Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 30
Me desculpe por ter dito que não te conhecia Kazuki, mas foi necessário… Eu tinha que lhe acalmar com doces ou amargas palavras, caso contrário seria tudo tarde demais. Seu colar iria quebrar, e você voltaria para a Terra, marcando o Império como ponto de retorno. Adormeça agora em paz, e deixe que eu cuido do restante.
Vendo meu rápido desfoque, Thanatos vem para cima de mim movendo sua foice no intuito de me decapitar, mas percebo o ataque a tempo, e o bloqueio com as minhas espadas.
GIIIN!
Faíscas saem da colisão de nossas armas.
— Aquilo foi uma pergunta retórica Srta. Murakami… Não adianta negar o seu envolvimento…. A tentativa de homicídio por parte de seu parceiro… e a tentativa de resgate de um soul-linked… são coisas que violam as leis do Império…
— Eu sei que era, e eu não nego. O que eu falei antes foi apenas para acalmá-lo. Este dreamian é o meu namorado, e ele está 100% envolvido comigo, da mesma forma a soul-linked!
Thanatos levanta uma de suas sobrancelhas pela minha resposta inesperada, mas a abaixa em seguida.
— Eu não me importo… com sua vida amorosa…, mas é engraçado… Logo você, se apaixonando por alguém… Não imaginava que veria este momento… algum dia…
Então isso é o que ele acha. Eu não esperaria menos dele, ou de qualquer outra pessoa que fosse. Afinal, eu também nunca imaginei que me apaixonaria por alguém. Mas acontece que Kazuki é especial. Além das qualidades que eu mencionei a ele aquele dia, ele me deu algo além…. Ele me deu a esperança que me faltava, de que um dia minha irmã seria salva, e de que acordaria de seus mais profundos pesadelos!
Thanatos prossegue.
— O amor é ruim, no entanto… Ele lhe enfraquece, e te domina… Ele tira sua racionalidade… e lhe torna frágil em momentos delicados… — Ele se cala por um momento. — Tenho plena convicção de que este foi o motivo… pelo qual seu namorado caiu… hm?
Thanatos falava com calma e com clareza, mas estranha a confiante expressão em meu rosto.
— Você está errado, Thanatos. O amor realmente lhe domina, e ele realmente rouba sua consciência…, mas não, ele não lhe enfraquece. Na verdade, ele se transforma em um potencializador, e lhe torna hábil para superar as barreiras que um dia você imaginou serem inalcançáveis! — Eu o encaro nos olhos. — Meu namorado não caiu devido ao amor, mas caiu devido a fúria!
GIIIIN! GIIIIN!
GIIIIN!
Balanço rapidamente minhas espadas, e ele as rebate com o rotacionar de sua foice.
Eu recuo alguns passos.
Os cavaleiros que vieram junto imediatamente se preparam para o combate, mas Thanatos os impede.
— Por favor…, me deem a honra de participar dessa luta sozinho com a senhorita… Vou mostrá-la quão equivocada está… a respeito de toda essa história de amor…
Eles ficam receosos, mas consentem ao seu comando. Assim nosso duelo se inicia, e se intensifica.
Nesse momento Loveta está apoiada sobre o Kazuki, tentando cortar as cordas que a prende. Ela havia se rastejado até ele, e manobrado seu corpo para pegar um objeto afiado que ele carregava em seu bolso. De início ela chorava muito, mas agora está mais calma e concentrada.
Por pior que seja em admitir, Loveta é agora a nossa única esperança de escaparmos daqui. Se ela conseguir se desamarrar, ela poderá carregar o Kazuki para fora, enquanto dou cobertura. Para que isso dê certo, no entanto, eu preciso que essa luta se prolongue pelo tempo que seja necessário.
Eu sei que isso tudo é um tiro no escuro, e extremamente arriscado, mas infelizmente não consigo pensar em outro plano. Preciso aproveitar esse momento o máximo possível, enquanto Thanatos está 100% focado em mim, e os outros cavaleiros 100% focados na nossa luta.
GIIIIN! GIIIIN!
Nossas armas mais uma vez colidem, e ficam grudadas uma na outra, no aguardo do impulso mais forte.
— Srt. Murakami…, sinto que você… não está dando tudo de si… por acaso está me subestimando…? Ou seria este… o resultado do amor…?
— Não sei do que você está falando.
Thanatos me olha nos olhos, e depois recua alguns passos. Em seguida ele olha para o Kazuki, e dá um leve suspiro.
— Hmph… O amor é muito pior do que eu imaginava…
——?!
Ele usa sua super velocidade indo em direção ao Kazuki.
— Não!!
Thanatos o captura, colocando sua foice sobre seu pescoço.
— Já que você não vai lutar comigo como deveria… Vamos partir para o veredito final… Ajoelhe-se agora no chão e diga as seguintes palavras… “Ele é o meu amor… e minha fraqueza… eu estava errada… e por isso me arrependo…” Se a senhorita fizer isso…, darei a ele uma morte não dolorosa…
Minha respiração pesa e eu começo a transpirar.
Isso foi mais rápido do que eu havia imaginado… Loveta está agora chorando novamente, e por isso perdeu o seu foco. O único plano que eu havia criado, tinha acabado de ir por água abaixo.
Eu me ajoelho no chão.
Outro jeito… Será que não existe um outro jeito…?
— Muito bem, agora diga as palavras.
Isso não pode estar acontecendo… Por que ele? Por que justamente ele?! Realmente, não há nada mais que eu possa fazer?!!
——!!
De repente, a imagem da Excalibur aparece na minha mente, e a voz de uma garota fala comigo.
[Use-a. Você consegue controlá-la, e sabe como usá-la.]
Hã?
Em apenas um instante de tempo, vários flashes do uso da Excalibur em tempos remotos dominam a minha mente. Sentia como se fosse eu, empunhando a espada e destruindo exércitos e mais exércitos a minha frente. Mas não era, a pessoa que o fazia, entretanto, olha para mim com um sorriso, e dessa forma me dá a espada.
…É isso.
— Kazuki é o meu amor…
— Isso… prossiga… Hm?!
Ele se assusta com o que estava acontecendo comigo. Meus cabelos vão ganhando um tom dourado, ao mesmo tempo que luzes azuis e douradas vão sendo emitidas das palmas das minhas mãos.
— …E minha esperança, eu estava certa…
Meu colar começa a flutuar.
— Argh…! De onde está vindo toda essa luz…?!!
Thanatos solta o Kazuki, colocando suas duas mãos diante dos olhos. Os demais fazem o mesmo.
Eu me levanto.
— …E por isso eu me orgulho!!
A espada aparece nas minhas mãos, e assim eu sigo o movimento que ela fazia na minha mente, realizando um enorme corte horizontal no ar.
<ᛏᛟ ᛏᚺᛖ ᚹᛟᚱᛏᚺᚤ, ᚨ ᚺᛟᛚᚤ ᛒᛚᚨᛞᛖ>
As luzes aumentam ainda mais, para então se apagarem aos poucos.
Eu caio no chão, e a cor dos meus cabelos volta ao normal. A espada logo desaparece.
Eu reabro minha visão e percebo que todos estavam no chão, cortados ao meio.
O corte só não havia afetado o Kazuki e a Loveta, tendo cortado somente as cordas que a prendiam.
O corpo superior de Thanatos ainda vivo, mas quase adoecido, reflete no chão. — Então este é… o poder do amor…?
Admirado, ele dá um leve sorriso de satisfação, até suspirar seu último fôlego de vida.
— Akami!
Loveta corre até mim, com o Kazuki nos braços.
— Por quê?! Por que vocês vieram aqui?! Eu falei que não precisava! Mestre Kazu estaria mais feliz junto a você, e—
PLAFT!
Dou um tapa no rosto da Loveta. Como ela poderia dizer algo assim, depois de tudo que ele havia feito? Eu não poderia simplesmente aceitar!
— Pare de dizer isso Loveta! Por que mais ele faria isso, se não fosse pelo amor que ele sente por você?! É verdade que ele também me ama, mas o mesmo que ele sente por mim, ele sente por você! Então reconheça o seu esforço, e a tristeza que ele sentiu quando você foi embora!
Loveta me encara sem palavras, para logo se desmoronar em lágrimas ao meu lado.
Eu a abraço, enquanto ela continua chorando. Ficamos assim durante algum tempo.
— Certo… Precisamos sair logo daqui. A qualquer momento eles vão estranhar a demora desses cavaleiros.
Eu me levanto, um pouco desequilibrada, mas Loveta me ajuda. Eu me sentia muito fraca.
— Gya! Não faça muito esforço! Se apoie em mim!
Ela também carregava o Kazuki em seus ombros.
Tch, e agora…? Como vamos sair daqui? Kazuki ainda está inconsciente, e eu mal consigo andar sozinha. E mesmo que eu conseguisse, não conseguiria criar outra espada, já que esse meu colar se rachou por completo. Qualquer poder a mais poderá quebrá-lo de vez.
Enquanto nos esforçávamos para andar, uma pessoa surge pelas sombras.
CLAP! CLAP! CLAP!
Ela batia palmas vindo ao nosso encontro. O homem em questão caminhava ao lado de uma quimera.
A luz da prisão bate em seu rosto revelando a sua face. Era um velho de roupas compridas. Tinha uma barba longa, e parecia muito contente.
Ele se aproxima mais e então percebo de quem se tratava.
— Evanan!
Ele era o bispo, meu antigo tutor.
A quimera que o seguia também é iluminada. Ela tinha cabeça de macaco, corpo de tanuki, patas de tigre, e uma cauda de cobra.
Loveta rapidamente se levanta entrando na nossa frente.
— Fique longe deles! — Grita.
O sorriso que ele tinha em seu rosto é desfeito. — Nue, faça-a sair do caminho.
A quimera hesita por um segundo. — Não é isso o que o mestre deseja.
Ele se irrita. — Mas ele te deu o comando para me ouvir, então me obedeça!
— Me desculpe garota… — A quimera suspira, e, sem sair do lugar, seu rabo de cobra chicoteia a Loveta, fazendo-a voar em direção a umas das celas.
CRASH!
— Loveta!
Eu imediatamente encaro o bispo, com raiva.
— O que você quer?!
— Como assim o que eu quero, Princesa? Eu apenas vim ver como você estava! — Grita ele, eufórico. — Então você já consegue usar a Excalibur? Isso é ótimo! Deveras bom! Você por acaso veio para cá pois se arrepende de ter nos deixado?
— Eu não sou mais uma Princesa! E não, eu não me arrependo nem um pouco!
Ele se irrita com a minha resposta, mas começa a rir de novo.
— Você não faz ideia do brinquedo que é, não é mesmo? Há, há, ha! Seu título de Princesa não é ordinário! A Excalibur que você usa não é o que imagina!
Ele se aproxima ainda mais enquanto puxa os meus cabelos.
— Você é apenas—
— BASTA. — Uma voz poderosa ecoa da prisão.
— Evanan, eu não lhe mandei aí para isso!
Os olhos do bispo se arregalam ao olhar desesperado para cima.
— Senhor! Tenha misericórdia! Eu apenas—
— Estás a me questionar?? Nue, faça-o reconhecer seu lugar.
A quimera abre seu sorriso como goblin.
— Como desejas, mestre.
Seu corpo se escurece e fica mais leve, se transformando numa enorme nuvem preta.
Na nova forma alcançada, ela entra pelas narinas e boca do velho, começando a sufocá-lo completamente.
— Gah!! Gaahhhhh! Gaaaaah! — Ele vai gemendo, ficando sem ar, com o rosto cada vez mais roxo. Ele aperta a própria garganta com as mãos, como se alguém o estivesse enforcando.
De longe eu apenas observava a chocante cena, preocupada com o que poderia acontecer conosco em seguida. Se ela nos atacasse agora, seria certamente o nosso fim.
— Isso deve bastar. — Diz a voz.
A nuvem então sai de seu corpo, e se transforma na quimera novamente.
— Agora façais o que eu lhe havia ordenado. Dê o colar a ela, e abras o caminho para saírem daqui.
…Hã? Abrir o caminho para sairmos daqui? Como assim? Não vai nos atacar?
O bispo, ainda se recuperando, cede ao comando superior, com raiva.
Eu recebo o colar e a quimera nos coloca em sua corcunda para nos ajudar a ir embora.
Eu realmente não tenho ideia do que está acontecendo agora, mas sinceramente não me importo, só quero cruzar os dedos e torcer para que o dia acabe bem… Afinal, já passamos por muita coisa hoje.
Antes de nos deixar para fora dos portões da cidade, a quimera nos diz uma última frase.
— É bom vê-la novamente, dama elemental.
…Hã?