A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 102
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- Vol.2 Capítulo 102 - Confrontos internos e externos
[PDV Fumiko Mari]
Eu falhei outra vez.
O torneio, era para ser uma chance. Um modo de provar para eles que sou forte… De mostrar para Silver que não sou fraca.
Mas isso deu errado. No fim da batalha, meu corpo falhou comigo e fui incapaz de sequer balançar minha espada.
Quando saí do mundo virtual, tudo se tornou fútil.
As palavras do diretor e nem a explicação da próxima fase entraram na minha cabeça. Sem falar que no caminho de volta para casa, o mundo havia se tornado preto e branco.
Sentindo uma gota d’água atingindo meu rosto, meus pés não se desgrudaram do chão enquanto a chuva começou a deslanchar sobre meu corpo.
Não sei dizer quando comecei a me mover de novo mas, de repente estava na porta de casa.
Talvez eu nunca devesse ter saído daqui…
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De pé no centro de um dojo, um homem com cabelos pretos longos amarrados em um rabo de cavalo manteve os olhos fechados, completamente imóvel.
Ele usava uma segunda pele sem as mangas, deixando à mostra as largas cicatrizes que cruzavam seus braços.
Apenas o som contínuo da sua respiração permeou o local, sendo interrompido em poucos instantes pelo som da porta principal sendo aberta.
‘Não estou esperando nenhuma visita’
Seus olhos se abriram e ele caminhou lentamente até a origem do barulho, com sua mão direita se apoiando no cabo da espada presa em sua cintura.
O homem havia se preparado para atacar, quando descobriu a identidade da pessoa em sua porta.
Era uma jovem de cabelos pretos que estavam grudados em sua pele graças a quantidade de água nele.
Embora o caminho para a entrada estivesse aberto, a garota não entrou. Permanecendo na chuva sem intenção alguma de se mover.
— P-pai, e-eu sou i-inútil? — Seja pelo frio ou por qualquer outra razão, ela gaguejou incontrolavelmente.
Com um suspiro, o homem envolveu a figura trêmula em seu abraço, permitindo que ela derramasse suas lágrimas até finalmente descansar.
Levantando a jovem em seu colo, ele a carregou até o quarto onde ela dormia desde quando tinha dez anos, colocando seu corpo gentilmente na cama.
Enquanto desprendia a espada na cintura de sua filha, o homem desembainhou a lâmina, vendo seu próprio olhar confuso no reflexo da arma.
Após anos derramando sangue, ele quem já fora o pesadelo de muitos, genuinamente não sabia o que fazer.
‘Quem diria que a arte da espada não me daria todas as respostas’
Saindo do quarto, o homem fez algumas ligações sabendo que apenas ele não seria o suficiente para lidar com isso.
Ainda dormindo, Mari franziu profundamente, atestando que mesmo com seus olhos fechados ela estava longe de descansar.
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— Então, eles deram um mês completo de descanso até a próxima fase?
Com cabelos verdes que alcançavam a cintura e um par de olhos da mesma cor, Lancelot Woods, reclinou seu corpo na cadeira, olhando brevemente para o céu antes de se voltar para sua filha.
— Sim. O suficiente para descansar ou aprender algum truque novo — Mordiscando um dos morangos presentes na mesa, Lina comentou.
— Então quer dizer que meu pequeno bebê voltou para casa para descansar? — Propositalmente usando um tom infantil enquanto dizia isso, o homem assistiu a expressão de sua filha se contorcendo de raiva antes dela soltar um suspiro.
— Pareço o tipo que procrastina? — A jovem perguntou, cruzando os braços e mantendo seus olhos travados em seu pai.
— E você não faz isso? — Com uma expressão ‘genuinamente’ chocada, Lancelot perguntou.
‘Respira Lina, você não pode e talvez nem conseguiria bater nele’
— Eu faço, mas não vim aqui para isso. Quero ajuda com meu controle — Seiji deu um ótimo exemplo do que acontece quando você falta nesse aspecto.
Não desejando seguir esse mesmo caminho, a jovem decidiu que iria treinar para poder controlar até mesmo a menor lasca de madeira em suas criações.
— Então minha pequena dríade quer ajuda com o treino?
Irritada, Lina pegou outro morango da mesa, respondendo a pergunta com um perfunctório ‘sim’.
— Seu desejo é uma ordem, princesa. Aliás, onde está Freud? — Finalmente percebendo a falta do guarda-costas de sua filha, o homem questionou.
— Ele seguiu Silver para ficar mais forte ou algo do tipo — Mordendo a fruta com força para expressar sua insatisfação, a dríade cobriu a boca logo após por ter acidentalmente mordido a língua.
— Silver? Esse não é o garoto que… Você está bem? — Sua preocupação rendeu um olhar irritado de Lina, fazendo o homem levantar as mãos em rendição.
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Mia escovou seus cabelos vermelhos para trás da orelha, mantendo os olhos na pessoa do outro lado da mesa.
Cabelos vermelhos escorrendo até a cintura com uma franja que quase cobria o olho direito, Lorie Rosenfeld era quase como um espelho da fênix, com a única exceção sendo os olhos vermelhos da mulher.
Ela era seu maior ídolo, o objetivo que Mia almejava alcançar e, acima de tudo, sua irmã.
— Bem, o que acha Mia? Você vai vir comigo durante essa pausa?
Foi uma proposta tentadora e se fosse antes, ela teria aceitado sem dúvidas.
‘Mas por que eu estou hesitando?’
— Você está ressentida? — Se debruçando sobre a mesa, Lorie perguntou olhando no fundo dos olhos de sua irmã.
— Huh? — Pega de surpresa, a garota não conseguiu responder.
— Sabe, por não ter ido te salvar quando foi sequestrada.
Aquela apelidada de dragão vermelho imaginou que seria justo caso Mia estivesse irritada, afinal, antes de partir para o exército, ela fez uma promessa.
‘Eu disse que te protegeria não importa o que’
Tecnicamente, Lorie cumpriu com sua parte ao contratar Silver para proteger sua irmã. Porém, a mulher manteve esse detalhe para si, então Mia não sabia disso.
Os olhos da fênix correram pelo local, pausando na xícara vazia posta sobre a mesa. A garota permaneceu em silêncio por alguns bons segundos, ponderando as palavras que ouviu.
‘Estou irritada com ela? Não, isso não é a verdade’
— Não eu… Só estou frustrada… — Levantando a cabeça, a jovem respondeu.
— Silver, Mari, Seiji e Moon. Todos eles mostraram a que vieram, enquanto eu não pude fazer nada…
Assim como quando foi sequestrada, Mia pôde apenas sentar e assistir outras pessoas lutando em seu lugar.
— Preciso ser mais forte.
Ela não queria mais ser protegida. Olhando nos olhos da sua irmã, a garota mostrou sua determinação tanto em seu tom de voz, quanto no olhar em seu rosto.
— Então vem comigo, vamos te fazer mais forte.
— Sim. — Desta vez, Mia aceitou sem hesitação.
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— Imagino que queiram saber o por que lhes chamei aqui — Entrelaçando os dedos e apoiando o queixo sob as mãos, o homem perguntou.
Ele tinha cabelos loiros e, embora o olho direito estivesse coberto por um tapa-olho, a cor azul-gelo daquele que estava à vista era tão frígida quanto sua expressão.
Logo à sua frente, duas pessoas jovens estavam sentadas.
Mais à esquerda, uma garota com cabelos roxos longos e olhos da mesma cor o observava exibindo uma expressão tranquila.
Ela era Amaterasu Moon, a matriarca da família Amaterasu e uma das alunas de sua academia.
Ao lado dela estava Yoshiaki Seiji. Um jovem de aparência semelhante a de Shirou, com a maior diferença sendo o par de olhos funcionais.
O duo se manteve em silêncio por alguns longos instantes, embora soubessem que a pergunta foi destinada a eles.
‘Mantenha a calma Moon, você já não é a mesma pessoa de antes’
Na primeira vez que se encontraram, a matriarca estava muito nervosa, tendo que colocar uma fachada calma.
Porém, ela não estava tão nervosa agora.
Olhando para a jovem, Shirou percebeu essa diferença, assentindo em reconhecimento antes de se voltar para Seiji. O garoto tinha olheiras profundas e um olhar perdido, contrastando com sua personalidade animada de sempre.
— Vá em frente, diretor — Quebrando o silêncio, Moon o incentivou a explicar seus motivos.
— Bem, vocês devem saber que antes de me tornar diretor, eu já fui um aluno desta academia — Pausando brevemente, ele recebeu uma resposta afirmativa da dupla antes de continuar — Então, também devem conhecer Yuki e Lorie.
— Sim. Yuki, também conhecida como ‘bruxa sangrenta’ é a professora de Silver, e o ‘dragão vermelho’ Lorie é irmã de Mia — Sem esperar por uma continuação, a matriarca complementou, ponderando o que isso tinha a ver com eles.
— Pense nessas duas pessoas. O que elas têm em comum? — Deixando esta pergunta, o homem aguardou que os jovens pensassem nisso.
‘O que essas duas têm em comum? Ambas são mulheres… Nah, seria uma resposta idiota. Oh!’
— Sucessores? — Para ser sincera, a jovem estava incerta sobre sua resposta. Tecnicamente, Mia não era a sucessora de Lorie.
‘Pelo menos ainda não’
— Exatamente, e acredito que isso responda a razão de tê-los convocado.
A compostura de Moon balançou um pouco pela implicação destas palavras, com sua mente vagando pelos fatos que já conhecia.
‘Shirou nunca sequer cogitou tomar discípulos durante a novel original. O que mudou?’
Assim como aconteceu da primeira vez com Silver, foi uma mudança muito drástica no comportamento do diretor, levantando algumas questões na mente da garota.
‘Se Seiji aceitar a proposta, ele não vai acabar encontrando a profetiza…’
No rumo original, o ‘protagonista’ encontraria seu primeiro professor oficial em uma caminhada qualquer após a segunda fase do torneio.
Caso isso não se concretize seria difícil prever como o mundo iria cobrir essa ‘anomalia’.
— Então você quer que sejamos seus sucessores? Mas por que nós e não Silver? — Enquanto a jovem estava perdida em seus pensamentos, Seiji perguntou.
Ele poderia ser idiota às vezes mas não era estúpido. E considerando os eventos recentes, o jovem não confiou tanto no próprio potencial.
— Como a Srta. Moon disse anteriormente, Silver já é aluno de Yuki.
— E sobre Lina ou Freud? — Cruzando os braços, os dedos do vaga-lume bateram contra seu antebraço em um ritmo constante.
‘Seu orgulho foi mais ferido que imaginei’
Embora ele tivesse demonstrado sua força durante a luta com Cain, o problema dele era um pouco mais profundo do que isso.
‘Mesmo que ele não admita, Seiji tem uma admiração enorme por Silver’
Isso era verdade para boa parte dos sete, onde a maioria via Silver como uma barreira intransponível.
Seria difícil mudar a mente deles, sem contar que um dos melhores métodos era complicado de se realizar.
‘Não tenho um motivo plausível para desafiá-lo e, mesmo se tiver, Yuki não vai ficar parada’
O motivo plausível poderia ser ignorado por Shirou, mas o envolvimento de Yuki não poderia. Se bem que…
‘Desde que eu não o mate, ela ficaria feliz em dar uma chance para ele afiar suas presas…’
— A Srta. Woods e o Sr. Müller são afiliados a uma família. Não posso confiar que eles vão ser imparciais. — Olhando para a garota, o diretor esperou sua próxima pergunta.
— Sou a matriarca dos Amaterasu. O que te garante que serei imparcial quando assumir? — Como a regente da família, a garota teria um motivo para não ser neutra em assuntos que envolvessem seus membros.
— Parece que você me entendeu errado. Não é uma questão de quando mas, se algum de vocês assumir o posto — Esboçando um leve sorriso, o homem finalizou — Já para sua pergunta, vamos dizer que é uma aposta.
‘Uma aposta, huh? Então eu também vou fazer uma’
— E o que eu ganho com isso? — perguntou Seiji, olhando para o diretor com impaciência.
— Além do prestígio por se tornar meu aluno e possivelmente herdar o posto de diretor? Força o suficiente para desafiar Silver.
— Eu aceito! — Dito isso, o vaga-lume não tinha razões para recusar. Apenas a última parte já era o suficiente para ele.
‘Se o que eu ouvi dizer for verdade, esse homem está no mesmo nível da professora de Silver. Talvez apenas ele possa me treinar bem o suficiente para alcançá-lo’
— Perfeito. E qual sua resposta, Srta. Moon? — Focando sua atenção na jovem, Shirou questionou.
— Eu terei que recusar respeitosamente, Sr. Diretor — Com uma expressão decidida, a matriarca respondeu.
‘Embora a oferta seja tentadora, vou tentar minha sorte com a profetiza’
— Posso perguntar por que? — Poucas pessoas recusariam tal oportunidade e, uma delas estava em sua frente então ele não pôde deixar de ficar curioso.
— Digamos que foi uma aposta — Sorrindo, a jovem se levantou da cadeira — Se me dão licença, tenho assuntos para resolver.
Logo, Moon saiu da sala caminhando calmamente, deixando Shirou e Seiji sozinhos.
— Então, deveríamos marcar a primeira sessão de treino?
❂❂❂
Do lado de fora da sala, a matriarca acabara de sair quando sentiu uma vibração vinda de seu [SC].
Tirando o objeto, ela procurou a causa da vibração encontrando uma mensagem de alguém no mínimo inesperado.
[Preciso falar com você. Me encontre no mesmo café daquele dia em três horas]
‘Agora o que diabos ela quer comigo?’