A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 107
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- Vol.2 Capítulo 107 - Ligados pelo destino: A verdade sobre a família de Hibiki
— Você tem o que eu pedi? — Enquanto atravessavam os corredores da base, Silver perguntou para a jovem ao seu lado.
Como resposta, alguns documentos foram entregues em suas mãos e, com uma breve olhada neles, um suspiro escapou de seus lábios.
— Está como o esperado? — Inesperadamente, foi Hikari quem perguntou, fazendo o garoto levantar uma sobrancelha em dúvida.
‘Ela não olhou o documento antes de me entregar?’
— Infelizmente sim — Graças aos eventos recentes, ele deu muito mais importância para o conteúdo dos documentos que o normal.
‘Talvez eu tenha ficado mole’
— Preparado? — A kunoichi alternou seu olhar entre ele e a porta que se aproximava com uma fagulha de preocupação no fundo de seus olhos.
— Nem um pouco. — Não era exatamente possível se preparar para o que o jovem estava para fazer mas, no mínimo, ele tinha uma ideia rasa de como fazê-lo.
Deixando suas palavras soltas no ar, Silver atravessou a porta sem olhar para trás. Segundos depois, uma jovem de cabelos azuis saiu da sala saltitando alegremente.
— Oi, Riri! — Com o sorriso de sempre no rosto, Mitis se aproximou da kunoichi juntando as mãos atrás das costas.
Ignorando o apelido ridículo, Hikari assentiu em reconhecimento e cruzou os braços antes de falar:
— Traga o relatório do hospital até o fim do dia.
— Claro! — Batendo continência com um sorriso no rosto, a jovem partiu enquanto acenava entusiasticamente para Freud.
Finalmente se sentindo reconhecido, o jovem replicou o gesto mesmo sem conhecê-la e, após a saída da santa, um silêncio constrangedor tomou o corredor.
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O local era espaçoso, com paredes de pedra sólida que entregavam uma sensação mais rígida e tradicional. O piso foi coberto por tábuas de madeira, as quais tinham uma aparência bem ‘limpa’ considerando as reformas recentes que foram feitas.
No centro da sala havia algo semelhante a um ringue improvisado, criando uma superfície mais adequada para lutas e, nas paredes, alguns ganchos sustentaram diversas armas de madeira.
Sentado no coração da sala havia um jovem de cabelos cinza-escuro e olhos amarelos, rotacionando o braço direito como se estivesse testando seu funcionamento.
— Silver… — Os olhos amarelos de Hibiki cruzaram com os da pessoa em sua frente com sentimentos mistos pairando sobre eles.
Esses últimos tempos foram, sem exagero, os melhores de todas e tudo graças a Silver. Seu primeiro encontro partiu e um puro golpe de sorte, um que não teria acontecido caso ele tivesse virado o rosto para aquele grupo.
Sinceramente, o garoto não iria ajudá-los se eles não estivessem vestidos como pirralhos mimados.
‘No fim, eu acabei ganhando de uma forma ou de outra’
Hibiki planejava conseguir uma recompensa do grupo pela ajuda, algo que mudou imediatamente após ouvir o nome de Silver.
O dragão prateado ainda não era o dono de toda a cidade na época mas, já tinha notoriedade o suficiente para fazê-lo pensar duas vezes antes de irritá-lo.
‘Parando para pensar, por que ele me deixou ficar?’
Mesmo tendo tentado lançar a carta de criança penosa, ele sabia que nenhum deles havia comprado a sua atuação e foi por essa razão que a questão permaneceu em sua mente.
‘Bem, tanto faz. Não é como se fosse tão importante agora’
— Como anda o seu treinamento?
— Frutífero eu acho… Bem, isso se você desconsiderar o tempo que passei apanhando de Akame… — Um arrepio percorreu a espinha do garoto apenas pensando no assunto.
Mitis estava aqui por uma razão, e não era para dar um oi.
Colocando isso de lado, o garoto aceitou os papéis que Silver ofereceu enquanto lançava um olhar confuso para ele.
— Leia. — Foi toda a explicação que ele recebeu.
E Hibiki o fez. A algum tempo Hikari vem o ensinando sobre leitura, então não foi um problema para ele ler o conteúdo dos documentos.
Claro que algumas partes ficaram bastante confusas graças aos jargões técnicos usados nos textos mas, o garoto entendeu o essencial. Pelo que ele entendeu, as duas pessoas nas fotos estavam relacionadas a ele.
‘Mas e eu com isso?’
A única parte que Hibiki não entendeu era como isso era da sua conta.
— Como você pode ver, esses dois eram sua família… E ambos estão mortos. — Essas palavras deixaram uma expressão ainda mais confusa presa no rosto de Hibiki, mas ele não comentou.
— Seu pai foi assassinado pelas mãos da minha mestra. E seu tio pelas minhas.
Terry um antigo membro da staff do coliseu e o homem quem deu a Silver a moto que ele utiliza hoje, era o tio de Hibiki.
‘Ele era um homem bom…’
Um que escolheu vingar a morte de seu irmão e acabou tendo seu próprio fim pelas mãos de Silver. Isso quer dizer que ele se arrependia? Não, mas isso não o impedia de sentir remorso.
Pessoas muito piores já foram poupadas por ele no calor do momento.
‘É minha culpa pelo pirralho ter tido que vagar por essa cidade podre’
Se Terry ainda estivesse neste mundo, Hibiki com certeza não teria que passar por isso.
— Por isso vou te fazer uma oferta única… — As palavras de Silver se esticaram por algum tempo, criando um clima mais tenso — Dois ataques. Vou permitir que me ataque duas vezes sem revidar mas, após isso, é melhor se preparar.
O silêncio dominou o local por alguns longos minutos, com apenas a respiração da dupla evidenciando a presença de alguém na sala. A expressão do jovem mudou múltiplas vezes enquanto aguardava a resposta.
Com o clima ainda pesado, os lábios de Hibiki finalmente se partiram.
— Você é idiota?! — O garoto exclamou, pegando Silver de surpresa.
— Essa cara séria e todo esse suspense só para isso? Se sim, pode dar meia volta e cuidar do seu território. Preciso terminar os exercícios que Hikari me deu. — Balançando a cabeça, o garoto amassou os papéis em sua mão até ficarem irreconhecíveis, mas ainda manteve em seu aperto.
Olhando entre os documentos e o jovem em silêncio, o dragão prateado não falou nada porém sua dúvida estava clara.
‘Ele não deveria se culpar por viver uma vida miserável? Segue o roteiro, Hibiki!’
— Pais? Parentes? Isso é de comer? — Entrando em uma postura para fazer flexões, o garoto iniciou — Nunca vi nem mesmo a cor do cabelo deles desde que me entendo por gente. Então porque deveria me importar se eles estão mortos?
Seu corpo desceu e subiu enquanto o garoto dizia. Observando as atitudes do garoto e escutando a indiferença em seu tom, Silver se sentiu estúpido por ter se preocupado com ele.
O silêncio novamente dominou o ar, com apenas a respiração levemente restrita de Hibiki preenchendo o local.
— Merda, se formos pesar os fatos, você foi mais um parente para mim em pouco mais de um mês do que eles foram minha vida toda. — Havia raiva no tom de Hibiki, mas não era contra Silver.
Se tinha alguém que merecia o seu rancor eram seus ‘parentes’.
O tempo dele ter qualquer esperança de encontrar ou sentir o amor dos seus pais já passou. Caso estas respostas viessem a alguns anos atrás, ele poderia realmente ter ficado furioso com a pessoa que o privou de sentir o calor de uma família.
Mas hoje em dia o garoto entendeu que isso não mudaria o fato dele ter crescido sozinho e de seus parentes restantes não terem se incomodado em procurá-lo.
— Estica os braços direito. — Chacoalhando a cabeça, o Silver jogou as perguntas para o fundo de sua mente e começou a corrigir a postura do garoto.
— Hm? Toda baboseira emocional já terminou? — Levantando uma sobrancelha, Hibiki questionou estranhando a mudança súbita de humor.
Esse comentário fez com que um punho atingisse o topo de sua cabeça, colocando uma expressão injustiçada no rosto do garoto.
— Bem, Hikari e eu vamos sair em uma missão e não vai ter ninguém para te supervisionar… — Ao terminar essas palavras, Silver não deu tempo para o garoto se alegrar antes de continuar — Então vamos dobrar os exercícios de hoje.
Enquanto a expressão de Hibiki se contorcia em descrença e indignação, o jovem segurou sua vontade de rir.
— É brincadeira… A parte de você ficar sem supervisão. Vou te deixar com Akame durante nossa ausência.
O tempo passou rapidamente durante a sessão de puni… Treinamento com Silver corrigindo múltiplas vezes a postura do garoto e dando algumas dicas para aproveitar melhor os exercícios.
No fim, o dragão prateado não pôde deixar de questionar se foram seus ensinamentos que fizeram Raymond traí-lo. Afinal, se Hibiki, alguém que viveu uma vida bastante semelhante à dele não se dispôs a fazê-lo, qual seria a diferença entre eles?
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Saindo da sala, Silver se encontrou com Hikari e Freud no corredor. Vendo a kunoichi de braços cruzados e reclinada na parede, o jovem levantou uma sobrancelha.
— Vocês ficaram aqui esse tempo todo? — Olhando para o rosto do raiju, ele conseguiu a resposta antes mesmo de qualquer um dos dois responderem.
A garota apenas deu de ombros enquanto se desprendia da parede e o acompanhava pelo corredor, sendo acompanhados por Freud com uma expressão cansada. O silêncio que ele teve que enfrentar o deixou exausto sem nem mesmo se exercitar.
— Como foi? — Hikari perguntou diretamente.
— Bem, pelo visto eu sou como um pai para ele… — Um sorriso subiu no rosto de Silver, que logo foi espelhado pela kunoichi.
Neste momento, o pensamento da dupla foi o mesmo.
‘Nunca vou deixar ele esquecer disso’
Era um ótimo fator para se trazer quando Hibiki os apresentasse seus amigos e, possivelmente, uma namorada.
‘Eu imagino a cara que ele vai fazer quando me apresentar como seu pai’
— Silver… Não quero ser rude nem nada já que estou pedindo ajuda, mas… Quando meu treino começa? — Os olhos de Freud vagaram pela pintura do corredor, atestando sua relutância em fazer tal pergunta.
— Pode ficar tranquilo, nossa próxima parada vai estar cheia de oportunidades…
O raiju não conseguiu distinguir as emoções presentes no sorriso que surgiu no rosto de Silver mas, seu instinto dizia que não era bom.