A Herança do Assassinato - Capítulo 17
Talvez o destino não goste muito de Dante. o que o faz pensar dessa maneira, foram os simples fatos de que ele cresceu em uma família de assassinos, teve seus amigos friamente mortos pelo seu pai, Robert, foi torturado ao discordar da ideologia de sua família e agora está preso em uma cidade onde todos acreditam que ele seja um assassino em série. Apenas mais um dia na triste vida de Dante River.
Neste exato momento, ele tinha que caminhar pelas ruas, escondido dos guardas que procuravam ele a todo custo, com o objetivo de o levar até a forca.
Seu corpo inteiro doía, não só devido ao uso excessivo de mana, mas também por causa de seus ferimentos. O corte feito em suas costas por Jack ardia como fogo, as queimaduras causadas por Louise também se mostravam algo problemático, que quando seu sangue esfriou, se tornaram mais evidentes.
Se esconder era uma tarefa muito difícil, mas graças às habilidades de Dante, ele conseguiu atravessar a cidade sem ser notado e encontrar uma estalagem, a qual ele se hospedou e subiu para o quarto, para então, quando chegasse lá, despencasse com todo o seu corpo em direção ao chão.
Cada célula de seu corpo parecia estar pesando o mesmo que saco de pedra e considerando que o corpo humano tem trilhões de células, pode-se dizer que é um peso considerável. Apesar de toda essa fadiga, Dante não podia parar agora, tinha que tratar seus ferimentos para não ter risco de infecção.
Forçou seu corpo a superar aquele cansaço e foi em direção ao banheiro compartilhado, onde se trancou, para começar o seu “tratamento”. Pegou alguns panos limpos, colocando nele água e sabão, para passar em suas feridas durante o seu banho e como resultado, os machucados queimavam como o próprio fogo.
Após algum tempo, Dante limpou as queimaduras — que por sorte eram apenas de primeiro e segundo grau — e o corte em suas costas. Então ele pegou algumas poucas ataduras que tinha encontrado nos armários e as enrolou em algumas partes de seu corpo. Por fim, seu tratamento improvisado estava concluído, ele ainda sentia uma dor intensa, mas não tinha mais o que pudesse fazer.
— Mas que merda — diz Dante, encarando o seu reflexo no espelho — Você só tinha que passar despercebido, agora cada pessoa desta cidade está querendo a sua cabeça.
Agora toda essa confusão já estava feita e não tinha como ser alterada, sua única opção era esperar que a situação se acalmasse, para que pudesse dar continuidade a sua viagem até a Capital.
Dante então vestiu as suas roupas e começou a secar o cabelo. Após isso, saiu do banheiro e voltou para o quarto, onde se jogou na direção da cama, que graças a sua fadiga, fazia aquele colchão duro ser tão macio quanto uma nuvem, mas apesar disso, não caiu no sono tão rapidamente.
A imagem do rosto de Jack nesse momento estava estampada na sua mente. Aquele homem era louco e como consequência disso, ele era completamente imprevisível. Não dava para saber qual seria seu próximo passo, ele poderia invadir seu quarto e cortar o pescoço de Dante enquanto dorme, ou simplesmente iria ficar escondido observando o caos que causou.
Aquilo assustava Dante.
— Isso é medo? — murmurou enquanto encarava o teto mal iluminado — A quanto tempo não sinto isso?
O quarto de Dante era escuro, pois sua única fonte de luz no momento era um lampião, que ficava sobre o criado mudo, ao lado da cama do rapaz.
Dante não conseguiu se manter acordado por muito tempo, mesmo com aquela inquietação. Seu corpo e mente estavam completamente exaustos devido aos grandes esforços que tiveram que fazer hoje. Logo as pálpebras do garoto se abaixaram e o mesmo caiu em seu sono profundo.
Os dias então foram se passando. Dante tentava se manter com o máximo de cautela possível quanto às suas ações, pois a qualquer momento um guarda poderia suspeitar dele e decidir que seria uma boa ideia o prender. Além disso, tinha outro problema: o dinheiro. Dante não imaginaria que iria ficar tanto tempo preso em uma cidade.
Seu plano era quando chegasse na Capital, arranjar algum emprego, mas agora ele não estava recebendo nem uma Aura que fosse.
Por sorte ele juntou bastante dinheiro nos últimos seis anos e graças ao seu bom senso, ainda consegue se sustentar por bastante tempo.
Então, durante uma certa manhã, Dante tinha decidido sair para comprar um pouco de comida. Portanto, o mesmo saiu de sua estalagem a procura de algum comércio aberto e felizmente os encontrou, eram poucos devido ao estado de medo da cidade, mas o suficiente para ele.
Ele decidiu comprar algumas frutas e água, apenas o básico, já que não pretendia ficar muito mais tempo na cidade. A primeira oportunidade de fuga que ele enxergasse, iria a aproveitar.
Foi neste instante que sua linha de raciocínio foi cortada. Quando ia em direção à próxima prateleira de frutas, estava desatento e acabou por esbarrar em uma pessoa, o fazendo derrubar a sacola que carregava suas compras.
— Me desculpe — diz Dante, se recuperando do impacto —, eu não estava prestando atenção.
— Não, eu que tenho que lhe pedir desculpas! — responde uma voz feminina, com um tom de preocupação.
Por alguma razão, Dante sentia uma certa familiaridade naquela voz e foi quando ele viu a quem pertencia, possibilitando um entendimento imediato.
Aqueles olhos esmeraldas e cabelos loiros eram impossíveis de confundir. A pessoa a qual Dante tinha acabado de esbarrar era Louise, a mesma mulher que tinha tentado lhe matar algumas noites atrás.
Diferente daquela noite, ela não estava trajando sua armadura dourada e nem carregava uma espada, nesse momento estava vestindo um simples blazer azul-escuro, uma camisa branca por baixo, uma saia presa e uma par de sapatilhas, que eram acompanhadas por meias-calças.
— Meu Deus!! Eu acabei derrubando todas as suas compras!! — dizia ela, em um tom de medo, como se tivesse acabado de cometer um crime — Me desculpa mesmo, moço!! Eu não tinha intenção!!
De imediato ela se abaixa e com uma grande agilidade, começa a recolher tudo que tinha sido derrubado. Dante por sua vez, ficou estagnado alguns segundos, este encontro repentino com Louise era algo que ele não esperava e o pegou completamente de surpresa, principalmente por esse encontro ter sido com alguém que tentando o matar, mas independente disso, ele precisou se acalmar e ajudou a menina a recolher as coisas.
Após isso, ambos se levantaram, mas Louise parecia bem envergonhada.
— Olha, — disse Dante — não precisa se preocupar, eu tenho parte da culpa nesse acontecimento.
— Mas pode ser que alguma coisa que você tenha comprado com o seu dinheiro e esforço, tenha quebrado.
— Tecnicamente, eu não comprei nada ainda, isso pertence ao mercado.
— Mesmo assim!! Eu podia ter prejudicado o dono deste estabelecimento!
Os olhos verdes de Louise brilhavam como verdadeiras joias. Era nítido a sinceridade em cada palavra que saía de sua boca, aquela garota realmente se preocupava com aqueles ao seu redor.
— Ok, então vamos ap…
A fala de Dante foi subitamente cortada por Louise.
— Já sei!! — exclamou a garota com empolgação — Para me redimir vou pagar pelas suas compras!!
Isso já estava ficando um pouco estranho, essa garota, ou gosta muito de ajudar os outros — muito mesmo —, ou ela tem sérios problemas em lidar com o sentimento de culpa.
— Hã? — Dante não tinha ideia de como reagir àquilo — Não. Não preci…
— Não irei aceitar “não” como resposta — ela o interrompe mais uma vez, enquanto apontava o dedo em seu rosto e com um expressão de repreensão em seu rosto, como se Dante tivesse feito algo de errado — Eu vou pagar e ponto final!!
Essa era uma situação um tanto quanto “peculiar”, nunca imaginaria que alguém brigaria com ele para pagar algo, e muito menos que essa pessoa seria alguém que tentou tirar a sua vida(mesmo que ela não saiba).
— E-está tudo bem… — concordou Dante, meio exitante.
A expressão, antes fechada de Louise, foi rapidamente substituída por um largo sorriso de que iria de orelha a orelha. A dupla então caminhou até o caixa, onde a loira pagou pelas compras de Dante e logo após saíram da loja, onde perceberam um detalhe diferente: as ruas estavam mais movimentadas.
— As pessoas não parecem mais tão assustadas — observou Dante.
— Acho que é devido aos esforços dos cavaleiros e guardas da cidade para pegar o estripador.
De repente ela abaixou sua cabeça, encarando o chão, como se tivesse se lembrado de algo que a deixou bem abatida, mas não durou muito tempo. Logo ela voltou a olhar para Dante, com um sorriso estampado na face, enquanto o garoto mantém sua expressão séria, sem demonstrar os seus sentimentos.
— É mesmo eu nem apresentei — se lembrou a garota, enquanto se virava para Dante — Eu me chamo Louise, é um grande prazer conhecer você.
A garota estende a sua mão para Dante, que fica relutante em comprimentar, mas no fim aceitou.
— Meu nome é Dante, é um prazer, Senhorita Louise.
— Dante… Esse é um nome muito bonito!!
Mais uma vez o garoto foi pego de surpresa e sem perceber, suas bochechas ficaram vermelhas de vergonha.
— Obrigado…
Após a breve troca de palavras entre aqueles dois, pessoas na rua começaram a correr, porém não estavam fugindo de algo, elas pareciam ansiosas, como se corressem para ver um show que estivesse prestes a começar. Um cidadão passou por Dante, junto de um amigo, e foi em uma das suas falas que tudo tinha ficado claro.
— É sério?! Descobriram mesmo a identidade do Estripador?!
Ao ouvir aquilo, o corpo de Dante pareceu se congelar, por mais que não fosse o assassino, no momento o seu alter-ego, Fox, era o principal suspeito, graças a manipulação de Jack. Será que eles realmente descobriram? Não podia ser, Dante tinha tomado todo cuidado possível para não levantar nenhuma suspeita, mas Jack era ardiloso, poderia ter feito algo para guiar os guardas até ele.
O mundo ao seu redor pareceu começar a balançar, seu corpo não conseguia manter o equilíbrio, uma sensação nauseante tomou conta dele, os sons ao seu redor pareciam estar abafados, como se usasse tampões de ouvido. Ao longe conseguia escutar um som, como se alguém o chamasse, enfim seu transe foi quebrado com o balançar de seu ombro.
A primeira coisa que viu ao sair daquela crise de pânico, foi Louise o encarando com uma expressão de preocupação.
— Você está bem, Dante? Parece estar meio pálido.
— Não.. não é nada…
Não muito longe de onde eles estavam, uma grande quantidade de pessoas começou a se aglomerar no meio da praça.
— O que é aquilo? — questiona Dante.
A dupla então caminha em direção a aquele tumulto e com bastante dificuldade, atravessaram no meio das pessoas, até que conseguissem ver o que estava acontecendo e quando conseguiram, foi uma surpresa nem um pouco agradável.
Havia construído na praça, uma grande plataforma de madeira. Acima dela estava um homem, vestindo roupas longas e chiques, também segurava o que parecia ser uma espécie de pergaminho, porém toda atenção era voltada para a presença de duas pessoas sentadas em dois grandes tronos: o rei e a rainha.
Seus acentos eram grandes, muito bem acolchoados e com diversos detalhes dourados que pareciam ser feitos de ouro. Ambos vestiam mantos vermelhos e em suas cabeças estavam suas brilhantes coroas, eles deveriam estar na casa de seus sessenta anos cada um.
Com tudo, não era apenas isso. Por mais que a presença da realeza era algo muito raro, os plebeus quase nunca tinham visto as suas majestades, o que realmente chocou os cidadãos era a forca.
O homem com pergaminho levantou sua mão, em um pedido de silêncio e pouco a pouco as falas iam diminuindo, até que só restou os sons da respiração do público, deixando todos ao redor curiosos. Vendo isso, o homem abriu o seu pergaminho.
— Venho aqui hoje, através desse comunicado, junto de nossas majestades, anunciar a execução do assassino que tem atormentando nossa humildade cidade!! O Estripador!!!!