A Criança do Lich - Capítulo 3
Capítulo 3: Respostas.
Gael piscou lentamente, seus olhos se ajustando à escuridão que o envolvia. Ele se encontrava em um quarto ao qual não conhecia, as paredes eram escuras como a noite, e a única fonte de luz era a aura avermelhada que emana de um livro que estava ao seu lado. Uma sensação de calma e estranha familiaridade preencheu o ambiente.
Se ergueu na cama e olhou em volta, percebendo que estava sozinho. O quarto estava vazio, apenas uma cama, uma estante com livros em uma parede e um criado mudo compunham o quarto. Mas algo no ar o fazia sentir como se não estivesse completamente só. O livro, o misterioso grimório, parecia chamá-lo, e Gael não pôde resistir à tentação de tocá-lo.
Com cautela, ele estendeu a mão e pegou o livro, sentindo uma vibração suave e reconfortante irradiando dele. As páginas pareciam antigas e desgastadas, cheias de runas e símbolos mágicos que ele não conseguia entender. Era como se o livro tivesse uma história própria, esperando para ser revelada.
A aura avermelhada que o rodeava se intensificou quando ele o abriu por curiosidade, e uma sensação de poder mágico o envolveu. Gael sentiu que algo dentro dele estava despertando, uma conexão com algo maior que ele mesmo.
Enquanto folheava as páginas, palavras e imagens começaram a surgir em sua mente, como se o livro estivesse compartilhando seus segredos diretamente com seu cérebro. Ainda que sem saber ler ou muito menos escrever, de algum modo tudo que estava no livro estava se tornando parte de seu conhecimento, mesmo que só fosse o básico daquilo tudo. Era uma sensação indescritível de descoberta, algo que o deixava em um misto de alegria e êxtase como a que qualquer criança tem ao descobri algo novo e impressionante.
Gael entendeu que sua vida estava prestes a mudar de maneira irrevogável. O sonho com sua mãe, o encontro com o visitante poderoso e agora está conexão com o grimório o colocaram no centro de algo muito maior do que jamais imaginaria.
— Vou seguir em frente, mãe. Irei realizar meus sonhos e desvendar esse mundo. — com o livro em mãos, sussurrou para si mesmo com uma determinação crescente.
Deslizou-se cuidadosamente para fora da cama e segurou o grimório com firmeza em sua mão pequena. Ele decidiu que iria explorar aquele lugar estranho e descobrir mais sobre o que está acontecendo consigo e com o livro que agora tinha como seu. Mas, à medida que seus pequenos pés tocaram o chão, ele sentiu uma presença sombria ao seu redor.
Quando deu o primeiro passo em direção à porta, ela se abriu lentamente e junto com a luz do corredor, revelou dois esqueletos, aqueles que Elfaren tinha designado para ficarem de guarda. Ambos bloqueavam o caminho para fora do quarto, seus ossos rangiam de forma ameaçadora, e seus olhos brilhavam com um brilho gélido.
— O-oi… Quem são vocês? — questionou o garoto com a voz trêmula.
Os esqueletos não responderam, apenas se mantiveram firmes, como sentinelas, impedindo qualquer tentativa de fuga que Gael pudesse tentar.
Enquanto isso, na sala de pesquisas onde Elfaren e Alvaeh estavam, sentiram assim que Gael pegou o grimório e ele reagiu com o garoto, o cercando com sua aura, como se estivesse respondendo ao toque dele.
“Interessante… o grimório está tentando se ligar com ele.” Pensou Elfaren com curiosidade enquanto se dirigia a porta da sala, queria ver pessoalmente os primeiros passos do menino em direção ao seu objetivo.
— Você acha que ele é capaz de desvendar os segredos contidos nele? — perguntou a drow intrigada, seguindo seu mestre.
Ao longe, em um lugar que nem mesmo os aventureiros mais corajosos e destemidos poderiam ir, uma sombra humanoide sentiu a faísca da conexão entre o garoto e o grimório que a muito conhecia, fazendo com que se desperte de seu descanso. Seus olhos se abriram e logo as imagens do que aconteciam com o menino, assistia a tudo como se estivesse lá.
A figura misteriosa apenas se arrumou em sua cama ficando sentada, colocando o braço direito sobre o queixo, permanecendo em silencioso, observava atentamente Gael e os esqueletos. Era impossível dizer suas intenções para com aquilo, mas com certeza aquilo a intrigava de uma maneira que a séculos não ficará.
De volta ao quarto de Gael, o menino encarava os esqueletos com certo espanto, mas sua curiosidade e determinação não desapareceram. Precisava descobrir o que estava acontecendo, tanto com o livro quanto com aqueles estranhos guardiões ósseos.
— Não irei desistir. Tenho que descobrir muitas coisas. — sussurrou para si mesmo.
Determinado a sair do quarto, mesmo que os esqueletos parecessem imbatíveis perante ele. Tentou diversas vezes se esgueirar entre eles ou correr em direção a porta, mas a cada tentativa, os esqueletos bloqueavam seu caminho com movimentos rápidos. O cansaço começou a tomar conta do menino, e sua frustração aumentava a cada tentativa fracassada. Cada batida do coração de Gael ecoava em seus ouvidos, um lembrete constante de sua impotência perante aqueles dois.
— Deixa eu sair! — dizia ofegante e frustrado.
Sua expressão passa claramente a frustração que sentia. Queria sair dali e descobrir logo o que acontecia, mas aqueles dois inimigos pareciam intransponível.
Enquanto Gael lutava com os esqueletos, uma voz fria e ecoante preencheu o quarto, fazendo com que o garoto congelasse no lugar. Era Elfaren, acompanhado por Alvaeh, a misteriosa drow. O garoto parou imediatamente ao vê-los, seus olhos cheios de desconfiança e medo.
— Não precisa temer, jovem Gael. Viemos aqui para explicar o que aconteceu com sua mãe. — a voz do lich carregava um tom de calma.
Gael olhou para o lich com incerteza, mas sua curiosidade ainda era maior do que seu medo ou incerteza. Ele baixou o grimório que segurava em sua mão, mantendo-o do seu lado.
— O que aconteceu com a minha mãe? — questionou com cautela e dando alguns passos para trás.
O ser imortal suspirou, se aproximou do menino e ajoelhou para que ficasse da mesma altura que ele.
—Sua mãe, Bryana, estava doente há muito tempo, Gael. Ela fez uma escolha corajosa que até mesmo eu fiquei surpreso, mas ela fez para garantir seu futuro. Ela me pediu para cuidar de você e prometi a ela que o faria. — a sinceridade que sai por entre os lábios esqueléticos era um baque grande para o garoto.
Olhou para o lich com lagrimas já se formando, lembrando-se das últimas palavras de sua mãe no sonho. A drow, se aproximou do menino com um sorriso amigável.
— Não precisa ter medo. Estamos aqui para ajudar a entender tudo isso. — a voz da drow transmitia gentileza.
Gael ouviu as palavras com cuidado, já que Elfaren continuou com sua explicação sobre o ocorrido com sua mãe de maneira que mostrasse o quanto Bryana parecia o amar. Mas sua mente estava repleta de dúvidas e preocupações. Como ele poderia confiar nesses estranhos? Sua mãe o ensinou a ser cauteloso, especialmente com desconhecidos.
— Gael, esse grimório que você segura é uma relíquia poderosa. Pertenceu a um mago que foi conhecido por todo o mundo, e ele deixou muitas magias e segredos dentro dele. Eu posso ensinar a decifrá-lo, e a controlar seus poderes. — a oferta do lich pegou o menino de surpresa.
Ainda estava desconfiado, mas a chance de aprender magia era no mínimo fascinante para ele. Olhou para o grimório e, em seguida, para o lich.
— Magia? Eu posso aprender magia?
O lich assentiu com sinceridade.
— Sim. Mas deve confiar em nós e seguir nossas instruções. A magia é uma responsabilidade, e você deve usá-la com sabedoria.
Estava diante de uma escolha que com certeza iria moldar seu futuro. Mesmo que ainda sentisse a perda da mãe, sabia que ela, em seu sonho de despedida queria que ele fosse capaz de feitos incríveis e aprender magia com um ser imortal talvez fosse algo do tipo. Com um olhar determinado, concordou.
— Eu vou aprender, vou confiar em você assim como minha mãe fez.
O lich e a drow trocaram olhares satisfeitos, enquanto Gael começava uma jornada que o levaria a explorar os segredos do grimório e descobri os segredos por de trás de um mundo cheio de magia inimagináveis. A conexão entre o garoto e o misterioso grimório de aura avermelhada, era apenas o começo de uma incrível jornada que será repleta de desafios, aprendizado e, talvez, a chance de desvendar os mistérios do mundo.
Continua…