Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 19
Cento e vinte e dois, cento e vinte e três, e cheguei—Uau! Que casa enorme! Será que estou no lugar certo?
Pego o papel do bolso e confiro mais uma vez o endereço.
Sim, não restam dúvidas.
O sol estava se pondo, e eu estava frente a um lote protegido por cerca. A casa que lá estava devia ter de três a quatro andares, o que é de se admirar, já que casas como essa não são fáceis de se encontrar pelas ruas dessa cidade. Ela com certeza se destacava entre as demais.
Será que é aqui onde a Lamya mora?
Desço meus olhos pela cerca e—
Hm? Família Murakami?? É casa dela?!
Ding Dong!
Estranho, estou tocando a campainha, mas ninguém aparece. Nenhum sinal da Lamya também…
Olho para baixo e me deparo com um cadeado no chão.
Então o portão está aberto?
Empurro ele um pouco e as correntes que o seguravam deslizam até cair.
…Parece que sim.
— Ooi! Alguém em casa?! — Grito, mas ninguém responde.
…Ok, já se passaram 15 minutos desde que cheguei, e ninguém apareceu ainda. Estou começando a achar que a melhor decisão seria mesmo eu entrar nessa casa.
Eu sei, pode parecer uma ideia estúpida, mas quanto mais eu penso no que poderia ter acontecido à Murakami, mais eu me preocupo. Um cadeado caído? Ninguém responde a campainha? Nenhum sinal da Lamya também? …Quer saber? Estou entrando.
Me aproximo da casa e, só de bater na porta, ela se abre.
——Cof! Cof! O que é isso? Gás?! De onde está vindo??
Tapo o nariz com o antebraço e começo a vagar pelo lugar.
A maioria das luzes estavam apagadas, mas havia um cômodo com luz acesa—era a cozinha.
O quê—
Me aproximo do local e logo me assusto. Havia dois corpos desmaiados. Era o de uma mulher, que repousava no chão ao lado da pia, e o de um homem, que estava com a cabeça sobre um jornal, em cima da mesa.
Merda! O que aconteceu aqui?!
Corro na direção deles e coloco minha mão sobre suas testas.
Eles estavam frios e suavam muito, mas ainda respiravam, com certa dificuldade.
Tch, só pode ser o gás!
Agarro seus braços e os arrasto para o lado de fora da casa.
Certo, eles devem ficar bem. Agora, mais importante, preciso encontrá-la!
Começo a procurá-la sem parar por todos os cantos.
— Murakami! Aonde você está?! Cof!
Eu já estava no segundo andar à sua procura, mas nenhum sinal dela ainda.
Hm?
Me deparo com uma porta trancada e logo depois escuto alguns passos atrás de mim.
— Olha se não é o meu caramujo~
— Lamya??
Assim que me viro, a encontro usando máscara. Seus olhos verdes e lunáticos brilhavam ainda mais intensamente em meio ao gás.
— Você—Cof! É você quem está por trás disso?!
— Eu? Por trás do quê~?
Ela por acaso está se fingindo de besta?!
…Merda! Não estou me sentindo bem…!
— Até que você está resistindo bastante à maré, meu caramujo~, mas não se preocupe, em breve tudo passará. A tempestade é apenas temporária.
Maré? Tempestade? Ela está se referindo ao gás?! Argh! Que se dane! Não tenho tempo para suas brincadeiras!
— Murakami! Cof! Aonde ela está?!
Lamya contorce suas sobrancelhas ao ouvir minha pergunta. — Por quê? Por que você continua chamando pelo sapo? Não está vendo a linda sereia bem aqui na sua frente~?
Droga…! Isso está muito intenso…!
Eu caio de joelhos no chão. Minhas pernas já não mais aguentavam me suportar.
— Não se preocupe meu caramujo~, assim que a maré se acalmar, eu lhe mostrarei o sapo que tanto deseja, e você verá o quão horroroso ele é. Você mudará de opinião… Tenho certeza~
A imagem da Lamya começa a se deformar na minha frente, e, aos poucos, tudo vai se escurecendo. De repente, eu escuto um forte zumbido nos meus ouvidos, e imediatamente abro os meus olhos.
Que dor de cabeça…
— Ora, meu caramujo acordou bem na hora! Veja! O espetáculo está prestes a começar~
…Um caldeirão?
Lamya estava mexendo uma colher de pau em um líquido verde asqueroso—O cheiro era insuportável!
Por detrás dela eu via vários armários e várias estantes. Todos eles continham potes e frascos. Em alguns tinham olhos, já noutros insetos.
— Lamya… você! Aonde eu estou?! Cadê ela?!
Tento avançar em sua direção, mas meus braços logo são contidos. Minhas duas mãos estavam completamente presas na parede.
— Por que a pressa? Ah! O sapo, não é? Sim, sim! Olhe, olhe!
Lamya caminha até um manto volumoso que estava no meio da sala e—
ZOOOM!
Ela o puxa, revelando a pessoa que ali se encontrava.
— Murakami!!
Essa vadia! O que ela fez com a Murakami?!
Ela estava com as mãos amarradas para cima, penduradas por uma corda no teto. Seus lábios estavam secos, e seus olhos sem brilhos.
— Ry… Ryouzen…? Minh… minha irmã…
Ela tentava dizer alguma coisa, mas eu não conseguia entender.
Lamya enche um frasco com o líquido do caldeirão e o coloca na boca dela.
— Vamos~ beba tudo~
— Ei! Para com essa merda! O que você está dando para ela?!
— Oh! Isso? Você deve estar morrendo de vontade para beber um desses, não é~? Me desculpa meu caramujo, mas isso é ração para sapos! Apenas espere ela acabar de beber, e daqui a pouco você verá que ela não passa de carne com ossos~
Merda! Merda! Merda! Isso não pode estar acontecendo!
— Ora, que ódio todo é esse no seu rosto? Ah! É a sua preocupação, não é? Já sei! Vamos fazer uma brincadeira! Se você disser que me ama mais que qualquer outra mulher, eu posso dar o antídoto a ela, e soltá-la, o que você acha??
Lamya levanta o frasco que possuía, e começa a balançar o líquido azul.
— Sim! Eu… eu… te odeio!
Hã?! O que aconteceu?! Não era isso que eu queria falar!
— Hum… então é isso… — Lamya rebaixa seu rosto. — Eu pensei que não seria necessário te fazer ingerir aquela sopa, mas ainda bem que eu fiz… Graças a ela você está me contando aquilo que realmente pensa sobre mim…
Sopa?? O que ela me deu quando estava apagado?!
— Que pena, que pena! Que pena!! O mestre de Balzebear ficará bravo se eu matar mais de um humano. — Ela faz silêncio. — Mas que seja! Você, meu ex-caramujo, acaba de se transformar num jacaré!
Merda! Essa garota é insana!! Não tem nada que eu possa fazer?! Pensa, pensa, pensa!!
——!!
É isso! Se eu tive tanta força naquela briga com o Hashimoto, então isso significa que se eu me esforçar agora…!
Eu começo a colocar força nos meus músculos, e rachaduras começam a se formar na parede.
— Você, Lamya!! Você vai pagar caro por isso!!!
Lamya se assusta com o meu estado.
— Ora, ora! Que força excelente! Como esperado de um jacaré! Pena que você não passa de um animal!!
Lamya estica seus braços e mãos fantasmagóricas surgem por detrás de suas costas, se esticando até a minha garganta para me enforcar.
— Gahh!
Sangue expele da minha boca.
Ela… Urgh! Como ela fez isso?!! Que poder é esse?!
— Não se preocupe, que o túmulo de vocês será próximo a um lago!! — Ela aperta ainda mais forte a minha garganta.
Desse jeito eu vou… aqui… por uma aberração como essa? Como que ela tem poder…? Será que ela é realmente uma humana? Não… Impossível… Humana? Não zoa com a minha cara… Com esse tipo de poder ela só poderia ser um……!!
— Baku, venha… comer meus… sonhos…
— Há! Você está chamando por aquela quimera?! Você realmente acha que ela virá!?
— Baku… venha comer meus sonhos!
— Você está perdendo o seu tempo!! Essa quimera se transformou em estátua há 1200 anos!!
— Baku! Venha comer meus sonhos!!!
— Viu! Eu te falei!! Essa criatura não—
ZOOOM!!
Antes que ela pudesse acabar sua frase, um imenso portal vermelho se abre no meio da masmorra, e Baku aparece como um dragão faminto, pronto para devorar qualquer coisa.
Ele encara Lamya, a qual se estremece.
— Como…
Ela tenta falar alguma coisa, mas logo é engolida completamente por ele.
— Hohoho! Obrigado pelo lanche, amigo!
Agradecido, ele pula de volta para a fenda espacial, a qual se fecha em seguida.