A Herança do Assassinato - Capítulo 6
— Missão? — Questiona Dante.
Dante não havia entendido logo de cara. Eles iam fazer algum tipo de missão?
— Tem uma vila aqui perto — explicou Raphael — Eu faço uns bicos aqui e ali, matando alguns monstros ou fazendo um reparo na casa de alguém, o que me rende uma grana boa.
— Basicamente eu vou me tornar um faz-tudo.
— Você é inteligente garoto, consegue pegar as coisas rápido.
— Eu sei disso.
— Mas humildade que é bom, nada — sussurrou Raphael.
Apesar de seu corpo estar completamente destruído, por causa do intenso treinamento, Dante o força a se levantar, mesmo com bastante dificuldade e dor neste processo.
— Quando que nós vamos fazer essa tal missão?
— Amanhã mesmo, então descansa, que amanhã vai ser um dia bem puxado.
E assim foi dito e feito. Dante tirou o resto do dia para descansar e se recuperar do desgaste que foi o treinamento daquele dia. Também foi dormir cedo naquela noite, pois de acordo com Raphael, eles teriam que se levantar bem cedo no dia seguinte.
***
Como sempre, a noite de Dante não foi lá a das melhores. Durante seu sono ele era atormentado por pesadelos que estavam se tornando cada vez mais comuns e infelizmente, o garoto estava se acostumando com a presença deles enquanto dormia.
Raphael o acordou um pouco antes do nascer do Sol. Ambos tomaram banho, se trocaram e tomaram seu café da manhã. Quando estavam para ir embora, Raphael guiou Dante para um quartinho, que ao adentrarem nele se depararam com muitas ferramentas de trabalho rural e armas brancas.
— Dante, escolha a arma que melhor combina com você.
— Qualquer uma?
— Se você quiser matar monstros com uma enxada, sim, qualquer uma.
— Você é muito engraçadinho — disse Dante, com um tom de irritação na voz.
— Esse é o meu charme. Agora para de enrolar e escolhe logo sua arma!
Dante começou a olhar as ferramentas que estavam guardadas naquele quarto. Elas tinham uma aparência um tanto quanto velhas, porém pareciam que ainda estavam boas o suficiente para serem utilizadas em lutas.
Após alguns instantes breves, Dante pega uma chisa katana. Ele gostaria de pegar uma katana comum, porém ela seria muito grande para ele e prejudicaria sua movimentação.
— Vou levar essa aqui.
— É uma ótima escolha. Agora vamos embora.
Raphael e Dante então foram embora, seguindo a estrada de chão. Dante vestia uma túnica marrom muito feia, porém era a única roupa que serviria nele, enquanto Raphael usava uma grande capa negra, que cobria todo o seu corpo.
O dia estava com um tempo muito bom. O Sol não estava tão quente, o céu azul tinha poucas nuvens e uma brisa agradável soprava. Tudo isso deixava os grandes pastos, ao redor da dupla, muito mais bonitos que já eram.
Durante a caminhada, os dois encontram uma construção um pouco estranha. Ela tinha uma enorme placa escrito “Pare” e duas lâmpadas, uma vermelha, outra amarela e uma grande barra apontada para cima. Ao olhar para baixo podia ver trilhos.
Quando eles se aproximaram, aquele objeto começou a fazer um alto barulho e as lâmpadas acenderam. Logo em seguida a grande barra abaixou, bloqueando o caminho.
— O trem sempre passa quando eu estou indo para a cidade — reclama Raphael — Isso é impressionante.
Ao longe se ouvia um som de locomotiva, junto de seu apito. Não demorou muito para um trem a vapor aparecer e passar em frente aos dois.
Aquele veículo era extremamente veloz, como também fazia uma barulheira.
Dante ficou impressionado e boquiaberto, pois nunca tinha visto um trem em toda a sua vida. Era incrível ver aquela enorme criatura de metal correr.
Quando o maquinário finalmente termina de passar, Raphael se volta para Dante, enquanto a barreira subia.
— Você nunca viu um trem?
— Não, só em livros — A expressão de Dante ficou meio cabisbaixa — Passei praticamente toda a minha vida inteira preso com meus pais.
— Então essa é a primeira vez que você realmente sai para o mundo exterior? — Raphael estava surpreendido ao saber disso.
— Podemos dizer que sim— Dante olha para os trilhos — De onde esse trem veio?
Raphael apenas aponta para algumas montanhas que estavam ao longe no horizonte.
— Naquelas montanhas tem uma grande mina. Lá há diversas pessoas trabalhando para conseguir pedras preciosas para serem vendidas — Raphael se vira para Dante — Aquele trem que você viu, muito provavelmente estava transportando as jóias.
— Entendi, então elas estão sendo levadas para a capital?
A barreira finalmente se levanta e a dupla volta a caminhar.
— Sim, porém ainda vai ter um longo caminho pela frente, já que não há uma linha que parta daqui e leve direto para a capital.
Dante e Raphael caminhavam tranquilamente pela estrada de chão por bastante tempo, mas bastante tempo mesmo. Provavelmente já tinha se passado quase uma hora de caminhada. Dante nunca imaginou que o destino fosse tão longe.
Quando ele já estava cansado e entediado, uma coletânea de casas apareceu no horizonte.
— Estamos chegando, Dante — Raphael abriu um pequeno sorriso — Essa é a pequena de Vintus.
Ao se aproximarem mais podia se notar que a cidade era muito simples. As casas tinham um aspecto rústico, porém muito bem cuidado.
As pessoas da pequena cidade cumprimentavam Raphael quando o viam, o homem parecia ser até que bem popular pela região.
— É seu filho, Senhor Raphael? — pergunta uma senhora com cerca de 70 anos, que havia se aproximado para conversar com Raphael — Ele é um jovem tão bonito.
Dante fica vermelho com o elogio da velhinha.
— Isso aqui? Filho meu? — Raphael parecia ter se ofendido — Eu não ia suportar.
— Eu também não sentiria orgulho de ser seu filho.
A senhora deu algumas risadinhas.
— Vocês são tão parecidos.
— Não, não somos — os dois dizem simultaneamente.
— Ok, ok — A velhinha se recuperava das suas risadas — De qualquer forma, Raphael, o Senhor Tico, está tendo alguns problemas na fazenda, ele me pediu para te avisar caso te visse.
— Tudo bem, eu vou dar uma passada lá na casa do Seu Tico.
Dessa forma então foi feito. Após terminar de conversar com aquela senhora, Raphael e Dante foram até a casa de Tico, o que não demorou muito, já que a cidade era pequena e tudo estava muito perto.
— Oh, Seu Tico!! — gritou Raphael em frente a casa — O senhor tá em casa?!
Da lateral da casa saiu um homem de meia idade, cabelos e barba grisalha, um corpo magro, vestindo um macacão vermelho, que se contrastava com a camisa azul e carregando uma enxada em seu ombro.
— Ah, finalmente você chegou Raphael — Tico tinha um forte sotaque caipira — Você não vai acreditar nu que eu vi: goblins — Ele dá ênfase na palavra “goblins”.
Raphael pareceu se surpreender com aquela declaração.
— Isso não é possível. Não há nenhuma aldeia de goblins na região.
— Eles são um grupo pequeno, provavelmente estão fazendo algum processo de imigração.
— Alguém se machucou?
— Não se preocupe quanto a isso, por enquanto eles só roubaram da minha plantação e mataram alguns dos meus animais — Tico solta um suspiro de cansaço — Mas tenho medo de que em algum momento o resto do bando venha e eles ataquem a cidade.
Um silêncio se instaurou entre aqueles dois, enquanto isso, Dante apenas observava a conversa de longe.
— Tudo bem, eu salvou lidar com isso Seu Tico, antes que esses monstros decidam atacar a cidade — Raphael olha para Dante — Vamos, acho que vai ser um bom treinamento para você.
Dante apenas concorda com a cabeça, preferindo se manter em silêncio.
— Ele é mudo? — questiona Tico.
— Não, ele só gosta de bancar de frio e calculista.
O garoto já devia esperar essa compostura vindo de Raphael, porém da mesma forma aquelas palavras o irritaram.
— Eu não banco o “frio e calculista” — Dante tentava controlar a raiva em sua voz — Não posso fazer nada, se minha cara é assim.
— Viu Seu Tico, além de tudo é mal humorado.
— Ele é igualzinho a você — afirmou Tico.
Com aquelas frases, tanto Raphael, quanto Dante, fizeram uma cara de nojo.
— Por que todo mundo diz isso? — se questiona Raphael — Eu não pareço nada com essa criança rebelde.
— Eu também não estou nenhum pouco feliz em ser comparado a você.
O senhor de idade deu risadas vendo aquela situação. De fato, Raphael e Dante eram muito parecidos.
— Bom, Seu Tico — Raphael encarou o senhor com seriedade — Vou ver se consigo dar um jeito naqueles bichos, antes que causem mais problemas.
— Obrigado Raphael, prometo que vou pagar uma boa quantia para você.
— É isso que eu gosto de ouvir.
— Você continua gostando muito de dinheiro — disse Tico, com um tom brincalhão.
— Nem só de gentileza vive um homem. Agora vamos Dante, temos um trabalho a fazer.
O jovem permaneceu em seu silêncio e apenas seguiu Raphael, que caminhava para a floresta, seguindo a direção que Tico apontou e aparentemente era de lá que os goblins estavam vindo.
No meio de sua caminhada, Raphael pode encontrar algumas pegadas.
— Essas pegadas pertencem a goblins — disse Raphael, enquanto analisava o rastro.
— Então isso confirma a história do Senhor Tico.
— Sim, então eu preciso te avisar — Raphael se levantou e olhou para Dante, com uma expressão séria — Não subestime os goblins, eles são monstros relativamente fracos, porém se encontrarem uma abertura em você, irão te matar antes que perceba.
— Eu já sei disso.
— Não entende não. Eu pude ver durante os treinos, você nunca lutou em batalha de vida ou morte.
Era frustrante ter que ouvir aquelas duras palavras, mas Dante não podia dizer que eram mentiras. Por mais que os treinamentos que passou na sua casa fossem extremamente rígidos e se aproximasse de torturas, nunca teve uma luta onde o seu inimigo o quisesse o matar.
— Ok Raphael, vou agir com cautela.
— Assim espero.
Ambos voltaram a caminhar, agora seguindo a trilha de pegadas que tinham encontrado. Fazendo isso não demorou muito para que encontrassem o que estavam procurando. Eles subiram uma pequena colina e chegando ao seu topo puderam ver a alguns metros à sua frente diversas barracas, fogueiras e principalmente, homenzinhos verdes.
Vendo isso, a dupla se escondeu no meio de arbustos.
— Chegamos — sussurrou Raphael — Um acampamento de goblins.