Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 32
— …Essa é realmente a caverna do Baku?
— Esse é o lugar certo, pelo menos…
— Gyaaaa, gostei do estilo!
Nós havíamos acabado de chegar na entrada da caverna para o palácio, onde Baku morava. Nosso plano era chamá-lo para nos ajudar na luta contra os moonstrucks. Diferentemente do Império, nós não sabíamos como as coisas poderiam se desenrolar, então ter o Baku ao nosso lado poderia ser um trunfo.
…Acontece que o local estava diferente em relação à última vez que o visitamos. Existia uma ponte de ouro cruzando o rio, e os dreamians que antes aqui adormeciam, já não estavam mais presentes.
Isso até estaria ok, não fosse por vários fios de neons pendurados na entrada da caverna.
— Bem, vamos entrando.
——?!
O quê?! No que raios o palácio se transformou?! Luzes de balada?! Máquinas de cassino?! Caixas de som com músicas eletrônicas, além de vários dreamians passando de um lado para o outro?! Isso por acaso virou uma boate?!
Eu e Scarllet ficamos de boca aberta, enquanto que Loveta e Lily ficaram encantadas.
— Oinc! Oinc! Vai uma bebida? — Um homem porco de terno branco se aproxima da gente.
— Não… — Negamos eu e Scarllet.
— Gufufu! Eu quero!!
“Pega uma para mim também!”
Escreve Lily para Loveta.
— Ei, vai com calma Lily! Loveta já está acostumada com isso, mas você nem tomar isso deveria!
“Ah, não tem problema! Taichi me criou com 2000 anos!”
— 2000 anos?!!
Assim que Lily escreve isso, ela se senta no topo da taça que Loveta tinha pego e, usando sua varinha, faz o líquido voar até a sua boca.
Coloco a minha mão no rosto.
Por que mesmo estou me preocupando com isso…? Terra é Terra, Aether é Aether…
— Hm? Encontrou alguma coisa Scarllet?
Ela olhava atentamente para vários pontos do palácio, mas logo nega com a cabeça.
— Acho que ele não está aqui… Pelo menos não nesta parte da festa. Já que não consigo vê-lo em lugar algum.
Phew, realmente, se Baku estivesse aqui já teríamos o achado a algum tempo… Alguém do tamanho dele certamente se destacaria entre os dreamians daqui.
— Será que ele está na parte inferior do palácio? Depois daquele corredor?
— Hum, pode ser, vamos dar uma olhada.
— Gaaaaa! Eu não quero ir naquele lugar escuro de novo! Hic! Mestre, fica aqui comigo, hic, vamos aproveitar a festa!
Loveta se agarra em mim, completamente vermelha.
— Você já está bêbada?! — Scarllet se enfurece.
Como que Loveta já está assim? Não faz nem um minuto que ela começou a beber! O que raios tinha nessa bebida?? Não é qualquer coisa que a faria ficar assim!
— Espera, cadê a Lily?? — Pergunto, preocupado.
— Ela, hic, foi atrás do garçom, hic, pedir mais…
Scarllet coloca sua mão na testa, como se não acreditasse no que estava acontecendo.
— Kazuki, nós não temos muito tempo, vai atrás do Baku que eu vou cuidar da Loveta, e achar a Lily.
Ela tira as mãos da Loveta de cima de mim.
— O quêêê?! Hic, eu quero ficar com o meu Mestre!! Hic, por que eu tenho que ficar com você?! Hic, impostora do amor!
— Quem é impostora do amor?! Urgh! — Uma veia aparece na testa da Scarllet. — A culpa é sua por ter bebido aquele negócio estranho! Agora vem logo comigo!
— Gyuu! Hic, Mestre!! Hic, não me abandona!!
Scarllet começa a arrastar Loveta pelo palácio, a procura de Lily.
…Como as coisas foram ficar desse jeito? Phew, me desculpa Loveta, mas dessa vez eu não vou te salvar.
— Gri! Gri! Parado aí, essa é uma área vip! — Diz uma cigarra gigante, dotada de músculos. — Só aqueles com o nome na lista podem entrar!
Eu já estava na frente do quarto onde encontramos o gigante morto da última vez. O corredor para o salão inferior ficava dentro desse quarto.
— Ah, eu só estou à procura do Baku… Ele por acaso está aí?
— Gri! Claro que está, quem o procura?
— Eu sou um amigo dele…
— Gri! Gri! Todos nós somos amigos do grande Baku! Mas somente os amigos verdadeiros têm o nome na lista! Diga-me o seu nome.
Falar o meu nome? Droga, isso não vai adiantar. Não me lembro de ter falado o meu nome para o Baku! O que faço??
— Gri! Gri! Gri! Por acaso não tem nome?
— Uh…
— Griiiii! Pode ser o seu dia de sorte! Existem três membros que estão na lista ‘super vip’, que não têm nome, mas têm o rosto desenhado. Vamos ver se você é um deles. Hmm, hmmmmmm, hm, Gri! Gri! Humano de olhos cinza e cabelo marrom. Pode entrar!
A cigarra tira a fita de segurança e permite a minha passagem.
…Então estávamos na lista ‘super vip’? Hee, valeu Baku!
——Espera! O que aconteceu com o gigante?!
Passando pelo quarto, eu o noto lá, na cama. Mas diferentemente da última vez, ele não estava mais coberto de sangue. Na verdade, ele estava sentado dando um joinha, usando terno e de óculos escuros. Claro, ele ainda estava morto, mas alguém o havia colocado nessa posição.
Suspiro. Julgando pelo óbvio, convidados numa festa não iriam querer ver um ser desses do jeito que estava antes, com um furo no peito e sem olhos… É, faz sentido ele estar assim agora.
Eu entro pelo corredor e me direciono ao grande salão.
— Baku! Baku! Baku!
— Uoooooou! Vamos! Grande Baku!
— Você é demais Baku!!
— Sou sua fã!!
— ………
E não surpreendentemente, o salão havia se transformado numa espécie de show, com vários dreamians de pé aclamando o Baku. Estavam todos de frente ao palco.
As cortinas se abrem, e Baku aparece com estilosos óculos escuros.
— Hohohoho! Como vocês estão meus caros? Sentiram saudades?
— Sim!!!
— Preparados para mais um espetáculo?
— Sim!!! Nós te amamos grande Baku!!
E assim ele inicia o seu show, num estilo de jazz e rock.
…Eu tenho que dizer, Baku não só mandava muito bem no microfone, como dançava de forma sem igual!
Isso me faz pensar numa coisa… Será que ele por acaso reconheceu o seu talento, e decidiu se aposentar da sua antiga vida de ‘Baku o grande devorador de sonhos’, para se tornar ‘Baku o grande cantor dos sonhos’?
Bem, só perguntando a ele para saber—algo que não posso fazer agora, até ele terminar o espetáculo. Tem muita gente por aqui.
Baku continua com o seu show por cerca de alguns minutos, até se despedir brevemente de sua plateia.
— E isso é tudo, vejo vocês em breve!
CLAP! CLAP! CLAP!
Aplausos dos mais diversos são dados, até as cortinas se fecharem.
Certo, agora é a minha chance!
Eu corro até as escadas laterais, por onde Baku descia, mas logo sou surpreendido por vários seguranças.
— Para trás! Para trás! Daqui ninguém passa!
— Ahhhh! Mas queremos ver o Baku!!
Mais segurança, né? Tch, a situação está se complicando, eu não estou com tanto tempo assim. Será que uso minha skill ‘Flecha de Flash’ para avançar logo na direção dele? Hum, o que você acha Phanta? Hã…? Phanta? Alô…? Phanta?
[O-Oi Player Kazuki—]
Até que enfim você me respondeu!
[Me desculpe, mas não posso falar agora. Estou ocupada.]
Sério que minha própria assistente está me ignorando? Phew, se esse é o caso, então vou me arriscar mesmo.
Preparo o meu arco para atirar a skill no teto, mas logo—
— Ei, ei, ei, ei! Não faça isso! Vai assustar os convidados!
——Alguma coisa aparece em cima dos meus ombros.
Eu rapidamente me viro para ver quem estava lá, levando uma baita surpresa.
— Baku?!!
— Shhhhh! Não faça muito escândalo!
— M-Mas como que você ficou desse tamanho?!
Por algum motivo Baku havia se encolhido, e estava somente alguns centímetros maior que a Lily.
— Eu vou explicar, eu vou explicar! Antes, vá para aquela parede!
— Parede?
Ele me aponta a direção e sigo ao lugar.
— Isso, agora coloque a sua mão sobre o bloco cinza da direita.
Aqui…?!
ZOOOM!
Assim que toco no lugar indicado por ele, um pedaço da parede se rotaciona, me empurrando para dentro de uma sala isolada.
Baku então salta de cima do meu ombro, vindo a tomar sua forma original.
— Hohohoho! Que bom vê-lo novamente amigo! O que o traz aqui?
— Ei! Me explique você antes o que aconteceu com o seu palácio!
Baku solta algumas risadas e assim me conta tudo.
— …Era o que eu pensava, então você realmente decidiu dar uma pausa no seu trabalho como devorador de sonhos, para fazer uma outra coisa que gostava… E o motivo disso é porque quase ninguém da Terra te conhece mais.
Ele concorda com a minha triste afirmação.
— Infelizmente. Como eu fiquei petrificado por muito tempo, as pessoas começaram a se esquecer de mim, e agora ficou raro as vezes em que preciso aparecer lá para ajudar alguém.
— Entendo… Bom, se você quiser eu posso ajudar a espalhar o seu nome lá na Terra, assim que eu voltar para lá, o que você acha?
— Hoho! Você faria isso? Ótimo! Isso seria de fato uma grande ajuda!
Eu concordo com ele, mas logo falo da ajuda que eu também necessitava para voltar à Terra. Falo sobre toda a delicada situação em que eu e Scarllet nos encontrávamos no momento.
— Hum, ir atrás dos moonstrucks seria algo e tanto! Devorá-los seria com certeza a minha maior satisfação! Até porque o meu prato de comida já está quase no final…
— Prato de comida?
— Sim! Os dreamians do rio!
Espera aí um minuto… Baku devorou os pobres coitados que estavam ao redor do rio?! Por isso não tinha mais ninguém lá!?
— Por que você os devorou?! Eles eram apenas dreamians ordinários!
— Dreamians ordinários? Nossa! Eu achei que eles estavam lá por me amarem tanto a ponto de se sacrificarem como a minha refeição!
Balanço minha cabeça para os lados.
É, agora já era.
Hm? Baku encolhe o seu tamanho e volta para cima do meu ombro.
— Vamos lá amigo! Se as coisas estão realmente do jeito que você me contou, então não temos tempo a perder! Vamos atrás deles!
— Muito obrigado Baku! Mas e o show? Como os dreamians vão ficar sem você aqui por perto?
— Ah! Eu tenho um dublê, não se preocupa com isso! Ele não canta, mas sabe dançar! Dá para quebrar o galho até voltarmos!
— Seria uma quimera falsa?
— Precisamente!
Huh, interessante…
Nós rapidamente voltamos pelo corredor, e chegamos na parte principal do palácio.
Eu logo vejo Scarllet sozinha, cercada por vários “dreamians machos”. Ela parecia perder a paciência.
— Eu juro que, pela última vez, se não forem embora, vou cortar a cabeça de todos vocês. — Ela os encara de forma assassina.
Os dreamians ficam com medo, e assim a deixam em paz.
Scarllet me vê chegando.
— Kazuki? Até que enfim você voltou! Conseguiu falar com o Baku?
— Sim, ele está aqui nos meus ombros.
— Olá senhorita! — Cumprimenta ele, se curvando.
— Espera… Como ele ficou desse tamanho?? Que fofo…!
Scarllet fica encantada pelo tamanho do Baku, e começa a acariciar sua cabeça.
— Ei, ei! Isso faz cócegas! Para! Para!
— Esse é um dos poderes que ele tem. Err, você está bem? Aqueles dreamians de antes não fizeram nada com você, não é?
— Como se atravessem. Não se preocupe, já estou acostumada com esse tipo de coisa desde quando eu trabalhava para o Império.
— Hum, que bom. Ainda bem que eles se afastaram, caso contrário eu não teria medo de repetir o mesmo que fiz contra aquele lobisomem.
Scarllet fica sem graça ao ouvir a causalidade do meu comentário.
— De todo modo, aonde estão Loveta e Lily?
— E-Eu tentei fazer elas ficarem juntas de mim, mas elas acabaram cismando que queriam jogar nas máquinas de cassino… Então eu fiquei aqui, de olho nas duas.
Phew, só podia ser a Loveta… Pior que estou começando a achar que Lily está sendo gradualmente influenciada por ela…
——Cuidado com isso Lily.
Nós nos aproximamos da Loveta. Ela estava jogando num caça-níquel.
— Olha Mestre~! É a quinta vez que eu consigo um jackpot! Olha o tanto de moedas que eu já consegui!
— Oh! Parabéns Loveta!
Eu acaricio sua cabeça e ela começa a abanar a cauda.
— Oh não, eu vou, eu vou falir desse jeito!
Baku fica preocupado com a sorte da Loveta.
É, vai se acostumando. Ninguém mexe com a Loveta quando se trata de jogos.
— Gyu?! Quem é você?! Ah! É o cabeça de elefante deformada! Hahaha! Olha o seu tamanho! Que ridículo!
Baku perde a paciência. — Cuidado com o que você fala, loba. Eu posso devorá-la, viu?!
— Gah! Claro, claro…
— Ei, vão com calma vocês dois. Loveta, respeita ele, porque ele vai nos ajudar na nossa missão a partir de agora.
— Grrrrr! — Ela o encara. — Só vou fazer isso porque é o Mestre Kazu quem está pedindo. Gmph!
— Hohoho! Você até que é engraçadinha! Gostei de você!
— Gyu! Mas eu não gostei de você!
Phew, enfim, cadê a Lily agora?
Olho para o lado e a encontro jogando um jogo de apostas, com dados.
— Quais os números que você vai escolher, fada?
“Quatro e Cinco.”
— Tem certeza?
“Sim.”
— Se você tem certeza mesmo, então vamos lá!
O dreamian humano de quatro braços lança então os dois dados para cima. Nisso, um de seus braços conjura algum tipo de magia que afetava os dados no ar.
Que sacana! Ele está trapaceando!
Espera aí! Lily também está usando feitiço?!
— Esse jogo não é nada mais que uma batalha indireta entre dreamians que usam magia. Aquele com a maior força mágica deverá colocar os dados na posição que escolheu. — Me explica Baku.
Oh, então é assim que funciona?!
CLAC! CLAC!
Os dados caem e revelam o resultado.
— Um empate! Obrigado por participar fada! — Agradece o dreamian dos quatro braços, Lily retribui e retorna até nós.
“Conseguiu a ajuda?”
— Sim, ele está aqui. — Digo a ela.
Lily encara Baku, e também se admira.
“Que legal! Será que você poderia virar a minha montaria?”
— Phew… — Baku suspira, enquanto que Scarllet solta alguns risos, e Loveta cai na gargalhada.
…É bom ver que todos estão se dando bem de alguma forma. Me preocupa, no entanto, o que está por vir…