A Herança do Assassinato - Capítulo 15
Como aquilo podia ser possível? Como aquele homem sabia quem ele era por debaixo da máscara?
Os batimentos cardíacos de Dante ficaram mais rápido, ao mesmo tempo que ele buscando em suas memórias, algo que revelasse a identidade daquele sujeito, mas isso não foi preciso, pois o próprio mostrou quem realmente era.
Lentamente ele levantou a cabeça e o brilho vermelho de seus olhos ficou à mostra, junto do restante do seu rosto.
— Jack… — murmurou Dante.
O inspetor de polícia do reino estava bem a sua frente, se exibindo com sua postura e roupas muito elegantes, mas em contraste, uma vontade assassina muito forte emanava do seu corpo, semelhante à de um fera, perante a sua presa.
— Já faz muito tempo, Dante — disse Jack, enquanto embainhou sua rapieira no que parecia ser o corpo de sua bengala — Eu entendo que não se lembra de mim, era apenas um bebê quando seus pais nos apresentaram.
— Espera!! — Uma expressão de surpresa surge no rosto de Dante — Você conhece a minha família?!
O assassino deu algumas risadas.
— Bom, podemos dizer que eu e seu pai éramos sócios, mas infelizmente a ideologia dos River não combinava com meus métodos e acabamos por nos separar — ele suspirou — De fato, uma lástima.
Jack levou o seu olhar até Dante.
— Eu fico imaginando qual será a cara que o Robert irá fazer quando encontrar a cabeça do próprio filho rolando pelo chão
A respiração de Jack começa a ficar ofegante e seu rosto ganha um tom avermelhado, como se apenas imaginar aquela cena mórbida o deixasse excitado.
— Será que vai ser tristeza? Angústia?! Arrependimento?! Raiva?! — Jack mode o seu polegar – São tantas possibilidades!!
Aquela era uma cena completamente asquerosa. Desde a expressão de Jack, seus olhos, até sua voz, tudo isso exibia todo o êxtase que estava sentindo no momento, apenas pelo fato de imaginar os resultados do seu assassinato.
— Você é louco — disse Dante, ao mesmo tempo que armava sua defesa.
— Eu sei disso!!
Jack parecia feliz ao ser chamado daquele jeito, como se aquilo fosse alguma espécie de elogio para ele.
— A minha mãe me disse exatamente a mesma coisa!
Dante já não aguentava mais ouvir uma palavra que saia da boca de Jack. Apenas pelas suas falas, o garoto já sabia que aquele assassino não pretendia deixar ele sair vivo dali.
Logo, Dante não perdeu mais tempo ouvindo tudo que aquele homem tinha a dizer e as sombras começaram a se espalhar pelo seu corpo, para então avançar na direção de seu inimigo em altíssima velocidade, tentando enfiar a lâmina no peito de Jack, mas o homem era astuto. Em um rápido movimento, o assassino deu um passo para o lado e se esquivou com facilidade do ataque.
— Vamos Dante, você é muito melhor que isso.
O estripador conseguiu sacar muito rapidamente uma adaga de seu cinto e executou um corte contra Dante, que se virou e por pouco conseguiu defender o golpe com sua espada, só que logo em seguida é surpreendido com o som de uma arma sendo praparada atrás de si. Olhando para sua traseira de canto de olho, percebeu que Jack estava atrás dele, apontando uma pistola para sua nuca.
“Como?” pensou Dante, porém ele não tinha tempo o suficiente para achar essa resposta. O jovem concentrou o máximo de mana que conseguiu em suas pernas e deu um veloz salto para o lado, instantes antes da arma efetuar o disparo, conseguindo escapar do projétil.
— Parece que o Robert treinou bem você, porém… — Os olhos de Jack cruzaram com os de Dante — O seu estilo de combate é bem diferente do que os Rivers usam.
— Tô querendo quebrar algumas tradições.
— Então me mostre do que esse seu novo estilo é capaz!
Dante estava muito confuso naquele momento. Como Jack apareceu atrás dele tão rapidamente? Era quase como se ele tivesse se teleportado, porém no instante que ele ouviu a arma, Jack ainda estava a sua frente. O que tinha acontecido?
Por baixo da máscara, Dante respirava ofegantemente, ele não tinha tempo para ficar pensando nisso, tinha que se focar no combate.
Jack vendo que sua arma estava descarregada, jogou ela fora e sacou sua rapieira, nesse momento Dante percebeu que a adaga não estava mais em suas mãos. Em que momento ele tinha a jogado fora?
— Se você não vai atacar, então eu vou!!
Aproveitando da breve distração do garoto, o estripador avançou contra ele, desferindo um corte diagonal de baixo para cima na direção do rapaz, que por reflexo, dá um passo para trás, fazendo com que o golpe acertasse apenas o seu manto. Após isso, ambos começam a trocar uma sequência de defesas e contra-ataques extremamente velozes.
Em determinado momento da disputa, Jack tenta acertar um golpe vertical em Dante, porém instantes antes da lâmina conseguir o acertar, o garoto se mescla com as sombras, desaparecendo e surgindo das trevas atrás do ruivo.
— Xeque-mate.
Dante segurou o cabo da sua katana com força e o enfiou nas costas de Jack, fazendo a lâmina sair pelo seu peito.
O sangue começava a jorrar, tanto pela ferida, quanto pela boca de Jack, fazendo com que os paralepipedos ficassem manchados pela cor vermelha.
— Eu sinceramente preferia não ter esse combate — disse Dante —, mas você não me deu outra opção.
— Parabéns, você me surpreendeu… — A voz de Jack parecia afogada no sangue.
Com aquele ataque, Dante acreditava que tinha vencido o duelo. Ele não poderia estar mais enganado.
Em uma cena de dar calafrios em qualquer um, a cabeça de Jack gira para trás, podendo se ouvir o som dos ossos se quebrando ao fazer essa ação, para então poder exibir um grande sorriso medonho manchado pelo seu próprio sangue. O estômago de Dante se revirou por completo ao presenciar uma cena como aquela.
— O que é você?
— Por que está tão surpreso? — Jack abria ainda mais o seu sorriso — Por algum acaso pensou que isso seria o suficiente para acabar comigo? Que bobinho.
A sensação de perigo mais uma vez toma conta do corpo de Dante, fazendo o garoto, por instinto, dar um grande salto para trás, retirando a espada do corpo de Jack.
A cabeça de Jack então volta para a posição normal e após isso o mesmo se vira, revelando que os golpes anteriores tinham sido completamente em vão, pois o mesmo não carregava nenhum ferimento que fosse. Isso quebrou o espírito do jovem, será que aquele homem era imortal? Não, não era possível, deveria ter algum truque.
Dante nem sequer teve tempo para processar o que estava acontecendo, quando Jack avançou mais uma vez na sua direção, mas ao invés de o golpear o seu oponente, arrancou o seu sobretudo e lançou contra Dante, cobrindo seu campo de visão. O garoto instintivamente, golpeou o pedaço de roupa e tentou acertar Jack no processo, mas não foi isso que aconteceu.
Ao cortar o tecido, percebeu que Jack havia desaparecido e não era apenas isso, o beco que eles estavam, agora era diferente. Ele parecia mais obscuro e sujo do que antes, como se as paredes fossem feitas de tijolos negros.
— HA, HA, HA, HA!!!
As risadas de Jack ecoavam pelos becos, como se estivesse em uma enorme caverna.
Dante olhava para os lados, à procura de seu inimigo. Ele tentava se guiar por sua voz, porém de nada adiantava, o garoto não o via em lugar nenhum. Até que foi surpreendido, com aguda dor surgindo em suas costas, assim percebendo que tinha acabado de sofrer um corte.
— AARRHH!! — gritou Dante
Apesar da oportunidade perfeita, o corte parecia ter sido apenas superficial. Ao que tudo indicava, Jack gostaria de torturar Dante antes de o executar. O garoto não gostou nem um pouco dessa ideia.
— Vamos Dantezinho! Corra!! Não vai ter graça se for tão fácil!!
Jogar este jogo doentio era o que Dante menos queria naquele momento, porém não tinha escolha, se ficasse ali parado que nem uma estátua seria um alvo fácil, logo a melhor opção era correr e encontrar alguma forma de combater Jack.
Assim o fez, Dante potencializou as suas pernas com mana e deu início a uma intensa corrida.
Vamos Dante, PENSE!! — gritava Dante, dentro de sua própria mente — Deve ter alguma forma de contra-atacar essa magia dele.
Enquanto corria, percebeu algo estranho: ele já estava se movendo a um bom tempo e mesmo com mana concentrado em suas pernas, ele não chegava a saída daquele beco. Uma grande escuridão cobria parte de sua visão, o permitindo só ver alguns poucos metros à sua frente.
Então do meio das sombras, um pequeno brilho surgiu, mas infelizmente não era a saída, na verdade o a pequena luz voou na direção de Dante muito rapidamente. Por sorte, houve tempo o suficiente para que Dante conseguisse reagir, inclinando o seu rosto para lado e fazer aquele objeto pegar apenas de de raspão. quebrando um pedaço de sua máscara.
Durante aquele pequeno instante, uma ideia cruzou a mente de Dante. Por um pequeno momento, ele tinha conseguido visualizar o ataque, então talvez Jack só conseguisse se ocultar caso não fizesse movimentos bruscos. Então Dante teria apenas um pequeno período de tempo para o seu contra ataque.
Não era a condição mais favorável a ele, porém era melhor do que nada.
De uma forma brusca, Dante parou a sua corrida e assumiu uma posição de defesa.
— O que aconteceu? — Jack parecia estar decepcionado — Já desistiu de brincar comigo? Assim não tem graça!!
Dante começou a direcionar uma grande quantidade de sua mana para os olhos e ouvidos, desta forma melhorando muito as suas reações.
Um silêncio tenso se instalou pelo beco. Nenhum som ou movimento podia ser percebido, até que mais uma vez um fraco brilho surgiu à frente de Dante e logo em seguida, uma lâmina de uma rapiera surgiu em meio a escuridão, desferindo uma estocada contra Dante, mas desta vez ele estava preparado.
Dante misturou-se mais uma vez com as sombras ao seu redor e avançou contra o ataque, conseguindo se esquivar da lâmina que vinha em sua direção. Então segurou a katana com ambas as mãos e desferiu um golpe coberto por escuridão em pleno ar. Alguns segundos se passaram e um corpo partido ao meio caí sobre, era Jack.
— Você não me engana mais… — murmurou Dante.
Com uma agilidade tremenda, o rapaz se virou, ao mesmo tempo desferiu mais um golpe no ar, porém durante o trajeto, sua lâmina colidiu em algo e o som de metal colidindo ocorreu, junto de diversas faíscas que tinham surgido, iluminando brevemente a escuridão.
Sobre o chão caiu um pedaço da lâmina de uma rapieira, então Jack se revelou. Ele deu alguns passos para trás, sua expressão estava assustada, mas logo foi tomada por um sorriso.
— Isso é incrível!! — disse Jack — Você realmente conseguiu contra-atacar!!
Dante apontou a espada para aquele homem.
— Você é um usuário de mana do tipo “Mente”, você tem a habilidade de criar ilusões.
O corpo partido ao meio que estava caído ao chão aos poucos se transformou em pétalas de rosas e se dissiparam no ar.
— Você realmente tem as habilidades de um assassino.
— Vou considerar isso um insulto.
Jack dar algumas risadas, mas quando os sons de passos surgiram ao longe, ele apenas suspirou.
— Que queria poder brincar mais com você. No nosso próximo encontro eu vou lhe mostrar a verdadeira extensão de meus poderes.
A postura de Jack muda por completo de repente, ele sai da sua pose formal e arrogante, para de um homem cansado, que respirava ofegantemente, sangue começou a escorrer de lugares que nem sequer tinham sido tocados. Dante se mostrou um tanto confuso com aquilo, que só fez sentido quando diversas luzes surgiram ao longe nos becos. Diversos guardas surgiram aos poucos, carregando lampiões e ficando atrás de Jack.
— O que aconteceu, inspetor?! — perguntou um dos guardas, preocupado com o seu superior.
— Esse… Tomem cuidado!! — ele fingia ter dificuldade em falar devido ao cansaço — ESTE É O ESTRIPADOR!!!
Os guardas se assustaram por um breve momento, mas logo sacaram suas espadas.
Mas que merda!! — Pensava Dante — Esse filho da puta vai virar os guardas cidade contra mim!!!
Dante poderia jurar que viu Jack abrir um leve sorriso, enquanto os guardas avançavam cuidadosamente em direção ao garoto. Ele não tinha mais tempo para lidar com Jack, simplesmente se virou e se preparou para dar início a sua fuga, mas é impedido quando uma espada prateada é colocada contra seu peito.
— Não tão rápido, seu assassino!!!
Ter aquela lâmina colocada contra seu peito, teria surpreendido Dante, porém o que realmente lhe causou um choque foi ao ver o rosto de quem a empunhava.