A Herança do Assassinato - Capítulo 26
Era uma noite chuvosa, na qual as gotas de água pingavam em grande quantidade, transformando pequenos rios em corredeiras com forte correnteza. Raios rompiam os céus, causando estrondos e iluminando a floresta.
Robert River estava sentado na cadeira de seu escritório, olhando fixamente para a paisagem chuvosa e cinzenta através da janela. O mesmo trajava as suas roupas elegantes de sempre e o cabelo continuava muito bem cuidado. Seu semblante era sério e pensativo, como se tivesse uma dúvida em sua cabeça que não conseguia ser respondida de nenhuma maneira, não importava o quanto ele pensasse.
O transe foi quebrado com o som da porta sendo aberta. Ele virou lentamente a sua cabeça na direção, vendo ninguém mais que Hannah, sua esposa. A mesma estava usando uma camisola vermelha, já era tarde, então provavelmente deveria estar indo para a cama.
A mulher caminhou até seu marido e sentou sobre o seu colo e logo sendo envolvida pelos braços de Robert.
— Já faz alguns dias que você está assim — falou Hannah, não conseguindo esconder sua preocupação — Se é sobre o que o Jack te disse, apenas ignore, ele quer apenas te provocar. Você sabe bem como aquele homem é asqueroso.
— Eu sei disso, só que ele me fez refletir sobre a criação que eu dei ao Dante. Me pergunto onde eu errei, além de tudo tive que lidar com as provocações de meus irmãos.
A mulher segura o rosto de Robert com as duas mãos e o faz olhar no fundo de seus olhos azuis. A beleza de Hannah permanecia inabalável, mesmo após tantos anos.
— Escuta, você não tem culpa, você deu a criação perfeita para ele, se aquele garoto não soube lidar com a morte de duas crianças, ele não servia para ser um assassino.
Robert ainda mantinha em seu rosto uma expressão pessimista.
— É, você está certa — concordou Robert. — Com certeza aquele garoto morreu no dia da fuga, não tinha como ele sobreviver com todos aqueles ferimentos e com o nível de cansaço.
— Sim, nosso filho morreu naquela noite.
Um clima melancólico e pesado tinha se formado naquela sala. Por mais que Dante tenha quebrado a tradição dos Rivers, ele continuava sendo um membro da família e perder um filho fazia os corações dos pais doerem muito, mais do que se tivessem sido perfurados lentamente pela lâmina de uma faca
Ambos ficaram em silêncio por bastante tempo, mais do que teriam percebido. Eles apenas se deram a liberdade de aproveitar a companhia um do outro, podendo se desprender da tensão sentida em seu dia a dia e relaxar, mesmo sendo por pouco tempo. Até o relógio bater, anunciando a chegada da meia-noite.
Hannah se levantou e olhou para seu marido.
— Você tem reunião agora, certo?
— É — Robert não mostrava gostar do compromisso. — Pelo visto é sobre aquele trabalho, ele é bem grande e meu pai decidiu que a gente deveria montar novos pontos da nossa estratégia.
— Entendo — Hannah andou até a porta, mas parou em frente, olhando uma última vez para o seu parceiro , com um sorriso provocativo em sua face. — Vê se não demora, dependendo do horário da sua chegada, a gente pode “relaxar” um pouco mais.
Com a fala, a postura de Robert já teve uma nítida melhora, ganhando um pouco mais de energia. Hannah se retirou do escritório e Robert fez o mesmo logo em seguida. Caminhou pelos estensos corredores, enquanto trovejava fortemente do lado de fora da mansão.
Quando estava prestes a chegar em seu destino, Robert se depara com uma pessoa e isso não agradou Robert.
Era mulher, dotada de longos e ondulados cabelos loiros, com grandes olhos verdes hipnotizantes, brilhavam, mas eram venenosos, como os de uma víbora. A mesma estava trajando um kimono muito provocativo, deixando exposta muitas partes sensuais de seu corpo, como as coxas e seios, que por si só já eram bem avantajados. Em sua mão tinha um leque, sendo utilizado para abanar seu belo rosto, que tinha uma expressão do mais puro deboche.
— Olá Vitória — disse Robert, se forçando a abrir um sorriso .
— Olá Robert — respondeu a loira, em um tom debochado — Como a Hannah está?
— Bem, e o Clark?
— Ótimo, está vivo e sendo um assassino incrível, afinal, criei um filho que respeita as leis da família.
Aquela frase e aquele tom de voz eram capazes de tirar Robert do sério com extrema facilidade. As suas mãos, que se encontravam atrás do seu corpo, estava tremendo de tanta força que ele as fechou.
— Que bom, parece que ele não está seguindo os passos da mãe, acredito que ele vai conseguir uma pretendente em um futuro próximo — respondeu Robert, retribuindo o deboche — Ser solteiro por muito tempo não é nem um pouco agradável.
Essas palavras pareciam ter atingido o ponto mais fraco de Vitória, que imediatamente parou de se abanar e sua expressão ficou mais tensa. Tentou manter um sorriso e cobriu metade do rosto com o leque, para mascarar sua raiva.
— Por acaso você me chamou de encalhada? — perguntou Vitória
— Eu não disse nada disso, mas se a carapuça serviu.
Uma troca de olhares mortal se deu início. Parecia que ambos liberavam energia e se chocavam de maneira violenta. Quando estavam prestes a sacar suas armas dar início a um confronto, a voz de um terceiro sujeito surgiu para apaziguar os ânimos da dupla.
— Crianças — diz uma voz madura, porém parecia bem extrovertida — Não briguem, a família está indo tão bem nos últimos dias.
Apesar do tom de voz brincalhão, Vitória e Robert sentiam uma presença muito forte e ameaçadora fazendo uma enorme pressão sobre eles. O coração de ambos aceleram de um momento para o outro, junto do suor gelado que saía através de seus poros. Era como se eles estivessem na presença da própria morte, que os paralisou.
O som dos passos iam ficando mais próximos de pouco em pouco, até o momento que chegou até o lado deles. Lentamente moveram seus pescoços e olhando na direção da fonte daquele enorme medo deles e se deparam com um idoso portador de um sorriso muito simpático, entregando mesmo assim a intenção assassina que era emanada dele permanecia sufocante.
Aquele era William River, o atual chefe da família River.
— Vocês são irmãos, não é? — O senhorzinho coloca uma mão no ombro de cada um. — Vocês não deveriam brigar, mas sim cuidar um do outro. Ouviram? Espero que isso não se repita… — O sorriso do idoso desaparece muito rapidamente, dando lugar a um olhar ameaçador. — Pelo bem de vocês, não quero ter que castigar meus queridos filhos.
Aqueles dois assassinos treinados ficaram completamente imóveis perante toda a presença causada por apenas um senhor de idade.
— Entenderam bem? — A dupla balança a cabeça, confirmando, o que fez o velhinho mudar de postura, novamente abrindo o seu sorriso simpático. — Ah que bom! Agora vamos para a reunião!
O idoso soltou os irmãos e foi até a porta, abrindo de leve para entrar na sala. Do lado de fora, Robert e Lilian estavam se recuperando daquele susto que tinham tomado e suas almas lentamente iam voltando aos devidos corpos. Se tinham alguma coisa que aqueles dois concordavam, era que o pai deles era uma pessoa assustadora, mas não pelo seu poder de luta, mas sim por sua sede de sangue e influência.
A dupla trocou alguns breves olhares, para então retornarem às suas posturas sérias. Em sequência a isso, de forma simultânea, ambos passaram pela porta, se deparando com um enorme salão.
Aquele cômodo era gigante, tinha janelas, também enormes, em todas as paredes, permitindo uma vista privilegiada da floresta que cercava a mansão River. No teto, estava pendurado um deslumbrante candelabro de cristal, com pedras luminosas que deixavam toda a sala clara. Por fim, no centro do salão estava posicionada uma mesa de madeira redonda, extremamente chique, cheias de adornos de ouro e com outras pedras preciosas, havia cinco cadeiras ao redor da mesa, de madeira e com os mesmos adereços, tendo três delas estando já ocupadas.
As pessoas que as ocupavam eram: uma mulher com cabelo castanho praticamente raspado, ela usava uma regata verde, dando bastante destaque aos seus músculos, calças camufladas e botas. Em outra cadeira estava um homem, vestido idêntico a um cowboy, desde a bota com esporas até o seu chapéu, o mesmo carregava um par de revólveres na cintura e seu rosto tinha algumas rugas e uma barba bem embaraçada, lhe dando um aspecto mal cuidado, por último era o próprio pai de Robert e Vitória, ele vestia um terno simples, preto e branco, tinha cabelos grisalhos penteados para trás e uma barba bem feita e arrumada.
Logo, Vitória e Robert vão até a mesa, finalmente ocupando as cadeiras restantes.
— Parece que finalmente podemos começar — disse a musculosa, impaciente — Já está tarde e isso vai bagunçar por completo minha rotina de treino.
— Nossa, sentimos muito por isso, Kate — retrucou Vitória, com um tom sarcástico — Se não está gostando pode até se retirar.
A musculosa pareceu se irritar e quando estava prestes a devolver a ofensa, Robert a impediu, roubando seu lugar de fala.
— Ok, mas pai, o que o senhor gostaria de discutir conosco?
Nesse momento todos voltaram sua atenção para William, esperando seu pronunciamento.
— Bom, como sabem, temos um cliente muito importante e influente no meio da política, o trabalho que estamos fazendo para ele talvez seja o maior que nossa família fez até hoje, ou seja, não podemos falhar de jeito nenhum — Todos presentes naquela mesa ficaram mais sérios e tensos, pois tinham noção da magnitude quê aquela operação era — Além de eu querer revisar algumas pontas soltas do nosso plano, quero enviar um esquadrão para a Capital, para lá começarem a preparar o terreno, pois acho que alguns moradores da cidade de baixo não vão cooperar. Como vai ser uma missão importante, quero que vocês trabalhem em conjunto para formar um esquadrão eficiente, mas que ainda seja pequeno, para não chamarem muita atenção. Estão de acordo?
Os membros naquela mesa se entreolharam, pensativos sobre aquela decisão, mas no fim, todos concordaram.
— Ótimo — Wiiliam se virou para o Cowboy. — Thomas, você vai ficar responsável por conseguir todo o equipamento, suprimento e transporte que o esquadrão precisará.
Thomas permaneceu em profundo silêncio, pois nesse momento sua fala não era necessária, então o mesmo apenas balançou sua cabeça positivamente.
— Ok, com isso só nos falta fazer uma revisão geral da nossa estratégia — Willian apoiou os ombros sobre a mesa e entrelaçou os dedos — Em pouco tempo daremos início a “Operação União”.