A Herança do Assassinato - Capítulo 33
Apesar de na Cidade de Baixo não haver correntes de ar e se manter constantemente abafado, o frio era algo que nunca mudava. O chão feito a partir de parelepipedos rochosos pareciam, na verdade, serem de gelo, de tão gélido que eles eram. Entretanto, mesmo com a temperatura ambiente, Nathan, Lilyan e Dante, aparentavam estar suados e ofegantes com o intenso confronto que estavam travando.
A ruiva se mostrava abalada com a revelação de que o homem com quem lutava conhecia sua outra vida, entretanto ainda estava em meio a uma batalha, qualquer tipo de descuido poderia ser considerado fatal. Lilyan retoma sua postura, mas sua concentração tinha sido completamente rompida, o que tinha sido algo que Nathan perceberia e o fez tomar a frente naquele momento.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou Lilyan.
— Você claramente não está bem — respondeu Nathan —, respira por um momento e depois você volta para a luta.
— Mas… — A jovem iria retrucar, mas o seu parceiro olhou de canto para ela com muita seriedade, o que fez com que a mesma se mantivesse em silêncio e recuar.
Após isso, Nathan voltou a encarar o espadachim com máscara de raposa a sua frente, o qual já se mostrava sinais de estar bastante debilitado, com diversos ferimentos espalhados pelo corpo, manchando o chão com o próprio sangue, e uma postura exausta, isso era um bom sinal para Nathan, só que ainda era muito cedo para se decretar vitòria. Apesar dos machucados, o seu inimigo ainda se mostrava ser alguém bastante problemático.
Nathan mais uma vez assume sua postura de combate errônea, um enorme contraste com Dante, que se mantém rígido em uma posição calculada no mínimo detalhes.
Ambos ficaram se encarando por algum tempo, apenas analisando e tentando prever qual seria o próximo passo de seu oponentes, com as poucas informações que tinham um sobre o outro, no entanto essa calmaria chegou ao seu fim ao mesmo tempo que uma gota de água caiu de um dos estalactites e atingiu o chão áspero, fazendo com que um som quase que inaudível ecoasse pelas proximidades, mas o qual serviria de sinal para que os rapazes dessem início às suas ações.
Em movimentos ágeis como o próprio vento, os dois avançaram na mesma direção. Ao redor do corpo de Dante, trevas se moldaram, assumindo formas estranhas, o que possibilitou a formação uma espécie de camuflagem, dessa maneira, dando a Dante a capacidade de efetuar uma estocada rápida contra Nathan, que fora surpreendido com o ataque surpresa, que, entretanto, conseguiu evitar de ser atingido, defletindo o golpe com seu sabre, sofrendo um mísero corte na bochecha.
A posição atual de Dante não lhe dava muito equilíbrio, Nathan se aproveita da brecha e se lança na direção do adversário, trombando nele com toda força que tinha, o empurrando para trás. Nesse ato, Dante se mostrava desequilibrado e cambaleia para trás, pisando na sua capa que o faz tropeçar, caindo e batendo com força contra uma parede de madeira.
Ele então se levanta com dificuldade, entretanto ele sente fortes impactos ocorrendo contra as suas costas, chegando até mesmo a ocasionar cortes em sua pele.
O rapaz olhou para cima esperando encontrar algum inimigo escondido, mas não encontrou ninguém, o que o deixou ansioso com a possibilidade de mais alguém estar presente. Encarando o chão viu pedaços de cerâmica, terra e flores murchas, como se vasos tivessem caídos de uma casa e o acertado.
Mas isso é improvável… ou talvez nem tanto…, pensou Dante, enquanto encarava Nathan.
Os dois começaram a dar voltas em círculos, sempre mantendo a mesma distância entre ambos, enquanto analisavam os passos do seu adversário. Era praticamente possível cortar a tensão no ar naquele momento.
Desta vez o primeiro a tomar a iniciativa de atacar fora Nathan, que em largos, porém velozes passos, que o jovem partiu para cima de Dante, que já previa uma ação como esta. Em reação a atitude, puxou seu manto negro, o arrancando de suas costas e lançando em direção a Nathan, que teve sua visão obstruída.
Essa não mostrava ser uma situação digna de preocupação, pois o espadachim pode facilmente cortar o pedaço de pano com seu sabre, mas ele se mostrou surpreso com o desaparecimento súbito de Dante.
Sem tempo o suficiente para processar o que tinha acabado de acontecer, Nathan apenas sentiu um toque quente e molhado em seu ombro. Um frio correu velozmente por cada centímetro de sua espinha e em um reflexo de seus instintos, o jovem se virou para trás, vislumbrando o que parecia se tratar de um demônio formado pela mais pura escuridão, com dois olhos azuis índigos que pareciam ser capazes encarar diretamente sua alma. Além disso, via em sua mão uma espada prateada, que ia em direção a Nathan, que saltou para trás, entretanto, ainda sofrendo um corte diagonal em seu peito.
A lesão em seu tórax ardia, mesmo a lâmina não tendo conseguido perfurar o suficiente para atingir algum órgão vital. O sangue escorria volumosamente, pintando a camisa branca de Nathan com o vermelho, mas no momento, esse era o menor de seus problemas.
Aos poucos o garoto foi se recuperando do choque e fazendo com que seu cérebro voltasse a raciocinar corretamente. Aquilo na sua frente não era nenhum tipo de criatura sobrenatural, mas apenas sujeito de máscara de raposa, que estava coberto por diversas massas de escuridão, dando uma aparência fantasmagórica, mas não era só isso. Tinha algo de diferente com aquele indivíduo. O brilho azul de seus olhos não era mais o mesmo de antes, agora eles pareciam emanar algum tipo de vontade assassina, que causava uma fraqueza em Nathan, mas ao mesmo tempo, o seu adversário não exibia qualquer tipo de comportamento agressivo.
O estômago de Nathan parecia estar se embrulhando e não conseguia fazer com que suas mãos parassem de tremer. O que ele sentia agora era algo inexplicável.
Não tendo percebido, Dante se moveu com uma destreza impressionante em direção a Nathan, que só conseguiu reagir alguns instantes depois do ataque ter se iniciado, o que lhe proporcionou uma desvantagem enorme. Com Dante lançando uma sequência de incríveis ataques rápidos, que o garoto de cabelos ondulados apresentava uma dificuldade descomunal em defender.
As técnicas de espada que eram realizadas por Dante eram completamente diferentes das anteriores, sendo muito mais precisas, descartando todo e qualquer movimento inútil. Como se ele estivesse sendo guiado por alguma coisa além do que era possível compreender no momento .
De fora do combate, Lilyan observava, frustrada por ter seu espírito abalado com uma única frase. Como consequência de sua fraqueza, agora seu parceiro estava sendo obrigado a lutar sozinho contra um oponente perigoso.
Vamos, se mexa, você não pode se abalar tão facilmente, pensou Lilyan. Você tem que ajudar o Nathan!!
A ruiva diante disso tirou de seu cinto de couro uma outra faca, imediatamente assumiu a postura para o confronto. Voltou a controlar sua respiração, tentando se acalmar, fez a mana fluir suavemente pelos seus músculos, o que lhe deu a sensação de que seu corpo estava muito mais leve.
Esse era o momento para dar início ao seu ataque surpresa.
Em passos leves como uma pluma e que não emitem um único ruído de som, até mesmo para os ouvidos mais treinados, Lilyan começaria a assumir um melhor posicionamento. A menina analisava cada mínimo movimento do mascarado, para que encontrasse a abertura perfeita para dar o seu bote, mas para isso, Nathan teria que prolongar o combate por mais alguns segundos, o que parecia não ser uma tarefa fácil.
O de cabelos ondulados parecia estar suando um rio inteiro, com tamanho esforço para manter o com máscara de raposa ocupado.
Com isso, Lilyan finalmente encontrou a brecha perfeita para que pudesse avançar. Segurou firme o cabo de sua faca e investiu para cima do espadachim, com sua arma posicionada para perfurar seu inimigo pelas costas e em um local, porém o plano não seguiu como deveria. Momentos antes de Lilyan ter a oportunidade de acertar o ataque, o seu alvo se virou na direção da menina, como se já tivesse previsto aquele acontecimento ou percebido a aproximação de Lilyan. Independente da alternativa, a jovem se encontrava em uma situação delicada.
Simultâneo ao avanço de Lilyan, o mascarado lançou um golpe de espada em sua direção. Em questão de milésimos de segundo, a ruiva trocou a posição de sua faca, para aparar o golpe, contudo não conseguiu sair ilesa. A ponta da lâmina da espada conseguiu a atingir, causando um doloroso ferimento na região lateral de sua barriga.
Após isso, usando de sua pequena faca, afastou a lâmina de próximo ao seu corpo, para em sequência, saltar para longe do adversário, se reunindo novamente com Nathan.
— Está mais difícil do que eu esperava — reclamou Nathan, respirando ofegantemente.
— Mas não vai durar por muito mais tempo — afirmou Lilyan — Os ferimentos desse cara são bem feios, não vai resistir por muito mais tempo.
— Talvez nós também não…
Era nítido que o espadachim com máscara de raposa estava gravemente ferido, mas mesmo assim, isso não parecia ser um problema para ele, que estava lutando muito melhor do que antes.
— Vê se agora consegue continuar até o fim da luta — brincou Nathan, enquanto consertava sua postura.
— Cala a sua boca!
O trio ficou se encarando por um certo período de tempo, que pareceu durar toda uma eternidade, até que todos decidiram avançar em sincronia.
O encontro entre aqueles três guerreiros resultou em uma luta tão rápida e cheia de acrobacias, que chegava a se assemelhar a uma apresentação. As lâminas de metais se colidem, criando um show de luzes, em meio aos movimentos cobertos pelas sombras, que de pouco em pouco iam se espalhando ao redor. As acrobacias que eles realizavam eram dignas de verdadeiros mestres, saltando por cima dos ataques ou os evitando com extrema maestria.
Após uma longa sequência de ataques complexos, os combatentes se afastaram mais uma vez, para recuperar um pouco de fôlego, mas Nathan e Lilyan perceberam que o seu inimigo já nem aguentava mais de manter em pé, o que lhes era uma oportunidade de ouro. Sem nenhum tipo de aviso prévio, os dois avançaram ao mesmo tempo contra o de máscara de raposa, contudo, o calor da batalha os fizeram se esquecer por completo da escuridão que os cercavam. As sombras pareciam uma espécie de fumaça, que rapidamente foi ficando mais densa, o que dificultava aqueles dois enxergar a sua frente, mas já estavam tão próximos ao mascarado que da mesma maneira executaram seus ataques, que não haviam acertado nada além do ar.
Aos poucos as sombras foram se dispersando, mostrando que não havia mais ninguém além deles ali.
— Para onde ele foi? — questionou Lylian.
Na base dos Gatos Noturnos, seus membros realizavam as suas atividades cotidianas. Mitsuki estava no salão principal, com uma vassoura em suas mãos e varria as sujeiras que estavam no chão, mas sua tarefa foi interrompida quando viu as sombras se deformando e ganhando a forma de um ser humanoide.
— Ora ora, se não é o Senhor Fox — falou a garota, nem um pouco feliz em ver o rapaz, mas sua atitude mu
dou quando saiu completamente das sombras.
Os ferimentos de Fox se revelavam, enquanto o sangue pingava, manchando de vermelho o chão recém limpo. Mitsuki mal teve tempo de demonstrar uma vagulha de preocupação com o colega, pois ele partiu diretamente para um ataque com a espada.