A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 106
Sentado em seu trono, Silver olhou para cima, o qual tinha a imagem de um dragão com escamas e olhos prateados.
‘Eu até entendo as escamas, mas…’
— Por que os olhos também são prata? — Levando uma mão ao queixo, o jovem perguntou para ninguém em particular.
— O artista disse que esse esquema de cores harmoniza melhor com as paredes, e eu meio que concordo — respondeu Hikari e, lembrando dos olhos às vezes prata de Silver, ela concordou com isso.
— Se você diz…
‘Nunca fui muito bom com arte, mas ficou bom o suficiente’
— E sobre o bar?
Haviam muitas memórias boas daquele lugar e, mesmo que ele não tivesse o hábito de beber, o clima que aquilo trazia era agradável.
— Foi retirado da planta porque acabava com o clima sério que tentamos construir. Mas se você quiser podemos colocar de novo. — Sinceramente, Hikari também gostava do bar, mas, ambos sabiam que seria melhor assim.
A dupla colocou os olhos novamente no local onde o antigo bar ficava, com as memórias dos bons e velhos tempos ressurgindo.
Todas as risadas, brincadeiras e brigas cruzaram seus olhos antes deles se fecharem com um leve suspiro.
— Não precisa, vai ser melhor assim. — Deixando esse assunto de lado, o jovem continuou — Então quem vai começar com os relatórios?
— Ahem! Eu… — O bem arrumado Settō começou a falar, porém…
— Não precisa me dizer quanto dinheiro você perdeu. — Levantando uma mão, Silver impediu ele de seguir com isso.
— Mas… Eu também ganhei… — Escutando essas palavras, todos comandantes sorriram pois já conheciam os hábitos do homem.
— Hmph! Tirando esse inútil, eu… — O espadachim com chapéu de palha começou, porém também foi interrompido.
—- Não fez nada além de beber chá o dia todo! — cuspiu Settō, obviamente descontente.
— Seu…! — Honda rangeu os dentes com o comentário, levantando um dedo antes de baixá-lo.
‘Eu… Não posso refutá-lo’
O pior de tudo é que tal afirmação era verdade. Com exceção de ter ensinado Mari quando Silver pediu, o espadachim não fez mais nada.
— Se bem me lembro, o Sr. Honda ofereceu treinar nossos membros no caminho da espada. — Levando um dedo ao queixo, Hikari sorriu enquanto dizia — Faltou apenas acertarmos alguns detalhes mas podemos fazer até o fim do dia.
Isso nunca aconteceu. A kunoichi estava apenas dando uma saída para o homem, bem como garantindo um professor para os antigos e novos membros do grupo.
Naturalmente, Silver sabia disso e apenas apreciou silenciosamente os atos da jovem.
— Isso mesmo! Tch, são apenas pequenos detalhes. — Essa atuação quebrou completamente a visão que Freud tinha do espadachim, mas o grupo já estava acostumado.
— De qualquer forma, como estão seus grupos? — Voltando ao assunto, Silver questionou.
— Após a guerra, ordenei a suspensão de todas as comissões. 99% dos nossos membros já estão de volta, faltam apenas que alguns poucos finalizem seus trabalhos.
A ordem foi dada por conta dos estragos causados pela guerra.
Não se tratava da perda de pessoal, mas sim dos danos à propriedade. A própria Hikari havia explodido diversos prédios e, tal destruição poderia fazer aqueles de fora acreditarem que eles estavam frágeis.
Por conta disso a convergência de seus membros foi necessária, para que estivessem preparados no caso de possíveis ataques.
— E sobre a reconstrução da cidade?
— Em andamento. Estimo que esteja tudo nos conformes em um mês, um e meio no máximo. — Com a adição dos cidadão da cidade, a mão de obra não era um problema.
Foi apenas questão de tempo até que as construções fossem completamente reerguidas.
— Até o reinício do torneio, não é tanto tempo. — Considerando a destruição que foi causada, realmente não era — Como andam os recrutamentos?
Ter uma cidade operando sob suas ordens não foi apenas para se mostrar. Silver pretendia expandir seu grupo, reunir mais poder aquisitivo e, de acordo com o quão útil estava sendo para a reconstrução da cidade, conseguir mais trabalhadores para tarefas diversas.
— Do meu lado, apenas dez pessoas tinham as qualificações necessárias — disse Hikari.
Anteriormente, o grupo havia dividido os recrutas entre si, porém, isso era apenas se tratando de ‘potencial’.
Após tê-los separado, cada um dos comandantes tinha seus próprios requisitos para decidir se iriam adicioná-los definitivamente aos seus números.
Depois de tudo, se todos eles fossem aceitos os faz-tudo não existiriam.
Bem, tecnicamente não existem desde que Silver matou todos mas, logo logo iriam existir.
— Nem todos podem ser assassinos, de fato.
Sinceramente, ele ficou surpreso com esse número pois sabia que o único requisito de Hikari foi não temer a morte.
E em um lugar como uma cidade baixa existiam pessoas que ainda a temiam.
‘Talvez seja exatamente por isso que ainda existem’
— Consegui mais vinte presas na minha unidade, boss! — Com um sorriso que mostrou suas próprias presas, Leon comentou.
‘Dez não é um número ruim’
— Seriam quarenta presas seu idiota — corrigiu Ai, olhando com desdém para o jovem — Eu recrutei outros dez para os meus.
— Heh, consegui mais trinta — comentou Astrid, claramente buscando uma disputa com a garota.
— Como esperado de uma cobra, seus padrões são baixos — retrucou Ai.
Mesmo tendo respondido ao comentário, a jovem não queria começar uma luta contra Astrid.
Não porque ela estava com medo, pelo contrário, a garota adoraria acabar com a raça dela mas, da última vez que começou uma briga em uma reunião os resultados não foram agradáveis.
‘Talvez se ela começar eu possa jogar toda a culpa nela’
Olhando de soslaio para os olhos frios de Hikari, Ai se lembrou da punição que ela e Astrid receberam e decidiu esquecer o assunto.
Settō e Honda não tinham divisões então se mantiveram quietos, bem como Vidar que fazia parte da divisão de sua irmã.
Com isso, restou apenas o lado de Akame.
— Silv, ninguém quis entrar no meu grupo… — Juntando os dedos, a garota abaixou a cabeça enquanto dizia.
‘Óbvio! É sorte deles ainda estarem vivos!’
Leon gritou mentalmente, sem ousar pronunciar tais palavras.
Ele olhou para Silver encontrando a mesma expressão que um pai teria vendo seu filho falhar em algo.
‘É, vá em frente e conforte esse monstro em pele de criança’
A razão dele pensar isso era bem simples.
Um belo dia, seu chefe ficou curioso sobre o porquê de Akame não conseguir novos recrutas para sua divisão e pediu para ele descobrir o motivo.
Vai ser fácil, foi o que Leon pensou. E como ele estava enganado.
Para contextualizar, a impressão que o jovem tinha sobre Akame eram: fofa, brincalhona e meio infantil.
Além de que, nas poucas vezes que eles fizeram qualquer missão juntos, ela sempre esteve em outra área então ele nunca a viu em ação
De fato, embora soubesse que Akame era competente, ele nunca achou que ela era tão cruel quanto diziam.
Isso até aquele dia.
Tudo estava indo bem até que Leon perguntou o conteúdo do teste. Após ele dizer, a garota apenas disse para ele sobreviver antes de tentar cortar a cabeça dele com uma foice.
Leon correu como se sua vida dependesse disso, pois, provavelmente dependia, até que encontrou uma boa alma na cidade.
Uma mulher aceitou escondê-lo em seu estabelecimento por algum tempo mas, foi assim que descobriu o quão inteligente Akame realmente era.
Era uma armadilha, foram poucos segundos de descanso antes dele ser perseguido novamente.
A única coisa que o salvou foi o relógio dela vibrando e marcando o fim daquela tortura.
Fora isso, o olhar decepcionado no rosto da garota enquanto dizia que ele havia falhado o deixou furioso.
‘Você pode ter esquecido disso, boss, mas eu não’
Enquanto Leon se perdia entre seu próprio monólogo, Silver tinha pensamentos próximos aos dele.
‘É de se esperar…’
Depois de ter usado Leon como cobaia, ele descobriu a razão de haverem poucos membros na divisão dela, mas não era uma grande preocupação.
Afinal, Moon havia entregue alguns de seus ‘subordinados’ para ela.
— Não se preocupe tanto com isso, como anda a sua busca? — Tentando mudar de assunto, ele questionou.
Zoe Sigel, a ‘irmã’ perdida de Akame ainda estava sendo procurada pela jovem desde o fim da guerra.
‘Eu deveria ajudar ela a procurar…’
— Ainda não encontrei nada. — Baixando ainda mais a cabeça, a jovem suspirou em tristeza.
— Vou apenas acertar alguns assuntos, e quando eu voltar nós procuramos ela juntos. — Em uma tentativa de animá-la, Silver ofereceu.
E funcionou perfeitamente considerando o olhar brilhante que ela apontou na sua direção.
— Combinado? — Sorrindo ao vê-la chacoalhando loucamente a cabeça para cima e para baixo, o jovem voltou-se para Astrid. — Qual o status da sua missão?
Anteriormente ele havia mandado a serpente em uma missão para dominar o restante da cidade acompanhada por Mitis.
Com a santa sendo enviada com o objetivo de impedir que Astrid utilizasse qualquer tipo de violência.
— Eu não bati em ninguém se é o que você quer saber. — Insatisfeita com o olhar de Silver, a mulher comentou, deixando até mesmo seu próprio irmão pasmo.
Mas isso não durou muito, pois, um olhar da mulher foi o suficiente para fazer Vidar encontrar algo muito mais interessante do outro lado.
Ao mesmo tempo, Ai queria rir mas um olhar significativo de Hikari a fez segurar essa vontade.
— Posso odiar muito ela, mas admito que ela é bem convincente.
Desde quando colocou os olhos em Mitis, Astrid veio a desprezar a garota.
Para começar, a serpente cresceu nesta cidade baixa, lugar onde se você demonstrar ter uma lasca de pão a mais que outra pessoa já dava um motivo para quererem sua cabeça.
Era apenas ela e seu irmão desde sempre, além dela ser forçada a matar para sobreviver sendo muito nova.
Dentro de seu mundo não havia espaço para Mitis, alguém que parecia nunca ter sofrido na vida.
Mas, apesar de tudo, era inegável que a garota concluiu perfeitamente o trabalho que Silver passou.
— Alguns deles foram convencidos de que você é um anjo bondoso, mas outros ainda estão céticos. — Isso não duraria muito, logo eles seriam convencidos pela ‘santa’ — Tch, ela é uma boa atriz.
Esse era mais um motivo para Astrid odiá-la.
— Eu não pedi para ela fazer isso — Silver comentou.
— Huh? — A boca da mulher se abriu, mas nenhuma palavra saiu.
‘Isso é ainda pior, quer dizer que ela fez tudo aquilo por… Urgh, pura bondade’
— Enfim, Hikari, quero dez dos seus vigiando nossos ‘convidados’ 24/7.
Beatriz poderia ter prometido e, como uma pessoa virtuosa, era uma promessa confiável mas isso se limitava apenas a ela. De qualquer forma, ele não deixaria a paladina e nem seus companheiros bisbilhotarem por aí no seu território sem supervisão nenhuma.
— Já foi feito. — Depois de anos junto de Silver, a kunoichi conseguia entender algumas de suas intenções dele e agir de acordo.
— Perfeito. Aliás, onde está Hibiki?
— Está acompanhando Mitis na área de treino.
— Bem, vamos finalizar a reunião. Eu preciso falar com ele.
Após trocar mais algumas palavras com eles, Silver encerrou a reunião e todos os comandantes voltaram aos seus afazeres.
‘Eu realmente fui esquecido…’
Pela segunda vez neste dia, Freud se sentiu deixado de lado.
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— Estamos aqui. Este prédio é apenas para vocês então podem se acomodar. — A figura mascarada que liderou o grupo apontou para o local, gesticulando para que eles entrassem.
Beatriz engoliu seus comentários. Isso não era um ato de boa vontade vindo de Silver, ele estava os afastando dos cidadãos.
‘Bem, ao menos o lugar não é ruim’
A sala era espaçosa, com paredes simples de madeira dando um ar antigo e caloroso para o lugar. Certas áreas do piso foram revestidas com carpete macio, buscando proporcionar algum conforto para os ocupantes.
Haviam grandes janelas, permitindo uma vista boa da cidade, ao mesmo tempo que mostravam o quão longe eles estavam dos demais habitantes.
‘Eu sei que ele quer nos afastar e tudo mas, isso não é exagero?’
No centro, além do carpete, existia um conjunto de mesas e cadeiras dispostas de maneira que facilitava a comunicação entre os moradores. A quantidade de cadeiras ultrapassou por pouco o número de pessoas no grupo, dando a entender outra vez que Silver já sabia sobre eles antecipadamente.
— Uma última coisa. Enquanto estiverem aqui, lembrem-se de que estamos sempre lhes observando. — Deixando essas palavras no ar, a figura desapareceu, abandonando o grupo em seus próprios pensamentos.