Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 39
Scarllet arregala seus olhos, e Balzebear prossegue. — Isso tudo foi uma mentira, inventada pelo próprio Imperador.
— Não, não é possível… Eu me recuso a acreditar! É mentira! Você é quem está mentindo!
ZOOOM!
Scarllet de repente cria uma espada e a coloca no pescoço de Balzebear pronto para tirar sua vida.
Vários dos guardas que patrulhavam a área apontam suas armas para a gente, nos cercando.
Droga, se continuar assim a situação vai piorar!
Balzebear se assusta um pouco, mas logo se acalma, levantando uma de suas mãos para os guardas fazerem o mesmo. Apesar de relutantes, eles cedem à ordem.
— Não é mentira. Não foi você mesma quem disse que se prezamos pelo bem estar de nossos mestres, não faria sentido fazê-los sofrerem dessa forma?
Scarllet fica sem saber o que falar. Seus olhos estavam aflitos.
— Me desculpa Scarllet, mas tudo o que ele disse até agora faz sentindo… Também é um pouco difícil para mim, mas eu não acho que ele esteja mentindo.
— Não…
Ela sacode sua cabeça para os lados, começando a murmurar em pensamentos.
— Então todo esse tempo…
Eu a abraço.
Eu acho que conseguia entender o que ela estava sentindo nesse momento… Uma mistura de sentimentos de traição e indignação, talvez, causados pela destruição da própria convicção.
Tudo bem que agora ela não faz mais parte do Império, mas considerando o motivo pelo qual ela havia se aliado a eles, e o motivo pelo qual ela tinha os deixado… Tudo para chegar até aqui e descobrir que tudo não passava de uma grande farsa.
Alguns segundos de silêncio se passam, e eu também resolvo o questionar.
— Por que o Imperador faria algo assim? Qual a relação dele com os fragmentos?
— Vejamos, o motivo principal pelo qual ele os junta ainda é um mistério. Mas cremos que a justificativa de nos culpar pelos seus feitos não passa de uma tentativa de confundir os dreamians, redirecionando seus ódios, e o ajudando a manter a sua boa imagem. O fato dele nos declarar como inimigos, mas nos manter vivos, também corroboram para o esquema.
Tch, odeio ter que admitir, mas como eu disse, tudo o que ele falou até aqui faz sentido… Bom, eu já odiava o Império de qualquer maneira, então isso acabou reforçando ainda mais meu interesse em aniquilá-los por completo.
Mas infelizmente isso não é algo que poderei fazer agora. Scarllet não está se sentindo bem, e nós precisamos retornar logo para as nossas casas.
— Se tudo o que você tinha para dizer era justificar seus atos, então não temos mais nada a fazer aqui. Nossos corpos, como você disse, estão seguros, não estão?
Balzebear responde à minha pergunta, um pouco mais aliviado.
— Sim, eles estão. Mas devido à anestesia que o meu mestre aplicou em vocês, é provável que o efeito só passe daqui um dia.
Então estávamos anestesiados, né?
— Ei amigo, não poderei devorar ninguém então?
— Foi mal aí Baku, mas como você viu, tudo não passou de um grande mal-entendido.
— Hum… Isso é uma pena.
— Gyaaa! Até que enfim essa conversa acabou!
Nós já estávamos de costas a ele, mas Balzebear resolve chamar mais uma vez a nossa atenção.
— Por terem percorrido todo esse caminho, não teriam minimamente o interesse em saber o que descobrimos a respeito de vocês? O resultado das nossas pesquisas?
— O resultado?
Espera aí, é verdade! Se ele está liberando nossos corpos agora, é porque ele já encerrou com a pesquisa. E se aqueles dreamians lá vieram até aqui ansiosos para verem seus mestres, então… ele conseguiu?
Balzebear prossegue. — De forma resumida, o que descobrimos a respeito de vocês dois é que ambos possuem um poder místico poderoso escondido dentro de cada um. Esse poder é proveniente do Aether, e ele é a causa dos dois terem acesso ao lugar.
Um poder místico…? Será que isso está relacionado com os cristais de invocação? Porque afinal de contas foi por causa deles que viemos até aqui, não foi?
Eu pergunto sobre isso para ele, mas Balzebear simplesmente sacode sua cabeça.
— Infelizmente não encontramos nada parecido com isso aqui pelo Aether. Bom, talvez pelo simples fato de que realmente existiam apenas dois desses, os quais já foram gastos para invocá-los.
— Hã? Se não encontraram nada, então como avançaram nessa pesquisa?
Balzebear curva levemente sua cabeça e as lentes de seus óculos brilham com o reflexo dos raios emitidos pela enorme máquina que alcançava até mesmo as nuvens, no centro de todo a fortaleza.
— Nós pensamos que, talvez, reaproveitando o poder dos fragmentos colhidos pelo primeiro experimento, e juntando ainda mais posteriormente, poderíamos alcançar uma réplica de seus poderes, de forma satisfatória.
——?!
Eu encaro a máquina.
Então esse é o significado disso?? Pelo tamanho dela, e pela força que ela está emitindo, quantos fragmentos devem ter sido reunidos para estarem aí dentro?!
Scarllet dá um passo para frente, e cria novamente uma espada. Sua respiração estava pesada, e havia muito suor escorrendo pelo seu rosto.
— Ainda assim, eu não posso permitir que tal coisa aconteça. Trazer humanos para cá significaria colocar a vida deles mesmo em risco! E isso é algo que deve ser evitado, a todo e qualquer custo!
Balzebear se silencia por um momento, mas retorna a falar. — Eu sinceramente não vejo as coisas da mesma forma que você. Trazê-los para cá significaria dá-los a oportunidade de escaparem de seus sofrimentos diários, coisas que eles já passam devido suas vidas contemporâneas. De qualquer forma, não é como se isso fosse acontecer, já que o resultado do segundo experimento também foi um fracasso. — Suspira ele, com uma expressão triste no rosto.
Espera…
Todo mundo que estava comigo também fica confuso.
— O experimento não deu certo? Então por que a máquina ainda está aí?? Por que os dreamians vieram até aqui falando que estavam ansiosos para verem seus mestres?!
— Depois que concluímos o estudo, um pouco antes de vocês chegarem, chegamos à conclusão de que o poder que está em vocês, e o poder que está nos fragmentos são duas coisas completamente diferentes. Não importaria a quantidade de fragmentos que colhêssemos, nunca iriamos alcançar a essência já inerente em vocês. Por isso a máquina já entrou em processo de descarregamento. Agora, em relação aos dreamians que vieram para cá…, bom, eles não vieram até aqui com o propósito que pensam.
— …Hã? Como assim?
Balzebear empurra novamente os seus óculos com a ponta de suas garras.
— A mensagem que mandei o meu mestre pronunciar ontem, para as televisões de toda a Terra, falando que nós, moonstrucks, em breve chegaríamos, escondia na verdade duas intenções. A primeira seria caso nosso segundo estudo fosse um sucesso, e a segunda seria caso fosse um fracasso. Em ambos os casos, o objetivo central da mensagem era o de atrair os vários moonstrucks espalhados pelo Aether para a nossa base central. As pessoas na Terra que possuíssem afinidade com o trigger, avisariam suas criações de que tudo estava pronto, e que deveriam retornar para a base. Caso o experimento fosse um sucesso, todos estariam aqui para invocar seus mestres por meio da máquina. Agora, caso fosse um fracasso, todos viriam até aqui para proteger o equipamento enquanto ele é descarregado, afinal, esse é um processo lento.
— …Proteger a máquina? Do que exatamente?
Assim que faço essa pergunta, Balzebear me encara nos olhos, fazendo uma expressão ainda mais séria.
— Mas é claro que seria do—
BWEEEEEP! BWEEEEEP!
——!!
O que é isso?! O que está acontecendo?!
Luzes vermelhas acendem por todos os cantos, enquanto as sirenes fazem um alto estrondo.
— Senhor! Eles chegaram! — Exclama um dos cientistas que estavam no computador.
Balzebear corre até ele.
— Eles chegaram?! Como?? A previsão para que isso ocorresse era para apenas daqui dois dias!
— Não restam dúvidas de que sejam eles, veja você mesmo!
Balzebear encara o computador e se estremece.
Droga! Quem chegou?! Por que estão todos tão desesperados assim?!
— Rápido! Acelere o processo de descarregamento!
— Senhor, tem certeza? Isso tirará a energia da fortaleza, e a fará perder altitude!
— Apenas faça o que eu disse! Nós não temos tempo a— Arghhh!
Balzebear de repente range de dor, e então empurra o outro cientista da cadeira, começando a mexer no computador.
— Me matem! Me matem! Isso é uma ordem!
Enquanto digitava, ele gritava essas palavras.
Hã?? Será que ele enlouqueceu de vez?!
Vários dos guardas e outros cientistas que estavam aqui também ficam confusos, não sabendo o que fazer.
— Gyaa! Mestre?! O que está acontecendo?!
— Também não sei Loveta, mas por hora, acho melhor recuarmos, estou com um péssimo pressentimento! Ei, você está bem Scarllet?!
Ela fica tonta por um momento, mas logo se recupera.
— Sim, foi só uma dor de cabeça…
— Aviso: Processo de descarregamento pausado e bloqueado! Aviso: Processo de descarregamento pausado e bloqueado!
——?!
Assim que a voz eletrônica emite a mensagem, Balzebear enfia as garras da própria pata no pescoço, se suicidando.
— No, no, no! Nenhum processo será acelerado aqui. Haha!
Nós nos viramos para ver quem havia dito isso e, para nossa surpresa, a pessoa em questão não era ninguém menos que o próprio cabeça espetada.
— Você—!
Assim que eu o observo, noto um fantoche fantasmagórico com a aparência do próprio Balzebear abaixo de sua mão.
Então foi ele que—
— Galen?! Por quê?! — Diara se aproxima, aflita.
— Oh! Minha Queen! Por que você diz? Ora, você sabe do meu desejo, não sabe? Se não será Balzebear que me levará até minha mestra, então busquemos novos meios! Ah! Mas pode ficar tranquila! Assim que Aether for destruído, você também poderá ver o seu mestre, na Terra!
— Aether ser destruído?? O que você quer dizer com isso?!
— Opa! Opa! Acabei falando demais… Phew, por que isso sempre acontece? Mas agora eu já disse, certo? É isso mesmo que você ouviu, em breve Aether será destruído, e todos nós poderemos ir para a Terra para nos encontrarmos com nossos mestres! Isso não será ótimo??
Diara sacode negativamente sua cabeça. Ela estava chorando.
— Não seja ridículo! Você sabe do resultado do primeiro experimento! É impossível atravessarmos a barreira do abismo que separa os dois mundos sem que a nossa mente seja afetada!
— Ah! Isso é o que aquele urso velho dizia, mas com o Imperador as coisas serão diferentes!
Imperador…?!
Diara imediatamente se vira para os guardas.
— O que vocês estão fazendo?! Ele destruiu o nosso comandante! Por que vocês estão aí parados?!
Apesar de dizer isso, com olhos marejados, nenhum deles move um músculo.
— Minha Queen, não seja tola de dizer isso a eles. Afinal, você sabe que, assim como eu, eles também desejam muito ver seus mestres!
— Não me chame mais por esse nome, traidor!
Com raiva, ela salta para o atacar, mas nisso ele levanta sua mão direita.
Droga! Ele vai fazer aquilo!
Eu rapidamente levanto o meu arco para tentar alguma coisa, mas não consigo a tempo.
— Mind Break!
— Arghhh! — Diara coloca as mãos na cabeça, gritando de dor.
— Grrrr! Deixa que eu destruo esse cara! — Exclama Loveta, pegando impulso.
— Não Loveta! Não faça isso!
Galen se vira para ela com um sorriso.
— Double Mind Break!
Loveta cai no chão no mesmo instante e também começa a ranger de dor.
Um segundo fantasma aparece em sua mão esquerda.
Merda, merda!! As coisas não podem continuar assim!!
Ao menos, pelo o que parece, ele não conseguirá criar um terceiro fantasma, já que as suas duas mãos estão ocupadas!
— Baku!
— Sim! Pode deixar!
Baku então aumenta de tamanho se preparando para o combate, mas Galen logo se pronuncia.
— Vejam senhores! Essa quimera quer nos impedir de ver nossos mestres! Temos que acabar com ela o quanto antes!
Os guardas confirmam ao que ele disse, e vão para cima dele.
Baku aumenta ainda mais o seu tamanho e começa a devorá-los sem parar. Era dezenas, não, centenas de guardas devorados! A força do Baku era monstruosa!
Mas infelizmente, devido à quantidade de inimigos, ele começa a ficar impedido de continuar.
Sempre que ele os devorava, apareciam mais e mais guardas.
Scarllet imediatamente gera a Excalibur em sua mão, mas Diara se aproxima dela com tudo, dando-a um tremendo soco em sua barriga.
— Me desculpa, eu não queria fazer isso!
— Eu também não quero te machucar…
Apesar de dizerem isso uma para a outra, elas começam a se enfrentar, uma com espada, e outra com chutes e socos.
Tch, as coisas estão piorando… Baku está impedido por causa dos guardas, Scarllet está ocupada com a Diara, e Loveta ainda está reagindo ao mind break… Preciso matar logo esse maldito!
— Lily! Cuide da Scarllet, e fique de olho na Loveta!
“Entendido!”
Eu miro meu arco no desgraçado.
Quero ver você se desviar disso!
— Skill: Canarinho Sônico!
A flecha lançada rapidamente toma velocidade, e quando está prestes a atingir Galen, duas correntes surgem na retaguarda e a acertam com tudo.
— Não… Eu não quero fazer isso… Eu não quero machucar o meu Mestre! Não! Eu não queroooo!!
Loveta tenta reagir com todas as forças ao Mind Break.
Merda! Se eu continuar poderei acabar atingindo a Loveta! O que eu posso fazer?!
Galen olha para a Loveta, e fica incomodado com sua resistência parcial.
— Tch, você é realmente persistente! Mind Break! Mind Break! Mind Break!
— Gahhhhhh!! Gaaah! Gaaaaaaaaah!
A cada vez que ele pronunciava essas palavras, Loveta gritava ainda mais.
Suas correntes então se levantam ao ar por conta própria, como duas enormes serpentes selvagens.
— Isso, isso, isso! Agora ataquem ele—Hã?
Galen olha para baixo e nota algo estranho—Seu coração não estava mais lá. Sim, as correntes haviam perfurado o seu peito esquerdo.
— Eh?
Ele cai no chão.
——?!!
As correntes atacaram o próprio Galen?! Como??
Ainda agitadas, elas vão com tudo para cima dos guardas, destruindo todos eles, indo por fim em direção à própria máquina.
DZZZZZT!
Elas a acertaram com tudo, e uma super descarga elétrica é conduzida até a Loveta.
— GAHHH!!
Ela grita mais uma vez antes de se desabar sobre o chão.
— NÃÃÃÃO! LOVETA!!