Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 37
— Atenção senhores passageiros, chegaremos ao nosso destino em breve. Repito: Atenção senhores passageiros, chegaremos ao nosso destino em breve.
Eu tinha acabado de acordar, e esta é a primeira coisa que escuto.
Olho para os lados e noto Loveta adormecida nos meus ombros. Lily também dormia, só que no bolso do meu peito.
Baku estava acordado e relaxado na janela do trem, encarando as nuvens do lado de fora. Ele rapidamente balança a cabeça para os lados, como se ignorasse outro chamado.
Nisso eu observo Scarllet. Ela também olhava para o lado de fora, repousando sua cabeça com a sua mão.
Hum, julgando pela situação, Scarllet deve ter sido a única a ficar acesa durante toda essa viagem. Imagino o tanto de coisas que devem estar passando pela sua cabeça agora…
— Só para confirmar — pergunta Baku, de repente — assim que chegarmos lá, vou poder devorar todos, certo?
Scarllet suspira. — Isso é o que eu gostaria que fosse feito, mas até soubermos o que aconteceu com os nossos corpos, nada poderemos fazer a não ser escutar o que eles têm a dizer primeiro… Tch. — Ela se zanga.
Baku acalma seus ânimos, mas compreende o sentindo da coisa.
…Scarllet é mesmo uma pessoa sensata. No momento em que ela diz algo assim, ela basicamente decide deixar de lado todo o ódio que ela nutre por eles, e seguir pelo caminho que parece mais lógico e coerente. Claro, o que ela considera é a hipóteses de estarmos sendo feitos reféns.
Eu a seguro em sua mão.
— …Kazuki?
— Você sabe que não precisa carregar todo esse peso sozinha, né? Eu estou ao seu lado justamente para te ajudar. Aconteça o que acontecer, vou fazer o possível para salvar você e a sua irmã.
Ela se cora com o que eu digo, e assim desvia seus olhos, murmurando em baixo tom.
— Me prove…
— Hã?
— Me prove que você estará ao meu lado sempre…
Eu rio e a toco gentilmente em seu queixo, encostando meus lábios nos dela.
Mas que jeito inocente de pedir por um beijo Scarllet.
Ela contorna meu pescoço com seus braços, e uma lágrima escorre pelas suas bochechas.
— Eu te amo…
— Gyaa?! Larga ele! Você já está muito tempo com ele!
— Hã? Loveta?!
Ela tinha acabado de acordar, mas logo vê a cena em que estávamos.
Sem mais nem menos, ela me puxa de repente, começando a me beijar também.
— E-ei!
Scarllet tenta me puxar de volta, mas Loveta não deixa.
Sabe, são nessas horas que percebo que o Aether é de fato o paraíso. Ele tem seus problemas, claro, mas também tem suas maravilhas.
— Eu tenho que dizer amigo, você realmente manda bem nesse jogo. — Diz Baku, presunçosamente.
Oh, merda… Eu quase liberei meus instintos selvagens a um segundo atrás. Por um momento eu havia me esquecido que tinha mais gente aqui além de mim e das meninas.
Lily estava completamente envergonhada vendo a cena, enquanto que Baku acha engraçado. Scarllet rapidamente recua ao perceber isso.
— Ei Mestre, para não… só bora~
Essa daí tem realmente um parafuso solto na cabeça né? Só pode…
O trem vai perdendo a velocidade até parar.
— Atenção senhores passageiros, nós chegamos ao nosso destino. Agradeço a presença de todos, e desejo-lhes uma boa sorte!
Uma boa sorte…? Não deveria ser um bom dia?
Enfim, nós saímos do trem, o qual parte, e ficamos confusos com a estação que acabáramos de descer.
O local do desembarque não era nada mais que um simples disco, com uns quinze metros de diâmetro.
Estávamos a quilômetros de altura do solo aliás, sem nada ao redor.
— Err… O que supostamente deveríamos fazer aqui?
Abro novamente o envelope para ver a última instrução, e lá simplesmente dizia: “Dome uma baleia, e voe para o leste.”
…Eh?
* * *
— Segurem firme! — Grita Scarllet, prendendo a ponta de sua espada firmemente no disco.
Nós nos agarramos nela com todas as forças.
— Ahhh!
— Gahhh!
A baleia encosta na plataforma e ela é sacudida.
Sério, se não fosse pelas espadas da Scarllet, nós já teríamos caído deste lugar a muito tempo!
Essa base não tem qualquer tipo de sustentação, e, olhando para baixo, posso dizer que cair daqui seria morte certeira!
— Loveta, você tem que lançar suas correntes para mais longe da base! Se a plataforma virar de cabeça para baixo, já era!
— Guuuu! Eu sei Akami, eu sei! Eu estou tentando fazer isso, mas não importa o quão longe eu as jogue, elas simplesmente se curvam na beirada da base! — Scarllet e Loveta discutem novamente.
A essa altura do campeonato, eu já não sei dizer se continuar com esse plano seria mesmo uma boa ideia… Afinal, já é a quarta vez que a baleia encosta na base, fazendo a gente perder o equilíbrio.
A ideia inicial que tínhamos pensando para domá-la não era muito complicada. Basicamente, Loveta teria que prender um peixe pequeno em cada ponta de suas correntes, e lançá-las para fora da base.
A baleia, consequentemente, iria ver os peixes, e seria atraída para comê-los. Se tudo desse certo, as correntes ficariam presas na sua grande boca, e nisso, saltaríamos para cima dela.
O problema, no entanto, era a falta de espaço entre a plataforma e a baleia. Por causa da moleza das correntes da Loveta, elas acabavam se dobrando para debaixo da base, o que atraia o grande peixe para muito perto, fazendo toda a base perder o equilíbrio.
Tch, como a gente pode resolver isso? Será que não existe um outro jeito?
[Player Kazuki, eu tenho uma ideia! Tenta falar para a Lily usar o poder dela para transformar as correntes da Loveta em duas enormes varas de pescar, isso pode resolver o problema!]
O poder da Lily…? Ah! Você diz a levitação? Eu realmente me lembro dela usando um poder desses para fazer o líquido de uma taça voar até a sua boca.
[Sim! Se ela fizer a levitação de um ponto específico das correntes, elas vão se dobrar somente nesse local, e não mais na beirada da base!]
Hum, isso pode funcionar! Valeu Phanta!
Assim sendo, eu imediatamente explico à Lily o recém criado plano da Phanta.
— Acha que consegue Lily? Eu sei que antes você tinha usado esse poder somente para levantar líquido e alguns dados, e as correntes agora são muito mais pesadas…
“Consigo sim!” — Escreve ela, prontamente. — “Existe um limite que consigo suportar, mas sendo somente uma parte das correntes, não teria problema!”
— Certo, conto com você!
Loveta confirma com a ideia, e, pela quinta vez, lança suas correntes.
PLIM! PLIM!
Lily usa seu poder, e, como previsto, as correntes da Loveta se transformam em duas enormes varas de pescar.
A baleia vai na direção delas abrindo a sua enorme boca.
…Hã? Droga! Ela simplesmente comeu os peixes e foi embora!
As correntes não haviam ficado presas em seus dentes, como achávamos que ficaria.
— Amigo, acho que eu posso resolver o problema.
— Baku…? Como? Espera, não vai me dizer que você vai comer a baleia?!
— Hohoho! Não, não! Quem será comido desta vez será eu!
Scarllet retruca. — Você será comido?? Isso é loucura!
— Gyahaha! Gostei da ideia!
Baku volta a falar, confiante. — Lily, você conseguiria me manter flutuando no ar? Na forma pequena, é claro.
“Sim, sem problemas!”
— Hoho! Então está tudo certo! Eu vou ficar junto com os peixes e esperar ser comido pela baleia. Assim que eu estiver dentro dela, vou prender as correntes nos seus dentes e aí Lily me ajudará a me encontrar com vocês do lado de cima.
Lily balança afirmativamente sua cabeça.
Então Baku será comido pela baleia…? Bem, contanto que ele saiba o que está fazendo, acho que tudo bem, mas aliás…
— Baku, como você vai fazer para sair de dentro da baleia depois disso?
— Hoho! Vocês verão quando a hora chegar!
Eu suspiro, mas confirmo com todo o plano.
Loveta, pela sexta vez, joga suas correntes com formatos de vara, e a baleia vai novamente na direção delas, devorando os peixes mais o Baku.
——Isso! Ela ficou presa!
— Gaaah! Ela está puxando!
— Isso Loveta! Não solta!
Loveta começa a ser arrastada pela base, mas as solas de suas botas logo fazem atrito com o chão.
— Guuu! Como se eu fosse largar as Kazuki-chains!
— Kazuki, se agarre na Loveta!
Eu confirmo e abraço sua cintura, seguido da Scarllet, que me abraça segurando a Lily com uma de suas mãos.
— Vou pular! Se preparem!
Loveta nos alerta e então salta para cima do animal. Todos nós vamos juntos.
— Isso! Deu certo!
Loveta segura suas correntes como se fossem as rédeas de um cavalo.
Acho que agora só falta o Baku aparecer e uh…, Baku?
Depois de alguns segundos no seu aguardo, um barulho estranho começa a se originar de dentro da baleia, fazendo-a balançar freneticamente para os lados.
— QWAAAAAA!
O grande peixe abre a boca e a quimera sai de lá maior do que a primeira vez que tínhamos a visto. Baku estava gigante!
Ele imediatamente se encolhe e Lily balança sua varinha para trazê-lo até a gente.
— Estão todos bem? Que bom! Gufufu, se preparem, porque agora vai ser adrenalina total!
— Hã? Vai ser a Loveta que vai dirigir??
Scarllet entra em pânico. — Eu posso dirigir—
— Guu! Não! Você já dirigiu o burro, agora é a minha vez! Mestre, fica bem colado atrás de mim! Você precisa ser justo com cada uma!
…Err
Loveta bate então as “rédeas”, e, como um touro voraz, a baleia dispara em meio ao caótico céu roxo claro.