A Ascensão do Dragão Prateado - Vol. 2 Capítulo 127
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- Vol. 2 Capítulo 127 - A lua, a profetisa e o dragão
Algum tempo se passou desde a integração dos paladinos ao seu grupo, e Silver estava novamente sentado em seu trono enquanto lia os relatórios do progresso de cada área da cidade.
— Mitis é realmente algo… — O jovem murmurou.
Pelo que Astrid escreveu, a santa desenhou a imagem dele como um ser bondoso e espalhou isso para os paladinos sem restrição. E isso realmente funcionou com alguns deles, que começaram a pensar nele como um protetor dela e digno de respeito.
— Mesmo sendo malucos, eles são eficientes no trabalho.
O grupo ficou responsável por proteger tanto o hospital, quanto a cidade como um todo e graças a predisposição que tinham de serem idio… Bondosos, eles foram abraçados pela população.
Já sobre o hospital, o lugar funcionou tão bem quanto poderia.
A taxa de moradores sendo tratados era baixa. Possivelmente porque, após Silver assumir o lugar, eles não tinham mais que lutar por migalhas, enquanto os membros de sua ‘gangue’ realizavam diversas missões constantemente.
Perdido em seus pensamentos sobre o hospital e os paladinos, Silver foi subitamente arrancado de sua introspecção por um arrepio desconfortável
— Profetisa… — Observando a mulher que tinha os olhos vendados, e cabelos também prateados, ele murmurou.
‘Isso explica essa sensação estranha’
— Você ainda sente culpa por matá-los, bem como por não conseguir protegê-los… — Antes de qualquer um dos dois poder dizer algo, a mulher se pronunciou.
Olhando para o jovem, ela pôde ver a culpa que ele sentiu sendo consumida pelo sentimento de raiva e, no próximo instante, suas costas colidiram com uma parede.
— Essa posição é meio desconfortável… — ‘Encarando’ os olhos com pupilas dracônicas de Silver, a mulher comentou.
— Mesmo? Talvez esta coisa seja o problema. — A mão do jovem estava enrolada no pescoço da profetisa, porém ele não forçou seu aperto, apenas manteve o corpo dela suspenso.
Não importa o quão irritado estava, Silver pensou nas consequências que a morte prematura da mulher traria e nos inimigos que ele faria por isso.
— Oh, certo — disse a profetisa, baixando a bengala que estava apontada para o estômago do garoto. — Melhor agora.
A mulher sorriu para o jovem, assentindo em agradecimento.
— Então, por que você ainda se culpa? — Mesmo após anos sendo capaz de enxergar os sentimentos das pessoas, ela ainda não pôde entendê-los completamente.
— Eu não me culpo por nada!
— Certeza? Eu vi claramente que… — Suas palavras morreram em sua garganta quando ela ‘olhou’ novamente para ele. — Como você…?
Se voltando para Moon rapidamente, a mulher permaneceu com seu rosto apontando para a jovem por alguns bons momentos antes de sorrir.
— Acredito que você deve ser o cavaleiro de cabelos prateados da pequena lua ali. — Voltando a olhar para Silver, Féach comentou.
Ela havia julgado puramente pelos sentimentos da matriarca, afinal, o dragão prateado havia dado um jeito de esconder sua alma.
Esta foi a primeira vez que alguém escondeu a alma dela. Alguns já conseguiram ferir seu corpo físico quando espiou, mas ocultá-la não havia acontecido antes.
— Pode não ficar lendo minha mente? — Os braços da jovem se cruzaram em um ‘X’, enquanto ela recuava.
— Longe de mim fazer algo assim! — disse Féach, concluindo antes mesmo de Moon se sentir aliviada — Eu estou olhando sua alma, isso é diferente.
‘Ela diz com tanto orgulho…’
Os lábios da matriarca tremeram um pouco com a afirmação e, considerando o olhar estranho de Silver, ele sentiu o mesmo.
— Agora que está mais calmo, poderia me soltar? — Olhando nos olhos do garoto, ela perguntou.
— É isso que minha alma diz? — Sem soltá-la, o jovem devolveu com outra pergunta.
— Está fazendo uma pergunta retórica? Você não acabou de esconder sua alma de mim? — Levando uma sobrancelha debaixo da venda, a mulher perguntou. — Ah, então não foi conscientemente…?
— Do que você tá falando?! — questionou Silver, olhando para Moon que deu de ombros em resposta.
Enquanto a dupla trocava olhares confusos, Féach sussurrou algo que nenhum deles conseguiram escutar, por mais que estivessem próximos e seus sentidos fossem muito mais aguçados por serem [Contratantes].
— Pfhahaha, será que pode me soltar? — Rindo sozinha, a mulher pareceu muito mais relaxada.
Encarando-a por alguns momentos, o dragão prateado deixou ela ir com uma expressão confusa no rosto.
— A pequena rainha lua me trouxe aqui. — Apoiando a bengala em uma posição confortável, a profetisa apontou para a garota com sua mão restante.
‘Isso, me joga debaixo do ônibus, que ótima professora você hein…’
— Aquele convite para uma visita ainda está de pé, certo? — Um sorriso se formou no rosto de Moon, enquanto ela enrolava seu cabelo com o dedo.
— Com certeza. Eu só não esperava que você trouxesse outra pessoa. — Olhando para a mulher que parecia perdida em seu próprio mundo, o jovem comentou. — Aliás, onde você encontrou essa coisa?
— Ser chamada de coisa realmente me fere…
— Em uma das vielas na cidade do torneio. — Ignorando o comentário da sua professora, Moon explicou.
Não havia mistério nenhum em seu encontro, fora o fato dela ter procurado pela mulher através da cidade.
‘Será que graças às anomalias criadas por mim, Moon se tornou a nova “protagonista”?’
A possibilidade estava aí, embora fosse bastante difícil de realmente acontecer. Olhando para ele por alguns instantes, o jovem levou uma mão até o queixo.
‘Nah, isso não com certeza não aconteceu’
— Tudo bem perder seu tempo de treinamento com essa visita? — Chacoalhando levemente a cabeça, Silver perguntou.
— Se for para te ver, eu dou um jeito nisso mais tarde. — O sorriso de Moon se esticou, até ela registrar o que havia dito.
‘Boa Moon, bem sutil…’
Seu rosto tomou um tom vermelho profundo, mas ela tentou não parecer tão nervosa quanto estava.
Silver exibiu um sorriso caloroso ao ver a reação dela, deixando a jovem ainda mais envergonhada. A atmosfera se tornou bem mais calma com a interação entre a dupla, mas Féach não compartilhou o sentimento.
— Sr. Invisível, pode parar de flertar com minha aluna enquanto estou aqui? — A profetisa comentou ao lado. Ela estava em uma postura bem relaxada, apoiando um punho cerrado em seu queixo, assistindo a interação do duo.
‘Isso é amor adolescente?’
Desde o momento em que eles começaram a conversar, as emoções de Moon dispararam múltiplas vezes. Variou entre amor e felicidade, além de ter um tinge de culpa pela omissão anterior.
Sempre foi interessante para ela observar interações entre as pessoas, e desta vez não foi diferente.
— Será que não há nenhuma área de treinamento livre? Quero saber se você sabe apenas ficar invisível. — A mulher desafiou.
Silver apenas rolou os olhos para a tentativa de provocação, mas, de qualquer forma, ele decidiu entretê-la.
— Por aqui. — Caminhando na direção do corredor, o jovem não se incomodou em olhar para trás.
— Como está a situação depois daquela guerra? — perguntou Moon, acelerando um pouco seus passos para seguir o ritmo dele.
No caminho até aqui, ela percebeu que alguns prédios estavam em construção, porém os moradores pareciam muito mais felizes do que quando a garota veio pela primeira vez.
— Estão se acertando desde quando coloquei as coisas em ordem. — Sabendo que a matriarca atravessou as ruas da cidade para chegar até ele, o jovem não viu motivos para elaborar muito. — Você?
— Segui seus passos e também cortei as raízes podres. — Impor um reinado mais tirânico fez maravilhas em organizar seu clã. Se ela soubesse que funcionava tão bem, teria feito muito antes. — E Akame?
O pequeno coelho seria a primeira pessoa a dá-la boas vindas em todas suas visitas, porém Moon não a viu hoje.
— Procurando a ‘irmã’ dela. — Suspirando levemente, o jovem disse. Sinceramente, ele queria apoiá-la o quanto antes nesta busca, mas algumas coisas tinham que ser arranjadas antes disso. — Mas ela ainda não encontrou nada significante.
— Hmm… — Esfregando o queixo, a garota torceu os lábios — Poderia me passar uma descrição precisa dela? Vou ver se consigo puxar algumas cordas entre a nobreza.
Ela não foi a matriarca dos Amaterasu por anos para nada, Moon tinha contatos entre alguns nobres que a deviam favores e talvez poderiam ajudar nesta busca.
Por que ela se daria ao trabalho de fazer isso? Bem, Akame era como uma irmã mais nova, e a garota merecia ser feliz.
— Sim, assim que possível eu te passo os detalhes. — Silver não iria recusar a oferta sem nenhum motivo.
Antes da conversa continuar, o trio cortou para a direita no próximo cruzamento, encontrando com duas outras pessoas.
— Boss! Minha irmã disse que tinha uma mulher irritante passeando pelos corredores, será que você viu alguém? — Vidar perguntou, apontando brevemente com o queixo para a mulher ao seu lado.
A dupla tinha cabelos amarelos desbotados, utilizando jaquetas semelhantes de cor preta deslizando em um degradê amarelo. Enquanto o homem tinha um rosto tranquilo, as sobrancelhas de Astrid estavam fundas e seus olhos estavam presos na pessoa atrás dele.
— Não precisa perguntar seu idiota, ela tá logo ali. — A raiva escorregou facilmente no tom dela, não que ela estivesse realmente tentando esconder.
— Oh, é uma pequena serpente. Estranho que você use palavras tão rudes mesmo sendo tão bondosa no fundo. — Féach sorriu levemente, dando alguns toques com a bengala no chão, produzindo um som metálico.
— Viu? Ela nem consegue ver e fica balbuciando essas merdas. — Veias pulsaram nas têmporas da mulher e, ela apenas se segurou porque Silver estava ali.
‘A profetisa não tem o hábito de mentir sobre o que ela “vê”’
Pensando nisso, um sorriso surgiu no rosto de Silver e, ao que parece, Moon pensou o mesmo.
— Ei! Que sorriso nojento é esse no seu rosto? — A irritação da mulher aumentou graças à expressão da dupla, e seus punhos se cerraram com força.
— Nada. — Suas palavras não condiziam com sua feição. — Se quer brigar com ela, entra na fila. Estamos indo para a área de treinamento agora mesmo.
— Depois de você. — Dando espaço para ele passar, Astrid seguiu o grupo pelos corredores.
❂❂❂
‘Vai ser minha primeira vez vendo Féach lutar’
Durante os acontecimentos da novel, a profetisa fez apenas o papel de professora e nunca realmente lutou abertamente. Tudo que foi apresentado sobre sua força eram seus resultados em batalhas antigas.
— Como ela não te insultou? — Moon foi tirada de seus pensamentos pela voz de Astrid, que reclamou com seu irmão.
— Talvez porque eu não tenha insultado ela? — Vidar respondeu, levantando uma sobrancelha.
— Féach pode ser realmente excêntrica às vezes… — A matriarca comentou ao lado.
Deixando essas palavras, Moon olhou na direção da dupla. Silver estava ao seu lado esquerdo, segurando uma espada de madeira com a profetisa presente do lado oposto, segurando sua bengala relaxadamente.
Sob os pés da dupla havia um ringue improvisado, no qual não havia nada que pudesse ser usado fora a pura habilidade dos duelistas.
Em um instante, o dragão prateado desapareceu, e o que aconteceu a seguir pareceu um replay do conflito anterior.
A diferença foi que Féach bloqueou o golpe com sua bengala, dobrando os joelhos fazendo a lâmina do oponente deslizar para longe de seu corpo.
Um som metálico preencheu o ambiente enquanto a dupla trocava diversos golpes.
O rosto de Silver permaneceu calmo mesmo pensando que seus ataques não atingiram seu alvo. Pausando seu avanço, o jovem firmou sua postura, estocando na direção do estômago da mulher.
Estranhamente, Féach não se apressou em bloquear, posicionando sua bengala frente a si. Assim como ela esperava, a espada parou no meio, cortando para cima logo em seguida.
O objetivo do dragão prateado era desarmá-la e, embora não pudesse ver sua alma, ela poderia adivinhar suas intenções pela forma que ele atacou.
Abandonando o aperto em sua ‘arma’, a mulher assistiu enquanto o objeto girava como uma hélice diante de seus ‘olhos’.
O vento produzido pelo movimento escovou tanto os cabelos de Féach quanto os de Silver, mas mesmo o som de sopro em seus tímpanos não foi capaz de diminuir o ritmo da luta.
[Modo raposa Terceira forma – Dança das nove caudas]
Como o nome dissera, a batalha se tornou uma dança. Silver e Féach atravessaram o ringue improvisado trocando golpes com precisão e maestria. Se outras pessoas assistissem a esta luta, eles poderiam pensar que era coreografado.
A profetisa parecia ler a mente de seu oponente, desviando e redirecionando os golpes que vinham em sua direção. Enquanto isso, seus próprios ataques foram engolidos dentre a chuva de cortes desferidos por Silver.
‘Mesmo eu tenho que admitir… Isso é realmente bonito’
Pensou Astrid. Para ela e Vidar, lutas eram um meio de sobrevivência. Sem elegância ou diversão, mas pura violência e brutalidade.
Não que a serpente fosse dizer em voz alta mas, suas disputas contra Ai conseguiram tornar tal coisa mais interessante, porém isso ainda era longe de ser denominado belo. No entanto, o que se desenrolou à sua frente estava em outro nível.
Vidar também pareceu interessado na batalha, embora não tanto quanto Moon, que tinha os olhos completamente focados na disputa.
‘Me pergunto se ela piscou em algum momento…’
Indiferente aos pensamentos da plateia, a disputa continuou.
O ar assobiou na orelha de Féach enquanto a lâmina de seu oponente pelo rosto dela, sua bengala logo se moveu, desviando outros três golpes que visavam seu torso. O corpo da mulher se tencionou em preparação do próximo movimento, mas ele não veio tão cedo.
‘Esse pirralho…!’
Contrário ao seu pensamento, um sorriso dançou em seus lábios. Apoiando sua arma no ombro, ela saltou para receber o golpe.
A profetisa sobrevoou todo o caminho até a ponta do ringue, firmando seus pés no chão forçadamente. Oxigênio preencheu seus pulmões e seu braço se moveu por instinto, colocando a bengala na direção de Silver.
Esse movimento parou o avanço rápido do jovem, mas isso durou pouco tempo.
— Imaginei que você seria apenas mais um bruto Sr. Invisível, mas parece que tem um cérebro em algum lugar aí! — Rindo levemente, a mulher apoiou a bengala em seu ombro, bloqueando um golpe pesado antes de forçar a ponta do objeto na direção do estômago de Silver.
Dando alguns passos atrás, o dragão prateado evitou o ataque completamente, que igualou o sorriso presente no rosto da profetisa.
— Engraçado ouvir isso de uma cega que pode enxergar. — comentou Silver, dando alguns passos para o lado tranquilamente, enquanto Féach seguia para a direção oposta. — Vamos terminar logo, Astrid deve estar se coçando para ter sua vez.
— Terminando tão rápido? Não pensei que você fosse deste tipo. — Apoiando uma mão no centro da bengala enquanto a outra permanecia no topo, a mulher revelou uma lâmina escondida no objeto.
— Desculpa mas, meu tempo é valioso demais para gastar assim. — Silver devolveu com uma expressão desdenhosa.
Chamas prateadas cobriram a espada nas mãos do jovem, e seus olhos foram atravessados por suas pupilas que se tornaram fendas. Do outro lado, Féach baixou drasticamente sua postura, sem ‘olhar’ para o oponente.
E então o silêncio dominou a área.
Mesmo o trio que assistia a luta se mantiveram quietos, temendo que mesmo o som de sua respiração poderia interromper o duo.
Clack!
Um estalo atravessou o local e, em um piscar de olhos, ambos dispararam em uma velocidade vertiginosa. O ar foi expulso do ponto de colisão da dupla, criando um som dulo e pouco audível para aqueles menos sensíveis.
No centro do impacto, Féach e Silver tinham as lâminas cruzadas.
— Empate… — Sentindo o calor em seu pescoço, a profetisa disse, sem se mover da posição atual.
— Sim… — O jovem concordou com a lâmina fria da oponente descansando em sua garganta.
Sem mais palavras a dupla se separou e, enquanto Féach embainhou sua espada, a de Silver se tornou pó por não aguentar suas chamas.
‘Meu controle ainda não é perfeito’
Abrindo e fechando o punho onde a espada estava anteriormente, o jovem pensou brevemente antes de se mover na direção da plateia.
— Sua vez. — O dragão prateado disse, apontando para a profetisa que permaneceu no ringue.
— Heh, vou te ensinar como se faz. — Com um sorriso no rosto, Astrid marchou confiante.
Moon estava prestes a puxar assunto com o jovem, porém o som de uma leve vibração a impediu de continuar.
Retirando o [SC] de seu bolso, Silver atendeu a ligação sem pensar duas vezes. Um holograma surgiu, representando a imagem de um homem musculoso e aparentemente na meia idade, apresentando um corte militar e expressão irritada.
‘Pai? Que estranho’
O homem, diferente de sua mãe, não costumava fazer muitas ligações para ele, então o jovem se sentiu confuso pela situação.
[Filho, sua mãe está no hospital]
Sem se incomodar com cordialidades, o homem disse.
— O quê?!