Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 15
Enquanto caminhávamos pelo longo corredor à luz de velas, noto algo estranho acontecendo com o colar da Murakami. Ele estava brilhando e flutuando levemente.
— Ei, o que houve com o seu colar?
Ela olha para baixo. — Ah, ele geralmente fica assim quando sente alguma dificuldade de estabilizar a alma… Já aconteceu comigo algumas vezes, quando tentei usar meu poder além da capacidade.
— Hã? Mas você não está usando nenhum poder agora…
— Sim, suponho que esse seja um caso à parte. Desde que entrei nessa caverna, ando sentindo alguns arrepios por todo o meu corpo, como se ele estivesse ressoando com alguma coisa.
— Espera! Não seria melhor você voltar e esperar do lado de fora então? Eu posso continuar sozinho com a Loveta.
— Sim, sim! É uma ótima ideia Mestre! Vai ser muito mais romântico dessa forma~
Ela suspira. — Eu agradeço a preocupação, mas de verdade, não há necessidade. Se o colar se quebrar, eu só preciso pegar um outro desses com o bispo, em Azurya.
…Com o bispo? Tch, não gosto dessa ideia. Não sei exatamente o porquê, mas sinto uma enorme apatia dele. Talvez seja algum tipo de sexto sentido?
— Gya? E eles te dariam um colar na mais boa vontade, mesmo depois de abandoná-los?
— …O bispo ainda preza pelo meu bem estar. Tenho certeza que se eu pedisse, ele me daria.
— Por curiosidade, qual a aparência desse cara?
Nunca se sabe… Vai que esse bispo é um garanhão tipo Toyosaki, só que inteligente? E ele estaria dando favores à Murakami só para tê-la em troca? Tch! Se isso acontecesse, seria um grande problema…
Murakami estranha minha pergunta. — A aparência dele? …Por que você iria ficar curioso quanto a isso?
— Ah, err… sei lá, só passou pela minha cabeça, haha.
Merda! Como diabos eu falaria para ela o que eu acabei de pensar?! Também estou sem criatividade para inventar uma boa desculpa…
Ela me olha de uma forma um pouco suspeita para mim, mas então sorri. — Não se preocupe muito, sério.
Bom, pelo visto terei que aceitar isso por enquanto.
— Mestre! Olha!
Hm?
Eu e Murakami olhamos para onde Loveta apontava seu dedo e nos deparamos com uma enorme estátua de pedra em um salão ao final do corredor. Nós nos aproximamos.
Era a figura de uma quimera, uma criatura que nada mais é do que uma mistura hibrida de animais. Essa daí, no caso, tem corpo de urso, patas de tigre, tromba de elefante, cauda de boi e olhos de rinoceronte—Um bicho feio e tanto.
Impressionante é o tamanho dela, e a quantidade de detalhes esculpidos… Não sei quem fez, mas com certeza deve ter dado um trabalho do caramba. Se bem que estamos no mundo dos sonhos, né? Sim, isso seria totalmente possível.
— Urgh! Que coisa horrorosa! — Loveta fica estarrecida ao encarar a figura. — E qual é a dessa pata dele para o alto, ele queria atacar alguém por acaso?
— É o que parece… Hm? Murakami, está tudo bem aí?
Olho para o lado e a encontro estranhamente olhando para o animal, como se estivesse em algum tipo de transe. O colar em seu peito brilhava muito mais que antes.
— Murakami…?
Ignorando minhas palavras, ela estende seu braço direito e estica seus dedos. — Sinto que devo tocá-lo…
— Ei, ei, ei! Vai parando por aí! Isso pode ser perigoso!
Ela novamente ignora o que eu falo e se aproxima ainda mais da estátua.
Droga! Isso vai dar ruim! Eu preciso—
FLASH!
Um instante antes de toda a sala ser coberta por uma luz misteriosa, e um ataque selvagem avançar em nosso sentido, eu pulo em direção as garotas, jogando-as para o chão.
ROAAAAAAR!! A quimera ruge ao ganhar vida.
— Quem ousa perturbar o poderoso Baku?!
[Aviso de Sistema: Inimigo extremamente forte detectado. Nível: 759. Possibilidade de vitória: 0%. Ação recomendada: Fugir]
O quê?! Isso só pode ser brincadeira!
Eu e Loveta rapidamente fazemos nossas poses de combate.
Fugir? Impossível! Murakami está atordoada no chão! Nunca que eu a deixaria aqui sozinha!
A quimera me encara tenebrosamente, como um ceifador faria ao encarar sua próxima vítima. Ele fixa seus olhos na Murakami.
Apesar do estresse, eu rapidamente levanto o meu arco e aponto minha flecha no sentido do animal, que, por algum motivo, se espanta.
— Não pode ser… essa pessoa é—
Sem que pudéssemos entender mais nada, ele se prostra perante a Murakami.
…Espera aí, o quê?
* * *
— Certo, então deixa eu ver se entendi corretamente… Você disse que servia a um mestre, ou melhor, a uma deusa. Essa deusa lutou contra um outro deus, e perdeu a batalha. Como resultado ela foi forçada a petrificá-lo. E agora você sente alguma coisa na Murakami que o lembra dessa mesma deusa, é isso?
— Precisamente! Minhas memórias ainda estão um pouco confusas, existem coisas que ainda não consigo me recordar, como por exemplo quem eram esses deuses ou porque essa batalha havia se iniciado, mas não restam dúvidas de que essa garota tem de fato a essência da minha senhora!
——?!
Ele começa a me cheirar.
— Ei, para com isso! É esquisito!
— Você também não me é estranho. Não tem cheiro de nenhum desses deuses, mas me soa a alguém familiar, hum…
— Se o seu nome é Baku, então seria você o devorador de sonhos?
Agora era a vez da Murakami de perguntar. Ela estava melhor, e seu colar também já havia voltado ao normal.
— Hohoho, vejo que você é uma boa estudiosa em mitologia! É isso mesmo, devorar dreamians é a minha especialidade!
Ele então encara a Loveta, fazendo-a arrepiar das orelhas até a ponta da cauda.
— Gi! Para com essa conversa estranha! O único permitido a me devorar aqui é o meu Mestre! Você até pode ser um ser lendário ou coisa do tipo, mas não tenho medo de você!
— Hohoho! Será então que eu deveria mostrar um pouco da minha força a senhorita?
— Pode até tentar, quero ver conseguir~! — Ela lança um sorriso presunçoso. Faíscas saem dos olhos dos dois.
— Ok, ok… Acho que já deu né?
— Baku, se você é realmente o devorador de sonhos, isso por acaso significa que você conseguiria ajudar as pessoas da Terra a terem menos pesadelos? — Murakami pergunta esperançosa, o que não é lá de se surpreender, já que acabar com os episódios é uma de suas missões mais incessantes.
— Sim, senhorita! Mas do jeito que vocês me contaram sobre como anda a situação na Terra, sinto lhes dizer eu não seria de muita ajuda, afinal, não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas sempre que precisarem de mim, basta chamarem pelo meu nome três vezes, que eu aparecerei imediatamente para devorar seus terríveis sonhos! E ah, eu também devoro demônios!
— Demônios!? Eles existem?! — Entro em um estado de choque.
— Ora, mas é claro! Se existem deuses é natural que existam demônios, já que demônios nada mais são do que seus servos. Bem, é razoável que vocês humanos tenham a tendência de não acreditar neles, já que eles atuam numa outra dimensão da Terra.
— Hum, faz sentido.
Realmente, até a pouco tempo atrás eu não acreditava nessa história doida de deuses ou demônios, mas de repente tudo mudou assim que tive contato com Aether. Me surpreende a quantidade de coisas verdadeiras que eu acreditava serem mentira.
Baku continua. — Por acaso existe mais alguma coisa em que eu poderia ser de ajuda? Isso é o mínimo que eu poderia fazer por aqueles que quebraram o meu aprisionamento.
— Na verdade existe. — Pronuncia Murakami. — Nós estamos à procura de um garoto também humano, que acabou entrando nesse lugar por algum motivo. Mas considerando que você estava petrificado…, não acredito que você tenha o visto?
— Eu até posso ter estado petrificado, mas consigo sentir a presença de qualquer um dentro do perímetro desse palácio. Infelizmente, para a infelicidade de vocês, não sinto nenhuma outra além da nossa própria.
— Entendo…
Então o Taichi sumiu? Phew, agora realmente não tem jeito… Já está quase dando o horário de voltarmos para a Terra. Espero que ele esteja bem amanhã na escola, e que aquilo que vimos tenha sido mesmo apenas uma farsa.
— Ok, então nós já vamos indo seu Baku. Valeu pela ajuda! E ah, antes que me esqueça, no caminho para cá nós encontramos o corpo de um gigante morto deitado numa cama.
— Oh, sim, já estou ciente. Como disse, não me recordo de muita coisa do passado, mas vou dar uma conferida nele depois disso. Obrigado pelo aviso de qualquer forma, e também os agradeço mais uma vez por terem me libertado da petrificação. Lembrem-se, não hesitem em me chamar em seu mundo sempre que estiverem com problemas!
— Certo! Até mais Baku!
— Obrigada por tudo.
— Grrrrr… ainda não vou com sua cara!
— Hoho! Quem sabe um dia desses não fazemos um duelo?
Aos choques de olhares entre os dois, nós deixamos o palácio.