Aether: O Mundo em um Sonho - Capítulo 14
— Taichi, espera! Somos nós!! Eu não entendo, por que ele continua fugindo?! Aquele é realmente o Taichi, não é?
— Pela aparência não restam dúvidas, mas pela lógica não faz sentido.
— Você diz isso por causa dos cristais de invocação?
Murakami acena com a cabeça. — Sim. Se ele está aqui, é porque um cristal foi usado, o que é estranho, já que mais que dois desses não deveriam existir.
Eu bem me lembro dessa história… Segundo o que ela me contou, existiam apenas dois cristais antes de virmos para o Aether. Um estava com o Império, e foi usado pelo bispo para invocar a Murakami. O segundo estava teoricamente com os moonstrucks, mas foi encontrado pela Loveta no topo de uma torre para me invocar. Pensando melhor…
Eu ia falar, mas Murakami logo se pronuncia. — Loveta, você disse que estava perseguindo uma pessoa parecida com o Ryouzen até antes de encontrar o cristal, não estava?
— Grr! De novo essa história? Sim, eu já falei isso váááárias vezes…
— Entendo… então existe uma boa chance de estarmos passando por um fenômeno semelhante.
— Hã? O que você quer dizer com isso?
— …Que a pessoa que estamos perseguindo agora pode não ser Taichi, mas sim alguma espécie de ilusão como a sua falsa imagem que ajudou Loveta a chegar até o segundo cristal. Ele também pode estar nos levando intencionalmente a algum lugar. Eu não vou dizer que é em direção a um terceiro cristal, como foi o caso anterior, mas talvez em direção a algum outro objeto de mesma relevância—
— Gyaaa! Mas e se for uma armadilha?!
— Sim, essa também é uma possibilidade que não podemos ignorar. Hum, engraçado que quem está falando de armadilhas é justamente a pessoa que perseguiu o falso Ryouzen até o final… — Murakami faz uma leve expressão presunçosa, o que é raro, extremamente raro!
— Gi! Isso por acaso é algum tipo de revanche…?
— …De qualquer forma, duvido que o Ryouzen tenha qualquer intenção de parar por aqui.
Balanço afirmativamente minha cabeça. — Sim, por menor que sejam as possibilidades, eu ainda não estou convencido desse veredito acerca da existência de apenas dois cristais. Não porque eu duvido das suas palavras Murakami, mas sim porque essas palavras foram ditas a você pelo bispo, o qual eu não confio. Para mim, toda essa história já ficou estranha quando o cristal que deveria estar com os moonstrucks estava na verdade era largado em um lugar qualquer. Logo, eu não posso parar por aqui até que eu confirme que aquela pessoa não é mesmo ele.
Murakami sorri modestamente. — Imaginei que esse seria o caso. Hm? Esperem! — Ela faz um sinal para pararmos. Nós estávamos prestes a descer um terreno íngreme, o qual fazia divisa com um rio semicongelado.
O aparente Taichi havia descido o terreno sem nenhum problema, saltado o rio, e entrado numa caverna que existia a alguns metros de distância.
— Gya? Qual o problema? É só um rio…
— Não, não é. Observem mais atentamente.
Assim como Loveta, eu deslizo meus olhos para baixo e então percebo várias criaturas mortas ao redor do rio em questão. Elas eram, em sua maioria, os animais do Aether, ou seja, dreamians animais que as pessoas um dia sonharam. Estranho que…
— Por que não há nenhum sinal de sangue? — Pergunto.
Apesar de estarem todos deitados no chão, não parecia que tinham sido assassinados.
— …É porque eles não estão mortos, estão adormecidos.
— Adormecidos…?
— Sim, e quem está fazendo isso é o próprio rio, vejam aquele animal.
Eu e Loveta olhamos no sentido apontado pela Murakami e reparamos num “urso polar”. Ele estava se aproximando do rio para beber água, mas só de chegar perto ele desmaia.
— Gyaaa! O que houve?!
— Parece que o rio está encantado de alguma forma. Se nos aproximarmos muito, o efeito também poderá nos atingir. — Suspira ela.
— E pela quantidade de dreamians deitados por aqui, não acho que conseguiremos despertar, uma vez adormecido…
— Sim… se realmente queremos ir atrás dele, deveremos ser cautelosos de agora em diante.
Eu e Loveta acenamos com a cabeça.
* * *
— Um palácio? Que lindo~!!
Loveta estava encantada com o lugar o qual acabáramos de entrar, não só ela, como também todos nós estávamos surpresos. Um palácio dentro de uma caverna? Por essa eu não esperava.
Após atravessarmos o rio e entrarmos na toca, caminhamos um pouco pelo ambiente. Não demorou muito para que tijolos dourados começassem a surgir pelas paredes, junto a pilares de mármore e chão de granito. Quando notamos, estávamos todos em um enorme salão.
Era possível ver o bom acabamento, o bom conjunto de cores, e a boa escolha de materiais para qualquer lugar que se lançasse a visão. Tudo demonstrava sinal de grandeza; indo desde belos chafarizes com formatos de peixes, até lustres de esmeralda e velas. Era de fato um lugar muito bonito.
O salão também era silencioso. O único barulho que escutávamos eram os dos nossos próprios passos.
— Quem será que mora aqui? — Pergunto.
— Hum, pelos desenhos na parede, eu diria que seria algum tipo de rei, ou príncipe? Quem sabe até mesmo um deus?
As figuras as quais Murakami se referia estavam cravadas por todas as paredes, como nas clássicas tumbas e pirâmides de faraós.
Uma delas revelavam dois homens de pé, ao lado de uma grande cama onde repousava um gigante. Um deles costurava peças de roupas douradas, enquanto o outro peças de roupas cinzas. Acima deles sobrevoava um olho com pupila espiral, que irradiava luz pela frente, iluminando criaturas as quais ali se ajoelhavam e os adoravam.
Já em outra parede, apareciam mais duas pessoas de perfil, gêmeas, viradas para lados opostos. A garota na esquerda olhava em direção a árvores, montanhas e lagos. Já a da direita encarava coisas mais abstratas, como quadrados, triângulos e etc.
Eram realmente figuras interessantes, mas nada que eu conhecesse.
Phanta, você saberia me dizer alguma coisa em relação a isso?
[Uh… Não, nadinha.]
Certo, isso foi um pouco duvidoso…
— Alôô!! Tem alguém aquiiiii!? — Grita Loveta, quebrando o silêncio local.
Murakami entra em pânico. — Shhh! Fala baixo Loveta, nós não sabemos se esse lugar é aliado ou não!
— Mas nem parece que alguém mora aqui. Ah, olha o que eu achei! — Loveta corre em direção a uma das salas do palácio e nós a seguimos. Quando chegamos, reparamos numa enorme cama rodeada por cortinas pretas.
— Hã…? Essa não é a mesma cama que estava desenhada nas figuras?
— De fato. — Confirma Murakami. — Mas do jeito que o ar aqui está estranho, acho melhor deixarmos tudo como está.
— Ah, que chatice… queria tanto dar uns pulinhos aqui. Hã…? — Loveta encosta uma de suas mãos na cortina e elas se levantam, revelando ali um enorme cadáver coberto em sangue. Havia um furo em peito esquerdo, e ele estava sem os dois olhos.
Loveta imediatamente coloca as mãos na boca, enjoada, e Murakami vira o rosto em aversão. Eu também desvio meus olhos.
…Mas que merda é essa??
* * *
— Me desculpa Mestre, acabei fazendo você ver algo horrível… — Loveta estava angustiada, com suas orelhas de lobo recaídas.
Essa garota não é mesmo uma perfeição de anime? Ela pode estar dormindo ou pode estar acordada, pode estar feliz ou pode estar zangada, seu rostinho continua sempre muito bonito. É… acho que nunca vou me cansar de apreciá-lo.
Nós dois estávamos sentados na beira de uma das fontes do palácio por sinal. Murakami havia saído para investigar um pouco melhor o lugar, e me pediu que eu ficasse aqui, tomando conta dela. Claro, depois do que aconteceu, ela ficou receosa da Loveta fazer outra besteira. Curiosamente, Loveta aceitou a sugestão da Murakami sem nenhum problema.
— Não esquenta a cabeça Loveta, não foi nada demais. Por sorte nada aconteceu a vocês duas, mas é bom tomar um pouco mais de cuidado a partir de agora, não gostaria de vê-la correndo perigo.
Preciso salvar esse seu rostinho lindo a todo e qualquer custo!
Loveta me olha surpresa, para então se corar levemente. — Será que você poderia fazer um pouco de cafuné na minha cabeça…?
Ei, ei! O que há com esse clima?? Essa expressão de vulnerabilidade que ela está fazendo agora está me deixando realmente nervoso! Mas bem… não acho que não faria mal a mimar um pouquinho, né?
— Ahem.
——!!
Assim que eu estava prestes a tocar na cabeça dela, Murakami aparece. Tanto eu quanto a Loveta nos arrepiamos.
Espera, por que tivemos essa reação?? Não era como se fossemos fazer alguma coisa indecente! Eu acho…
A expressão dela não era das melhores.
— …Eu acabei de descobrir um corredor mais à direita, por onde seu amigo pode ter ido. Vamos indo.
É, ela estava brava. Loveta retruca com um simples “tch”.