A Herança do Assassinato - Capítulo 13
O brilho dourado do sol invadia o quarto de Dante na forma de um fino feixe de luz, que passava entre as cortinas da janela. Deitado sobre a cama estava o jovem garoto com longos cabelos negros, coberto por um fino edredon branco. Logo abaixo de seus olhos azuis se encontravam leves olheiras que se davam pelo fato do jovem não ter conseguido pregar seus olhos nem por um segundo que fosse, mesmo após a noite agitada que tinha sido aquela.
Já cansado de ficar deitado, Dante se levantou em movimento rápido e abriu as cortinas, fazendo com que uma enorme quantidade de luz batesse de uma só vez na face do garoto. Quando suas retinas enfim se acostumaram com a luminosidade, ele pôde ver a cidade de Leizi.
O horário deveria estar por volta das cinco da manhã, já que o sol estava terminando de surgir atrás das colinas.
Observando as ruas, já era possível encontrar algumas pessoas caminhando para abrir os seus comércios, porém o que chamava a sua atenção era a mancha vermelha que estava no chão de parepipedos. O corpo daqueles bandidos tinha sumido, muito provavelmente os cidadãos tenham os enterrado durante a noite.
Dante se espreguiçou e foi para o banheiro compartilhado tomar um banho, que por sorte estava vazio, então o rapaz pode ficar mais relaxado. Quando voltou para o seu quarto, se depara com um enorme manto preto e uma máscara de raposa pendurados em cabideiro, o que lhe despertou as memórias da luta na noite anterior.
— O que foi aquilo? — Dante colocou a mão no peito — Aquele vazio no meu coração?
O garoto caminhou até aquelas vestimentas e as encarou durante algum tempo. Ele sabia que devia jogar aquelas coisas fora, mas alguma coisa em sua cabeça lhe dizia que ele tinha que as levar.
Após algum tempo de indecisão, Dante pegou a máscara e o manto, os guardou em sua mochila, para só então sair da pousada.
Agora a rua já tinha mais algumas pessoas, essas as quais estavam bem agitadas, diversos cochichos e olhares desconfiados estavam espalhados por aí. Isso deveria ser por causa da luta que ocorreu na noite passada, entre Dante e aquele grupo de ladrões.
Não havia muito o que Dante podia fazer, só aquela intervenção já tinha sido algo muito ousado e que por sorte, não iria lhe causar mais problemas futuramente, só que de qualquer forma, ele tinha tirado vida de pessoas, aquilo não ia passar em branco. Esta cidade vai se lembrar por muito tempo do que aconteceu aqui.
Apesar disso, Dante não podia ficar naquele pequeno vilarejo, ele tinha que voltar para a sua jornada para a capital.
Assim o fez, dando continuidade a aquela caminhada que ainda iria durar bastante tempo até que o garoto chegasse ao seu destino final.
Até lá ele conseguia cruzar por diversos lugares diferentes. Em um determinado momento, quando estava atravessando uma enorme colina, pode se deparar com uma paisagem deslumbrante à sua frente. Poder ver esses lugares de perto era algo muito bom e reconfortante para Dante, que por mais que não percebesse na época, passou sua vida trancafiado em uma mansão, tendo algumas poucas liberdades.
Esse tipo de vista ele só tinha encontrado em livros, quando tinha que estudar Geografia. Agora estava presente neste lugar e era uma sensação completamente diferente das imagens, o ar fresco batendo no seu corpo, o cheiro da mata invadindo suas narinas, era uma coisa incrível, mas apesar dessa incrível maravilha, ele teve que dar continuidade a sua jornada.zvvqssqqssss
A caminhada era longa e cansativa, o terreno mudava constantemente, tendo diversas subidas e partes com acesso mais complexo, mas graças a todo o treinamento que Dante havia recebido, o mesmo conseguia fazer tudo isso com muito mais velocidade que uma pessoa normal.
Após diversas horas de viagem, o sol já estava no alto e deixando o ambiente com uma temperatura bastante s. Então, enquanto Dante caminhava por aquele calor, uma carroça pilotada por um casal de senhores de meia idade, para ao seu lado.
— Tá indo para onde, meu jovem? — perguntou o senhor que segurava as rédeas dos cavalos — Talvez possamos te dar uma carona.
Dante pensou durante alguns breves instantes antes de dar a sua resposta, ele estava relutante em aceitar a ajuda daquelas pessoas, mas acabou dizendo, pois não via nenhum problema em aquilo.
— Estou a caminho da Capital.
— Bom, não estamos indo diretamente para lá — informou o senhor —, porém a cidade para onde estamos fica no caminho.
— Suba na parte de trás da carroça, podemos te dar uma carona — falou a senhora que estava sentada junta.
— Tudo bem.
Dante caminhou para a parte traseira da carroça, onde subiu. Ao fazer Isso viu diversas caixas, que estavam cheias de legumes e frutas, o garoto então por um lugar que pudesse se acomodar para enfim se sentar.
— Por favor, não se incomode com a bagunça que está aí atrás — disse a senhora — É que eu e meu marido estamos indo vender alguns de nossos produtos na cidade de Ryos.
— Não se preocupe com isso, moça — responde Dante, educadamente —, vocês me ofereceram carona, não tenho nenhum direito de reclamar.
O senhor que guiava os cavalos, se vira para trás, olhando Dante. Ele era magro e franzino, tinha um cabelo branco, mas tinha um grande buraco de calvície no seu couro capilar. As suas mãos tinham diversos calos espalhados provavelmente deveria ser por causa do trabalho.
— Só por questão de curiosidade, garoto, você é um caçador ou algo do tipo? É que eu deduzi pelas suas vestimentas.
Dante ficou um bom tempo pensando no que iria responder. Dependendo do que o rapaz dissesse, poderia causar suspeitas naquele casal, o que podia lhe proporcionar alguns problemas, então ele devia tomar cuidado com as suas palavras.
— Eu sou apenas um andarilho, decidi viajar pelo continente para conhecer novos lugares e para ganhar dinheiro, faço alguns bicos nas cidades que eu passo.
Um tenso silêncio se instaurou naquele veículo, a única coisa que se ouvia era a roda batendo contra o chão.
— Mas que coisa magnífica!! — gritou a mulher, com muita animação — É ótimo que os jovens possam aproveitar toda essa energia que eles têm!!!
— Eu lembro quando eu tinha a sua ideia — disse o senhor, com um tom nostálgico na sua voz — Tentei ganhar a vida como caçador, não foi uma ideia muito boa — O senhor deu algumas risadas.
O clima tinha ficado muito tranquilo, o que proporcionou uma viagem leve e agradável. Ela durou algumas horas, até que finalmente chegaram ao seu destino. A sua frente tinha uma gigantesca muralha, que se ligava a duas paredes das montanhas e com um portão igualmente grande.
Quando chegaram na frente dos portões, os guardas que estavam fazendo a vigília, faziam sinal para pararem. Os guardas se aproximaram cautelosamente do veículo.
— Opa seu Fernando!! — disse um dos guardas, com animação — Tá indo vender umas verduras?!
— Sim!! — respondeu o idoso — Ganhar meu dinheirinho!!
— Ótimo, dá uma passada lá em casa, tamo precisando de uns tomates.
— É claro que passo lá.
O clima entre os dois era leve e divertido.
— Mas agora eu preciso falar sério com o senhor — A expressão do guarda se fechou imediatamente —, está ocorrendo diversos assassinatos na cidade, tomem muito cuidado.
— Sério?!
— Sim, é tão sério que chamaram alguns cavaleiros da capital para ajudar nas investigações — informou o guarda — Não fiquem nas ruas até tarde e tomem o máximo de cuidado que conseguirem.
— Vamos fazer isso.
Após aquela conversa, os portões da cidade se abrem e a carroça adentra na cidade. Ela tinha uma arquitetura muito interessante, os prédios eram bem altos e feitos de madeira e com uma pedra cinzenta muito clara. Em volta do reino tinha uma enorme muralha natural, que era formada pelas montanhas que estavam ao redor da metrópole. Ao longe, se via um castelo, construído em cima de uma das montanhas ala próximas.
A carroça então parou de andar e os seus três tripulantes descem da mesma.
— Muito obrigado pela carona, vocês adiantaram muito o caminho que eu teria que seguir — falou Dante.
— Está tudo bem, não precisa agradecer — disse a senhora.
— Boa sorte na sua viagem — desejou Fernando —, tomara que conheça lugares muito maneiros.
— Obrigado, também desejo sorte nas suas vendas.
Dante e o casal de senhores se separam, enquanto eles ficaram descarregando seus produtos, Dante foi embora a procura de um lugar que pudesse passar a noite. Durante a procura, notou algo estranho, as ruas estavam completamente vazias, os únicos que estavam andando por aí eram os guardas da cidade e os animais de rua, de resto, não havia ninguém. Nem mesmo os comércios estavam abertos.
Aquilo surpreendeu o rapaz. Mesmo o guarda avisando dos assassinatos que estavam acontecendo, não sabia que a população estava tão assustada.
Foi então quando um arrepio subiu pela espinha de de Dante. Seus instintos entraram em alerta, lhe avisando de que havia uma ameaça por perto. Em reação a isso, o garoto assumiu uma postura defensiva enquanto olhava para os lados, porém ninguém estava à vista, todas as janelas estavam fechadas e não tinha nenhuma pessoa escondida no beco.
Dante sentiu um suor gelado cruzar a sua pele, a sua espinha estava arrepiada, cada músculo do corpo do jovem estava em alerta máximo. Seu coração batia em um ritmo acelerado, Dante tentava combater a sensação de sufocamento respirando muito rapidamente, mas isso demonstrava ser inútil e fazia exatamente o oposto, fazendo com que o garoto só se sufocasse ainda mais.
Uma pressão assassina tinha sido colocada sobre Dante e ele não sabia de quem poderia ser, mas uma coisa era certa: essa pessoa não era alguém comum. Era necessário ser uma pessoa muito perigosa para fazer com que alguém como Dante, que havia sido treinado por uma família de assassinos, sentisse tanto medo como sentiu naquele momento.
Então, nesse momento de grande alerta, a atenção de Dante é quebrada com um alto som de madeira sendo quebrada. O garoto rapidamente se virou na direção do som, onde viu uma cena inesperada.
Um grupo de quatro guardas saía de dentro de uma das casas, a qual tinha sua porta arrombada. O quarteto carregava a força um homem, que apesar de ter grandes músculos, não conseguia se livrar de seus opressores. Na porta da casa estava uma mulher, ela parecia horrorizada com aquela situação, pois diversas rugas de desespero surgiram em sua face, enquanto chorava.
— Por favor, parem!!! — implorava a mulher — Por que levam o meu marido?!
— Ele é suspeito de ser o infame assassino em série que está atormentando essa cidade!! — disse um dos guardas.
O homem brigava contra os guardas.
— Eu não fiz nada!! EU SOU INOCENTE!!!
Durante as suas tentativas de sair daquela imobilização, um dos cabeleireiros desferiu uma coronhada com a sua espada, na cabeça do homem, que começou a sangrar imediatamente e aos poucos foi perdendo a sua consciência.
— Não resista!! — gritou o atacante — Ou será considerado uma ofensa direta ao rei de Ryos!!!
Agora com o seu prisioneiro incapacitado, os guardas o arrastaram e o jogaram na carrocinha. Sua esposa, no impulso, tentou impedir aquilo, mas foi segurada por um dos guardas, que a empurrou, fazendo-a cair no chão logo em seguida, onde ficou, chorando e berrando, enquanto seu marido era levado para longe.
Por mais horrível que tenha sido aquela cena, não tinha nada que Dante pudesse fazer. Se por algum acaso ele lutasse contra aqueles oficiais, se tornaria um foragido, o que faria ser procurado em cada reino que passasse, o que incluía a Capital. Então, Dante colocou o seu capuz, abaixou a cabeça e passou direto, voltando a sua busca de algum lugar para dormir.