Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 20
E o dia tão aguardado por nós, estudantes, enfim acaba de chegar! Sim, eu falo da excursão escolar anunciada pelo diretor geral há cerca de uma semana. Todo o ensino médio está agora reunido em ônibus, que seguem a toda velocidade para o local de destino.
O motivo da nossa empolgação é porque o lugar para o qual estamos indo não é nada menos que um resort. E isso só foi anunciado alguns dias atrás, o que nos pegou de surpresa!
Se estou animado? Com certeza! Afinal, essa é a oportunidade de ouro que ganhei para conquistar o coração da Murakami! Se eu fizer isso corretamente, vou poder dar o passo seguinte na escadaria do meu harém, e, como terei as duas ao meu lado, não vou mais precisar me segurar diante da Loveta! Sim, posso ser um cara pervertido e ambicioso, mas que mal isso faz? Sou feliz, e é isso o que importa!
Muito obrigado Hansuke, pelos seus livros, e Phanta, pelos seus conselhos, graças a vocês estou percebendo o sentido da vida, e descobrindo os desejos eminentes, mas ainda escondidos dentro do meu peito!
No momento eu estou sentado do lado direito das poltronas do ônibus, junto a Taichi e Hansuke.
Um está concentrado, jogando no smartphone, e o outro, dormindo? É a primeira vez que vejo Hansuke não lendo os seus livros e apenas cochilando… Essa onda de pesadelos está mesmo cada vez pior. É fácil notar outros alunos também na mesma situação.
Enfim, Murakami, meu alvo, está sentada na parte esquerda, dois bancos a frente, conversando com suas amigas. Ela parece um pouco inquieta—Hm?
Ela olha para trás, na minha direção, e quando eu vou acenar um ‘oi’ para ela, ela rapidamente desvia seu olhar.
Phew, como imaginei, a missão de conquistá-la não será fácil, ainda mais depois de como ficou nossa relação desde aquele dia… Tch, maldita seja você, Lamya!
Quando ela morreu, Murakami foi resgatada, e aos poucos foi recobrando sua consciência. Ela estava muito preocupada com sua família que havia ficado em casa, submetidos ao gás, em especial, sua irmã.
— Eles estão bem. — Eu disse a ela. — Quando cheguei, vi seus pais desmaiados, mas ainda respirando, e os coloquei para fora da casa—
— E minha irmã? Ela também está bem?
A preocupação em seu rosto era muito aparente, e sua voz trêmula denunciava seu desequilíbrio emocional.
Eu me calei por alguns segundos. Até o presente momento eu nem sabia que ela tinha irmã… Como eu falaria para ela que não encontrei mais ninguém na casa?
Claro, eu não procurei em todos os cômodos, e tinham quartos ainda trancados. Sua irmã obviamente estava lá, mas por azar não a achei a tempo.
Seus olhos se arregalaram visto meu silêncio, e antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, seu celular tocou, e ela prontamente atendeu a chamada. Eram seus pais.
De lado eu apenas observei suas expressões.
O momento era tenso, e a reação que poderia se desencadear em seu rosto poderia ser qualquer uma, a qualquer instante.
— Ela está bem?! Que bom…
O suspiro de alívio foi dado por nós dois.
Murakami prontamente me abraçou como agradecimento, e dessa forma manejamos um jeito de sair daquela masmorra infeliz. Por sorte, o lugar que saímos não era longe, por incrível que pareça era próximo ao nosso colégio.
Aparentemente tudo se saiu bem, mas, por algum motivo, ainda no mesmo dia, no Aether, Murakami pareceu não querer conversar comigo sobre o incidente, na verdade, ela parecia evitar falar comigo por completo. Estava apenas focada nas lutas contra corrompidos.
Em alguns momentos estava séria, mas em outros… distraída. A mesma atitude foi demonstrada no colégio no dia seguinte, e em todos os outros dias que se seguiram até hoje. Essa atitude começou a irritar Loveta por algum motivo, que já estava de mau humor desde que eu fui ao parque com ela naquele dia… Hum, pensando agora, será que eu fiz alguma coisa que não a agradou? Depois que fomos no gira-gira mortal, ela simplesmente se desanimou por completo, e quis voltar para a pousada…
Tch, não sei, mas sinto que a culpa de tudo isso é minha. Queria ao menos perguntar às duas o motivo de estarem assim, mas fico com medo das coisas piorarem…
Phanta disse que eu deveria descobrir a resposta para isso sozinho, logo, ficaria sem ajuda dessa vez… Droga! A única coisa que me vem à mente é o ódio pela Lamya. Afinal de contas, se não fosse por ela, nada disso estaria acontecendo!
O pior é quando penso no final de toda essa história, o que me deixa ainda muito confuso. Achei que a morte da Lamya iria gerar alguma comoção ou coisa do tipo no colégio, mas acabou que o caso foi simplesmente abafado. Foi dito que ela se mudou de escola, e nada mais. Nada foi falado sobre sua morte… Imagino o porquê?
Enfim, preciso arranjar um jeito de fazer as pazes com a Murakami, e ainda por cima conquistar o seu coração. O mesmo vale para a Loveta. É, essa tarefa certamente não será fácil.
— Ei, ei, Kazuki, olha aqui um instante.
— Hã? O quêêêêêêê!?? Como você conseguiu?!
Taichi estava me mostrando a tela de seu celular, e lá estava escrito ‘Vitória’! Sim, ele acabou de vencer o evento ‘Pesadelo dos Deuses’.
— Haha, não duvide da minha força! E então? A nossa aposta ainda está de pé, não está??
Começo a suar frio.
A aposta… Não acredito… Será que eu realmente vou ter que—
— Ele usou hack. — Responde Hansuke, enquanto bocejava.
Taichi o encara como se não acreditasse no que acabara de ouvir. — Ei! Você não estava dormindo?? Como você—
— Hmph, eu acordei a alguns momentos atrás, quando a gostosa do meu sonho criou três p*ntos.
— Droga… — Ainda não acreditando no que estava acontecendo, Taichi se vira para mim, forçando um sorriso.
— …Então quer dizer você usou hack, espertão?
Agora quem suava frio era ele mesmo. Seu corpo havia se travado na cadeira.
— Ah… é que… Droga! Hansuke seu miserável! Por que você me dedurou?!
— Fufu, eu só gostaria de apreciar um pouco o desespero no seu rosto.
— …Obrigado Hansuke, agora já sabemos quem de fato vai ter que cumprir a aposta aqui.
Seus olhos se umedecem. — Kazuki, você sabe… Já está claro que só se vence esse evento usando hack… É… por favor… você é um cara legal, não vai me fazer cumprir uma penalidade como aquela, não é…?
— Hum, claro que não, jamais faria isso com um amigo… Exceto quando esse amigo queria fazer o mesmo comigo! Usando hack ainda por cima!! Você vai cumprir, e se não cumprir, as coisas vão ficar feias para o seu lado!
Hansuke me ajuda a confrontá-lo olho a olho sinistramente, e nisso, sua alma escapole pela boca.
Não, ele não é o tipo de cara que ficaria desajeito assim por causa de uma simples aposta, o problema é que, diferente das demais que já fizemos, a penalidade para essa em específico talvez fosse um pouco exagerada.
A pena, para aquele que não conseguisse concluir o evento ‘Pesadelo dos Deuses’ antes do outro, não era nada mais, nada menos, que confessar seu amor para a garota que ama, em público!
Claro, a gente sabia dos riscos e da inconveniência disso, mas acho que o desejo de superarmos um ao outro num jogo falou forte em nossos corações.
Vendo agora a realidade diante dos olhos, Taichi deve ter percebido que essa tarefa será muito mais difícil do que ele havia imaginado, e que caso o resultado não seja o positivo, a consequência desse ato poderá ser muito, muito grave!
Mas honestamente, acho que isso será bom para ele, afinal, já passou da hora dele se confessar para ela. Já cansei de ouvir suas desculpas dia após dia. O que eu penso é que isso pode ser amargo, mas é um remédio que vai curá-lo de alguma forma, seja por bem ou por mal.
E se fosse eu sofredor da pena? Não… esse remédio não iria funcionar comigo, pelo menos não nessa situação em que me encontro agora… Se Murakami me rejeita-se, minha convivência no Aether poderia ficar muito complicada, e o meu sonho de fazer um harém com as duas ficaria distante, muito distante… Ainda bem que não sou ele de qualquer forma, haha!
BLAM!
As portas dianteiras se abrem, e a professora Saori entra no nosso ônibus. — Atenção turma! Acabamos de chegar no resort! — A alegria eufórica da turma toma conta do ambiente. — Nós vamos agora nos dirigir para o salão nobre, e lá o diretor geral explicará todo o cronograma! Lembrem-se que a intenção aqui é nos divertimos, mas não vamos tolerar qualquer ato de desorganização! Aqueles que descumprirem as regras básicas da escola vão se ver comigo! — Exclama ela, com sangue nos olhos.
A euforia da turma gradualmente diminui.