Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 18

— Xeque mate. — Declara Hansuke, pondo a peça bispo verticalmente ao rei.

— Como você…?!

— Hmph, você ainda é muito inexperiente Taichi. Agora volte para os seus joguinhos e me deixa em paz com as minhas obras.

— Argh! Como que você ganhou?! Você nem sequer olhou direito para o xadrez!

Taichi estava aborrecido pelo fato de que ele treinou duro as últimas semanas, apenas para ter uma derrota medíocre.

— Nada posso fazer se você é muito ruim, agora xô, xô.

— Como que é!? Seu tarado de quatro olhos!! — Taichi agarra a gola do Hansuke, mas o outro não se importa e continua rindo da cara dele.

Phew, de um simples jogo de xadrez a um quebra-quebra de punhos… só esses dois mesmos.

Taichi começou a praticar xadrez recentemente, e disse que aprendeu alguns lances decisivos, os quais queria colocar em prática com alguém.

Acontece que ele mal começou a jogar com o Hansuke e já perdeu, enquanto que o outro nem sequer deu tanta atenção assim à partida. Ficou lendo seus livros do início ao fim.

— Quer saber de uma coisa? Vou mostrar as minhas técnicas para alguém que realmente merece! — Exclama ele, enquanto se vira para mim. — E aí, o que você me diz, Kazuki??

— Foi mal cara, mas dessa vez vou passar…

— Hã? Você está esquisito hoje, não está nem jogando o ‘Pesadelo dos Deuses’!

Espera aí… Por acaso ele está insinuando que meu humor está diretamente associado com jogar no celular? Bom…, na verdade faz sentido parando pra pensar.

— Poderia ser… é a Murakami, não é?

Por algum motivo, ele não parecia nem um pouco surpreso.

— Você sabe, já fazem três dias…

— Três dias?! Caramba! Chame já a polícia! Aonde já se viu um estudante faltar três dias seguidos!?

— Argh, já deu. Para de gritar assim…

— Qual o teu problema Kazuki? Ela só deve ter ficado doente, já te falei isso!

Que merda…, falando assim pareço até um stalker maníaco… phew, de qualquer forma, quem dera se fosse algo assim tão simples. O caso por trás disso é muito mais complicado do que parece.

Como ela não apareceu nem no Aether, ela deve estar há, no mínimo, três dias sem dormir. Loveta também comentou ontem sobre ela estar doente, mas isso não faz sentido, um doente dormiria mais que tudo…

Me pergunto o que causaria alguém a ficar esse tempo todo em claro, sem nem ao menos aparecer na escola, ou deixar qualquer mensagem para trás? …Jogos online? Não, esse não é o perfil dela. Murakami é uma garota muito disciplinada.

— Eu te entendo meu amigo Kazuki, eu te entendo! Garotas são como armas que, quando disparam, destroem o coração! Por isso eu acho que você deveria abrir mão dela logo o quanto antes!

…É impressão minha, ou ele acabou de mudar o discurso?

— Bom dia meu caramujo~! O sol está bonito hoje, não está?

E lá vamos nós de novo… Lamya havia acabado de se aproximar da gente.

— Foi mal Lamya, mas dessa vez não estou muito a fim de conversar.

— Oh! Por que não? Alguma coisa o perturba? Pode falar, que sua sereia aqui resolverá todos os seus problemas~

Minha sereia…? Só se for em um pesadelo!

— Eu agradeço, mas está tudo bem. Só quero ficar sozinho—

Ei, ei, ei! Calma lá! O que você está fazendo?! — Foi apenas questão de segundas até ela colocar a enorme bunda dela na minha mesa — Por favor, não faça isso!! Vai chamar muita atenção!

— Shhhhhh~ Não precisa falar mais nada~ Apenas encare os olhos da sereia e deixe com que eles desvendam todos os seus problemas~ — Seus exóticos olhos verdes me encaram profundamente, como se alcançasse o fundo da minha alma. — Então o meu caramujo está pensando nela? Entendo, mas será que ela também está pensando em você?

Mas do que diabos essa mulher está falando?? Nela? Pensando em mim? Espera aí, poderia ser que ela sabe alguma coisa sobre a Murakami??

Os olhos verdes e lunáticos da Lamya me encaram ainda mais profundamente. — Hihihi~ Se você quiser saber o que eu sei… — Ela abre o meu caderno acima da mesa e faz algumas anotações. — Me encontre aqui assim que o sol estiver perdendo para a lua. Muitas coisas hão de se revelar~!

Assim que ela diz isso, o sino do final de intervalo faz o seu toque, e ela volta para a sua carteira. Taichi me cutuca.

— Você não vai se encontrar com ela aí não, né? — Ele estava completamente horrorizado.

— Bem, se ela sabe de alguma coisa—

— Você está maluco!? É a Lamya! Se bobear esse endereço nem existe!

É compreensível que Taichi a olhe assim com tanta desconfiança, na verdade, quem levaria ela, ou que ela diz a sério?

Acontece que esse é um caso à parte. Eu realmente gosto da Murakami, e me preocupo muito com ela. Então se a Lamya sabe de alguma coisa, por que não ouvir o que ela tem a me dizer? Além do mais, o que de ruim poderia acontecer? No máximo eu encontro um cemitério pelo caminho.

* * *

A hora havia chegado, e eu estava prestes a deixar o colégio quando uma pessoa cruza de repente a minha passagem. Era Yuuto Hashimoto, o bonitinho.

— Olha se não é Kazuki Ryouzen! Hahaha, você ficou tão diferente ultimamente… O que é? Começou a malhar?

Tch, de novo essa pergunta?

— Precisa de alguma coisa? Eu estou com pressa, se ainda não percebeu.

Eu começo a caminhar de novo, mas ele novamente impede a minha ida.

— Qual o teu problema?! Não escutou que estou com pressa??

— Certo, vamos discutir a sério então. Que tipo de bruxaria você anda fazendo? — O olhar de Hashimoto fica frio de repente.

— Bruxaria? Eu realmente não sei do que você está falando.

Ele faz silêncio, colocando uma de suas mãos no rosto, até começar a rir de uma forma meio psicopata.

— Não me faça de trouxa Kazuki! Uma pessoa conquistar o coração da Murakami?! Uma pessoa perdedora como você!? E ainda por cima ganhar altura e músculos em apenas um mês!? Acha que sou besta!? Hã!? Você tem alguma ideia de como eu passei essas últimas semanas, depois que ela me rejeitou?!

Então é disso o que se trata? Ele está ficando desconfigurado dessa forma só por causa de um fora? Esse cara é realmente patético…

— Olha, a última coisa que eu poderia me importar, na vida, seria como você sentiu nessas últimas semanas, agora, se me dá licença—O quê?!

Ele segura os meus ombros e me empurra com tudo para dentro do colégio.

— Tch! Você ficou maluco?!

— Maluco?! A única maluquice aqui é você!

Ele vem com tudo para cima de mim e eu imediatamente desvio.

Qual é a dele? Ele já está me tirando do sério!

— Qual é Kazukizinho, vai ficar correndo!? Se você é homem mesmo, então vem pra cima!

Ele mais uma vez investe no meu sentido, mas eu facilmente desvio.

Mas que patético… ele está levando essa briga a sério mesmo? Seus movimentos são tão amadores…

— Gahhhh!! Para de correr seu pedaço de merda!!

Mais uma vez ele se aproxima, dessa vez com o seu punho prestes a acertar o meu rosto, mas eu uso meu antebraço e redireciono o ataque para outro sentido.

Ele se aproveita e lança outro golpe, o qual eu simplesmente seguro com a minha outra mão.

— Acho que já deu de brincadeira, né? Hã?

— Ai, ai, ai! Minha mão! Minha mão!! Solta ela!!

…O quê?

Eu largo a mão dele e me deparo com ela totalmente roxa e inchada. Ele se ajoelha no chão e começa a encará-la sem parar, com uma expressão totalmente desesperada.

Mas como?! Eu nem coloquei tanta força assim!

Amedrontado, ele me encara. — V-você fez um pacto com um demônio!! S-sai de perto… Sai de perto!! — Hashimoto se rasteja na direção oposta, até sumir do meu campo de visão.

Mas o que raios acabou de acontecer aqui?! Foi tudo tão ridículo que parecia encenação! Mas eu não acho que ele estava brincando agora… ele estava realmente com medo…

Enfim, se eu realmente o machuquei, não foi minha intenção.  Mas contanto que esse canalha se mantenha longe de mim a partir de agora, está valendo.