… Oi irmã? Como vai? Venha para fora também, vamos bater um papo.
Irmã? Com quem ela está falando? Ela ficou louca por acaso!?
[Apenas ignore, não converse com ela.]
…O quê?
Eu observo Baku. Ele estava completamente espantado.
— Minha deusa! É realmente você?
— Ara! Baku, venha cá, deixe-me apertar tuas bochechas!
Baku sacode a cabeça para os lados.
— Não, tem algo errado… Você é de fato a minha senhora, mas ao mesmo tempo não é! O que aconteceu com você?!
— Uhh, isso machuca Baku, claro que sou eu. Ah, aonde está teu irmão? Também estou com saudades dele.
— O meu irmão? Eu tenho irmão…?
Phanta, se você sabe de alguma coisa, então por favor, me explique agora! Eu estou muito confuso!
[Me desculpe player Kazuki, mas até que o evento ocorra, nada poderá ser revelado.]
Evento? Que evento?!
Droga, será que isso é um delírio coletivo? Ou é apenas eu que estou ficando mais louco?!
Scarllet, ou melhor, o ‘espírito’, volta a falar.
— Ah, isso é uma pena! Ninguém queria me ver? Ninguém estava com saudades? Phew, que seja… Vamos passar logo para o que interessa então. Isso aqui não será mais necessário.
Ela segura o colar que Scarllet usava e o joga para longe.
Em seguida cria a Excalibur, ficando completamente loira.
— Como 99% dos meus poderes estão selados, vou pegar sua espada emprestada, ok? Espero que não se importe. Além do mais, não gostaria de sobrecarregar e destruir o seu corpo tão rápido… Até porque, se eu fizesse isso, o meu irmão jamais me perdoaria.
Destruir o corpo… da Scarllet!?
— Sua maldita! O que você fez com ela?!
— Maldita? Isso são modos de falar com uma deusa? Sabe, eu simplesmente iria usar o poder da espada para fazê-los terem uma morte suave, mas… quer saber? Tortura também seria uma boa. Estou longe de estar tão poderosa quanto o meu querido irmão, mas bom, ainda tenho meus 1% de poder.
— Arghhh!!
Droga! O que… é isso?!
Eu… estou sendo enforcado?!
Ela havia inclinado seu braço para frente, e espremia o ar com uma de suas mãos.
[Eu te avisei para não conversar com ela! Tch, isso não é algo que deveria ser usado agora, mas infelizmente não vejo outra solução—Rápido! Grite ‘Admin Access’ antes que seja tarde demais!]
Admin…? Aquele poder…?
Enquanto eu conversava com a Phanta, Baku estava paralisado encarando a deusa. Alguma coisa nela prendia a sua atenção. Por causa disso ele não conseguia reagir.
Diara, por outro lado, estava a um passo de saltar e tentar alguma coisa, mas nisso correntes surgem da nossa retaguarda, prendendo o braço esticado da deusa.
Eu logo caio.
Essas correntes… Loveta?!
Eu olho para trás e me deparo com ela de pé. Uma forte aura roxa envolvia o seu corpo. Seu olho esquerdo também havia ficado azul, emitindo raios e mais raios. A expressão em seu rosto era de puro ódio.
Seu nível havia aumentado para 1505. Ela estava quase que se comparando ao nível da atual Scarllet, de 1530.
— Nunca mais toque dessa forma no meu Mestre! GRRR!!
— Loveta, Cof! Como você está de pé? Cof!
— Não fale muito Mestre! Deixe-a comigo!
Lily rapidamente se aproxima de mim.
“Foi o doce de Mister M.! Eu tinha a dado a pouco tempo atrás porque vi que ele tinha propriedades regenerativas, mas pelo visto, ele tinha algo a mais!”
O doce…?
— Ah, entendo! Essa aura…! Sim, então o meu outro irmão fracote deu uma fração de seus poderes para um dreamian qualquer? Haha, só ele mesmo para fazer algo assim! Mas é ótimo! Muito bom! Ah! Depois de tanto tempo presa, já tinha me esquecido o quão doce era fazer uma boa luta! Certo, certo! Eu luto contra você! Meu papel é apenas o de vigiar esta sala mesmo!
Assim que ela diz isso, ela movimenta suavemente o seu braço preso e as correntes se soltam. As duas então iniciam uma briga entre si de uma forma que eu jamais havia visto antes.
A velocidade era tão rápida que meus olhos simplesmente não conseguiam acompanhar.
Tch, eu não posso dizer que estou feliz com isso, no entanto. Afinal, são as minhas duas namoradas que estão ali, brigando entre si. Se eu interferir com essa luta… Não. Mesmo sabendo que não é a Scarllet quem está lá, eu não seria capaz de atirar uma flecha sequer na sua direção… Merda! Eu odeio isso!
[Se você deseja acabar com isso player Kazuki, então vá em direção ao Imperador! Matá-lo é a única opção que lhe resta! Ele é o seu boss final!]
“………”
Diara rapidamente corre em meu sentido, junto a outros três cientistas.
— Você disse que iria nos ajudar, não disse? Então por favor, nos ajude a chegar nesta sala! Se chegarmos lá poderemos rever a sequência de descarregamento da máquina! Lá eu ajudarei na defesa e na proteção dos cientistas. Você, junto à quimera, iria para os arredores da fortaleza ajudar os demais moonstrucks contra os guardas e contra o Império! Eu sei que isso é pedir muito depois de tudo o que fizemos a vocês, mas—
— Sim, eu vou ajudar.
Diara me encara surpresa, ao ouvir minhas prontas palavras.
— Eu enfrentarei o próprio Imperador, e o mandarei para o inferno—Baku!
Eu grito o seu nome e ele volta a si, vindo imediatamente até mim.
— Me desculpe, eu não sei o que aconteceu comigo agora… Aquela era realmente minha deusa, mas… Ela está esquisita!
— Tudo bem. Você deseja salvá-la, não deseja? Além dos seus convidados?
Baku confirma.
— Então não temos tempo a perder—Lily, por favor!
Eu grito o seu nome e ela rapidamente se vira para mim. Lily estava conseguindo acompanhar a batalha entre as duas de alguma forma.
— Como você disse, a tarefa de cura e de proteção é algo que te é competente. Eu talvez precisaria dos seus poderes, mas… as minhas namoradas vêm em primeiro lugar. Então eu te peço, por favor, fique aqui, e cuide de ambas, para que nenhuma morra.
Ela se alegra com a confiança que deposito nela, e balança afirmativamente sua cabeça, voltando logo para a assistência.
Eu também dou meia volta para o meu objetivo.
…Se prepare seu pedaço de merda, porque a sua hora se aproxima.