Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 25
— Kazuki? Ei, Kazuki! Está me escutando??
— Tch, óbvio que eu estou te escutando Taichi. O que foi?
Ele realmente tinha que gritar no meu ouvido?
— O jogo com a turma já vai começar. Não era para você estar mais animado? Você ouviu o que o diretor disse! Aquele que coletar pelo menos uma das cinco chaves douradas que foram escondidas pela floresta, ganhará três ingressos para voltar ao resort! Isso não é demais??
— É… não.
Sinceramente, se eu pudesse, eu já teria matado esse jogo ridículo e ido para o Aether me desculpar com a Loveta. Mas que merda de vacilo eu cometi ontem…
Desde que eu acordei hoje, essa é a única coisa que tem perturbado a minha mente.
Agora já são oito horas da noite aliás. Para podermos voltar ao hotel o qual estamos hospedados, não teremos outra escolha a não ser encontrarmos as cinco chaves que foram escondidas, ou até que dê onze horas da noite. Isso mesmo. Vamos ter que ficar rodando essa floresta escura ao lado do resort durante um bom tempo ainda.
Taichi diminui sua voz e se aproxima do meu ouvido. — Vamos Kazuki, coopera comigo! Claro que eu também não estou nem aí para os ingressos! Isso é só uma farsa para prender a atenção do Hansuke! Veja bem, se Hansuke ficar inspirado a coletar uma das chaves, ele poderá ganhar o prêmio para a gente, enquanto a gente fica na boa, curtindo essa linda floresta noturna com as nossas garotas! Olha ali a Hana… Ela não é linda??
Hana estava dando um tchauzinho na nossa direção.
Então era isso que você tinha na cabeça, Taichi? Phew, infelizmente…
— Seu plano é falho, Hansuke não é idiota.
Assim que eu digo isso a ele, Taichi sente alguém cutucando seu ombro. Era a pessoa em questão.
Enquanto os dois começavam a discutir, eu olho para a Murakami. Ela estava cercada por garotos e garotas como de costume. Pelo o que parecia, aquela sua vontade de ficar sozinha já havia passado.
…Que bom que ela está melhorando.
Tch, ter um harém? Aonde que eu estava com a cabeça? Claro que isso não seria possível. Murakami é muito popular, ela jamais ficaria com alguém sem graça como eu. Suspirei.
…E a única garota que realmente se importava comigo, que realmente gostava de mim, acabou sendo “rejeitada” por mim ontem, tudo por causa desse meu desejo sem noção.
A sirene toca.
— Opa! Parece que o jogo começou! Hm? Aonde você está indo Kazuki?
— Para a praia. Assim que der o toque de recolher eu volto. Até mais.
Assim dito, eu os deixo para trás, indo para as águas próximas da floresta e sentando-me perto ao mar.
Pensando melhor, acho que meu erro foi ter ignorado completamente os sentimentos dela, e só ter pensado nos meus próprios desejos. Será que era isso que Phanta tentava me aconselhar, de alguma forma?
Tanto faz. Agora é um fato que eu cometi merda ontem, e que dificilmente vou conseguir fazer as coisas voltarem a ser como era antes…
Suspiro mais uma vez.
E mesmo que eu me encontre com ela, o que eu iria falar? Ah, eu falei o nome da Murakami porque achei que ela tinha aparecido no quarto. Ah, eu falei o nome dela? Você tem certeza que não ouviu errado? Ah, não seja ridícula, Murakami não tem nada a ver com isso, foi apenas um dreamian mágico que lançou uma maldição na minha garganta.
Mas que idiotice, óbvio que ela não acreditaria em nada disso. Aliás, falar coisas assim iriam de fato resolver a situação?
Não, mas é claro que não. Com isso eu estaria apenas mentindo mais e mais, enganando os sentimentos dela. Tudo para tentar resgatar aquilo que eu perdi.
Se esse é o caso, o que deveria fazer? Ainda existe alguma forma de resolver a situação?
“………”
Realmente, acho que a única coisa que eu poderia fazer agora seria admitir o meu erro para elas. Abrir o jogo com ambas. Contar a elas qual era a minha verdadeira intenção, desde o início.
Não, isso nem de longe resolverá a situação, mas ao menos as dará a oportunidade de me julgarem como desejarem.
Eu sei, isso vai ser horrível, mas contanto que pague o preço da minha ganância, ou pelo menos uma parte…
— Então era aí que você estava?
Hã? Essa voz…
Eu me viro para trás para ver quem havia falado, e, para a minha surpresa, era ela.
— Murakami?! Por que—Por que você veio para cá?!
Droga! Isso foi muito repentino! Será que eu vou ter que abrir o jogo agora? Logo agora?! Urgh, ainda não estou preparado! Tenho muita coisa a pensar ainda!
— Ah, hm, não estou muito interessada no prêmio para falar a verdade… Tem algo… muito maior que preciso resolver…
Algo maior? Do que ela está falando?
— Será que eu poderia me sentar aqui ao seu lado?
Eu aceno com a cabeça.
Pelo visto foi um alarme falso achar que Murakami estava melhorando… Pedir para se sentar ao meu lado? Isso não é algo que ela faria normalmente. Na verdade, ela simplesmente sentaria caso quisesse.
Bom, pelo menos, diferentemente das outras vezes, ela agora está falando comigo, apesar de ainda continuar evitando contato visual.
Ela não parece muito calma. Está corada e mais agitada que o normal.
Tch, será que agora é realmente o momento? Vou ter que contar a ela sobre o meu outro lado?
Será que o meu erro foi tão desastroso assim, a ponto de influenciar o próprio destino a mandar Murakami nesse instante para escutar os meus desejos imundos?
Suspiro. A única coisa que sei é que esse peso dentro de mim está realmente me matando… Não sei por quanto tempo vou aguentar esse estado.
Eu preciso colocar para fora… Eu tenho que fazer isso! Esse é o mínimo de respeito que eu poderia mostrar a elas afinal, mesmo que eu venha parecer um tolo!
— Murakami!
— Ryouzen—
Nós chamamos pelo nome um do outro ao mesmo tempo.
— Ah, hã…, pode falar primeiro…
— Não, você primeiro…
Ela realmente não está muito confortável em falar agora, né?
Tudo bem, eu já estou decidido no que falar, então melhor eu acabar logo com isso.
Dou um longo e profundo suspiro. — Murakami, a verdade é que… é que a lua está muito bonita hoje.
Merda! Como imaginei, eu não tenho força para isso! Falar algo assim é muito mais difícil do que parece!
Murakami estava me encarando profundamente, mas assim que ouve minha resposta, ela dá um simples sorriso.
— É verdade… Além de bonita, ela está bem grande. Me traz boas lembranças para a falar a verdade. Da minha infância com a minha irmã… Gostávamos de coletar flores ao redor da nossa casa por volta desse horário. Segundo a nossa mãe, a luz noturna aumentava a fragrância delas, e as deixava com um toque mágico especial.
Murakami encarava a lua, com um belo sorriso. Ela se sentia bem mais calma.
— Claro, era apenas uma historinha para crianças, é nós duas sabíamos disso, mas ainda assim, o prazer de as coletar juntas era enorme. Me pergunto se o verdadeiro toque mágico que minha mãe tanto falava, não estava na verdade na companhia uma da outra?
— …Você realmente gosta muito dela, não gosta? Da sua irmã? Ainda me lembro da preocupação no seu rosto, quando havia sido capturada, e o alívio que você fez depois de saber que ela estava bem.
— Sim. Eu gosto muito dela, mesmo não sendo minha irmã de sangue…
— Então você tem uma irmã adotiva? Isso é legal.
Ela nega com a cabeça. — Na verdade, quem é a filha adotiva sou eu.
Hã?? Calma aí! Murakami é adotada?! Uau! Isso realmente me pegou de surpresa!
Mas pensando melhor, até que faz sentindo. A aparência dela não é comum por aqui. Seus traços se assemelham a garota do exterior. Não é à toa que ela se destaca tanto.
— Eu imaginei que você ficaria surpreso. Afinal, não é para qualquer um que eu conto isso. — Ela ri mais uma vez.
Pelo visto, ela já estava se sentindo mais à vontade. Isso é bom.
— Mesmo não sendo de sangue, ela sempre me tratou como uma irmã verdadeira, sempre se importou comigo, e sempre esteve ao meu lado nos meus dias mais difíceis. Ela é alguns anos mais nova, mas sempre agiu como se fosse a minha irmã mais velha… É algo fofo. — Diz ela, sorridente. — Sendo sincera, eu poderia dizer que ela é a principal razão pela qual ainda vivo. Ela é o principal motivo que me faz querer ir além e além, sabe?
— Hm? Seu principal motivo? O que você quer dizer com isso?
Assim que eu a pergunto isso, ela dá um breve suspiro. — É mesmo, acho que ainda não te falei sobre isso… Você já ouviu falar de uma doença rara chamada narcolepsia?
— Hum, se não me engano, uma doença relacionada ao sono?
— Sim. Ela é responsável por causar excesso de sonolência durante o dia. Minha irmã, aos sete anos de idade, desenvolveu essa enfermidade crônica. Não parece ser algo muito sério quando comparado a outros tipos de mal que existem por aí, mas poucos meses atrás isso acabou mudando… O que você faria caso passasse o dia todo na cama, tendo pesadelos, um depois do outro? Algo impossível de escapar? Seria algo horrível, não seria? Pois foi o que começou a acontecer com ela recentemente, com o início dos episódios de pesadelo.
Eu já sabia que esses episódios era algo ruim, mas sendo sincero, nunca dei tanta relevância até agora, por justamente conseguir ir para o Aether, e evitar esse mal.
Mas realmente, eu sou a exceção da exceção. Não é assim que funciona para a maioria das pessoas ao meu redor. Quantas vezes eu já não ouvi Taichi e Hansuke comentarem sobre suas noites, e dizerem que não conseguiram dormir nenhum pouco? Quantas pessoas eu vejo diariamente com olhares de extremo cansaço? Quantas vezes a nossa própria professora Saori não conseguiu dar aula direito, por estar extremamente cansada?
…E o caso da irmã da Murakami é ainda mais sério que tudo isso, pelo menos eles conseguem acordar, quando se trata de algo muito ruim, ela, dificilmente não. Não apenas isso, como ela também possui muito mais pesadelos que o normal.
Deve estar sendo realmente muito difícil para a Murakami, ver sua querida irmã torturada todos os dias…
— É por isso que, mais que tudo, eu vou acabar com eles, mesmo ao custo da minha própria vida.
— …Então é daí que você tira toda a sua determinação Murakami. Eu tenho que dizer, você é realmente alguém que merece toda a admiração. Você é forte, e possui um espírito nobre. Isso me inspira para falar a verdade… Eu juro que farei o meu melhor para salvar sua irmã, porque afinal de contas, eu também prezo pelo o seu bem.
Murakami me encara admirada, com olhos que refletiam a luz da lua.
Sua respiração começa a se agitar, e seus batimentos se tornaram audíveis aos meus ouvidos.
Antes que eu pudesse perceber, ela me agarra, e então… nós nos beijamos.