Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 38
As nuvens daqui estão ficando cada vez mais densas…
— Lily, tem certeza de que esse é o sentindo leste?
“Sim! O instinto de direção de uma fada nunca erra!”
Se esse é o caso, então tudo bem, eu confio na Lily. Mas não posso negar que as nuvens estão me preocupando cada vez mais…
A cada minuto que se passa, a quantidade delas aumenta, ficando cada vez mais difícil de visualizar o caminho. Isso sem falar dos diversos objetos aleatórios que flutuam no ar, e peixes, claro.
É incrível como Loveta esteja conseguindo controlar a baleia para se desviar de tudo isso… É realmente a primeira vez dela fazendo isso?
Falando dela, eu noto alguns pelos de arrepio em seu braço direito. Sua cauda também está no mesmo estado.
— …Mestre?
Ela se assusta assim que coloco o meu manto sobre suas costas.
— Eu não quero ver você pegando um resfriado, sabe? De nós três você é a única que usa roupas mais leves, então você precisa se agasalhar.
Loveta se cora quando digo isso, mas logo volta ao seu normal ao olhar para algo a alguns metros de distância.
Baku também observa. — Ei amigo, o que são aquelas coisas?
Eles estavam encarando algumas sombras que surgiam por detrás das nuvens.
— Será que são mais peixes? Não, o formato é diferente… Isso se parece mais com… dreamians?! O que eles estão fazendo aqui??
Assim como a gente, eles voavam de formas diversas, seguindo a mesma direção que a nossa. Tinha mechas com turbinas, bruxas em vassouras, sapos voadores, ogro em skate e por aí vai.
— Bela montaria! — Grita um robô meio avião para gente. — E pensar que finalmente veremos nossos mestres! Isso vai ser demais!
Logo que ele diz isso, o fogo em seus pés fica mais intenso, e assim ele dispara na nossa frente.
— Ver nossos mestres…? Então esses caras são…!
— Moonstrucks. — Repugna Scarllet.
— ………
— Gyaa! Olha que maneiro aquilo!
Nossos olhares seguem os da Loveta e logo se deparam com uma imensa sombra que se formava nas nuvens—Eram as sombras de uma fortaleza!
A sua parte mais chamativa era com certeza a enorme antena que havia em seu centro. Ela fazia as nuvens contorná-la em forma espiral, e atraia raios e mais raios.
O céu, que já era roxo, fica ainda mais escuro.
Tch, estou com um péssimo pressentimento…
Loveta se aproxima mais do local e assim nos desembarcamos na grande planície que contornava o castelo. Vários dos dreamians que vimos antes também fazem o mesmo.
Observando a nossa chegada, uma garota de cabelo azul vem ao encontro—De nós cinco especificamente. Ela era a mesma que estava com o cabeça espetada aquele dia.
Tch, não imaginava que a veria tão cedo…
— Então vocês realmente vieram. — Diz ela, ao se aproximar da gente. — Me desculpem, esse é o nosso segundo encontro, mas ainda não me apresentei. Meu nome é Diara. Por favor, permitam-me que eu os leve até o Mestre Balzebear. Ele os aguarda.
* * *
— Grrr! Tem muita gente nos encarando, não estou gostando disso!
— Amigo, basta dar a ordem, e eu atacarei todos.
Loveta mantinha sua guarda elevada enquanto Baku aguardava meu sinal para atacá-los. Ele estava na sua forma pequena, em cima do meu ombro.
Scarllet mantinha seu olhar fixo na garota que nos guiava, enquanto Lily se preparava para qualquer coisa que poderia acontecer.
É bom ver que estão todos atentos, desse jeito ninguém vai ser surpreendido com ataques surpresas.
Assim como eles, eu também estava alerta.
A garota do cabelo azul, ou melhor, Diara, estava nos levando para algum canto no centro da fortaleza. Era fácil notar os três ‘segmentos’ de moonstrucks que existiam até então.
O primeiro era aquele que vimos assim que chegamos aqui; moonstrucks aparentemente inofensivos, que desejavam apenas ver seus mestres. Eles acabaram ficando do lado de fora, à espera de algum anúncio.
O segundo eram moonstrucks “cientistas”, se assim posso dizer. Eles usavam jalecos branco e pranchetas, e andavam com pressa pelos corredores.
Já o terceiro… Sim, o terceiro era o problema. Eram moonstrucks armados, de expressão séria, que ficavam espalhados por todo o canto. Eles nos encaravam sempre que passávamos perto.
Tch, também não vou com a cara deles…
Diara se aproxima de um portão metálico, e coloca sua mão sobre um painel. As portas se abrem.
Hã…? Que máquina é essa?!
Eu a olho de baixo à cima e me deparo com uma antena em meio a nuvens carregadas.
…Então é aquilo?
A enorme antena que eu havia visto antes, fazia parte da máquina agora à minha frente. Ela era cilíndrica e possuía incontáveis fragmentos da corrupção em seu interior.
Vários cientistas trabalhavam em computadores pela sala, o que pareciam estar conectados à máquina.
Um deles se dirige ao nosso encontro. Era um urso idoso, menor que a gente. Usava óculos e bengala.
— Obrigado por trazê-los até aqui, Diara. Está dispensada.
A garota confirma ao que ele disse e vai para um outro canto da sala.
O velho então se vira para nós, com um certo entusiasmo.
— É um prazer conhecê-los senhores. Meu nome é Frederic Von Astronus, também conhecido como Balzebear.
Espera aí…!! Balzebear?! Esse cara?!
— Eu sou—
— Vá direto ao ponto. O que você que conosco?
Ele ia falar mais alguma coisa, mas logo é interrompido pela Scarllet. Seu olhar estava mais frio que nunca. Apenas por vê-la, eu conseguia dizer que ela estava doida para criar uma espada e metê-la bem no meio do pescoço dele.
O meu ódio por ele não era tão intenso quanto o dela, mas ainda era elevado. Afinal, é por causa dele que nós fomos raptados na Terra, é por causa dele que a Lamya quase nos matou, é por causa dele que episódios de pesadelo existem, e é por causa dele que a Terra talvez entre em colapso total.
Tch, também quero esmagar a cabeça desse sujeito…
Balzebear se assusta um pouco com a resposta inesperada da Scarllet, mas logo suspira, fazendo uma expressão de preocupação, e tristeza.
— É verdade, o motivo de vocês terem vindo até aqui foi por causa do que o meu mestre causou a vocês. Eu deveria começar pedindo desculpas…
— Desculpas?? Isso é brincadeira?! Não queremos suas desculpas! — Scarllet estava começando a perder o controle. — Vocês realmente precisavam ir tão longe com suas ambições?! Fazer a Terra passar por tanto sofrimento, e ainda infestar o Aether com criaturas assassinas?!
Eu interrompo Scarllet, colocando minha mão sobre seus ombros. Ela percebe que estava se exaltando demais.
— Por favor Kazuki, eu não consigo… Converse com esses lunáticos por mim.
Assim como nós, Loveta também estava furiosa, mas entendendo a situação em que estávamos, ela se segura. Ela estava pronta para atacar qualquer um, entretanto.
Baku continuava atento, da mesma forma Lily.
— Eu não acho que precisamos falar mais. — Digo a ele. — Você entendeu porque viemos até aqui, e sabe claramente porque estamos tão repulsivos assim em relação a vocês. Se o que estava tentando fazer antes era realmente uma tentativa de se solidarizar conosco, então, no mínimo, explique-se, e diga tudo o que sabe! Sabemos que estamos com uma certa desvantagem em números, mas temos um amigo aqui no meu ombro que não terá piedade nenhuma de fazer um grande estrago por aqui!
— Escute o garoto. — Diz Baku ao velho.
Balzebear novamente suspira encarando Baku. — Ah, a quimera, sim. Eu sei muito bem quem é ela, e o que ela pode fazer conosco…, mas foi justamente por isso que eu a permiti vir até aqui, junto a vocês.
— Hã? O que você quer dizer com isso?!
— A minha prova de que eu não quero mal algum aos senhores é exatamente o meu estado de vulnerabilidade em que me encontro agora. Se quisessem, poderiam me matar a qualquer instante. Eu sou realmente o chefe dos moonstrucks, e acabar comigo seria o mesmo que desestabilizar toda a base de comando.
Ele está realmente nos falando isso?! Que não quer mal nenhum para a gente?! Como ele espera que acreditemos em suas palavras!?
Tudo bem que o que ele disse agora a pouco tem um certo sentido, mas ainda assim, tem muita coisa estranha nessa história ainda! Argh! Acho que vou ficar louco só de continuar pensando!
Tch, melhor deixá-lo dizer tudo o que ele tem para falar primeiro…
— Certo, primeiramente deveria esclarecê-los sobre a situação de seus corpos na Terra, correto? Podem ficar tranquilos, porque vocês estão a salvos juntos ao meu mestre. Foi eu quem disse a ele para que fossem “capturados”.
— Hã…?! Mas você não acabou de dizer que não queria nenhum mal para a gente?!
— Sim, e eu não quero. O motivo de vocês terem sido “capturados” foi simplesmente para que pudéssemos estudar o corpo e a mente de vocês, de forma natural, e sem que nenhum dano fosse causado. Novamente, peço desculpas pelo método utilizado por ele para que isso se concretizasse. A captura imediata e sem permissão foi algo necessário, entretanto. Afinal, tempo é um recurso escasso, e naquele momento não sabíamos se vocês eram ou não confiáveis. — Disse ele, empurrando seus óculos com a ponta de suas garras.
Então foi isso? Nós fomos “capturados” para que algumas pesquisas fossem realizadas? E a justificativa do método foi simplesmente a falta de tempo, e o fato de não saber se éramos confiáveis…? Eu tenho que dizer, isso ainda está longe de nos fazer mudar de opinião!
— …Que pesquisas foram essas, que vocês queriam realizar na gente?
Scarllet parecia ter se acalmado, e perguntou isso a ele.
— Ah, sim. Quando descobrimos que existiam pessoas da Terra que conseguiam ter acesso ao Aether, ficamos muito empolgados com a pesquisa que poderia ser realizada. Talvez, vocês poderiam ser a chave que permitiria com que mais humanos fossem capazes de visitar o Aether! Isso, em outras palavras, significaria uma segunda chance, e uma segunda forma de nos encontrarmos com os nossos mestres.
— Uma segunda chance?
Balzebear responde à dúvida da Scarllet. — Sim… Antes de realizarmos as pesquisas em seus corpos, fizemos uma tentativa de usar o poder selado nos fragmentos da corrupção para enviar dreamians individualmente à Terra… Infelizmente, o resultado não saiu como o esperado. Tomem a Lamya como exemplo, a qual vocês devem estar cientes. Ela era uma garota excepcional, uma das mais inteligentes de nosso grupo. Por causa de sua bondade e generosidade, ela se ofereceu a participar como cobaia de nosso experimento, e, bom, não preciso dizer como saiu o resultado… Além de se esquecer de seu mestre, ela apresentou uma mudança drástica de atitudes e comportamentos. O diretor era o responsável por ela, me mandando feedbacks de seu estado todos os dias.
Espera aí…! Então a Lamya era uma garota inteligente, e ela foi a cobaia de um teste como esse?! Por essa eu realmente não esperava…. Mas, hum, isso explicaria, de alguma forma, o porquê da tentativa de assassinato minha e da Scarllet aquele dia… Claro, assumindo que o que ele disse até agora é verdade.
Scarllet, assim como eu, também fica pensativa com o que ele disse, mas logo retorna a falar. — Esses fragmentos que você citou… Eles estão relacionados com os episódios de pesadelo na Terra, não estão?
Balzebear confirma com sua cabeça, e ela continua. — Se esse é o caso, e considerando que a primeira tentativa de vocês utilizando os fragmentos deu errado, então por que vocês continuam fazendo as pessoas da Terra sofrerem com pesadelos?! Se vocês realmente se importassem com os seus mestres, vocês nem fariam isso para começo de conversa!
Ela começa se estressar de novo, mas Balzebear mantem sua compostura.
— Antes de respondê-la mais a fundo a respeito do nosso estudo em relação aos fragmentos, é necessário que vocês entendam que, apesar de nos aproveitarmos de sua existência, não fomos nós os responsáveis pelo surgimento desses vestígios. Não somos nós os responsáveis pelos episódios sobressalentes de pesadelo na Terra.
Scarllet arregala seus olhos, e Balzebear prossegue. — Isso tudo foi uma mentira, inventada pelo próprio Imperador.
— Não, não é possível… Eu me recuso a acreditar! É mentira! Você é quem está mentindo!
ZOOOM!
Scarllet de repente cria uma espada e a coloca no pescoço de Balzebear pronto para tirar sua vida.
Vários dos guardas que patrulhavam a área apontam suas armas para a gente, nos cercando.