Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 29

Então essa é Azurya? Ela realmente segue o padrão medieval como Scarllet havia comentado. Sem lojas contemporâneas ou qualquer coisa que remeta a era moderna. É uma cidade bem comportada e rica, nada caótico como a Cidade do Nunca que eu estava acostumado. Além disso, os dreamians daqui são quase todos humanos.

…Me aguarde Loveta, eu e Scarllet estamos a caminho.

A passos curtos caminhávamos pela cidade, indo em direção à uma passagem secreta que Scarllet conhecia. Para não chamar muita atenção, usávamos mantos e capuzes.

Hm?

De repente uma fila de dreamians passa a nossa frente, indo em direção a uma enorme estátua de ouro no centro da cidade.

Eles se reúnem ao redor dela para adorá-la.

— Todo o louvor seja dado ao senhor!

— Como lhe amamos! Oh! Como lhe adoramos!

— Por favor, continue nos abençoando com seus poderes divinos!

— Como somos pecadores! Purifique-nos! Purifique-nos! Purifique-nos com seus olhos, oh senhor!

— Err… Scarllet… o que é isso?

— Aquela é a estátua do Imperador. Todos que vivem aqui o veneram mais que tudo.

— Então esse era o tipo de coisa que você fazia quando trabalhava para o Império?

Scarllet se irrita com a minha pergunta. — C-claro que não, idiota! Apenas aqueles que passam pela purificação fazem isso. O que é falado é que, uma vez que você é purificado, você enxerga a grandeza do Imperador. Provavelmente é por isso que eles sentem a necessidade de adorá-lo dessa forma.

Uma vez purificado, você enxerga a grandeza do Imperador…? O que raios isso quer dizer?!

De repente eu me lembro do que aquele cara de cabeça espetada havia comentado. Ele disse que a purificação ocorria em duas etapas. A primeira era o corte da ligação que um soul-linked perdia com o seu mestre, fazendo-o receber uma fração de vida aqui no Aether, e se esquecendo de seu criador.

Depois ele disse, de uma forma um pouco enigmática, que a segunda etapa se baseava numa escolha, adoração ou morte.

Tch! Você não passará por nenhuma etapa Loveta!

— Chegamos.

Eu e Scarllet entramos num beco da cidade.

Havia uma tampa no chão que dava acesso ao subsolo, mas ela estava trancada com um cadeado.

Scarllet usa o seu poder e cria uma adaga para quebrar as correntes, e assim nós descemos até o túnel.

— Por acaso essa é a passagem que nos dará acesso à prisão onde os soul-linkeds são mantidos?

Ela afirma com a cabeça. — Sim. O caminho no subsolo conecta quase todos os pontos da cidade, e os principais pontos do castelo. Ele foi projetado para facilitar a agilidade do exército em casos de guerra.

— Então é possível que encontremos alguém pelo caminho?

— Sim, apesar de improvável. Só devemos encontrar alguém assim que estivermos perto do local.

Eu confirmo ao que ela diz e assim continuamos o percurso, até chegarmos em um ambiente um pouco mais iluminado.

— Shh! Cuidado! — Scarllet me puxa para um canto. Nisso, um anão com lanterna passa pela gente, mas não nos vê.

— Nós já chegamos, Loveta deve estar em alguma dessas celas. — Sussurra ela para mim.

Eu confirmo ao recado e nos preparamos para realizar o próximo movimento, mas nisso um outro dreamian surge se aproximando do anão. Nós continuamos escondidos.

— Espera aí, esse cara não é…

— Alfred. — Se enfurece ela. — O que ele veio fazer aqui?

Alfred? Ah, ele é o lobisomem que estava com o zumbi e o lagarto aquele dia. Eu bem me lembro dele… Tch, se não fosse pela Scarllet, ele teria acabado comigo.

— Graurrr! E então? Você a prendeu do jeitinho que eu te falei? Hã? Hã? — Ele joga a língua enquanto deixa a baba escorrer.

— Sim. Ela é toda a sua.

O anão joga uma das chaves para o lobisomem, o qual pega e segue caminho para uma das celas.

Ele abre o cadeado e fita seus olhos no indivíduo que lá estava.

— Grauuuuuur! Hoje você é minha!! Vamos fazer filhotes! Muitos filhotes! — O rabo dele abana e bate com força no chão. — Graaaaaar! Sempre foi o meu sonho encontrar alguém da minha espécie tão linda quanto você!

— Hm! Hmmmmm! Hmmm! — O dreamian lá de dentro gritava com a boca presa. Assim que eu me aproximo—

Loveta?!!

Ela estava completamente amarrada, e chorando muito.

— Kazuki, espera! Você vai chamar atenção!

Scarllet tenta me puxar para evitar uma confusão ainda maior com o Império, mas ela não consegue.

Sim! Eu não consigo me conter! Vou direto aonde o lobisomem estava e, antes que ele percebesse, dou um murro na cara do desgraçado, lançando-o direto ao chão.

[Aviso de Sistema: Instabilidade detectada. Causa: Ira. Ajustando status para proteção.]

Eu vou para cima dele, e o sistema mais uma vez me alerta.

[Aviso de Sistema: Inimigo detectado. Nível: 15]

— Nível 15?! E eu tive medo de você naquela hora?! Patético!

— Graaaaaar!

Ele tenta me empurrar, mas não permito. Começo a dar murros e mais murros no seu rosto.

[Aviso de Sistema: Excesso de instabilidade está sendo convertido temporariamente para pontos de força.]

[Aviso de Sistema:

> Força +10%

> Instabilidade -10%

> Força +10%

> Instabilidade -10%

> Força +10%

> Instabilidade -10%]

Eu continuo socando o lobisomem. Ele tentava escapar, mas eu não deixava. Meus punhos vão ficando cada vez mais ensanguentados.

— Kazuki! Se controle! Se continuar desse jeito você vai acabar o matando! E se isso acontecer nós não vamos sair daqui vivos!

— O que ele merece… nem o inferno pode oferecer!!

[> Força +10%

> Instabilidade -10%

> Força +10%

> Instabilidade -10%]

O lobisomem já estava inconsciente, mas mesmo assim eu continuava o socando! Ele não merece viver! Se eu não tivesse chegado aqui a tempo, Loveta teria… Loveta teria…!!

— Seu colar vai quebrar Kazuki!

Sim, meu colocar está flutuando, mas quem liga? Não posso parar! Eu não vou parar!

[Aviso de Sistema: Corpo travado por tempo indeterminado.]

— Merda!! Phanta! Me devolva o controle!

[Não posso! Você está alterado player, aguarde até voltar ao normal!]

— Me devolva a porcaria do controle!!

[Não! Isso é para o seu próprio bem!]

Enquanto eu discutia com ela, o anão reaparece juntamente com meia dúzia de cavaleiros. No meio deles estava o homem zumbi, que se destaca indo para frente dos demais.

Ele encara Scarllet. — Então era realmente você…, senhorita? Quando Alberto me contou a notícia… de que dois invasores haviam entrado nesta masmorra… eu não imaginei que uma dessas pessoas teria sido você… Agir de forma tão imprudente assim não é do seu feitio… Diga-me, foi realmente com este dreamian assassino… e descontrolado… que formaste par?

Scarllet se silencia por um momento, me observando, para então negar com a cabeça. — Não, não foi com ele, de agora, que formei par. Esta pessoa eu não conheço.

Hã…?

[Aviso de Sistema: Ira excessiva estabilizada e status temporários retirados.]

O que é isso que eu estou sentindo…? Essa dor… na mente e no peito…

Minhas pálpebras vão pesando, e assim, aos poucos, meus olhos vão se fechando. Quando me dou conta, tudo havia se escurecido.