A Herança do Assassinato - Capítulo 18
Aquela notícia era chocante, principalmente para Dante, que tinha certeza de que Jack estava tramando algo e isso ficou ainda mais óbvio quando o inspetor de polícia subiu na plataforma, não estando algemado e nem acompanhado por algum guarda. Ele caminhava com a coluna ereta e com o peito levemente estufado, exalando uma grande confiança.
— Com a ajuda do nosso inspetor, Jack Lourenssai — deu continuidade o homem com o pergaminho —, conseguimos encontrar o assassino que vem atormentando nossa cidade por tanto tempo!!
Sentimentos alheios surgiram na multidão: felicidade, alívio, satisfação e diversos outros. Todos estavam contentes quanto à notícia de que o terror daquele assassino tinha chegado ao seu fim, exceto Dante. Se Jack não tivesse sido descoberto, tinha possibilidade de ele ser acusado, apenas para Jack ter o prazer de ver a vida do rapaz se esvaindo.
Não tinha como saber o que aquele homem pensava
Quando o garoto se virou para Louise, que estava ao seu lado direito, percebeu que ela não esboçava nenhuma expressão de felicidade, muito pelo contrário, se mostrava muito apreensiva. Ela suava bastante, as curvas em seu rosto estavam tensas e ela olhava fixamente para o palco à frente.
— Após diversas investigações, encontramos provas que incriminam, Jonathan Vicente, dos 5 homicídios que ocorreram nos últimos tempos! — O homem enrolou novamente seu pergaminho e se virou para um grupo de guardas que estavam ao lado do palco — Tragam-no culpado para até aqui!
Com isso um grupo de guardas começou a se mexer, e então, dois deles subiram, segurando um homem pelos braços, que não parecia nem um pouco contente com aquele ato, porém não mostrava nenhuma resistência. Ele era alto, o seu biotipo era bem forte, a sua pele era negra, o cabelo raspado na altura do couro capilar, seus pulsos eram algemados na parte de trás do corpo.
Ao subirem sobre a plataforma, os guardas colocaram Jhonatan de joelhos, em direção a plateia, que se enoja com a presença do réu . Vaias e insultos surgiram das pessoas, objetos como pedras e tomates começaram a ser lançados contra ele, porém o mesmo não esboçava reação.
Aquele que estava carregando o pergaminho, se aproxima de Jonathan, o encarando de cima e com um olhar de desprezo sobre o homem.
— Senhor Jhonatan, como você se sente, perante os crimes que cometeu? Arrependimento? Remorso? Ou talvez, prazer?
— Como eu me sinto? — Ele dá uma leve risada — Eu não sinto nada, pois eu não cometi nenhum desses crimes!!
A expressão do apresentador é mudado instantaneamente de desprezo para a raiva.
— Vejam!! — Ele se vira para a enorme multidão que estava assistindo — Além dos crimes que cometeu, ainda se atreve a debochar e mentir perante a nossa majestade!! Perante a vocês!!!
Mais insultos sairam da multidão, mas algo incomum aconteceu. Do meio das pessoas, surgiu um garoto, que corria em direção ao palco de madeira.
— Soltem o meu pai!! — gritou a criança — Ele não fez nada!!!
Ele deveria ter por volta de onze anos, só que mesmo assim os guardas não pegaram leve. No meio do caminho um dos vigias soltou um chute na direção do rosto do menino, que caiu de costas no chão, derramando lágrimas de dor e com sangue pingando de sua boca.
— Deixem o meu filho em paz!! — gritou Jonathan
O homem que antes não fazia um movimento que fosse, agora tentava avançar na direção daqueles que atacaram seu filho. Entretanto, os guardas próximos a ele não exitaram em o imobilizar, forçando seu peito contra o chão de madeira, impossibilitando qualquer movimento.
— Me larguem seus filhos da puta!! — Jhonatan se debatia com força, tentando se livrar dos guardas que o seguravam — Eu já disse isso uma vez!! Eu não sou esse assassino!!!!
O apresentador começava a dar algumas risadas.
— Você é tão ingênuo se acha vai se safar com mentiras tão descaradas — Ele estala seus dedos — Se você não é o assassino como explica essas coisas!!
Alguns cavaleiros jogam no chão diversas armas como machados, espadas, adagas e algumas outras.
— Com todas essas armas poderia cometer diversos assassinatos, mas não termina por aqui… — O apresentador tira de dentro de suas roupas uma máscara de raposa, idêntica a que Dante usa. — Essa é uma máscara igual ao que inspector Jack descreveu ter visto o Estripador usar, no dia que lutou contra ele. Como poderia me explicar isso?
Jhonatan mostrava estar tomado por sua fúria, enquanto o homem que apresentava suas “provas”, tinha um belo sorriso arrogante estampado em sua face.
— Eu sou um comerciante viajante, essa são apenas algumas das minhas mercadorias!! Eu nunca matei ninguém!! — tentava Jonathan explicar.
— Mentiras, mentiras, mentiras…
— EU NÃO ESTOU MENTINDO!!!
Mais uma vez Jhonatan tentou se soltar, porém os guardas fizeram mais força para manter a imobilização.
— Se é inocente, porque está tão irritado? Por acaso tem algo para esconder?
As pessoas davam continuidade às suas vaias, com exceção de duas pessoas. Dante, quando se virou para o lado, na direção de Louise, a viu olhando para baixo, com seus punhos cerrados. Ela aparentava estar bem abalada com aquela situação.
— O que você acha que devemos fazer, Vossa Majestade? — questiona o apresentador, se virando para o Rei e para a Rainha.
O homem coçou a sua barba longa e grisalha, mas não demorou para dar a sua resposta.
— Ele é culpado, deve ser executado.
A multidão vibrou de emoção com o anúncio, enquanto o filho de Jonathan se debatia entre os braços dos guardas.
— Eu já disse que sou inocente!! Vocês tem que me escutar!!!
— Levem ele logo.
Os cavaleiros levantaram Jhonatan a força, que tentava a todo custo se desvencilhar dos seus opressores.
Enquanto isso tudo acontecia, Jack, que até agora estava apenas observando a situação, lançou seu olhar em direção a multidão, mais especificamente em Dante. Os olhares de ambos pareciam se encontrar, durante aqueles instantes só havia eles dois ali, os extremos opostos se confrontando em silêncio. Então sem que ninguém além de Dante percebesse, um sorriso de excitação surgiu no rosto de Jack, como se ele estivesse saboreando cada segundo daquele evento.
Jhonatan foi levado até a forca, onde teve seu pescoço amarrado.
— Você tem direito às suas últimas palavras — informou o homem que estava prestes a puxar a alavanca ao lado da força.
Era difícil aceitar o fato de que sua vida estava prestes a chegar ao fim tão cedo, mas não tinha mais nada que Jhonathan pudesse fazer. Então ele se virou na direção de seu filho, com grandes quantidades de lágrimas caindo de seu rosto.
— Por favor… — Ele soluçava — Cuide da sua mãe.
Após o término da frase, a alavanca foi puxada e o chão que estava abaixo dos pés de Jonathan, se abriu, o que fez com que ficasse suspenso sobre o ar e então, ele caiu, parando só quando a corda fez força sobre o seu pescoço.
A multidão vibrou, o filho de Jonathan gritou por causa da dor que sentia no seu coração e Louise não suportou, saindo correndo para mais longe possível daquele lugar, empurrando as pessoas na sua frente. Dante viu isso e foi atrás da garota.
Ela correu muito, parando só quando se afastou bastante da multidão e do palco.
— Senhorita Louise… — falou Dante, enquanto se aproximava lentamente da garota — Você está bem?
— E-eu estou sim… — Sua voz dizia justamente o contrário.
Ela parecia soluçar e a frente de seus pés parecia ter algum líquido pingando, eram lágrimas.
— Olha, se você está triste sobre aquilo, não tem porque ficar tão triste, ele era um assassino.
Dante não estava apenas mentindo para Louise, mas para si mesmo. Ele sabia que Jack era o assassino, mas mesmo assim ele não fez absolutamente nada para tentar impedir a morte daquele homem inocente.
— Esse é o problema, ele não era o assassino — disse Louise — Eu lutei contra ele, seu cabelo, corpo e cor de pele… era tudo diferente!!
— Mas não tinha o que você fazer, o Rei tinha decidido que ele ia ser executado, se você tentasse alguma coisa, seria morta junto dele.
— “EU NÃO PODERIA TER FEITO NADA”?! É ISSO QUE VOCÊ ESTÁ QUERENDO DIZER DANTE?!?!
Louise se virou bruscamente na direção de Dante. Seu rosto não parecia conseguir esboçar toda a tristeza que ela sentia naquele momento. Os seus olhos esmeraldas agora estavam inundados por lágrimas, sua voz carregava uma dor incompreensível durante os gritos.
— Eu sou uma cavaleira!! Meu dever é proteger os inocentes e se eu não posso nem fazer, eu não mereço viver!!
Dante não entendia. Aquela pessoa era um completo estranho para Louise, mas mesmo assim ela derramava rios de lágrimas por sua morte, mesmo que aquilo não tivesse praticamente nenhum envolvimento direto com sua vida.
— Senhorita Louise, eu acredito que você esteja errada — disse Dante — Só o fato de você estar tão triste pela morte de alguém que você mal conhecia, mostra o tamanho de sua empatia quanto as outras pessoas.
Uma brisa soprou pela cidade, com isso os cabelos de Dante e Louise balançaram. Por alguns instantes, menos que tenha sido por um período bem curto, a dor no coração de Louise tinha sido apagada.
— Isso lhe torna uma cavaleira incrível.
Era suave, mas quando disse isso, a voz de Dante não parecia morta igual a antes, no fundo era possível perceber a carga emocional que o garoto tentava transportar através daquelas palavras.
As palavras pareciam ter a atingido de forma profunda, fazendo a garota ficar atônita enquanto olhava para os olhos azuis e densos de Dante, logo então ela voltou a chorar, só que desta vez não correu, mas andou na direção de Dante, onde ela encostou a cabeça sobre o peito do rapaz.
Aquele ato k surpreendeu, que nunca tinha passado por uma situação como aquela, onde uma pessoa precisava do seu consolo. Então ele fez o que julgou apropriado para uma situação como essa e apenas guiou sua mão livre na direção da garota, a passando sobre a cabeça de Louise.