Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 26

Antes que eu pudesse perceber, ela me agarra, e então… nós nos beijamos.

O quê—?! Ela me pegou desprevenido!

Não! Isso está errado! Eu não mereço isso!

Eu ia empurrar Murakami para trás, mas a cena de ontem com a Loveta impediram os meus braços de fazerem isso. Eu estava com medo das mesmas coisas se repetirem.

Ela então para, corando e voltando a si, enquanto fico parado sem reação. Seus olhos se arregalam, e ela então coloca as duas mãos diante de seus lábios. — N-não… não era assim que eu havia planejado… Eu nem sequer perguntei a ele sobre ela… — Ela resmungava alguma coisa para si, preocupada.

Eu olho para as minhas mãos. Elas tremiam. Eu sabia que deveria fazer alguma coisa, que eu deveria falar aquilo que eu havia preparado. Mas era difícil.

— Me desculpe Ryouzen…, acabei fazendo isso sem considerar os seus sentimentos… — Diz, um pouco desesperada. — Eu sei da sua relação com a Loveta, mas mesmo assim eu agi dessa forma… — Seus olhos desviavam de um canto ao outro, visto seu nervosismo.

Tch…

Ela se levanta, pronta para ir embora, envergonhada. Mas nisso a agarro pelo braço impedindo sua ida. Ela me encara, preocupada.

Chega! Minha hesitação acaba aqui! É agora ou nunca!

Eu tomo coragem, e assim me liberto. — Eu gosto de você, muito mesmo! Desde o primeiro dia que entrou na sala!

Ela se silencia, admirada.

Não posso dizer que eu estava mentalmente estável no momento, porque eu não estava. Quem tomava conta de mim agora eram os meus sentimentos, e não mais a minha razão.

Desse momento em diante, eu comecei a falar tudo com sinceridade, e fui seguindo o fluxo sem nem perceber.

— Você é bonita, simpática, forte, admirável, inteligente, honrosa, bondosa, carinhosa e muito mais! Você é uma mulher incrível, sem comparações!

Ela chora, ouvindo tudo o que eu estava dizendo. Mas então, eu decido tocar no ponto delicado. — Você é tão boa que, sinceramente, não merece um cara como eu. É verdade que eu gosto de você a muito tempo, mas também é verdade que eu gosto da Loveta. Gosto tanto de vocês duas, que não foram poucas as vezes que pensei em tê-las, ao mesmo tempo. Me desculpe por ter que te fazer ouvir isso, logo agora, mas sinto que esse é o certo a se fazer… Se você queria saber como eu realmente me sinto…, então essa é a verdade.

Nós entramos em silêncio durante um breve período de tempo. Não sabíamos o que dizer um para o outro.

Ela se senta novamente, e pega uma concha na areia.

Tch… como as coisas foram chegar nesse ponto? Ela deve estar se sentindo muito magoada…. Claro, depois de ouvir algo assim, qualquer garota ficaria louca.

Mas então, para a minha surpresa, ela simplesmente se inclina na minha direção, e descansa sua cabeça sobre os meus ombros. — Eu te amo. — Diz ela, em baixo tom. — Não é mesmo muito legal ouvir você dizer que sente o mesmo pela Loveta…, mas eu te amo, e isso não muda.

…Hã?

— Diferentemente de você, que sentiu atração por mim desde o início, eu só fui entender o seu valor depois do nosso encontro no Aether. Sua determinação em estar ao meu lado, e me ajudar nos meus assuntos pessoais começaram a chamar muito a minha atenção. Muito mesmo. Você sempre se esforçou ao máximo para evoluir, colocando sua própria vida em risco para me ajudar nos meus assuntos pessoais. Isso é imprudente, mas encantador. Não seria qualquer um que faria o mesmo; porque ainda que a sua razão primordial de realizar tudo isso era por gostar de mim, não havia como ter a certeza de que eu corresponderia aos seus sentimentos. A certeza que eu tive de que você é alguém capaz, foi quando me salvou da Lamya. Desse dia em diante, sempre que estava ao seu lado, o meu coração disparava, e eu me sentia plena por saber que você estaria lá para me ajudar no que precisasse. Eu me sinto segura com você, e feliz, simples assim.

Ela faz uma breve pausa, e então continua. — Talvez você não saiba, mas existe um lado carinhoso e divertido em você o qual eu gosto muito. Sendo sincera, meu maior medo seria de você, a qualquer momento, me deixar para trás, e partir com a Loveta. Porque sinceramente, acho ela muito mais divertida do que eu. Por pior que seja em admitir, vocês dois combinam muito um com outro… Não é à toa que ela é a sua criação, não é mesmo? Eu realmente não sou muito fã da ideia de você gostar dela… Queria que você tivesse olhos somente para mim. Mas já sabia no fundo que isso seria impossível… Afinal, para a minha infelicidade, ela foi criada como a garota dos seus sonhos.

Murakami entra novamente em silêncio, mas logo retorna a falar, com um humilde sorriso. — …Mas você também me ama, e isso é tudo o que me importa no momento. Eu sei que isso é… incomum, mas assim como você é diferente, eu também sou.

…Então ela realmente me aceita? Mesmo eu tendo essas intenções?

Eu a abraço e a beijo na bochecha. Dessa vez, quem havia sido pega desprevenida era ela mesma. Ela havia me aceitado do jeito que eu era, e por isso ficarei eternamente grato.

Nós encaramos a lua. O momento era belo, e a vontade de ficar assim, agarrados um com o outro durante a noite inteira era forte, mas havia algo que eu precisava solucionar. Algo que também me era importante.

Eu suspiro fundo, e conto à Murakami tudo o que aconteceu ontem.

— Phew, mas que quebra de clima… Não imaginava que você citaria o nome dela tão cedo.

— Me desculpa Murakami, mas como eu falei, eu também me importo com a Loveta.

— Scarllet. — Me corrige.

— …Hã?

— Me chame de Scarllet a partir de hoje… — Ela vira seu tímido rosto para o lado. — Nenhum namorado chama sua namorada pelo seu segundo nome…

— …Certo, Scarllet.

Envergonhada ao me escutar dizer seu nome, dá leves tossidas para prosseguir com o raciocínio. — Enfim, sobre o que você comentou antes, posso dizer que foi estranho a forma como ela se comportou.

— …Como assim?

— Se eu a conheço corretamente, eu não acho que Loveta ficaria brava por você também gostar de mim, mas sim por ela achar que você pensa mais em mim do que nela.

— Mais em você do que nela? Será que é isso?

— Eu não posso afirmar ao certo, mas considerando que você é o seu lobo alpha, então é de se esperar que ela ache comum você ter mais “lobas”.

— Que bom, então se esse é o caso, ainda há como ajeitar a situação.

Se é realmente isso que passa pela sua cabeça Loveta, então você está completamente enganada. Porque eu amo vocês duas na mesma proporção!

Observando a expressão de esperança no meu rosto, Murakami—não, Scarllet se zanga novamente.

— Urgh! Deixe-me ser clara, no entanto. Loveta é a única exceção que faço pois eu também a acho legal… Enfim, ela pode até aceitar outras, mas eu não!

— Não se preocupe Scarllet… Meu coração pertence apenas a vocês duas.

Ela fica sem graça ao ouvir minha resposta. — Q-que bom que entendeu…

Certo, então está decidido. Da mesma forma que eu abri o jogo com a Scarllet, também farei o mesmo com você, Loveta. Me desculpa mesmo por não ter te entendido até agora. Eu te encontrarei ainda hoje, e nós resolveremos isso, juntos! Apenas me aguarde!

— Hm? O que foi, Scarllet?

Quando noto, ela havia se virado, e olhava para um ponto especifico na floresta, na nossa retaguarda. — Nada… só tive a impressão de ter visto alguém ali.