Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 33
— Devemos sair de Elysia a qualquer instante. — Observa Scarllet.
— Hoho! Eu tenho que dizer, esse burro é realmente rápido! Por acaso eu poderia comprá-lo?
— Gahaha! Tia Aneesa jamais venderia o seu burro! E mesmo que ela vendesse, nem seu palácio seria o suficiente!
— Hum, isso é uma pena… — Baku suspira.
Espera aí, ele não estaria seriamente pensando em oferecer todo o seu palácio em troca de um burro, né?
“Olha o céu Kazuki. Ele está ficando roxo!”
Lily havia escrito isso para mim. Ela estava no bolso do meu peito, e encarava o céu em admiração.
Realmente, quanto mais nos aproximávamos das fronteiras, mais o ambiente em si ia se modificando. O céu que outrora era azul, estava ficando roxo, e toda a flora parecia estar aumentando de tamanho. Se as coisas continuassem assim, iriamos parecer formigas no meio disso tudo.
Interessante era ver os objetos que surgiam no céu. Além das baleias no ar, relógios de pêndulo, porta-retratos, camas, e até casas ficavam flutuando.
Hum, isso me lembra a Cidade do Nunca, só que em um nível de abstração e desorganização ainda mais elevados!
Hm? Loveta, que estava atrás de mim, me agarra forte nos seus braços.
Oh, essa sensação macia nas minhas costas…
Meu nariz começa a pingar.
— Gyuu! Por que tinha que ser justamente a Akami a ir na sua frente, Mestre?
— Hum? É porque ela sabe o caminho até a fronteira.
— Mas isso é tão injusto! Olha como ela está se divertindo!
Scarllet fica envergonhada com a fala da Loveta.
— N-Não diga bobagem! Phew, agora não é hora para isso. Vejam só, nós estamos prestes a cruzar… hã?
De repente, o burro que antes ornejava barulhos de ferrari, começa a ornejar barulhos de fusquinha, perdendo gradualmente a sua velocidade.
Não vai me dizer que…
— Gii! Acabou a bateria!
— Bateria?!!
Entramos em pânico.
— Ei Baku, se você está com fome, por que não come um desses cogumelos? O tamanho deles não é brincadeira!
A região que estávamos passando era repleta de cogumelos gigantes.
Como o burro parou de funcionar devido à falta de bateria, a única opção que havia nos restado era o de seguir caminho na garupa do Baku. Infelizmente, a velocidade que ele conseguia atingir ainda estava longe de se comparar com a do burro, mas ainda assim era bem melhor que andar com os nossos próprios pés.
E claro… o burro não foi abandonado, ele está aqui em cima, com a gente. Aneesa não nos perdoaria caso o deixássemos para trás.
Baku responde a minha pergunta. — Agradeço a preocupação jovem, mas acontece que a única coisa que me satisfaz são dreamians… Já tentei comer de tudo o que você possa imaginar, mas tudo o que não era dreamian me fazia passar por uma baita dor de barriga! Ah, passar por isso de novo não é algo que eu gostaria de fazer…
— Hum, caso a gente passe por alguns corrompidos, você poderia devorá-los então, não? Já que deve demorar algum tempo ainda até chegarmos aos moonstrucks.
Baku suspira. — Corrompidos é ainda pior. Eu fico enjoado só de lembrar! É verdade que eles são dreamians, mas o sabor que eles têm são da mais baixa qualidade! Da última vez que comi um deles eu fiquei um dia inteiro no vaso do meu palácio!
— Gyu! Você está me parecendo um inútil mesmo, elefante! Eu esperava mais de você!
— Hoho! Então você esperava alguma coisa de mim? Essa é nova! Garota cachorro!
— Grrrr! Do que você me chamou?!
Phew, e lá vamos nós de novo…
— Ei, ei. Calma lá vocês dois.
— Gyu! Mas é que eu estou cansada Mestre! Quanto tempo ainda falta?
Scarllet suspira. — Vocês lembram do que eu disse, não lembram? Não existe tempo e nem um caminho certo que nos leve até os moonstrucks. Infelizmente essa é a parte difícil da jornada. Nós não temos outra escolha a não ser continuarmos o caminho até encontrarmos alguma pista, ou até acharmos algum dreamian que possa nos fornecer alguma informação.
Loveta joga sua cabeça no meu colo. — Gyu! Então não tem o que fazer… Mestre, faz um cafuné na minha cabeça?
— Ah, claro—
Assim que eu vou fazer o movimento, Scarllet me impede, um pouco brava e corada.
— N-Não faça isso. Ela vai acabar dormindo, e agora não é uma boa hora para isso.
— Grrrrr! Mas até a Lily está dormindo! Por que ela pode, e eu não?!
— P-Porque que Lily tem 2000 anos e ela sabe o que está fazendo.
Loveta olha para Scarllet como se não acreditasse no que acabara de ouvir. — …Essa é a desculpa mais esfarrapada que já ouvi!
Enquanto as duas discutiam, eu rapidamente observo Baku, que balança rapidamente a cabeça para os lados.
— Ei, está tudo bem aí parceiro?
— Ah, sim amigo, está tudo certo, foi apenas um chamado.
— Chamado?
— Sim, alguém da Terra estava inusitadamente chamando pelo meu nome…, mas agora não é hora para isso.
Realmente, Baku sair agora poderia atrasar todo o nosso percurso… É bom ver que ele sabe priorizar as coisas.
Baku então olha para um canto peculiar da floresta.
— Hm? O que é aquilo?
Todos nós seguimos sua visão e nos deparamos com uma enorme placa cheia de luzes escrito: “Moonstrucks por aqui.”
— …Isso está conveniente demais para o meu gosto. — Avalia Scarllet.
— Gya! Eu acho que é deus iluminando nosso caminho!
— É uma armadilha.
— Sim, com certeza.
Eu e Scarllet afirmamos um para o outro.
Uma placa como essa, localizada no meio do nada? Fala sério, está mais que óbvio do que se trata.
— Gyu! Mas olha! A placa está falando que não é uma armadilha!
…Hã?
O que estava escrito na placa muda de repente.
“Isso não é uma armadilha, podem vir que é seguro.”
— Pode continuar Baku, e passa longe disso. — Digo a ele.
“A noite se aproxima, e a floresta se torna um lugar de muitos perigoso. Se vocês não vierem por aqui, certamente morrerão.”
Ok, isso está ficando estranho…
— Gyaaa! Eu não gostaria de morrer Mestre~ Nós nem tivemos filhos ainda!
— Phew, nós não vamos morrer Loveta…
Scarllet fecha seus olhos ao acabar a análise que fazia.
— Melhor nos arriscarmos, e seguirmos a placa.
— Espera, o quê? Tem certeza?
Por que Scarllet mudou de ideia de repente? Ela não estava pensando na mesma coisa que eu, de que isso é obviamente uma armadilha?
— A placa mudou o tom para o de uma ameaça. Se tudo isso for realmente uma armadilha, então é de se esperar que quem quer que esteja por trás disso venha até nós para nos atacar. Mas também existe, por menor que seja, a possibilidade de ela estar falando a verdade… Se esse for o caso, então a morte certa e o perigo iminente seriam um alerta para nós.
— Mas também existe a possibilidade de ser um blefe, não?
Scarllet confirma ao que eu disse.
— É por isso que estaríamos nos arriscando… Na realidade, qualquer decisão que a gente tome agora será um risco. A questão, no entanto, seria o de escolher qual risco pegar. E, por algum motivo, meus instintos dizem que a decisão correta é o de seguir aquela placa.
— Eu concordo com a garota. — Responde Baku. — Estou sentindo um cheiro que me traz lembranças para aquele lado, e que não é ruim ao meu olfato. Acho que deveríamos sim seguir a placa.
— Phew, já que vocês dois estão falando, então não tem muito o que fazer. Vamos lá!
— Gyuuu! Até que enfim vocês me escutaram!