Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 31
Hm? Que sensação macia…
Alguma coisa havia se encaixado perfeitamente entre os dedos da minha mão esquerda, e quanto mais eu apertava, mais eu viciava.
— Hmm…
Hã? Meu braço direito também? Não, dessa vez é diferente. Essa sensação que eu estou sentindo… Sim, é como se ele tivesse sido engolido por esse tipo de macieza.
— Kazu…
As minhas duas pernas estão da mesma forma, envoltas por algo quente e fofo.
O que poderia ser isso…? Será que eu deveria acordar para saber o que está acontecendo? Não, está bom assim… Acho que vou ficar desse jeito por mais um tempinho…
Certo, agora está ficando estranho! Tem alguma coisa lambendo o meu pescoço! Será que é uma ameaça?!
Vamos lá, eu tenho que acordar, eu vou acordar! Vou fazer isso em 3…, 2…, 1—
“………”
— O quêêêêêêê?!!!
S-Scarllet?! Lo-Loveta?! As duas estão na cama, comigo!? É sério isso?! O que está acontecendo?!
Cada uma estava de um lado da cama, comigo no centro. Scarllet usava um negligee de cor preta, muito sexy, e Loveta usava algo parecido, só que de cor rosa.
Espera, por que eu só estou de cueca?!
— Ah, você acordou Kazuki…
— Hm? Mestre? Uaaah…
As duas que antes adormeciam, acordavam com o meu grito.
Urgh… Minha cabeça está um pouco zonza ainda… O que mesmo tinha acontecido? Como eu vim parar aqui? Império… lobisomem…
——!!
É mesmo!
— Loveta, você tinha sido raptada! Eu e Scarllet avançamos para a base imperial, mas aquele lobisomem apareceu e aí você—
Loveta se impulsiona, me abraçando.
— Obrigada por se preocupar comigo, Mestre~
— Mas é claro que eu me preocuparia! Aliás, você não está brava comigo? Sobre… bem, você sabe… aquele dia…
— Akami me contou tudo! De como você me ama!
— Ela fez isso? Que bom…
Eu encaro Scarllet. — Mas e você? Eu não te ouvi naquela hora e continuei socando o lobisomem daquele jeito, mesmo você me falando para parar…
Ela suspira. — Aquilo foi um erro humano, você apenas agiu por impulso, por ter medo do que poderia acontecer a Loveta… Eu é quem deveria pedir desculpas na verdade, por ter falado que não te conhecia… Eu deveria ter escolhido um jeito melhor para te acalmar.
— Não, você fez certo! É verdade que aquilo mexeu comigo por um segundo, mas logo entendi do que se tratava. Você fez o que pôde.
Scarllet se alegra, e eu então coço minha cabeça um pouco sem graça. — Aliás… Será que vocês poderiam me dizer o que exatamente aconteceu ontem? E sobre como a gente… bem… fomos parar nessa situação…?
Por favor, que eu não tenha perdido nada! Que eu não tenha perdido nada! Perder um prazer com essas duas por estar inconsciente é o pior castigo que eu poderia receber!
Scarllet se toca do que estava vestindo e se cobre imediatamente com o manto da cama, ficando completamente vermelha. — E-Era a única coisa que Loveta tinha para eu vestir!
— Gmph! Algum problema com os meus pijamas, Akami??
— Enfim… — Retorna a falar Scarllet, um pouco mais calma. — Sobre o que aconteceu na prisão depois que você desmaiou, foi um pouco caótico…
Ela me conta tudo o que havia acontecido, com Loveta acrescentando alguns detalhes; desde o momento em que apaguei, até elas me trazerem para cá para tratarem algumas de minhas feridas.
— Hum… Então foi isso o que aconteceu? Impressionante que você tenha conseguido usar a Excalibur daquele jeito…, mas você não vai fazer isso de novo, não é? Afinal, pelo o que vocês me contaram, a aparição dessa espada fez o seu colar ser rachado!
— Sim, eu não planejo usá-la dessa mesma forma que eu fiz, mas talvez exista um jeito alternativo… Pelo menos foi isso o que eu senti naquele momento.
— Bem, contanto que sua vida não seja colocada em risco, eu não vejo problemas. E sobre o bispo, eu sabia que ele não era confiável. — Encaro a Loveta. — Se eu me encontrar com ele novamente, juro que vou fazê-lo pagar o preço por ter mandado a quimera te socar daquele jeito!
——?!
Loveta, que já estava me abraçando, me empurra rapidamente na cama, me beijando.
— Loveta…
— Mestre… — Diz, ofegante. — Já que Akami foi a primeira a te beijar, eu posso ser a primeira a tirar sua virgindade?
……Eh?
— Gyaaaa!!
Scarllet imediatamente puxa a Loveta para o outro lado.
— I-I-Isso é um salto muito grande! Um beijo não se compara a isso! — Ela entra em pânico.
— Guuu! Mas a gente já discutiu ontem que estaria tudo bem se o dividíssemos!
— M-Mas não nesse nível! Só eu posso fazer isso, já que sou sua namorada oficial!
— Gya! Namorada oficial?? Desde quando?!
— D-Desde que nos beijamos ontem… — Ela se cora.
Loveta se assusta. — É verdade isso Mestre?!
— Uh…
— Tch, então eu vou ser sua amante oficial! É um título bem melhor na verdade! — Ela se orgulha, mas Scarllet fica confusa.
— Melhor? Por quê?!
— Gufufu! Porque o amor entre amantes é mais intenso! Logo, eu sou a primeira a tirar sua virgindade!
— E-Essa conclusão nem faz sentido! E-E se alguém aqui deveria ser a primeira, então esse alguém só poderia ser eu!
“………”
Agora que eu percebi, não existe nada, absolutamente nada que me impeça de ficar com essas duas. Eu não mais preciso me segurar diante da Loveta por causa da Scarllet, e eu não tenho mais que aguardar a Scarllet por causa da Loveta…
Fufu, isso só quer dizer uma coisa—Meu instinto animal pode ser ativado, sem restrições!
— Gyaaaa!
— Aah!
Derrubo as duas na cama. Elas agora me encaravam coradas.
— Não existe essa de quem vai ser a primeira. Eu vou tirar a virgindade de vocês duas ao mesmo tempo! Huahahaha!
— Ao mesmo tempo…? Como? — Questionam em curiosidade.
Assim que eu acabo de encarar a belezura de seus rostos, levanto minhas duas mãos para cima.
— Com elas.
Elas entram em choque, mas mantêm o silêncio, com brilho nos olhos.
Foi mal aí Taichi, me desculpe Hansuke, mas a partir de hoje, eu me tornarei um homem de respeito.
As duas haviam consentido com a minha decisão, e me olhavam com amor. Mas quando eu estava prestes a avançar—Aneesa abre a porta do quarto! Merda! Sabe bater não?!
Ela entra e leva um susto com a nossa situação, tapando imediatamente seus olhos com os dois braços.
— Me desculpem por atrapalhá-los! Mas é importante! É a Lily—
Lily??
Nós rapidamente colocamos nossas roupas e descemos as escadas da pousada.
Assim que chegamos, vemos a Lily sobre uma das mesas.
Havia círculos mágicos coloridos ao redor de seu corpo. Ela estava em profunda concentração.
— O que está acontecendo?! — Pergunto à Aneesa, preocupado.
— Ela está se comunicando com o seu mestre, mas por algum motivo, o trigger ativado está mais intenso que o normal.
O trigger? Ah, deve ser aquele tal gatilho que elas me falaram aquele dia…, que quando o criador sonha com o dreamian que ele criou, esse dreamian ganha acesso momentâneo ao sonho dele, por meditação.
Mas por que está tão intenso assim? Será que é perigoso?
Assim que eu acabo de cogitar isso, os círculos coloridos se desfazem e, apressada, Lily voa até nós.
“A vida de vocês está em perigo!”
…Como?
Ela rapidamente começa a escrever textos após textos.
— Então o diretor está envolvido? E ele realmente falou sobre os moonstrucks?! — Scarllet se preocupa.
“Sim. Taichi me disse que vocês dois sumiram junto ao diretor no dia anterior. O colégio pensa que foi ele quem os raptou. Numa transmissão ao vivo para televisões do mundo inteiro, o diretor disse coisas como: “Essa é a vontade deles!” “Os moonstrucks virão, e uma nova há de prosperar!” “Alegrem-se! Alegrem-se!” e etc… Eu tive que ficar naquela intensa concentração anormal, para tentar fazer Taichi não perder o foco em seus sonhos.”
Ele nos raptou…? Espera! Não é à toa que tanto eu quanto Scarllet ainda estamos no Aether! E eu achando que o problema tinha sido nossos despertadores… Tch!
Aliás, também existe algo que tem me incomodado desde hoje mais cedo…
— Scarllet, você por acaso se lembra de quem venceu o jogo noturno ontem?
— O jogo das chaves? Hum… Agora que você comentou, eu não estou lembrada. A última coisa que me recordo foi a conversa que tivemos na praia.
— Então é isso. Nós fomos capturados lá mesmo, na beira do mar. Aquela pessoa que você achou ter visto deve ser um dos suspeitos que trabalham para o diretor, senão ele mesmo.
— Suspeitos que trabalham para o diretor?
— Sim. Quando eu estava te procurando mais cedo, no primeiro dia que chegamos ao resort, me lembro que o havia encontrado conversando com algumas pessoas. O diretor falava coisas sobre agilizar uma investigação de uma certa pessoa com acesso a um lugar…
— Espera… você quer dizer então que—
— Sim, a pessoa a quem ele se referia poderia ser tanto eu quanto você, pois nós dois temos acesso ao Aether. Claro, o que foi falado pelo diretor ficou muito em aberto, mas baseado no que a Lily acabou de nos contar, essa me parece ser a conclusão mais plausível.
Droga, eu deveria ter, no mínimo, suspeitado disso. Mas a questão que fica agora é como que ele descobriu que nós dois éramos criadores?
Eu até consigo entender o porquê dele saber coisas sobre os moonstrucks, já que ele poderia ter gerado um trigger e se comunicado com algum soul-linked. Mas a não ser que esse soul-linked soubesse quem eram a gente, não teria como ele ter adivinhado.
— Lily, por acaso ele citou mais algum nome nessa transmissão?
“Hum, teve um nome que Taichi estava começando a pronunciar, mas já estava perdendo o foco… Era alguma coisa com B, Bellerim? Bulzadom?”
——!!
— Seria Balzebear?!
“Ah! Esse mesmo! “O desejo de Balzebear deve ser realizado a todo custo.”, essas foram as últimas palavras do Taichi.”
— Gya! Mestre! Você está bem?
Meus olhos fitam a mesa que estávamos sentados. Toda a minha mente estava agora ocupada processando diversas linhas de raciocínio. Tanto Loveta, quanto Scarllet, ficam preocupadas com o meu intenso foco.
Balzebear está relacionado com isso? O diretor conhece Balzebear? Isso quer dizer então que—
— Lamya! Lamya é a conexão!
— Hã? O que foi isso de repente??
— Sim, só pode ser isso! Nunca imaginou Scarllet, o quão estranho foi a Lamya ter aparecido no nosso colégio no meio do semestre? E quando ela morreu, simplesmente mentiram dizendo que ela havia se mudado?
— Não acho tão estranho assim ela aparecer no meio do período letivo, mas sobre o que falaram depois que ela morreu foi realmente esquisito…
— Sim! E além disso, quando estávamos na masmorra, ela revelou poderes sobre-humanos, o que significaria que ou ela era um demônio, ou ela era um dreamian que de alguma forma conseguiu acesso à Terra. Acho mais provável que seja a segunda opção, já que um pouco antes de ser engolida pelo Baku, ela também citou Balzebear. Na verdade, ela citou o mestre de Balzebear.
— Então você está insinuando…
Confirmo com a minha cabeça. — Sim. O mestre de Balzebear provavelmente é o próprio diretor.
Scarllet se estremece um pouco, mas logo começa a cogitar. — Isso é estranho, mas realmente encaixaria todas as peças… O motivo da Lamya ser aceita… O motivo de acobertarem o caso… E o motivo do diretor saber tudo a respeito do Aether… Isso explicaria aliás como ele conseguiu nos descobrir, já que poderíamos ter deixado algum rastro na masmorra…
— Sim, e além do mais, eu poderia ir mais afundo e afirmar que esse tal Balzebear é o líder dos moonstrucks.
— …Pelo jeito que ele anunciou uma futura chegada deles à Terra?
— Não só isso, mas também pelo jeito que o cabeça espetada e a garota de cabelo azul falaram no dia que estávamos no pântano. Eles se referiram a Balzebear como um líder, então essa é a minha hipótese.
— Você quer dizer então que aqueles dois também fazem parte dos moonstrucks?
Confirmo positivamente à sua pergunta.
“……?”
Noto elas me encarando.
— …O que foi?
— Gyaa! Eu não esperava que você fosse tão detetive assim mestre Kazu~ Acho que te amo ainda mais, se é que isso é possível~ — Ela me abraça.
Então é isso? Haha.
— Mas então… — Scarllet segura o seu colar. — O que deveríamos fazer? Será que deveríamos tirá-lo? Se fizermos isso talvez consigamos voltar para a Terra…
“Isso não seria arriscado?”
Ela suspira com as claras palavras da Lily, concordando.
— É verdade… Ainda não sabemos de que forma ele está nos mantendo presos aqui, e nem como está a situação de nossos corpos na Terra. Se retirássemos o colar agora, nada garantiria nosso retorno seguro.
“………”
— Acho que chegou a hora. — Pronuncio, em meio ao silêncio aterrorizante. — Eu ainda não sou tão forte o quanto eu gostaria, mas, visto as circunstâncias, nós não teremos outra escolha a não ser irmos atrás deles, dos moonstrucks. Eles são agora a nossa única saída de voltarmos para a Terra. Além disso, precisamos evitar uma possível chegada deles ao nosso mundo.
Loveta me encara, sorrindo. — Eu vou aonde você for Mestre, mesmo que seja ao inferno, gufufu~
“Também já me comprometi a ajudá-los, em nome do grande amigo de Kazuki!”
Receosa, Scarllet pensava em tudo o que estava acontecendo, mas ao ver a empolgação de todos, ela decide ceder aos seus pensamentos.
— Ir atrás dos moonstrucks sempre foi o meu objetivo, desde que entrei para o Aether, e será agora que eu vou hesitar. Mas espero que todos vocês estejam cientes da dificuldade que será para alcançá-los. Nós não sabemos quase nada a respeito deles, a não ser que se situam depois de Elysia. Não temos ideia de seus níveis de força, e nem da quantidade que eles se compõem… Por isso eu peço a vocês, que sejam cuidadosos ao máximo. Não gostaria de vê-los correndo perigo…
Eu me levanto da mesa e vou até a Scarllet, que se mostrava inquieta com toda essa reviravolta. Me aproximo dela e a beijo na bochecha, fazendo-a ficar sem graça. Depois vou até a Loveta e faço o mesmo.
— Eu também digo o mesmo. Não gostaria de ver nenhuma de vocês duas se ferindo, afinal, vocês são as minhas preciosas garotas. Não se preocupa Scarllet, mostrarei a você o resultado dos nossos treinos constantes, e, Loveta, te farei ficar orgulhosa do seu mestre. E você também Lily, como parte do time, farei o meu melhor para te manter segura.
Lily se alegra com o meu entusiasmo, enquanto que Loveta e Scarllet olham para direções opostas, coradas.
Err… será que exagerei?