A Ascensão do Imperador - Capítulo 6
Estavam os dois caçadores sentados no chão, eles eram cuidados por Lirie e por mais uma enfermeira. Kenjirou estava sentado ao longe em uma cadeira, ele pediu um pedaço de torta e estava comendo enquanto os dois eram tratados.
“Ainda bem que eu segurei na hora certa.”
Comendo seu pedaço de torta, ele olhou para os dois caçadores sendo tratados. Os ferimentos de ambos não eram preocupantes, mas requeriam um leve repouso, ainda mais John, que teve uma costela quebrada.
— Senhor, você não pode brigar assim. — dizia Lirie, enquanto enfaixava o punho direito dele, seu olhar demonstrava que ela ficou bastante preocupada.
— Não precisa se preocupar com isso Lirie, não sou mais uma criança. — respondia Akira.
Ken então desviou seu olhar para o relógio principal, ele marcava 14:25, faltava menos de duas horas para o estimado tempo limite. Ele só pensava no que poderia fazer.
— Tenho que falar algo. — interrompia Kenjirou, os dois no chão apenas assentiram.
— Lirie, obrigado pela ajuda, por favor vocês podem sair por um instante?
Sem dizer uma palavra, Lirie e a enfermeira saíram do salão principal, deixando apenas os três para conversarem.
— Desculpa, mas eu li a carta, e isso está muito na cara que é uma armadilha e você vai assim mesmo?
Os dois ao chão em uníssono suspiraram como resposta. O jovem então decidiu continuar.
— Então acredito que isso é um sim, terei que ir com vocês. O garoto entrou nisso por minha causa, eu o encontrei mais cedo pela manhã no distrito residencial quando estava vindo para cá, ele deve ter sido sequestrado após a gente se separar.
Akira virou sua face para Kenjirou e o encarou.
— Que conveniente, depois que você se separa, isso acontece. Você chegou na cidade tem apenas dois dias e tudo isso já aconteceu, acho que estava batendo na pessoa errada.
Akira desconfiava de Kenjirou, um estrangeiro que chegou na cidade. Ele não acreditava ser uma simples coincidência.
— Calma, Kira, deixe o garoto falar, confio nele.
Então, ele explicou aos dois caçadores o que aconteceu pela manhã. O momento que saiu da pousada e encontrou o irmão de Akira, Shun.
[…]
Era uma manhã com muitas nuvens, elas cobriam o raiar do sol deixando o dia nublado. Kenjirou estava caminhando comendo uma fruta parecida com uma nectarina, tirando o fato dela ser um pouco maior que o habitual. Ao lado dele tinha uma criança andando, era Shun.
Os dois caminhavam juntos sem nenhum motivo aparente, apenas estavam indo para o mesmo local. A Avenida Principal da cidade, mas teria que atravessar o Distrito Residencial.
— Vai continuar me seguindo? — perguntava Kenjirou enquanto comia sua fruta.
— Você que está me seguindo, seu otário. Quase levou mais um golpe, esse pessoal do interior fica perdido numa cidade grande mesmo.
Os dois tinham se encontrado novamente pelo acaso, o garoto ainda tinha a mesma roupa do dia anterior e com seu skate em mãos, suas roupas estavam mais sujas do que antes. O garoto tinha o salvado de um golpe de um vendedor, que estava inflacionando os preços.
— Eu já agradeci na hora, além disso, você xingou o velho completamente, se ele viesse atrás de você, eu deixaria. — dizia enquanto apontava para a criança — Essa sua boca suja vai te meter em problemas.
— Aquele gordo, velho, careca, sempre faz isso, por isso que você quase caiu.
Shun então deu uma mordida em uma maçã que estava carregando, Kenjirou observou e imaginou de onde teria vindo aquela fruta, que diferente da dele, não foi comprada.
“Esse garoto, acredita ser imune a tudo, devido ao irmão.”
Esse pensamento era a visão que ele tinha do garoto, um encrenqueiro com a blindagem sanguínea mais forte possível, o irmão mais velho forte e temperamental.
— Bem, vai ir ver seu irmão? — ele tentava mudar o assunto.
— Por que eu iria? Ele nunca vai em casa ou quer saber como eu estou. — dizia enquanto jogava o resto da maçã fora.
— Ele trabalha muito pelo que parece, tenta dar uma chance, se ele trabalha tanto é por um motivo.
Sem ao menos saber, Ken tocou em um assunto delicado, que apenas os mais próximos dos Kyles sabiam, a mãe deles, Karina Kyles, era uma mulher bastante respeitada pela cidade, mas estava doente, e seu quadro só se agravava a cada ano que se passava.
— Poções mágicas não existem, magia sim, ele acha que vai encontrar o remédio de nossa mãe se morrer de tanto trabalhar, aquele idiota. — o garoto esfregava seus olhos enquanto fungava.
Apesar do garoto aparentar ser imaturo e desordeiro, ele tinha um respeito pelo seu irmão, Kenjirou percebeu, ele só queria seu irmão mais presente.
— Se eu pudesse, poderia fazer qualquer coisa pela minha mãe, igual ao seu irmão. Tente ajudar ele.
O tom mais deprimido do jovem deixou Shun para baixo, que tentou animar as coisas, apenas para retirar esse clima triste.
— Vai me dar um sermão agora? Parece até meu pai. — retrucou a criança.
Ken deixou escapar risos, a reação imediata da criança era divertida. Ele começava a entender mais um pouco dos irmãos e como cada um se defendia.
Dando um tapa na cabeça de Shun, ele iria continuar com seu sermão, mesmo que fosse de brincadeira.
— Vai para casa, sua mãe deve estar preocupada. Você consegue ser mais idiota que eu, como se sente? — ele provocava, mas tentava repreender o garoto, num tom mais leve.
— Ai! Da próxima vez que você me bater, vou te denunciar, isso é agressão a criança.
Kenjirou se divertia com a situação, rindo a ponto de apertar sua barriga, a sua reação exagerada fez com que Shun comece a rir juntamente, os dois riam bastante alto, chamando a atenção de todos que passavam por lá. O clima triste entre os dois foi suavizado.
Coçando a cabeça, Shun apenas aceitava o fato de ser repreendido. Mesmo não gostando disso, ele no fundo, sabia que sua atitude era errada e que tinha que ver a sua mãe, que não visitava desde o dia anterior.
“Ela deve estar preocupada.”
— Eu não quero ser um idiota igual a você, vou ir ver minha mãe.
Os dois depois de alguns minutos de conversas chegaram próximos à Avenida Principal, aquilo significava que ele estava na metade do seu caminho, e Shun mais próximo de sua casa.
— Então a gente se separa aqui não é mesmo. — dizia o jovem.
Kenjirou então ficou de frente para Shun, cada um em um lado oposto da mesma rua. Aquela era a maior avenida da cidade, a mesma conectava a área central da cidade e a área residencial principal.
— Sim, eu vou para casa, seguir sua dica.
Então o garoto se virou e caminhou em direção oposta ao jovem, se distanciando a cada segundo. Quando ele estava prestes a continuar seu caminho, é subitamente chamado pelo garoto.
— Ken! — ele gritou bem alto.
Então ele virou seu rosto, Shun acenava com um grande sorriso estampado em seu rosto. A expressão suave e gentil de algum jeito confortou Kenjirou.
— Talvez mais tarde eu passe na guilda.
Apenas levantando seu dedão para cima, com um sinal de positivo, ambos dão um caloroso sorriso e voltam a seguir seus caminhos.
[…]
Após ouvir o que aconteceu, Akira estalou sua língua e levantou do chão.
— Vamos atacar é o único jeito, mesmo que seja uma armadilha.
Ele olhou para o relógio, já batia 14:30, o tempo corria contra eles.
— Eu tenho que fazer isso, pelo Shun, eu tinha que ter levado ele até em casa. — Kenjirou se levantou, acompanhado Akira.
— Não se culpe, nem a minha casa era um lugar seguro, eles sabem de tudo. — dizia Akira tentando acalmar o garoto, retirando um pouco da culpa que ele sentia.
John, se vestiu, cobrindo seu tórax enfaixado. Ele também se levantou.
— Vou mandar 2 caçadores de confiança para ficarem em sua casa. Eu tenho que ir num lugar antes disso, me encontrem no lugar marcado.
— No galpão, leste da cidade, eles deram o tempo limite de 16h. — Akira explanou o local para John.
John então saiu do salão principal, deixando apenas os dois.
— Você tem ideia de quem fez isso? — perguntou Kenjirou, ele pegou seu manto e vestiu
— Kaiser, aquele filho da puta, eu já disse para ele não mexer com minha família ou guilda, mas ele pisou no lugar errado, tenho que fazer uma visita a ele.
O líder então tirou sua gravata e colete e deixou sobre a mesa. Mesmo que disfarçasse, ele estava bastante furioso.
— Vai ser perigoso, não acha? — perguntava o jovem com um tom irônico.
— Claro, mas para nós três não vai ser tanto assim.
Com um sorriso de canto, ele caminhou em direção ao portão da guilda, seguido pelo líder, os dois foram em direção ao local marcado.